terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Marcia Carmo: ‘Escândalo das criptomoedas -  Milei, propaganda enganosa ou algo mais?

A primeira reação de Milei foi acusar a oposição, usando sua já tradicional artilharia de insultos. “Aos ratos imundos da casta política, que querem aproveitar essa situação, para fazer danos, aviso que só aumentam nossa certeza de tirá-los com pontapés no c...”.

Mas foi um tuíte dele, presidente do país, que gerou perdas e ganhos financeiros e uma série de questionamentos sobre ética pública e respeito (ou desrespeito) pela investidura presidencial.

Na noite de sexta-feira (14), o presidente argentino escreveu no X, promovendo uma criptomoeda: “Esse projeto privado será dedicado ao crescimento da economia argentina, apoiando pequenas e médias empresas. O mundo quer investir na Argentina $Libra”.

A até então desconhecida $Libra multiplicou seu valor. E desabou pouco depois, na mesma noite de sexta-feira. Quem percebeu que o negócio era insustentável, conseguiu sair no lucro, dizem especialistas. Mas a maioria que apostou na sugestão da palavra presidencial, perdeu, explicam. Milei só eliminou seu tuíte na madrugada de sábado e muito depois que os analistas do ramo já tinham alertado para os riscos dessa criptomoeda.

O ato de Milei é o principal assunto na Argentina. E levou setores da oposição à defesa de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue os vínculos do presidente com a KIP Protocol, da $Libra, de um empresário com origens em Cingapura, e suas ramificações. Ramificações que, como publica a imprensa argentina neste domingo, envolvem um espanhol com histórico de estafas e um estadunidense, que esteve cinco vezes na Casa Rosada, a sede da Presidência, e na residência presidencial de Olivos.

Segundo reportagem do La Nación, de Buenos Aires, Milei “conhece e até se reuniu e trabalhou para alguns dos empresários envolvidos com o empreendimento da criptomoeda $Libra”, nos últimos quatro anos.

Preocupado, Milei conversou com seus assessores do setor jurídico para saber as possíveis consequências – do tuíte, dos cerca de 40 mil seguidores que teriam perdido dinheiro, de acordo com a imprensa local, e diante da decisão da oposição de tentar instaurar uma CPI. Quando viram sua mensagem no X, muitos pensaram que a conta dele – onde passa horas tuitando – teria sido hackeada.

Mas Milei disse à agência Bloomberg que era ele mesmo o autor dos versos na rede social. “O episódio pode marcar o fim da inocência (entre os apoiadores de Milei)”, escreveu um colunista do Clarín, de Buenos Aires.

São várias as perguntas feitas agora nas rodas políticas e em setores empresariais, na Argentina. E uma das perguntas, sem dúvida, é: o que leva um presidente a fazer parte de um ato de especulação financeira? O governo determinou que o caso seja investigado, setores da oposição querem uma CPI e já surgiram as primeiras ações na Justiça.

 

¨      As falcatruas de Milei e a obsessão da extrema direita brasileira por criptomoedas. Por Moisés Mendes

O escândalo que estremece o fascismo argentino, com a descoberta da quadrilha da $Libra, a criptomoeda avalizada por Javier Milei, aciona perguntas inevitáveis no Brasil. A primeira é essa: há parentesco da moeda da extrema direita dos hermanos com a patriotacoin, criada por bolsonaristas este ano?

A segunda pergunta, que desdobra a primeira e desencadeia interrogações intermináveis: quais são as relações de Hayden Mark Davis, Mauricio Novelli e Julian Peh, envolvidos na pilantragem com Milei, com gente da extrema direita brasileira obcecada por moedas virtuais?

Há coincidências interessantes no Brasil, que viraram paisagem para a nossa grande imprensa preocupada com o arcabouço fiscal, mas devem ser observadas de novo depois do que aconteceu na Argentina.

No dia 23 de janeiro, a conta de Bolsonaro no X divulgou esse aviso: “Seguindo os passos do Presidente Trump, tenho orgulho de lançar o $BRAZIL – A Moeda do Povo. Isso é mais do que apenas um token; é um movimento pela liberdade, prosperidade e união de todos os brasileiros“.

Carluxo encarregou-se de informar que a conta teria sido hackeada, mas que o pai já havia deletado a postagem. Foi tudo muito rápido. A ação do hacker, a recuperação da conta e a eliminação do aviso.

Na Argentina, na última sexta-feira aconteceu algo semelhante, com a diferença de que Milei não negou a autoria da propaganda de criação da moeda. Postou a mensagem com a propaganda e logo deletou. Também lá tudo ocorreu em questão de minutos.

Por coincidência, retomando o que aconteceu dia 23 de janeiro no Brasil, na mesma data um grupo de bolsonaristas anunciava a criação da moeda patriotacoin.

O Estadão noticiou, no mesmo dia 23, que a criptomoeda dos bolsonaristas "foi desenvolvida na rede blockchain da Solana e já possui um valor de mercado de US$ 460 mil, equivalente a R$ 2,7 milhões".

E ninguém falou mais nada sobre a tal moeda e sobre a conta hackeada de Bolsonaro. Tudo foi dado como normal, sem alarde e sem apelo jornalístico. Eram pautas mortas e enterradas.

No dia 5 de fevereiro, o UOL reproduziu essa nota que Eduardo Bolsonaro publicou no X, exaltando as moedas virtuais que viraram paixão da extrema direita:

"As criptomoedas representam liberdade. O dinheiro fica no seu bolso, e não tem como o presidente ou um Banco Central desvalorizarem o suor do seu trabalho”.

A diferença entre o que aconteceu no Brasil e na Argentina é que em dois dias, desde a pastagem de Milei, até os jornais da direita descobriram os nomes e desvendaram encontros e todos os detalhes da estrutura mafiosa da $Libra.

Contaram que desde outubro Milei e a irmã Karina participavam das articulações que levaram à criação da moeda. O jornal de esquerda El Destape descobriu no sábado que o especulador Mauricio Novelli, um dos criadores da $Libra, esteve pelo menos sete vezes na Casa Rosada.

Novelli foi uma vez à residência oficial de Olivos, para reuniões com Karina Milei, a poderosa secretária-geral da presidência, que seria a principal articuladora do esquema dentro do governo.

O jornalismo brasileiro das corporações é desafiado a largar um pouco as pautas do bolsonarismo contra Lula e sair atrás das possíveis conexões dos gângsteres da máfia de Buenos Aires com os brasileiros amigos de Milei.

Vamos repetir os nomes que mais aparecem nos jornais, como cabeças do esquema. Todos com atuação internacional no mundo das pilantragens: Hayden Mark Davis, Mauricio Novelli e Julian Peh.

O preguiçoso jornalismo da grande mídia já tem o que fazer. Que siga pelo menos o exemplo dos jornalões argentinos, em especial o Clarín e o La Nación, que abandonaram Milei e brigam para mostrar quem da grande imprensa sabe mais das falcatruas.

Quem são os contatos dos sócios de Milei no Brasil? Ninguém daqui conhece os sócios do fascista na falcatrua que pode derrubá-lo? Alguém deve conhecer. Os líderes bolsonaristas e mileinistas são íntimos.

E têm muitas afinidades quando o assunto é fazer dinheiro. Nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil, o fascismo é um grande negócio com empreendedores bem identificados.

 

¨      Milei x $LIBRA: entenda como a criptomoeda gerou uma crise política na Argentina

O presidente da Argentina, Javier Milei, se envolveu em uma polêmica na última sexta-feira (14) que resultou até em uma "investigação urgente" aberta pelo próprio governo e um pedido de impeachment pela oposição.

A controvérsia começou quando Milei promoveu, em um post na rede social X (antigo Twitter), o investimento em uma criptomoeda chamada $LIBRA. Essa criptomoeda seria a base para um projeto de financiamento de pequenas empresas.

Na publicação, Milei explicou que a criptomoeda era "um projeto privado" destinado a "incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos". O presidente afirmou ainda que "o mundo quer investir na Argentina" e forneceu o nome e o link para a página da criptomoeda.

A $LIBRA é uma unidade de valor digital que não possui valor em moeda real.

<><> O que aconteceu após a divulgação?

Após o presidente divulgar o ativo em suas redes sociais, a cotação da criptomoeda disparou, atingindo um pico de US$ 4.978 (cerca de R$ 28.512), segundo a agência de notícias AFP.

No entanto, em poucas horas, especialistas do mercado de criptomoedas passaram a alertar que a criptomoeda poderia ser uma "furada" para os investidores, pois a maioria das cotas estava nas mãos de poucas pessoas.

Após a forte alta, quem detinha a criptomoeda antes da divulgação de Milei, começou a vender o ativo para garantir os lucros.

Essa é uma manobra conhecida como "puxada de tapete", em que os desenvolvedores de uma criptomoeda atraem investimentos legítimos, aumentam o valor do ativo e depois se desfazem de sua participação.

Na prática, após promover uma alta quase artificial, os detentores vendem o produto enquanto o preço ainda está elevado. Essas vendas levam o ativo a se desvalorizar rapidamente, deixando os investidores tardios no prejuízo.

Milei, então, voltou atrás e apagou sua publicação. Ele afirmou que "não estava ciente dos detalhes do projeto" e que "depois de tomar conhecimento, decidiu não continuar difundindo".

<><> O que pode acontecer agora?

A polêmica resultou na abertura de uma "investigação urgente" pelo governo argentino na noite de sábado (15).

Com críticas da oposição e até de apoiadores após as acusações de fraude, a presidência informou que Milei "decidiu intervir de forma imediata com o Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente".

Se a investigação indicar que Milei pode ter se beneficiado da movimentação da criptomoeda, ela poderia levar a acusações de fraude e afetar a credibilidade e confiança no presidente e no país.

Além disso, parlamentares da oposição afirmam que o presidente argentino poderá enfrentar um processo de impeachment no Congresso.

"Esse escândalo, que nos envergonha em escala internacional, exige que apresentemos um pedido de impeachment contra o presidente", disse o legislador Leandro Santoro, membro da coalizão de oposição.

¨      Javier Milei enfrenta denúncia penal por promoção de criptomoeda

O presidente da Argentina, Javier Milei, está sendo alvo de uma denúncia penal por suposta participação em uma "associação ilícita" que teria cometido uma "megaestafa" envolvendo a criptomoeda $LIBRA. A denúncia foi apresentada por um grupo de dirigentes políticos, incluindo Jonatan Baldiviezo, advogado do Observatório do Direito à Cidade, e Claudio Lozano, economista e líder do partido Unidade Popular. As informações são do portal C5N.

De acordo com os denunciantes, Milei teria promovido a criptomoeda $LIBRA em suas redes sociais, o que levou milhares de investidores a aplicarem recursos no ativo digital. Posteriormente, a moeda sofreu uma desvalorização abrupta, resultando em perdas superiores a US$ 4 bilhões e afetando mais de 40 mil pessoas. O esquema é descrito como um "rug pull", onde os desenvolvedores de um projeto atraem investidores para inflacionar o valor do ativo e, em seguida, retiram os fundos, deixando os investidores com prejuízos significativos.

A denúncia solicita que as autoridades judiciais adotem medidas cautelares, como o bloqueio de contas bancárias e carteiras virtuais dos envolvidos, além da preservação de provas relacionadas às transações com a criptomoeda $LIBRA. Os denunciantes também pedem o cumprimento da Lei de Ética Pública, argumentando que o presidente utilizou sua posição para promover um ativo financeiro de maneira imprópria.

Em resposta às acusações, o gabinete do presidente negou qualquer envolvimento direto de Milei no desenvolvimento da criptomoeda e afirmou que a publicação nas redes sociais foi removida para evitar especulações. No entanto, a oposição política já anunciou a intenção de iniciar um processo de impeachment contra o presidente, acusando-o de fraude e de utilizar sua posição para influenciar o mercado financeiro em benefício próprio.

A Câmara Federal argentina está programada para definir qual tribunal será responsável por conduzir o caso. Enquanto isso, o escândalo continua a repercutir no cenário político e econômico do país, levantando debates sobre a regulamentação de ativos digitais e a responsabilidade de figuras públicas na promoção de investimentos financeiros.

¨      Mais de 100 denúncias criminais são apresentadas contra Milei por golpe com criptomoeda

O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta uma onda de acusações na Justiça por seu envolvimento no escândalo da criptomoeda $Libra. Até este domingo, 112 queixas criminais já haviam sido apresentadas, incluindo suspeitas de fraude, negociações ilícitas no cargo público, violação da ética e associação criminosa.

Denúncias se multiplicam

Fontes judiciais informaram que 111 dessas denúncias foram registradas digitalmente em diferentes tribunais do país, enquanto uma foi formalizada presencialmente em uma delegacia de Buenos Aires, destaca reportagem da Telesur. O caso foi encaminhado ao promotor Guillermo Marijuan.

As acusações foram feitas tanto por vítimas do golpe quanto por figuras da oposição política, que sustentam que Milei teve participação ativa no esquema. A principal evidência apontada é que o presidente recomendou investimentos na criptomoeda apenas três minutos após seu lançamento público, através de uma postagem nas redes sociais.

Para os denunciantes, a alegação de que Milei teria cometido apenas um "erro" por entusiasmo não convence. Além disso, eles destacam os vínculos diretos entre os desenvolvedores da $Libra e integrantes do grupo político do presidente, La Libertad Avanza.

A expectativa é que, nesta segunda-feira (17), os tribunais realizem um sorteio para definir qual instância federal conduzirá o processo das mais de 100 denúncias.

<><> Ação coletiva na Justiça

O líder da Frente Pátria Grande, Juan Grabois, anunciou que apoiará uma ação coletiva na Justiça Cível contra Milei, buscando indenização para os afetados pelo esquema. Segundo ele, mais de 20 vítimas já aderiram ao processo, que será movido tanto na Argentina quanto nos Estados Unidos.

“O que precisamos demonstrar é que não temos medo”, declarou Grabois. “O medo se espalha, mas a coragem também. Se não enfrentarmos essa situação, eles continuarão cometendo abusos sem fim.”

No mesmo contexto, o deputado Itai Hagman afirmou que também protocolará uma denúncia criminal contra Milei por negociações ilícitas no cargo público, apontando que o presidente interveio diretamente em favor próprio ou de terceiros.

Outro nome de peso na ofensiva judicial contra Milei é Gregorio Dalbón, advogado da ex-presidente Cristina Fernández, que assinou uma das mais de 100 denúncias já registradas. Dalbón rebateu a alegação de Milei de que desconhecia os detalhes do projeto e reforçou que o presidente promoveu publicamente a $Libra no exato momento de seu lançamento.

<><> Pedido de impeachment

O escândalo também ganhou contornos políticos mais amplos. O bloco parlamentar da União pela Pátria (UxP) anunciou que apresentará um pedido formal de impeachment contra Milei. O deputado Esteban Paulon, da província de Santa Fé, confirmou que protocolará a solicitação na próxima segunda-feira, reforçando as acusações contra o presidente pelo mega golpe da criptomoeda $Libra.

A crise gerada pelo caso já abala a gestão de Milei, ampliando a pressão política e jurídica sobre seu governo.

 

Fonte: Brasil 247/g1

 

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