quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

André Barbieri: A Europa do capital nas mãos de Trump

Trump busca aprofundar a decadência e subordinação da Europa no marco da competição com a China e a Rússia. Uma política independente dos trabalhadores precisa recolocar a ideia dos Estados Unidos socialistas da Europa.

As primeiras semanas da administração Trump foram um exercício de duro auto-reconhecimento por parte da Europa. As potências europeias atinaram com sua própria fraqueza. Pior, sentiram em magro esplendor sua dependência agravada diante dos Estados Unidos. Até então ensombrados pelo abraço de Washington - que com Joe Biden ainda mostrava condescendência com as alianças transatlânticas e suas instituições - os governos europeus se veem agora mergulhados no amargo desprezo do expansionismo trumpista. Recebem doses cavalares daquela máxima do historiador grego Tucídides: “o forte faz o que quer e o fraco sofre o que deve” - máxima que passou a ser o cinismo reacionário do ecossistema do capital.

Eram previsíveis determinados aspectos da mensagem que o novo governo estadunidense preparava à Conferência de Segurança em Munique, a primeira da era Trump 2.0. Os governos europeus, que encabeçaram uma nefasta corrida militarista como parte de sua ação logística coordenada com os EUA na Guerra da Ucrânia - instrumentalizando para seus propósitos de exploração o justo repúdio da população à invasão militar reacionária da Rússia - sabiam que Trump buscaria descarregar o peso da defesa continental sobre o continente. J.D. Vance, vice-presidente no bilhete trumpista, anunciou taxativamente que a presença dos Estados Unidos não durará para sempre na Europa.

Entretanto, os enviados da Casa Branca iluminaram os resultados da submissão europeia de uma forma nova. A Doutrina Trump não se limita a funcionários de Estado ideologicamente alinhados no domínio interno; também inclui a “Europa para os trumpistas”. Segundo Vance, “A ameaça mais grave quanto à segurança da Europa não é a Rússia, não é a China, não é qualquer outro ator externo. O que mais temo na Europa é a ameaça que vem de dentro, o recuo europeu de alguns de seus valores mais fundamentais”. A repressão aos movimentos dos trabalhadores, a catarata de ajustes econômicos e cortes orçamentários, a criminalização daqueles que defendem a Palestina contra o terrorismo sionista de Israel: todos esses “valores” estão bastante presentes nos governos de Emmanuel Macron, Keir Starmer, Olaf Scholz e cia. Mas deveriam estar acompanhados de um elemento fundamental, para Vance: a adesão completa à visão de mundo de Donald Trump. A coincidência, que parecia completa, está perturbada pela incompreensão das nações europeias de que é Washington quem dá as cartas - e oferece o vinho a quem escolhe estar à mesa.

A uma semana das eleições alemãs, Vance aproveitou o palco em Munique para dar seguimento à campanha de Elon Musk em favor da extrema direita europeia, criticando a “marginalização de forças julgadas extremistas”, como a neonazista AfD (Alternativa pela Alemanha). Musk havia participado virtualmente de uma manifestação da AfD em Berlim anunciando-a como a “única salvação da Alemanha”. A Vance só faltou uma nova saudação romana. De resto, imitou as diretrizes do bilionário dono da Tesla.

Como discutimos aqui, Trump deu novo seguimento à campanha xenófoba de deportações contra os imigrantes que havia sido uma das marcas registradas dos governos Barack Obama e Joe Biden - agregando às prisões, encarceramentos, e deportações patrocinadas pelo Partido Democrata um muito peculiar discurso de terror, próprio do trumpismo. A perseguição aos jovens e trabalhadores que se manifestaram nos Estados Unidos contra a política sanguinária de Biden-Harris em apoiar Netanyahu no genocídio contra os palestinos em Gaza também se tornou uma chave política para Trump, que enfatiza os “inimigos internos”. Políticas semelhantes são parte do repertório atual das administrações europeias. Como não lembrar das perseguições de Macron contra ativistas pró-palestinos na França, levando a julgamento referências do movimento operário como o companheiro Anasse Kazib, porta voz do Révolution Permanente? Ou a repressão aos atos contra o genocídio em Gaza, com a prisão de dezenas de manifestantes pelo Partido Trabalhista de Keir Starmer em Londres? Ou a Zeitenwende do Partido Social Democrata Alemão (SPD), política de militarização que estimulou o racismo e o nacionalismo da extrema direita alemã? Apesar de tudo, entretanto, cada governo tem suas predileções. Com o crescimento da extrema direita fomentada pelas políticas xenófobas e pró-sionistas de Paris, Berlim e Londres, Trump se encorajou a facilitar-lhes o caminho.

Vance criticou a decisão da corte constitucional da Romênia em anular as eleições que haviam dado como vencedor o ultranacionalista pró-russo Calin Georgescu; assim como a condenação de um manifestante contrário ao direito das mulheres ao aborto, e a exclusão dos políticos da AfD da própria Conferência de Segurança em Munique. “O que parece algo menos claro para mim, e creio que para muitos dos cidadãos europeus, é de quem exatamente vocês se defendem”, disse o vice-presidente aos representantes dos governos capitalistas da Europa. A tensão levou o chanceler alemão a responder criticamente a provocação de Vance. “Também estamos lutando pelo seu direito de estar contra nós”, disse o ministro da defesa alemão Boris Pistorius, também em resposta ao discurso do vice-presidente dos EUA. O analista Thomas Latschan lamenta “Quanto mais tempo durava o discurso [de J. D. Vance], mais claro ficava que a discordância transatlântica não é mais ‘apenas’ sobre as zonas de crise do mundo, a Ucrânia, o Oriente Médio ou a divisão justa do fardo [militar na OTAN]. O racha entre os EUA e seus parceiros europeus é muito mais fundamental. Durante décadas, a tão aclamada ‘comunidade de valores’ foi a cola ideológica que manteve o mundo ocidental unido. Os aliados da OTAN e da UE sempre puderam contar com confiança na defesa da democracia, da liberdade de expressão e do Estado de Direito. Agora, porém, esses termos estão sendo sequestrados, reinterpretados e redefinidos por elementos da elite política - e não apenas nos EUA. A brecha também se abriu dentro da aliança transatlântica.

Em contrapartida, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, subiu ao palco, com um tom muito mais conciliatório. Wang disse que considerava a Europa e a China como “parceiros, não rivais”. Pequim, disse ele, “sempre viu na Europa um pólo importante no mundo multipolar”. O alto representante chinês enfatizou a necessidade de “preservar o sistema internacional liderado pela ONU” e afirmou que a Europa tinha um “papel fundamental” a desempenhar no processo de paz na Ucrânia. Trata-se da política oficial de Xi Jinping, de aproveitar as fissuras causadas por Trump para fazer o Estado capitalista chinês emergir como representante da globalização neoliberal e da estabilidade das relações comerciais com os velhos aliados agora atacados pelos Estados Unidos.

Trump havia deixado claras suas intenções quanto à diminuição do peso da Europa em seus planos dias antes da Conferência de Munique. Já havia declarado a imposição de tarifas recíprocas contra todas as nações que as aplicassem a produtos exportados pelos Estados Unidos, medida que afeta em particular a Alemanha, cuja indústria automotriz seria seriamente abalada em um momento de drástica crise econômica (a Volkswagen disse que fechará três das dez plantas de produção que possui em terras germânicas), em um país mergulhado na recessão e às vésperas de uma eleição tingida pela crise de autoridade estatal.

Mas o principal veio com a Ucrânia. Em ligação “longa e altamente produtiva” com o autocrata russo Vladimir Putin, Trump anunciou que buscava um “fim imediato” à Guerra da Ucrânia em base a negociações unilaterais entre os Estados Unidos e a Rússia. Enfatizou as “potências de nossas respectivas nações, e o grande benefício de que um dia trabalhemos juntos”, em temas como “Ucrânia, Oriente Médio, energia, inteligência artificial”, entre outros - uma conduta oposta àquela levada adiante por Joe Biden e o Partido Democrata. Trump não deixou claro o que vislumbra como possível auxílio da Rússia no Oriente Médio - se quer negociar a estruturação do novo poder na Síria, ou se busca apoio para o projeto racista de limpeza étnica da população palestina em Gaza, e seu deslocamento a países vizinhos a fim de converter a faixa costeira destruída pelo terrorismo sionista na “Riviera do Oriente Médio”. Tampouco fica claro se a política norte-americana passa a ser de seduzir Putin a fim de afastá-lo de Pequim e da influência econômica e política de Xi Jinping, um objetivo de difícil execução dada a aproximação entre China e Rússia. O que deixou claro com a ligação é que secundariza a importância da Europa na discussão sobre o destino do conflito - e negligencia a própria participação das potências aliadas à OTAN na Europa nas conversas sobre as cláusulas de um vago acordo de cessar-fogo.

Com efeito, Pete Hegseth, secretário de Defesa de Trump, questionou duas das diretrizes até aqui consideradas inabaláveis pela política belicista europeia. Em entrevista, declarou que o governo ucraniano de Volodymyr Zelensky não podia ter ilusões de recuperar militarmente o território incorporado pela Rússia, quer seja a península da Crimeia arrebatada em 2014, quer seja a região oriental do Donbass, tomada pela invasão de 2022. Além disso, negou qualquer possibilidade de que a garantia de segurança da Ucrânia num acordo de cessar-fogo fosse sua incorporação à OTAN. “Qualquer garantia de segurança deve ser apoiada por tropas europeias e não europeias competentes [...] as tropas enviadas para a Ucrânia não devem fazer parte de uma missão da OTAN, nem ser cobertas pela cláusula de defesa mútua do Artigo 5 da aliança”. No curso da Conferência de Munique, os EUA solicitaram às capitais europeias que apresentassem propostas detalhadas sobre o armamento, as tropas de manutenção da paz e os acordos de segurança que poderiam fornecer à Ucrânia como parte de qualquer garantia para pôr fim à guerra com a Rússia.

Trata-se de uma humilhação aos governos europeus que acataram velozmente a orientação militarista dos Estados Unidos para a região oriental do continente; um insulto direto para a Ucrânia, cujo governo Zelensky regateia a entrega das riquezas minerais nacionais - as famosas terras raras, utilizadas para a confecção de baterias elétricas e semicondutores - desejadas por Trump em troca do seguimento do apoio logístico. As negociações seguirão provavelmente à revelia da vontade europeia. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, conversou durante a Conferência de Munique com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, antes das conversações de alto nível entre Washington e Moscou que ocorrerão na próxima semana na Arábia Saudita. Segundo o Financial Times, Rubio “reafirmou o compromisso de Donald Trump em encontrar um fim para o conflito na Ucrânia [...] Além disso, discutiram a oportunidade de potencialmente trabalharem juntos em uma série de outras questões bilaterais.” Eles também concordaram em criar “uma linha de comunicação para resolver os problemas no relacionamento entre os EUA e a Rússia no interesse de remover as barreiras unilaterais à cooperação comercial, econômica e de investimentos mutuamente benéfica herdada da administração anterior”, em uma aparente indicação de que os EUA estavam preparados para reverter as sanções contra Moscou por causa da invasão.

Essa é uma reversão quase completa diante da política de Biden, que foi usufruída pelos Estados Unidos como engrenagem para submeter a Europa a sua orientação militarista, que passava pelo debilitamento da Rússia sem o uso de tropas ou soldados estadunidenses no terreno. O objetivo estratégico era preservar a ordem mundial unipolar dominada pelos Estados Unidos, enfraquecendo o principal aliado da China na política “revisionista” do estatuto de Estados. Embora compartilhe a primeira porção da fórmula, Trump tem uma postura distinta em relação à Rússia de Putin, a quem louvou como “gênio” depois da invasão em fevereiro de 2022. Isso inclina a política de Washington a uma saída mais negociada do que planejava o Partido Democrata, assim como a tentativas de sedução do governo russo sobre as perspectivas de um “trabalho comum em múltiplas áreas” com a Casa Branca - algo que deve aguçar as preocupações de Pequim.

De todo modo, se a Rússia demonstra muita dificuldade em conquistar pela força o território ucraniano, tampouco o belicismo Democrata mostrava êxito em debilitar uma Rússia auxiliada pela China e pelo Irã. Muito antes dos três anos de conflito, ficou claro que Kiev não poderia vencer a guerra, e o próprio Zelensky assim o confessou. Richard Haas, do Foreign Affairs, preparava o terreno para a reviravolta política de Trump na Guerra da Ucrânia questionando a definição prévia do que significaria um “triunfo” no conflito. “Se pressionada, a maioria provavelmente definiria ‘vitória’ de forma semelhante à definição de Kiev, inclusive em seu mais recente ‘plano de vitória’: expulsar as tropas russas de todo o território da Ucrânia, inclusive da Crimeia, e restabelecer o controle sobre suas fronteiras de 1991. Há boas razões para adotar essa definição. A norma mais básica, embora nem sempre honrada, da ordem internacional - uma norma que perdura há cerca de 400 anos - é que as fronteiras devem ser respeitadas. O território não deve ser adquirido por meio da ameaça ou do uso da força armada. Esse foi um dos principais motivos pelos quais os Estados Unidos e outros países se uniram para defender a Coreia do Sul em 1950 e o Kuwait em 1990. No entanto, embora essa definição seja desejável, ela é, em última análise, impraticável. Em princípio, a Ucrânia poderia liberar seu território perdido se os Estados Unidos e seus parceiros europeus interviessem com suas próprias forças. Mas isso exigiria abandonar a estratégia indireta que escolheram em 2022. Isso acarretaria um grande custo humano, militar e econômico. Além disso, apresentaria um risco muito maior, pois significaria uma guerra entre a OTAN e a Rússia com armas nucleares. Por esse motivo, essa política não será adotada”.

Após as palavras de Trump, analistas buscam a reconciliação com a realidade, e passam a pintar com tintas otimistas uma política que até então rechaçavam. De acordo com Lawrence Freedman: “Muitos na Ucrânia acolheriam um cessar-fogo. O país está cansado e danificado por quase três anos de guerra, e poderia se beneficiar de uma pausa para fortalecer suas forças armadas e reanimar sua economia. Um cessar-fogo não exige, como os russos esperam, que a Ucrânia abandone para sempre as esperanças de recuperar seu território perdido. Os norte-americanos também não sugeriram que a Ucrânia deveria aceitar o restante das exigências de Moscou - que conceda ainda mais território à Rússia, desarme suas forças e mude seu regime e sua constituição. Putin, sem dúvida, está muito feliz por ser tratado com respeito por Trump. Mas sem que essas outras exigências sejam atendidas, ele não terá alcançado seus objetivos de guerra [...] Assim, à medida que as equipes de negociação começam a se engajar, Putin precisa decidir se pode se afastar de suas exigências maximalistas. Talvez ele possa concordar com um cessar-fogo, mas somente com um cronograma de negociação rigoroso para um acordo final e algum alívio antecipado nas sanções; talvez ele possa conceder à Ucrânia a adesão à UE. Mas se a Ucrânia permanecer independente e armada, ele terá fracassado. Se Putin acabar sendo responsabilizado pelo fracasso desse grande esforço pela paz, ele poderá descobrir que até mesmo Trump está pronto para aumentar o apoio a Kiev e impor mais sanções à Rússia”.

Nenhum cenário está fechado para o conflito, e está longe de ser simples uma negociação de cessar-fogo encabeçada por interlocutores tão volúveis quanto Trump e Putin. Os contornos gerais de um pacto de cessar-fogo, aliás, estão desenhados há algum tempo, e são muito parecidos com o armistício que interrompeu a Guerra da Coreia em 1953. Mas o que parece ser certo é que a posição da Europa se enfraquece consideravelmente. Trump está completando à medida de pauladas diplomáticas o movimento de subordinação do continente europeu já acelerado na administração Biden. A política do capitalismo europeu não tem piloto e entrega o leme à força para Trump, para além dos arroubos de indignação no Palácio do Eliseu.

A combinação de todos esses fatores críticos e o fato de que, aconteça o que acontecer na Ucrânia, são os europeus que arcarão com o peso da guerra, podem-se acelerar as tendências centrífugas da União Europeia. Como debatemos em múltiplas ocasiões no Esquerda Diário, toda posição de esquerda ou anti-imperialista deve repudiar aberta e enfaticamente a ocupação decidida pelo governo autocrático de Putin e exigir a retirada imediata das forças militares russas de todo o território ucraniano. Ao mesmo tempo, deve alentar entre a população ucraniana o surgimento de uma posição independente do governo pró-imperialista de Zelensky - que agora negocia com Trump a entrega dos recursos minerais do país - e das diferentes forças nacionalistas reacionárias, subordinadas às potências da OTAN. Deve incluir no seu programa o direito à auto-determinação para as populações de Donetsk e Luhansk, sem o qual é impossível superar a atual divisão da população, presa de direções burguesas rivais que disputam entre si a subordinação a Putin ou aos imperialismos ocidentais. Nas repúblicas separatistas do Leste ucraniano, também é necessário se opor à ocupação russa, enfrentando a demagogia de Putin que utiliza as justas demandas da população de origem russa para seus interesses. Para isso, a única saída é a luta por uma Ucrânia socialista, operária e independente. O movimento de trabalhadores europeus e internacionais deve se preparar para lutar contra as futuras tendências de militarização no continente.

A burguesia europeia e seus governos estão em posição de choque e certa paralisia diante do período de renovação da competição entre grandes potências. Trump faz questão de sublinhar esse fato. O continente europeu é um dos epicentros da crise política internacional. Diante disso, fica mais evidente o fracasso das distintas variantes (anti)estratégicas do neorreformismo, que quiseram governar o capital europeu em coalizão com forças tradicionais dos regimes imperialistas, como o caso do Podemos no Estado espanhol (em aliança com o neoliberal PSOE), ou como o Syriza da Grécia, que passou rapidamente de um discurso "antiausteridade" (sem anticapitalismo) para a aplicação dos principais ataques exigidos pela Alemanha e o Banco Central Europeu. Mesmo o Die Linke, apesar de certa recuperação de caudal eleitoral, teve um enfraquecimento nos últimos anos por sua integração à ordem, incluindo cargos de governo no Estado imperialista alemão. Tais modalidades da conciliação de classes se puseram estritamente contrárias ao desenvolvimento da luta de classes independente dos trabalhadores, aplicaram ataques em favor dos empresários quando governaram, e levaram ao fortalecimento das forças da direita nos seus respectivos países.

greve geral dos trabalhadores belgas contra os ajustes do governo de extrema direita em Bruxelas mostra uma grande reserva da luta de classes, que estourou na França contra a reforma das aposentadorias em 2023, e na Alemanha diante das mobilizações dos trabalhadores dos transportes. É fundamental que os trabalhadores, no rechaço aos distintos governos imperialistas e às forças de extrema direita, desenvolvam um internacionalismo orgânico, em defesa dos imigrantes e dos povos oprimidos pelas burguesias continentais em todo o mundo. É o que os grupos da Fração Trotskista pela Quarta Internacional vem fazendo nos diversos países europeus em que está presente, como na campanha dos companheiros do Klasse Gegen Klasse nas eleições alemãs, com uma política anti-imperialista e de independência de classe vinculada ao combate ao governo e à extrema direita da AfD nas manifestações antirracistas, e o que nossos companheiros do Révolution Permanente debateram em seu primeiro Congresso, avançando as posições do trotskismo na extrema esquerda francesa.

Nesse contexto, é essencial que a classe trabalhadora tenha uma posição independente de todos os governos capitalistas do continente, fomentadores da extrema direita e amplificadores da política militarista dos Estados Unidos. Como dizia León Trotsky a respeito, em 1929, tomando o problema da fragmentação da Europa capitalista diante da potência em ascensão dos Estados Unidos: “A essência de nossa época está no fato de que as forças produtivas definitivamente ultrapassaram as estruturas do estado nacional e, principalmente na Europa e na América do Norte, assumiram proporções em parte continentais, em parte globais. A guerra imperialista surgiu como produto da contradição entre as forças produtivas e as fronteiras nacionais. E a paz de Versalhes, que encerrou a guerra, agravou ainda mais essa contradição. Em outras palavras: devido ao desenvolvimento das forças produtivas, o capitalismo há muito tempo perdeu a capacidade de existir em um só país. O socialismo, por outro lado, estará baseado em forças produtivas muito mais desenvolvidas; caso contrário, não significaria progresso, mas regressão em relação ao capitalismo. Em 1914, escrevi: ‘Se o problema do socialismo fosse compatível com os limites de um estado nacional, ele também seria compatível com a defesa nacional’. A fórmula Estados Unidos soviéticos da Europa é precisamente a expressão política da ideia de que o socialismo é impossível em um só país. O socialismo não pode alcançar seu pleno desenvolvimento nem mesmo dentro dos limites de um só continente. Os Estados Unidos Socialistas da Europa são a consigna histórica no caminho para uma federação socialista mundial”. Nesse mesmo sentido, os socialistas revolucionários devem multiplicar a propaganda em favor dos Estados Unidos socialistas da Europa, não apenas como uma arma contra a Europa do capital, mas também contra todo o veneno nacionalista carregado pela extrema direita dentro da União Europeia ou por potências reacionárias como a Rússia.

 

Fonte: Esquerda Diário

 

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