terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Sandra Cohen:  Excluída por Trump, Europa finalmente acordou

 A Europa finalmente parece ter despertado para a mudança de rota traçada pelo novo governo dos EUA, ainda que esteja a reboque das investidas hostis à política de segurança que predomina há 80 anos no continente.

Diante das condições vulneráveis com que Trump posiciona a aliança transatlântica, o presidente Emmanuel Macron convocou às pressas uma reunião com os líderes dos principais países europeus nesta segunda-feira, ao mesmo tempo em que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, desembarcou na Arábia Saudita para discutir as bases do fim da guerra na Ucrânia com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov.

Em outras palavras, Trump excluiu e isolou os europeus do debate sobre o confronto bélico que se desenrola há três anos em seu continente, acenando diretamente para o ditador Vladimir Putin, com quem conversou na semana passada por 90 minutos.

O presidente americano expôs a fragilidade europeia para a missão de ter de defender a sua própria segurança e também a da Ucrânia, que ficou de fora da mesa de negociações com a Rússia.

A reação rápida e desarvorada do bloco, habituado a tomar decisões na velocidade de um cágado, denotou o desassossego de parte de seus governantes, que agora correm em busca de um papel expressivo na busca por um cessar-fogo.

Num artigo publicado no “Daily Telegraph”, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou que está disposto a enviar tropas britânicas para a Ucrânia como parte de qualquer acordo de paz. Prestes a encontrar-se com Trump, o premiê trabalhista defendeu o aumento de gastos com a defesa e um papel maior na Otan, como insiste o presidente americano.

Na reunião de emergência, juntaram-se a Macron e Starmer os chefes de governo de Alemanha, Polônia, Itália, Espanha, Holanda e Dinamarca. Eles vão tentar estabelecer a possível implantação de tropas europeias na Ucrânia para dar suporte a uma futura linha de cessar-fogo.

A formação deste clube informal de líderes, como afirmou Macron, indica também como a Europa está dividida e suscetível às ofensivas da extrema direita e do presidente russo, num momento que contrasta frontalmente com o da unidade do bloco demonstrada em fevereiro de 2022, quando a Ucrânia foi invadida.

Nesse contexto, o discurso do vice-presidente americano, JD Vance, em Munique, disse tudo a quem ainda tinha dúvidas sobre a ofensiva do atual governo americano à aliança transatlântica e à mudança de rota ao modelo europeu estabelecido no pós-guerra.

Vance repreendeu os líderes europeus por afastar a extrema direita do processo democrático. Ponderou que a maior ameaça ao continente vem de dentro e não da Rússia ou da China, em alusão ao inimigo interno dos EUA, delineado por Trump durante sua campanha eleitoral.

Numa afronta ao chanceler alemão, Olaf Scholz, e ao candidato conservador Friedrich Merz, favorito nas eleições do próximo domingo, Vance preferiu abraçar a candidata do Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel.

Por tabela, o vice-presidente americano legitimou os símbolos e slogans do Terceiro Reich, que o partido de extrema direita alemão tem registrados em seu DNA. É isso que também desnorteia os aliados europeus dos EUA.

¨      Países europeus têm de aumentar gastos em Defesa contra ameaça da Rússia ao continente, dizem líderes após reunião sobre Ucrânia

Líderes europeus afirmaram nesta segunda-feira (17) que o continente precisa aumentar o gasto militar para se proteger da ameaça expansionista da Rússia. Diversos chefes de Estado se reuniram em Paris em uma reunião de emergência para discutir a guerra da Ucrânia e um maior alinhamento entre EUA e Moscou.

"A Rússia está ameaçando toda a Europa agora, infelizmente", disse a primeiro-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, aos repórteres.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que deve haver um compromisso de segurança dos EUA para que os países europeus enviem forças de paz após um eventual fim da guerra para a Ucrânia e que era muito cedo para dizer quantos soldados britânicos ele estaria disposto a mobilizar.

"A Europa deve desempenhar seu papel, e estou preparado para considerar enviar forças britânicas no solo junto com outras, se houver um acordo de paz duradouro, mas deve haver um apoio dos EUA, porque uma garantia de segurança dos EUA é a única maneira de efetivamente dissuadir a Rússia de atacar a Ucrânia novamente", disse Starmer aos repórteres.

<><> Encontro de emergência

A reunião desta segunda foi convocada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, diante dos últimos acontecimentos envolvendo o conflito:

·        Na quarta-feira (12), o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que conversou com o líder russo Vladimir Putin sobre a guerra na Ucrânia.

·        No mesmo dia, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que é improvável que a Ucrânia recupere todo o território que controlava em 2014, quando a Crimeia foi anexada pela Rússia.

·        A Ucrânia e líderes europeus passaram a desconfiar que os Estados Unidos poderiam negociar um acordo de paz com a Rússia sem a participação do governo ucraniano.

·        Na quinta-feira (13), Trump declarou que a Ucrânia teria "um lugar à mesa" nas negociações para o fim do conflito.

·        O presidente americano também chegou a anunciar um encontro entre autoridades dos Estados Unidos, Ucrânia e Rússia na Alemanha, na sexta-feira (14). No entanto, o governo ucraniano afirmou que não conversaria com os russos antes de traçar um plano com seus aliados.

🌍 Temor europeu: Os Estados Unidos sugeriram que a Europa poderia não ter um papel ativo nas negociações para o fim da guerra na Ucrânia, o que gerou preocupações entre os líderes europeus. Além disso, há receio de que um possível acordo favoreça a Rússia.

·        Especialistas militares europeus alertam que concessões excessivas a Moscou, como a entrega de territórios ucranianos, colocariam a segurança do continente em risco.

·        Dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), também causou incômodo o fato de Trump ter ligado para Putin sem antes discutir um plano de paz com os aliados europeus.

·        Ao mesmo tempo, reuniões anteriores da União Europeia revelaram divergências internas sobre a formulação de um plano coeso para conter Putin e garantir a segurança da Ucrânia.

·        Para tentar acalmar os ânimos, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou no domingo (16) que a Europa faria parte de quaisquer "negociações reais" para o fim da guerra.

·        Os EUA também enviaram um questionário às autoridades europeias perguntando, entre outros pontos, quantas tropas cada país poderia disponibilizar para garantir a implementação de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia.

·        Essas regiões ucranianas possuem minerais valiosos, essenciais para a indústria eletrônica.

·        Entre os recursos encontrados nessas áreas estão manganês, urânio, titânio, lítio, minérios de zircônio, além de carvão, gás e petróleo.

·        Inicialmente, Zelensky havia elaborado um "plano da vitória" que permitia a exploração desses minerais por aliados em solo ucraniano.

·        Diante da aproximação entre Trump e Putin, o presidente ucraniano demonstrou preocupação. Em entrevista à rede americana NBC, Zelensky questionou se os minerais localizados em áreas da Ucrânia atualmente ocupadas pela Rússia seriam entregues a Putin em um eventual acordo.

·        Zelensky afirmou ainda que a Ucrânia recusou um acordo proposto pelos Estados Unidos sobre as terras raras, já que o governo Trump não forneceu as garantias de segurança necessárias.

·        Autoridades dos EUA e da Rússia devem se reunir na Arábia Saudita nos próximos dias para iniciar as negociações sobre o fim da guerra.

<><> Europa com Zelensky

Na sexta-feira (14), antes da convocação da reunião de emergência, Macron publicou uma mensagem nas redes sociais afirmando ter conversado com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Ele também mencionou os esforços de Trump.

"Se o presidente Donald Trump puder realmente convencer o presidente Putin a parar a agressão contra a Ucrânia, isso é uma ótima notícia. Então, serão os ucranianos sozinhos que poderão conduzir as discussões para uma paz sólida e duradoura. Nós os ajudaremos nesse esforço", afirmou.

Macron também afirmou que a Europa precisa fortalecer a segurança coletiva do continente, tornando-se mais autônoma.

Já o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, declarou neste domingo que está pronto para enviar tropas britânicas à Ucrânia como parte de uma missão de manutenção da paz no pós-guerra.

Segundo Starmer, a presença de tropas europeias na Ucrânia será essencial para impedir novas agressões de Putin.

Nesta segunda-feira, além de Macron e Starmer, outras autoridades europeias devem participar da reunião de emergência, como:

·        Olaf Scholz, chanceler da Alemanha;

·        Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália;

·        Mark Rutte, secretário-geral da Otan.

¨      Ucrânia rejeita acordo com EUA por acesso a terras raras

O presidente ucraniano Volodimir Zelenski disse em uma entrevista transmitida neste domingo (16/02) que recusou um acordo proposto pelos Estados Unidos pelo acesso a minerais essenciais de seu país, pois as garantias de segurança pedidas por Kiev não foram cumpridas.

"Se não recebermos as garantias de segurança dos Estados Unidos, acredito que o tratado econômico não funcionará", afirmou ao canal NBC.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quer acesso às chamadas "terras raras" ucranianas como contrapartida à manutenção da ajuda financeira e militar de Washington contra a invasão russa.

A expectativa de Trump é a de reduzir a dependência americana dos minerais fornecidos pela China. Zelenski já havia sinalizado disposição a assegurar o acesso de países aliados a esses recursos, indispensáveis na fabricação de itens produzidos pelas indústrias de tecnologia, armamentista e espacial.

No último sábado, Zelenski participou da Conferência de Segurança de Munique e disse que o acordo não é do interesse da Ucrânia neste momento.

A proposta foi um dos focos das conversas de Zelenski com o vice-presidente dos EUA, JD Vance, à margem da conferência na última sexta-feira.

"Eu não deixei os ministros assinarem um acordo relevante porque, na minha visão, ele não está pronto para nos proteger, para proteger nosso interesse", afirmou o governante ucraniano à agência de notícias Associated Press (AP). Na ocasião, o presidente ucraniano também pediu a formação de um "Exército da Europa".

A Ucrânia está agora preparando uma "contraproposta" que será entregue aos EUA. "Acho importante que o vice-presidente [dos EUA] tenha entendido que, se quisermos assinar algo, temos que entender que funcionará", disse Zelenski à AP. Isso significa, segundo ele, que "trará dinheiro e segurança".

<><> EUA criticam decisão de Zelenski

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Brian Hughes, afirmou em um comunicado que "o presidente Zelenski está com a visão limitada em relação à excelente oportunidade que o governo Trump apresentou à Ucrânia".

Segundo ele, o acordo permitiria que os contribuintes americanos "recuperassem" o dinheiro enviado à Kiev, ao mesmo tempo que impulsionaria a economia da Ucrânia.

O comunicado acrescentou que Washington acredita que "laços econômicos vinculativos com os Estados Unidos serão a melhor garantia contra futuras agressões e uma parte integral de uma paz duradoura".

"Os EUA reconhecem isso, os russos reconhecem isso e os ucranianos devem reconhecer isso", concluiu o texto.

<><> Europa à margem das negociações

A decisão de Zelenski acontece em meio a um crescente receio dos países europeus de que os EUA possam excluí-los das conversas de paz entre Ucrânia e Rússia.

Na semana passada, Trump surpreendeu seus aliados europeus ao iniciar discussões sobre um acordo de paz para terminar a guerra na Ucrânia em uma ligação com o presidente russo, Vladimir Putin.

A Casa Branca também alertou seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que a Europa não será mais sua principal prioridade de segurança.

O Kremlin tem pressionado para que as negociações de paz – que devem começar na Arábia Saudita nos próximos dias – discutam não apenas a guerra da Ucrânia, que se aproxima do terceiro aniversário, mas também a segurança europeia mais ampla.

Isso provocou temores entre as nações europeias de que Putin poderia retomar as exigências que ele fez antes da invasão de 2022, com o objetivo de limitar as forças da Otan no leste da Europa e o envolvimento dos EUA no continente.

Na semana passada, Trump também disse que "adoraria" ter a Rússia de volta ao G7, do qual foi suspensa em 2014, depois que anexou a península da Crimeia, na Ucrânia.

Na última sexta-feira, o discurso do vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, na Conferência de Munique, também gerou insatisfação na Europa ao indicar um posicionamento duro dos americanos em relação à política interna das nações europeias.

Uma fala do enviado especial de Trump para a Ucrânia e a Rússia no último sábado, general Keith Kellogg, acirrou ainda mais as tensões ao praticamente excluir os europeus das conversas de paz.

"Você pode ter os ucranianos, os russos e, claramente, os americanos na mesa de negociações", disse Kellogg na conferência de Munique. Pressionado sobre se isso significava que os europeus não seriam incluídos, ele disse: "Sou da escola do realismo. Acho que isso não vai acontecer".

<><> França reage aos EUA e marca conferência sobre Ucrânia

Em reação ao posicionamento americano, a França anunciou neste domingo que vai sediar em Paris uma reunião para tratar dos esforços dos EUA para acabar com a guerra na Ucrânia.

"Devido à aceleração da questão ucraniana, e como resultado do que os líderes dos EUA estão dizendo, há uma necessidade de os europeus fazerem mais, melhor e de forma coerente, para a nossa segurança coletiva", disse um assessor do gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron.

Foram convidados chefes de governo da Alemanha, Reino Unido, Itália, Polônia, Espanha, Holanda e Dinamarca para discutir "a situação na Ucrânia" e a "segurança na Europa', de acordo com a presidência francesa.

Neste domingo, a agência de notícias Reuters informou que as autoridades americanas haviam entregue aos líderes europeus um questionário perguntando, entre outras coisas, quantas tropas poderiam contribuir para a aplicação de um acordo de paz na Ucrânia.

No entanto, nenhum aliado europeu foi convidado para as conversas entre russos e americanos, que acontecerão na Arábia Saudita.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, minimizou a reclamação dos europeus e disse que o acordo com a Rússia "não foi finalizado ainda". "Um processo em direção à paz não é uma coisa de uma reunião só", disse à rede CBS no encerramento da Conferência de Segurança de Munique neste domingo.

 

Fonte: g1

 

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