O que é infecção
polimicrobiana das vias respiratórias
O Vaticano informou
nesta segunda-feira (17/2) que o papa Francisco foi diagnosticado com uma
infecção polimicrobiana nas vias respiratórias, e que sua condição clínica é
"complexa".
O papa, que está
com 88 anos, foi internado no
hospital Gemelli, em Roma, na sexta-feira (14/2) para passar por tratamento e
exames de bronquite.
De acordo com a
Santa Sé, o tratamento do pontífice foi ajustado após o diagnóstico, e não há
previsão de alta. Ele permanecerá internado pelo tempo que for necessário.
"Os resultados
dos exames realizados nos últimos dias, incluindo os de hoje, indicaram uma
infecção polimicrobiana no trato respiratório, o que levou a uma nova alteração
no tratamento. Todos os testes realizados até o momento apontam para um quadro
clínico complexo, que exigirá internação hospitalar adequada", informou o
boletim.
Antes de sua
internação na semana passada, o papa teve sintomas de bronquite por vários
dias e não conseguiu ler um discurso em um de seus compromissos.
O porta-voz do
Vaticano, Matteo Bruni, disse a repórteres que o pontífice está de bom humor.
Uma nova
atualização sobre a situação do papa será divulgada ainda nesta segunda-feira,
acrescentou Bruni.
·
O
que é a infecção polimicrobiana das vias respiratórias
O termo utilizado
para o diagnóstico indica que a infecção é causada por mais de um agente microbiano, como vírus, fungos ou bactérias.
"A infecção
polimicrobiana pode ocorrer em diversas partes do corpo, incluindo as vias
aéreas. Trata-se de uma co-infecção, ou seja, a presença de múltiplos
micro-organismos causadores de infecção", explica Renato Kfouri,
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
No caso do
pontífice, não foi divulgado quais agentes estão causando o quadro.
O diagnóstico
prévio de bronquite, embora não forneça detalhes específicos sobre a origem da
condição, pode contribuir para a piora geral da imunidade, conforme explica
explica Ricardo de Amorim Corrêa, presidente da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
"Isso ocorre
porque, após o início da inflamação [bronquite], o ambiente nos brônquios se torna
propício à invasão de germes, especialmente quando o dano causado por um vírus
favorece o crescimento de bactérias. A bronquite aguda, portanto, pode ser
causada tanto por micróbios quanto por fatores não infecciosos, e a infecção
bacteriana pode surgir como uma complicação."
Segundo Corrêa,
os idosos são
consideravelmente mais suscetíveis ao quadro devido à diminuição natural da
resposta imunológica, tanto no sistema imunológico geral quanto na resposta
local nos brônquios.
O fato de o Papa
Francisco não ter parte do pulmão, devido a uma complicação na juventude, torna
o quadro mais delicado.
"A gravidade
de quadros inflamatórios infecciosos depende da extensão do comprometimento
pulmonar. Isso pode dificultar a respiração, pois a inflamação nos brônquios
[tubos que levam o ar para os pulmões] pode reduzir o fluxo de ar para os
pulmões. O paciente precisa ter uma boa reserva ventilatória, ou seja,
capacidade de respirar adequadamente, para lidar com essa maior demanda e
limitação causadas pela inflamação"
"Se o paciente
já tem parte dos brônquios comprometida, o problema pode ser ainda mais grave.
Por exemplo, ele pode ter dificuldade em absorver oxigênio adequadamente,
devido à inflamação, e, em alguns casos, pode ser necessário o uso de oxigênio
suplementar. Se a condição piorar, pode ser preciso recorrer à ventilação
mecânica", explica Corrêa.
Para diagnosticar
uma infecção polimicrobiana, diversos métodos podem ser utilizados. O mais comum
é a coleta de amostras de escarro, uma vez que a inflamação nos brônquios
favorece o aumento da secreção mucosa, cuja função é eliminar o agente
agressor.
"Essa secreção
geralmente contém células inflamatórias, o que a torna amarelada ou esverdeada.
A cultura dessa secreção permite identificar os agentes responsáveis pela
infecção", aponta o presidente da SBPT.
Mas a identificação
de vírus tende a ser complicada, diz o especialista.
"Por isso
utiliza-se o método PCR [como foi feito para covid-19 e influenza], que permite
identificar material genético do vírus. No entanto, a cultura viral é muito
lenta e os meios para realizá-la são limitados."
O tratamento,
aponta o especialista, varia conforme o tipo de bactéria envolvida e sua
sensibilidade aos antibióticos. Em infecções causadas por uma única bactéria,
pode-se utilizar um antibiótico específico.
No entanto, quando
há múltiplos germes presentes, é necessário recorrer a antibióticos de espectro
mais amplo, capazes de combater diferentes tipos de bactérias. Se houver a
presença de vírus, o tratamento pode incluir antivirais, além dos antibióticos.
¨ Metapneumovírus: o que é o vírus respiratório por trás
de alta de infecções na China
Casos de
metapneumovírus (HMPV), um vírus respiratório que causa
sintomas gripais, têm aumentado rapidamente no norte da China, especialmente
entre crianças, de acordo com as autoridades locais.
O Centro de
Controle de Doenças do país alertou a população sobre a importância de adotar
medidas de saúde e higiene, e
também rebateu o que chamou de rumores publicados na internet sobre hospitais
lotados e descartou temores de uma nova pandemia semelhante à da covid-19.
O metapneumovírus
humano não é novo e pertence a uma família bem caracterizada por causar
infecções respiratórias.
Um membro mais
conhecido dessa família é o vírus respiratório-sincicial, que é a causa
mais comum de internações de crianças, por exemplo, com bronquite e
bronquiolite.
O HMPV foi
descoberto em 2001 na Holanda e, deste então, registrado em países de vários
continentes, como Índia, Inglaterra, Austrália e Chile. No Brasil, foi
identificado em um paciente pela primeira vez em 2004.
O vírus se tornou
bastante prevalente no território nacional desde aquele ano, explica o
virologista Flavio Fonseca, professor do Departamento de Microbiologia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"Desde então,
alguns poucos estudos foram realizados, mas mostram a circulação bem prevalente
desse vírus, variando de 19% até mais de 50% [da população], dependendo da
região, e presente em várias partes do Brasil, do Nordeste ao Sul", descreve
Fonseca.
Na avaliação do
professor, as chances desse vírus se comportar e se transformar de maneira
semelhante ao Sars-CoV-2, como aconteceu com o vírus de 2019, são muito
pequenas.
"A população
mundial já apresenta uma certa imunidade natural contra ele. Isso é diferente
da Covid-19, que era um vírus completamente novo, sem imunidade pré-existente,
o que facilitou sua propagação pandêmica. Esse é o primeiro ponto que sugere
que provavelmente esse vírus não terá o mesmo comportamento global e não se transformará
em uma pandemia."
Outro ponto
importante, diz Fonesca, é que, embora existam alguns casos graves relacionados
a essa infecção, a maioria das infecções é leve, como um resfriado ou uma
infecção do trato respiratório superior.
Apenas pessoas mais
vulneráveis, como crianças, idosos ou pessoas com imunossupressão, apresentam
maior risco de desenvolver complicações graves.
"É necessário
estudar as causas do aumento inesperado de casos, especialmente na China, e
investigar se houve alguma mutação que tenha levado a um maior número de
infecções. Até o momento, não há respostas definitivas."
"Contudo, é
consenso entre os virologistas que, embora a situação exija investigação, a
preocupação global está mais relacionada ao nível de vigilância atual, após o
impacto da Covid-19, do que a um real problema grave na China."
<><> Sintomas
e transmissão do vírus
De acordo com o CDC
(Centers for Disease Control and Prevention), a agência de controle e prevenção
de doenças dos EUA, os sintomas mais comuns associados ao HMPV incluem
tosse, febre, congestão nasal e
falta de ar.
Em alguns casos, a
infecção pode evoluir para bronquite ou pneumonia, com manifestações
clínicas semelhantes às de outros vírus que causam infecções respiratórias das
vias superiores e inferiores.
A infecção
geralmente ocorre nos primeiros anos de vida e a reinfecção é comum.
O período de
incubação (tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas) estimado
varia de 3 a 6 dias, e a duração média da doença depende da gravidade, mas
tende a ser semelhante a outras infecções respiratórias virais.
Assim como outros
vírus respiratórios, o HMPV é transmitido principalmente de uma pessoa
infectada para outra por meio de secreções liberadas ao tossir ou espirrar,
contato pessoal próximo, como apertos de mão ou toques, ou ao tocar objetos ou
superfícies contaminadas e, em seguida, levar as mãos à boca, ao nariz ou aos
olhos.
Não há tratamento
específico ou vacina contra o metapneumovírus.
Quando alguém é
infectado, recomenda-se o tratamento, com orientação profissional, para aliviar
sintomas.
De acordo com
a American Lung Association, organização americana focada na saúde
pulmonar, isso geralmente envolve o uso de medicamentos para controlar a dor e
a febre (como paracetamol e ibuprofeno), além de um descongestionante.
Para pacientes com
chiado no peito e tosse mais graves, o médico pode recomendar o uso de
corticosteroide inalado ou oral (como a prednisona) para reduzir a inflamação e
melhorar a respiração.
Fonte: BBC News
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