terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

O que é infecção polimicrobiana das vias respiratórias

Vaticano informou nesta segunda-feira (17/2) que o papa Francisco foi diagnosticado com uma infecção polimicrobiana nas vias respiratórias, e que sua condição clínica é "complexa".

O papa, que está com 88 anos, foi internado no hospital Gemelli, em Roma, na sexta-feira (14/2) para passar por tratamento e exames de bronquite.

De acordo com a Santa Sé, o tratamento do pontífice foi ajustado após o diagnóstico, e não há previsão de alta. Ele permanecerá internado pelo tempo que for necessário.

"Os resultados dos exames realizados nos últimos dias, incluindo os de hoje, indicaram uma infecção polimicrobiana no trato respiratório, o que levou a uma nova alteração no tratamento. Todos os testes realizados até o momento apontam para um quadro clínico complexo, que exigirá internação hospitalar adequada", informou o boletim.

Antes de sua internação na semana passada, o papa teve sintomas de bronquite por vários dias e não conseguiu ler um discurso em um de seus compromissos.

O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse a repórteres que o pontífice está de bom humor.

Uma nova atualização sobre a situação do papa será divulgada ainda nesta segunda-feira, acrescentou Bruni.

·        O que é a infecção polimicrobiana das vias respiratórias

O termo utilizado para o diagnóstico indica que a infecção é causada por mais de um agente microbiano, como vírus, fungos ou bactérias.

"A infecção polimicrobiana pode ocorrer em diversas partes do corpo, incluindo as vias aéreas. Trata-se de uma co-infecção, ou seja, a presença de múltiplos micro-organismos causadores de infecção", explica Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

No caso do pontífice, não foi divulgado quais agentes estão causando o quadro.

O diagnóstico prévio de bronquite, embora não forneça detalhes específicos sobre a origem da condição, pode contribuir para a piora geral da imunidade, conforme explica explica Ricardo de Amorim Corrêa, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

"Isso ocorre porque, após o início da inflamação [bronquite], o ambiente nos brônquios se torna propício à invasão de germes, especialmente quando o dano causado por um vírus favorece o crescimento de bactérias. A bronquite aguda, portanto, pode ser causada tanto por micróbios quanto por fatores não infecciosos, e a infecção bacteriana pode surgir como uma complicação."

Segundo Corrêa, os idosos são consideravelmente mais suscetíveis ao quadro devido à diminuição natural da resposta imunológica, tanto no sistema imunológico geral quanto na resposta local nos brônquios.

O fato de o Papa Francisco não ter parte do pulmão, devido a uma complicação na juventude, torna o quadro mais delicado.

"A gravidade de quadros inflamatórios infecciosos depende da extensão do comprometimento pulmonar. Isso pode dificultar a respiração, pois a inflamação nos brônquios [tubos que levam o ar para os pulmões] pode reduzir o fluxo de ar para os pulmões. O paciente precisa ter uma boa reserva ventilatória, ou seja, capacidade de respirar adequadamente, para lidar com essa maior demanda e limitação causadas pela inflamação"

"Se o paciente já tem parte dos brônquios comprometida, o problema pode ser ainda mais grave. Por exemplo, ele pode ter dificuldade em absorver oxigênio adequadamente, devido à inflamação, e, em alguns casos, pode ser necessário o uso de oxigênio suplementar. Se a condição piorar, pode ser preciso recorrer à ventilação mecânica", explica Corrêa.

Para diagnosticar uma infecção polimicrobiana, diversos métodos podem ser utilizados. O mais comum é a coleta de amostras de escarro, uma vez que a inflamação nos brônquios favorece o aumento da secreção mucosa, cuja função é eliminar o agente agressor.

"Essa secreção geralmente contém células inflamatórias, o que a torna amarelada ou esverdeada. A cultura dessa secreção permite identificar os agentes responsáveis pela infecção", aponta o presidente da SBPT.

Mas a identificação de vírus tende a ser complicada, diz o especialista.

"Por isso utiliza-se o método PCR [como foi feito para covid-19 e influenza], que permite identificar material genético do vírus. No entanto, a cultura viral é muito lenta e os meios para realizá-la são limitados."

O tratamento, aponta o especialista, varia conforme o tipo de bactéria envolvida e sua sensibilidade aos antibióticos. Em infecções causadas por uma única bactéria, pode-se utilizar um antibiótico específico.

No entanto, quando há múltiplos germes presentes, é necessário recorrer a antibióticos de espectro mais amplo, capazes de combater diferentes tipos de bactérias. Se houver a presença de vírus, o tratamento pode incluir antivirais, além dos antibióticos.

¨      Metapneumovírus: o que é o vírus respiratório por trás de alta de infecções na China

Casos de metapneumovírus (HMPV), um vírus respiratório que causa sintomas gripais, têm aumentado rapidamente no norte da China, especialmente entre crianças, de acordo com as autoridades locais.

O Centro de Controle de Doenças do país alertou a população sobre a importância de adotar medidas de saúde e higiene, e também rebateu o que chamou de rumores publicados na internet sobre hospitais lotados e descartou temores de uma nova pandemia semelhante à da covid-19.

O metapneumovírus humano não é novo e pertence a uma família bem caracterizada por causar infecções respiratórias.

Um membro mais conhecido dessa família é o vírus respiratório-sincicial, que é a causa mais comum de internações de crianças, por exemplo, com bronquite e bronquiolite.

O HMPV foi descoberto em 2001 na Holanda e, deste então, registrado em países de vários continentes, como Índia, Inglaterra, Austrália e Chile. No Brasil, foi identificado em um paciente pela primeira vez em 2004.

O vírus se tornou bastante prevalente no território nacional desde aquele ano, explica o virologista Flavio Fonseca, professor do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

"Desde então, alguns poucos estudos foram realizados, mas mostram a circulação bem prevalente desse vírus, variando de 19% até mais de 50% [da população], dependendo da região, e presente em várias partes do Brasil, do Nordeste ao Sul", descreve Fonseca.

Na avaliação do professor, as chances desse vírus se comportar e se transformar de maneira semelhante ao Sars-CoV-2, como aconteceu com o vírus de 2019, são muito pequenas.

"A população mundial já apresenta uma certa imunidade natural contra ele. Isso é diferente da Covid-19, que era um vírus completamente novo, sem imunidade pré-existente, o que facilitou sua propagação pandêmica. Esse é o primeiro ponto que sugere que provavelmente esse vírus não terá o mesmo comportamento global e não se transformará em uma pandemia."

Outro ponto importante, diz Fonesca, é que, embora existam alguns casos graves relacionados a essa infecção, a maioria das infecções é leve, como um resfriado ou uma infecção do trato respiratório superior.

Apenas pessoas mais vulneráveis, como crianças, idosos ou pessoas com imunossupressão, apresentam maior risco de desenvolver complicações graves.

"É necessário estudar as causas do aumento inesperado de casos, especialmente na China, e investigar se houve alguma mutação que tenha levado a um maior número de infecções. Até o momento, não há respostas definitivas."

"Contudo, é consenso entre os virologistas que, embora a situação exija investigação, a preocupação global está mais relacionada ao nível de vigilância atual, após o impacto da Covid-19, do que a um real problema grave na China."

<><> Sintomas e transmissão do vírus

De acordo com o CDC (Centers for Disease Control and Prevention), a agência de controle e prevenção de doenças dos EUA, os sintomas mais comuns associados ao HMPV incluem tosse, febre, congestão nasal e falta de ar.

Em alguns casos, a infecção pode evoluir para bronquite ou pneumonia, com manifestações clínicas semelhantes às de outros vírus que causam infecções respiratórias das vias superiores e inferiores.

A infecção geralmente ocorre nos primeiros anos de vida e a reinfecção é comum.

O período de incubação (tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas) estimado varia de 3 a 6 dias, e a duração média da doença depende da gravidade, mas tende a ser semelhante a outras infecções respiratórias virais.

Assim como outros vírus respiratórios, o HMPV é transmitido principalmente de uma pessoa infectada para outra por meio de secreções liberadas ao tossir ou espirrar, contato pessoal próximo, como apertos de mão ou toques, ou ao tocar objetos ou superfícies contaminadas e, em seguida, levar as mãos à boca, ao nariz ou aos olhos.

Não há tratamento específico ou vacina contra o metapneumovírus.

Quando alguém é infectado, recomenda-se o tratamento, com orientação profissional, para aliviar sintomas.

De acordo com a American Lung Association, organização americana focada na saúde pulmonar, isso geralmente envolve o uso de medicamentos para controlar a dor e a febre (como paracetamol e ibuprofeno), além de um descongestionante.

Para pacientes com chiado no peito e tosse mais graves, o médico pode recomendar o uso de corticosteroide inalado ou oral (como a prednisona) para reduzir a inflamação e melhorar a respiração.

 

Fonte: BBC News

 

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