domingo, 30 de novembro de 2025

‘Petróleo é ponto central de pressão dos EUA contra Venezuela’, afirma Petro

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, alertou  que a pressão dos Estados Unidos contra a Venezuela está relacionada às reservas de petróleo do país sul-americano.

“O petróleo é o ponto central da questão”, disse Petro em entrevista exclusiva à CNN, rejeitando as alegações do governo Donald Trump em combater o narcotráfico. “Então, essa é uma negociação sobre petróleo. Acredito que essa seja a lógica de Trump. Ele não está pensando na democratização da Venezuela, muito menos no narcotráfico”, declarou.

Sobre as acusações, sem provas, do governo norte-americano sobre Petro desempenhar um “papel no comércio ilícito global de drogas”, o presidente afirmou à CNN que seu governo “apreendeu mais cocaína do que qualquer outro na história”. “Tanto que, nos últimos anos, consegui garantir que o crescimento das plantações, que está estagnado, seja amplamente superado pelo crescimento das apreensões”, disse.

Na análise do líder colombiano, Trump não reconhece os esforços de seu governo contra o tráfico de drogas “por orgulho”. “Ele pensa que sou um bandido subversivo, um terrorista e coisas do tipo, simplesmente porque fui membro do M-19” — movimento guerrilheiro colombiano que atuou entre 1970 e 1980.

<><> Companhias aéreas operam normalmente na Venezuela

As principais empresas aéreas que operam na Venezuela decidiram suspender voos de chegada e partida após um alerta emitido no sábado (22/11) pela Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA). No comunicado, a FAA orientou operadores a “exercer cautela” em todas as altitudes devido ao “agravamento da situação de segurança e à intensificação da atividade militar em torno da Venezuela”.

Entre as empresas que interromperam temporariamente suas operações estão Avianca, Tap, Lan Airlines, Gol Linhas Aéreas Inteligentes e Caribbean Airlines. O alerta ocorreu em meio à crescente preocupação internacional com uma possível escalada militar na região. Os Estados Unidos já realizaram ataques contra embarcações acusadas de tráfico de drogas no Caribe e enviaram o porta-aviões USS Gerald R. Ford — o maior do mundo — para áreas próximas à costa venezuelana.

Após o comunicado, autoridades aeronáuticas e representantes de companhias aéreas nacionais e internacionais que operam na Venezuela realizaram uma reunião na segunda-feira (24/11) para coordenar ações que garantam a continuidade e a normalidade do transporte aéreo. O Ministério dos Transportes indicou em um comunicado que a reunião foi realizada na sede do Instituto Nacional de Aeronáutica Civil e foi presidida pelo chefe da filial venezuelana, Ramón Velásquez. O documento especificou que a mensagem central da reunião foi garantir a confiança e a segurança das operações dos prestadores de serviços aéreos aos passageiros, após a notificação FAA.

Segundo a Prensa Latina, após a reunião, o Ministério dos Transportes da Venezuela estabeleceu um prazo de 48 horas, que devem se encerrar nesta quarta-feira (26/11), para que as companhias aéreas retomem suas atividades no país. Em resposta, Orlan Viloria, presidente da companhia aérea venezuelana Laser Airlines afirmou querer “transmitir confiança” e por isso “tudo está funcionando normalmente”. O executivo também anunciou que a empresa retomará seus voos normais para Bogotá, Curaçao e Madri na próxima quinta-feira (27/11). Boris Serrano, presidente da Estelar Latinoamérica CA, também afirmou que os voos continuam sem problemas e informou que o voo programado para o Panamá partiria na terça-feira (25/11), enquanto a partida para Madri será remarcada em breve.

Representantes da LATAM Airlines e da TAP Air Portugal também reafirmaram seus compromissos com Caracas. O representante da empresa portuguesa, Miguel Araújo, reiterou a “intenção de continuar confiando e apoiando a Venezuela em suas operações”. Da mesma forma, Pedro Navarro, da Turpial Airlines, afirmou que a reunião gerou muita esperança e garantiu que “a intenção é continuar oferecendo um serviço seguro, pontual e eficiente a todos os venezuelanos e estrangeiros”.

No último domingo (23/11), o Consórcio Venezuelano de Indústrias Aeronáuticas e Serviços Aéreos S.A. (Conviasa) informou que mantém todos os seus voos nacionais e internacionais em operação. A organização enfatizou que, como a principal companhia aérea da Venezuela, a prioridade é “garantir a segurança e o conforto da sua viagem, com a comodidade que caracteriza o nosso serviço para sua tranquilidade”. Mensagens semelhantes foram publicadas pelas companhias aéreas nacionais Estelar Latinoamérica CA, Avior Airlines, Rutaca Airlines e Turpial Airlines.

¨      Deputada republicana admite que ofensiva dos EUA visa petróleo da Venezuela

A deputada norte-americana do Partido Republicano Maria Elvira Salazar admitiu, nesta segunda-feira (24/11), que a pressão exercida pelos Estados Unidos contra a Venezuela visa as reservas de petróleo do país.

Em entrevista à emissora Fox News, a congressista declarou que Washington “precisa entrar” na Venezuela porque, “para as empresas petrolíferas norte-americanas, será um dia de festa, porque será mais de um trilhão de dólares em atividade econômica”.

Segundo Salazar, as companhias norte-americanas do setor “podem entrar e consertar todos os oleodutos, todas as plataformas de petróleo e tudo o que tem a ver com as empresas petrolíferas venezuelanas ou com petróleo e seus derivados”.

A deputada, filha de pais cubanos, afirmou que uma invasão norte-americana no território venezuelano representa “um favor econômico, político e de segurança aos cidadãos dos EUA, seus filhos, economia e empresas petrolíferas”. “Esse povo, os venezuelanos, têm as maiores reservas de petróleo do mundo, mais do que a Arábia Saudita. Isso será uma sorte inesperada para nós quando se trata de nossos combustíveis fósseis”, disse ainda.

Salazar disse ainda que, “sem o petróleo, o regime [venezuelano] provavelmente cairá”. “Há um movimento antissocialista acontecendo na América Latina. Teremos uma mudança de regime, uma mudança democrática [na região]”, disse ainda. Ao comentar a inclusão da organização Cartel de los Soles como terrorista, cuja existência é negada pelo governo de Nicolás Maduro, a deputada afirmou que a medida “fecha o espaço aéreo da Venezuela” e que os EUA “estão prestes a entrar”.

Por sua vez, Tania Díaz, vice- presidente de Formação e Ideologia do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) afirmou que Salazar “desconhece suas origens e desonra seus avós”. “Ela trai seu próprio povo e cospe em seus ancestrais”. “Hoje ela confessa descaradamente sua intenção de roubar o petróleo da Venezuela. Ela expõe as intenções desprezíveis de sua laia. Não há política, muito menos qualquer aparência de democracia”, denunciou.

Díaz, no entanto, disse que eles “ficarão desapontados, suas esperanças serão frustradas. Ninguém pode vir e roubar o futuro do nosso país. O que temos aqui é um povo livre e uma nação soberana”, afirmou, citando o ex-presidente Hugo Chávez. O governo Maduro tem repetidamente denunciado as intenções dos EUA em roubar suas reservas de petróleo.  O mandatário disse que se “a Venezuela não tivesse 30 milhões de hectares de terras aráveis, não estivesse onde está, nem tivesse a história gloriosa de Bolívar, nem a maior reserva de petróleo do mundo e a quarta maior reserva de gás, talvez nem sequer fosse mencionada”.

¨      Ministro venezuelano afirma que CIA planeja 'laboratórios de drogas falsos' em áreas rurais do país

O ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, acusou a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) de planejar a instalação de laboratórios falsos de drogas e a ações de sabotagem em instalações da PDVSA. A informação é da emissora russa RT. A declaração foi dada nesta quarta-feira (26/11) durante o programa semanal do ministro na VTV. Segundo Cabello, “o plano da CIA para a Venezuela nos próximos dias é tentar instalar laboratórios de drogas falsos em áreas rurais do país”, visando justificar um ataque de Washington contra Caracas.

A Operação Lança do Sul da Casa Branca é apresentada como uma campanha para eliminar “narco-terroristas” na região. O governo Trump tenta emplacar a versão de que o presidente Nicolás Maduro lidera um cartel criminoso, mobilizando um destacamento militar, com navios de guerra, aeronaves e milhares de soldados, e realizando ações contra embarcações nos mares do Caribe.

Estudos das Nações Unidas e até o departamento anti-drogas norte-americano, a DEA, afirmam que a Venezuela não é rota principal do tráfico de drogas ao país. Mais de 80% do fluxo transita pelo Pacífico, destaca a RT. Cabello inclusive acusou Washington de jogar sobre a Venezuela a culpa pela crise das drogas, um problema interno e estrutural nos Estados Unidos, pelo menos desde a década de 1980.

<><> Centrais elétricas

O ministro também afirmou que a CIA planeja sabotar centrais elétricas e refinarias da Petróleos de Venezuela (PDVSA) para criar um caos e gerar instabilidade interna no próximo mês de dezembro. E mencionou os supostos interesses financeiros do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, com a invasão militar do país. O republicano, segundo Cabello, já teria prometido a empresas petrolíferas e gasíferas contratos de exploração de 50 anos na Faixa do Orinoco e no Lago de Maracaibo.

¨      Como vivem os venezuelanos com a possibilidade de ataque dos EUA

Enquanto o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, vive sob suspense ante a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de executar ações militares na Venezuela, muitos cidadãos venezuelanos seguem a vida tentando resolver desafios básicos como botar comida no prato. É quarta-feira de manhã no mercado popular de Quinta Crespo, no centro de Caracas, capital da Venezuela. Ali, uma possível escalada de conflito não parece perturbar a maioria. "Não vai haver intervenção, nada disso. O que nos prejudicou foi a valorização do dólar", disse Alejandro Orellano, que toma um café enquanto espera clientes que não chegam, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Desde setembro, o governo Trump reúne tropas e recursos militares a poucos quilômetros da Venezuela. O dispositivo inclui mais de 15 mil militares e o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R.Ford. Até a manhã de segunda-feira (24/11), ao menos sete companhias aéreas internacionais haviam cancelado voos saindo da e chegando à Venezuela após um alerta da autoridade de aviação dos EUA sobre os riscos de sobrevoar o espaço aéreo do país. Há semanas, os EUA realizam ataques aéreos contra supostas "narcolanchas" no Caribe e no Pacífico oriental. Ao menos 83 pessoas morreram nos ataques.

O governo americano acusa os alvos de tráfico de drogas, mas até o momento não apresentou provas. Alguns analistas creem que os ataques são parte de um plano para forçar a saída de Maduro. O governo venezuelano é considerado ilegítimo pelos EUA e vários países da América Latina após as polêmicas eleições presidenciais de 2024, amplamente criticadas pela comunidade internacional. O Brasil não reconheceu a vitória de Maduro.

Alejandro Orellano, que vende hortaliças neste mercado há cinco anos, minimiza a troca de ameaças entre os governos americano e venezuelano. "Olha, veja como está vazio", insiste, apontando para um corredor longo e vazio, repleto de frutas e verduras frescas. O inimigo comum entre os presentes parece ser a alta abrupta dos preços dos alimentos e a pouca capacidade de comprá-los. Um quilo de frango, por exemplo, custa cerca de quatro vezes o salário mínimo mensal oficial. Mesmo com os bônus pagos pelo governo a pensionistas e servidores públicos, o dinheiro não cobre a cesta básica.

Outra realidade é que, desde os protestos antigovernamentais ocorridos após as contestadas eleições presidenciais de 2024, boa parte da sociedade venezuelana evita falar abertamente sobre assuntos que podem ser sensíveis para o governo Maduro. Durante e depois das manifestações, mais de 2 mil pessoas foram detidas, segundo dados oficiais. Atualmente, 884 pessoas seguem presas por motivos políticos, segundo a organização não governamental Foro Penal. Há relatos de pessoas detidas após dar declarações à imprensa nas quais reclamavam do governo ou questionavam os resultados eleitorais.

Especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciaram graves violações de direitos humanos no contexto daquelas eleições e dos protestos que ocorreram nos dias seguintes. Eles relataram perseguição política, uso excessivo da força, desaparecimentos forçados e execuções extrajudiciais cometidas por forças de segurança do Estado e por grupos civis aliados.

<><> 'Será verdade? Será mentira?'

Sobre uma possível ação dos EUA no país, Consuelo, 74, é cética e hesita. "Que aconteça o que tiver de acontecer… e pronto!", disse à BBC Mundo. "Será verdade? Será mentira? Isso só deixa a gente doente, vivendo nervosa… é melhor manter a calma. As emoções também podem afetar a saúde", afirma a professora universitária aposentada, mas que ainda trabalha. "Eu não saio comprando por impulso. Para isso, a gente precisa ter muito dinheiro."

Bárbara Marrero, confeiteira de 40 anos, disse: "Estamos todos esperando que algo aconteça, porque é justo e necessário. São anos mergulhados em uma miséria absoluta. Os venezuelanos vivem um dia de cada vez esperando que algo ocorra, mas todos têm medo [de falar], e ninguém diz nada. Estamos assustados, calados, com receio de ser presos. Eu sempre publicava coisas, mas agora não, não devo, porque não sei quem pode me denunciar", disse por telefone à BBC Mundo uma comerciante de Ciudad Bolívar, no leste do país. "Há esperança, fé, mas as pessoas estão caladas de medo. Ninguém fala disso; é só dentro de casa, com os seus… mas há um ar de alegria", disse a mulher, sob anonimato.

Já é meio-dia. Tudo segue como de costume em uma avenida movimentada no leste de Caracas. Camelôs chamam clientes, pedestres vão e vêm… Ali está Javier Jaramillo, 57, que procura mercadorias para revender no Natal. Ele aguarda com expectativa o porta-aviões que os EUA enviaram ao Caribe. "Não acredito que esse ataque vá acontecer. Acho que pode haver um diálogo, um acordo, um acerto." Ainda assim, disse que, quando há cortes de energia, pensa: "Já entraram", "vão entrar".

De qualquer forma, Jaramillo insiste: "O que mais preocupa é a comida… Não acredito que vá haver um ataque. A Venezuela está muito mal (...) A inflação está nos consumindo, aqui não há dinheiro que valha dólar, euro. Sou um venezuelano passando necessidade… E o que queremos é que haja um acerto."

<><> 'Que ninguém durma!'

"Fiquem atentos, olhos abertos. Que ninguém durma!", pediu Maduro à população na noite de quinta-feira (20/11). "Temos que defender as instalações petrolíferas da CIA. Deram dinheiro a eles e mandaram prejudicar a economia dos venezuelanos'", continuou o governante. Maduro se congratula repetidamente pela gestão da economia venezuelana, afirma que o país está sob cerco dos EUA, entre sanções e o desdobramento militar no Caribe.

Dois economistas que vivem na Venezuela consultados pela equipe da BBC para esta reportagem preferiram não dar declarações por medo de represálias do governo. "A inflação chegou a níveis da ordem de 20% ao mês nos últimos meses", disse outro especialista, que pediu anonimato. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta alta de 548% nos preços neste ano e afirma que a situação será pior em 2026, quando a inflação pode chegar a 629%, a maior do continente. Maduro, por sua vez, ressalta que o PIB do país crescerá 9%.

<><> 'Muitas pessoas inocentes podem morrer'

Esther Guevara, 53, que trabalha em um laboratório médico, é uma das poucas que não esconde a preocupação diante das tensões provocadas pelo envio da frota naval dos EUA. "Fico apreensiva porque não sei realmente o que está acontecendo, se vão mesmo invadir, extrair… As pessoas acham que é muito fácil, muito tranquilo, e é algo sério. Muitas pessoas inocentes podem morrer. Sinto que algo está sendo preparado por aí, mas estou aguardando", afirmou. "Trump precisa cair em si", disse Francisco Ojeda, 69, morador de Petare, bairro pobre de Caracas, e integrante da milícia do governo venezuelano, em conversa com a BBC News Mundo.

Ojeda participou de alistamentos militares convocados por Maduro e manuseou armas de guerra, embora sem munição. "Aqui ninguém vai ficar parado diante de uma invasão", disse. "Se vierem, vieram; se não vierem, tudo bem. Mas queremos tranquilidade e harmonia para todos. Nós estamos tranquilos… Aqui todo mundo dança, vai à praia, trabalha, tudo está normal."

 

Fonte: Opera Mundi/BBC News Mundo

 

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