‘Petróleo
é ponto central de pressão dos EUA contra Venezuela’, afirma Petro
O
presidente da Colômbia, Gustavo Petro, alertou
que a pressão dos Estados Unidos contra a
Venezuela está relacionada às reservas de petróleo do país
sul-americano.
“O
petróleo é o ponto central da questão”, disse Petro em entrevista exclusiva à CNN, rejeitando as
alegações do governo Donald Trump em combater o narcotráfico. “Então, essa é
uma negociação sobre petróleo. Acredito que essa
seja a lógica de Trump. Ele não está pensando na democratização da Venezuela,
muito menos no narcotráfico”, declarou.
Sobre
as acusações, sem provas, do governo norte-americano sobre Petro desempenhar um
“papel no comércio ilícito global de drogas”, o presidente afirmou à CNN que
seu governo “apreendeu mais cocaína do que qualquer outro na história”. “Tanto
que, nos últimos anos, consegui garantir que o crescimento das plantações, que
está estagnado, seja amplamente superado pelo crescimento das apreensões”,
disse.
Na
análise do líder colombiano, Trump não reconhece os esforços de seu governo
contra o tráfico de drogas “por orgulho”. “Ele pensa que sou um bandido
subversivo, um terrorista e coisas do tipo, simplesmente porque fui membro do
M-19” — movimento guerrilheiro colombiano que atuou entre 1970 e 1980.
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Companhias aéreas operam normalmente na Venezuela
As
principais empresas aéreas que operam na Venezuela decidiram suspender voos de
chegada e partida após um alerta emitido no sábado (22/11) pela Administração
Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA). No comunicado, a FAA orientou
operadores a “exercer cautela” em todas as altitudes devido ao “agravamento da
situação de segurança e à intensificação da atividade militar em torno da
Venezuela”.
Entre
as empresas que interromperam temporariamente suas operações estão Avianca,
Tap, Lan Airlines, Gol Linhas Aéreas Inteligentes e Caribbean Airlines. O
alerta ocorreu em meio à crescente preocupação internacional com uma possível
escalada militar na região. Os Estados Unidos já realizaram ataques contra
embarcações acusadas de tráfico de drogas no Caribe e enviaram o porta-aviões
USS Gerald R. Ford — o maior do mundo — para áreas próximas à costa
venezuelana.
Após o
comunicado, autoridades aeronáuticas e
representantes de companhias aéreas nacionais e internacionais que operam na
Venezuela realizaram uma reunião na segunda-feira (24/11) para coordenar
ações que garantam a continuidade e a normalidade do transporte aéreo. O
Ministério dos Transportes indicou em um comunicado que a reunião foi realizada
na sede do Instituto Nacional de Aeronáutica Civil e foi presidida pelo chefe
da filial venezuelana, Ramón Velásquez. O documento especificou que a mensagem
central da reunião foi garantir a confiança e a segurança das operações dos
prestadores de serviços aéreos aos passageiros, após a notificação FAA.
Segundo
a Prensa Latina, após a reunião, o Ministério dos Transportes da
Venezuela estabeleceu um prazo de 48 horas, que devem se encerrar nesta
quarta-feira (26/11), para que as companhias aéreas retomem suas atividades no
país. Em resposta, Orlan Viloria, presidente da companhia aérea venezuelana
Laser Airlines afirmou querer “transmitir confiança” e por isso “tudo está
funcionando normalmente”. O executivo também anunciou que a empresa retomará
seus voos normais para Bogotá, Curaçao e Madri na próxima quinta-feira (27/11).
Boris Serrano, presidente da Estelar Latinoamérica CA, também afirmou que os
voos continuam sem problemas e informou que o voo programado para o Panamá
partiria na terça-feira (25/11), enquanto a partida para Madri será remarcada
em breve.
Representantes
da LATAM Airlines e da TAP Air Portugal também reafirmaram seus compromissos
com Caracas. O representante da empresa portuguesa, Miguel Araújo, reiterou a
“intenção de continuar confiando e apoiando a Venezuela em suas operações”. Da
mesma forma, Pedro Navarro, da Turpial Airlines, afirmou que a reunião gerou
muita esperança e garantiu que “a intenção é continuar oferecendo um serviço
seguro, pontual e eficiente a todos os venezuelanos e estrangeiros”.
No
último domingo (23/11), o Consórcio Venezuelano de Indústrias Aeronáuticas e
Serviços Aéreos S.A. (Conviasa) informou que mantém todos os seus voos
nacionais e internacionais em operação. A organização enfatizou que, como a
principal companhia aérea da Venezuela, a prioridade é “garantir a segurança e
o conforto da sua viagem, com a comodidade que caracteriza o nosso serviço para
sua tranquilidade”. Mensagens semelhantes foram publicadas pelas companhias
aéreas nacionais Estelar Latinoamérica CA, Avior Airlines, Rutaca Airlines e
Turpial Airlines.
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Deputada republicana admite que ofensiva dos EUA visa
petróleo da Venezuela
A
deputada norte-americana do Partido Republicano Maria Elvira Salazar admitiu,
nesta segunda-feira (24/11), que a pressão exercida pelos Estados Unidos contra a Venezuela
visa as reservas de petróleo do país.
Em
entrevista à emissora Fox News, a congressista declarou que
Washington “precisa entrar” na Venezuela porque, “para as empresas petrolíferas
norte-americanas, será um dia de festa, porque será mais de um trilhão de
dólares em atividade econômica”.
Segundo
Salazar, as companhias norte-americanas do setor “podem entrar e consertar
todos os oleodutos, todas as plataformas de petróleo e tudo o que tem a ver com
as empresas petrolíferas venezuelanas ou com petróleo e seus derivados”.
A
deputada, filha de pais cubanos, afirmou que uma invasão norte-americana no
território venezuelano representa “um favor econômico, político e de segurança
aos cidadãos dos EUA, seus filhos, economia e empresas petrolíferas”. “Esse
povo, os venezuelanos, têm as maiores reservas de petróleo do mundo, mais do
que a Arábia Saudita. Isso será uma sorte inesperada para nós quando se trata
de nossos combustíveis fósseis”, disse ainda.
Salazar
disse ainda que, “sem o petróleo, o regime [venezuelano] provavelmente cairá”.
“Há um movimento antissocialista acontecendo na América Latina. Teremos uma
mudança de regime, uma mudança democrática [na região]”, disse ainda. Ao
comentar a inclusão da organização Cartel de los Soles como terrorista, cuja
existência é negada pelo governo de Nicolás Maduro, a deputada afirmou que a
medida “fecha o espaço aéreo da Venezuela” e que os EUA “estão prestes a
entrar”.
Por sua
vez, Tania Díaz, vice- presidente de Formação e Ideologia do Partido Socialista
Unido da Venezuela (PSUV) afirmou que Salazar “desconhece suas origens e
desonra seus avós”. “Ela trai seu próprio povo e cospe em seus ancestrais”.
“Hoje ela confessa descaradamente sua intenção de roubar o petróleo da
Venezuela. Ela expõe as intenções desprezíveis de sua laia. Não há política,
muito menos qualquer aparência de democracia”, denunciou.
Díaz,
no entanto, disse que eles “ficarão desapontados, suas esperanças serão
frustradas. Ninguém pode vir e roubar o futuro do nosso país. O que temos aqui
é um povo livre e uma nação soberana”, afirmou, citando o ex-presidente Hugo
Chávez. O governo Maduro tem
repetidamente denunciado as intenções dos EUA em roubar suas reservas de
petróleo.
O mandatário disse que se “a Venezuela não tivesse 30 milhões de hectares de
terras aráveis, não estivesse onde está, nem tivesse a história gloriosa de
Bolívar, nem a maior reserva de petróleo do mundo e a quarta maior reserva de
gás, talvez nem sequer fosse mencionada”.
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Ministro venezuelano afirma que CIA planeja 'laboratórios
de drogas falsos' em áreas rurais do país
O
ministro do Interior, Justiça e Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, acusou a Agência Central de Inteligência
dos Estados Unidos (CIA) de planejar a instalação de laboratórios falsos de
drogas e a ações de sabotagem em instalações da PDVSA. A informação é da emissora
russa RT.
A declaração foi dada nesta quarta-feira (26/11) durante o programa semanal do
ministro na VTV. Segundo Cabello, “o plano da CIA para a Venezuela
nos próximos dias é tentar instalar laboratórios de drogas falsos em áreas
rurais do país”, visando justificar um ataque de
Washington contra Caracas.
A
Operação Lança do Sul da Casa Branca é apresentada como uma campanha para
eliminar “narco-terroristas” na região. O governo Trump tenta emplacar a versão
de que o presidente Nicolás Maduro lidera um cartel criminoso, mobilizando um
destacamento militar, com navios de guerra, aeronaves e milhares de soldados,
e realizando ações contra embarcações
nos mares do Caribe.
Estudos
das Nações Unidas e até o departamento anti-drogas norte-americano, a DEA,
afirmam que a Venezuela não é rota principal do tráfico de drogas ao país. Mais
de 80% do fluxo transita pelo Pacífico, destaca a RT. Cabello
inclusive acusou Washington de jogar sobre a Venezuela a culpa pela crise das
drogas, um problema interno e estrutural nos Estados Unidos, pelo menos desde a
década de 1980.
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Centrais elétricas
O
ministro também afirmou que a CIA planeja sabotar centrais elétricas e
refinarias da Petróleos de Venezuela (PDVSA) para criar um caos e gerar instabilidade
interna no
próximo mês de dezembro. E mencionou os supostos interesses financeiros do
secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, com a invasão militar do país. O
republicano, segundo Cabello, já teria prometido a empresas petrolíferas e
gasíferas contratos de exploração de 50 anos na Faixa do Orinoco e no Lago de
Maracaibo.
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Como vivem os venezuelanos com a possibilidade de ataque
dos EUA
Enquanto
o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, vive sob suspense
ante a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de
executar ações militares na Venezuela, muitos cidadãos
venezuelanos seguem a vida tentando resolver desafios básicos como botar comida
no prato. É quarta-feira de manhã no mercado popular de Quinta Crespo, no
centro de Caracas, capital da Venezuela. Ali, uma possível escalada de conflito
não parece perturbar a maioria. "Não vai haver intervenção, nada disso. O
que nos prejudicou foi a valorização do dólar", disse Alejandro Orellano,
que toma um café enquanto espera clientes que não chegam, à BBC News Mundo, o
serviço em espanhol da BBC.
Desde
setembro, o governo Trump reúne tropas e
recursos militares a poucos quilômetros da Venezuela. O dispositivo inclui mais
de 15 mil militares e o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald
R.Ford. Até a manhã de segunda-feira (24/11), ao menos sete companhias aéreas
internacionais haviam cancelado voos saindo da e chegando à
Venezuela após
um alerta da autoridade de aviação dos EUA sobre os riscos de sobrevoar o
espaço aéreo do país. Há semanas, os EUA realizam ataques aéreos contra
supostas "narcolanchas" no Caribe e no
Pacífico oriental. Ao menos 83 pessoas morreram nos ataques.
O
governo americano acusa os alvos de tráfico de drogas, mas até o momento não
apresentou provas. Alguns analistas creem que os ataques são parte de um plano
para forçar a saída de Maduro. O governo venezuelano é considerado ilegítimo
pelos EUA e vários países da América Latina após as polêmicas eleições presidenciais de
2024,
amplamente criticadas pela comunidade internacional. O Brasil não reconheceu a
vitória de Maduro.
Alejandro
Orellano, que vende hortaliças neste mercado há cinco anos, minimiza a troca de
ameaças entre os governos americano e venezuelano. "Olha, veja como está
vazio", insiste, apontando para um corredor longo e vazio, repleto de
frutas e verduras frescas. O inimigo comum entre os presentes parece ser a alta
abrupta dos preços dos alimentos e a pouca capacidade de comprá-los. Um quilo
de frango, por exemplo, custa cerca de quatro vezes o salário mínimo mensal
oficial. Mesmo com os bônus pagos pelo governo a pensionistas e servidores
públicos, o dinheiro não cobre a cesta básica.
Outra
realidade é que, desde os protestos antigovernamentais ocorridos após as
contestadas eleições presidenciais de 2024, boa parte da sociedade venezuelana
evita falar abertamente sobre assuntos que podem ser sensíveis para o governo
Maduro. Durante e depois das manifestações, mais de 2 mil pessoas foram
detidas, segundo dados oficiais. Atualmente, 884 pessoas seguem presas por
motivos políticos, segundo a organização não governamental Foro Penal. Há
relatos de pessoas detidas após dar declarações à imprensa nas quais reclamavam
do governo ou questionavam os resultados eleitorais.
Especialistas
da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciaram graves violações de direitos
humanos no contexto daquelas eleições e dos protestos que ocorreram nos dias
seguintes. Eles relataram perseguição política, uso excessivo da força,
desaparecimentos forçados e execuções extrajudiciais cometidas por forças de
segurança do Estado e por grupos civis aliados.
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'Será verdade? Será mentira?'
Sobre
uma possível ação dos EUA no país, Consuelo, 74, é cética e hesita. "Que
aconteça o que tiver de acontecer… e pronto!", disse à BBC Mundo. "Será
verdade? Será mentira? Isso só deixa a gente doente, vivendo nervosa… é melhor
manter a calma. As emoções também podem afetar a saúde", afirma a
professora universitária aposentada, mas que ainda trabalha. "Eu
não saio comprando por impulso. Para isso, a gente precisa ter muito
dinheiro."
Bárbara
Marrero, confeiteira de 40 anos, disse: "Estamos todos esperando que algo
aconteça, porque é justo e necessário. São anos mergulhados em uma miséria
absoluta. Os venezuelanos vivem um dia de cada vez esperando que algo ocorra,
mas todos têm medo [de falar], e ninguém diz nada. Estamos assustados, calados,
com receio de ser presos. Eu sempre publicava coisas, mas agora não, não devo,
porque não sei quem pode me denunciar", disse por telefone à BBC Mundo uma
comerciante de Ciudad Bolívar, no leste do país. "Há esperança, fé, mas as
pessoas estão caladas de medo. Ninguém fala disso; é só dentro de casa, com os
seus… mas há um ar de alegria", disse a mulher, sob anonimato.
Já é
meio-dia. Tudo segue como de costume em uma avenida movimentada no leste de
Caracas. Camelôs chamam clientes, pedestres vão e vêm… Ali está Javier
Jaramillo, 57, que procura mercadorias para revender no Natal. Ele aguarda com
expectativa o porta-aviões que os EUA enviaram ao Caribe. "Não acredito
que esse ataque vá acontecer. Acho que pode haver um diálogo, um acordo, um
acerto." Ainda assim, disse que, quando há cortes de energia, pensa:
"Já entraram", "vão entrar".
De
qualquer forma, Jaramillo insiste: "O que mais preocupa é a comida… Não
acredito que vá haver um ataque. A Venezuela está muito mal (...) A inflação
está nos consumindo, aqui não há dinheiro que valha dólar, euro. Sou um
venezuelano passando necessidade… E o que queremos é que haja um acerto."
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'Que ninguém durma!'
"Fiquem
atentos, olhos abertos. Que ninguém durma!", pediu Maduro à população na
noite de quinta-feira (20/11). "Temos que defender as instalações
petrolíferas da CIA. Deram dinheiro a eles e mandaram prejudicar a economia dos
venezuelanos'", continuou o governante. Maduro se congratula repetidamente
pela gestão da economia venezuelana, afirma que o país está sob cerco dos EUA,
entre sanções e o desdobramento militar no Caribe.
Dois
economistas que vivem na Venezuela consultados pela equipe da BBC para esta
reportagem preferiram não dar declarações por medo de represálias do governo. "A
inflação chegou a níveis da ordem de 20% ao mês nos últimos meses", disse
outro especialista, que pediu anonimato. O Fundo Monetário Internacional (FMI)
projeta alta de 548% nos preços neste ano e afirma que a situação será pior em
2026, quando a inflação pode chegar a 629%, a maior do continente. Maduro, por
sua vez, ressalta que o PIB do país crescerá 9%.
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'Muitas pessoas inocentes podem morrer'
Esther
Guevara, 53, que trabalha em um laboratório médico, é uma das poucas que não
esconde a preocupação diante das tensões provocadas pelo envio da frota naval
dos EUA. "Fico apreensiva porque não sei realmente o que está acontecendo,
se vão mesmo invadir, extrair… As pessoas acham que é muito fácil, muito
tranquilo, e é algo sério. Muitas pessoas inocentes podem morrer. Sinto que
algo está sendo preparado por aí, mas estou aguardando", afirmou. "Trump
precisa cair em si", disse Francisco Ojeda, 69, morador de Petare, bairro
pobre de Caracas, e integrante da milícia do governo venezuelano, em conversa
com a BBC News Mundo.
Ojeda
participou de alistamentos militares convocados por Maduro e manuseou armas de
guerra, embora sem munição. "Aqui ninguém vai ficar parado diante de uma
invasão", disse. "Se vierem, vieram; se não vierem, tudo bem. Mas
queremos tranquilidade e harmonia para todos. Nós estamos tranquilos… Aqui todo
mundo dança, vai à praia, trabalha, tudo está normal."
Fonte:
Opera Mundi/BBC News Mundo

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