sábado, 22 de novembro de 2025

“Operação Condor”: Evento no Rio é ato continental pela soberania da América Latina

No dia 25 de novembro, a partir das 19h, o Clube de Engenharia, no centro do Rio de Janeiro, será palco de um gesto político que ultrapassa a arte e a memória. O evento que marca o início oficial da produção da série “Operação Condor” — dirigida pelo cineasta Cleonildo Cruz e pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo — pretende ser, antes de tudo, uma afirmação coletiva: a América Latina não aceitará uma nova era de dominação imperial.

A obra, que contará com sete episódios em sete países, revive a articulação repressiva que, há 50 anos, uniu Washington e as ditaduras sul-americanas para torturar, assassinar e desaparecer milhares de opositores. Mas o que poderia ser uma narrativa “histórica” ganha urgência brutal no presente: a Condor não terminou.

Desde agosto, os Estados Unidos ampliaram sua presença militar no Caribe e no Pacífico, com navios de guerra, submarinos nucleares, milhares de soldados e helicópteros de ataque sob o pretexto do combate ao narcotráfico. Na prática, bombardeios contra embarcações venezuelanas e colombianas vêm deixando mortos cujos nomes sequer são conhecidos — crimes que o direito internacional e especialistas da ONU já classificaram como execuções extrajudiciais.

A Venezuela denuncia as ações como tentativa de agressão militar e recorre à ONU exigindo respeito ao diálogo, à legalidade e à soberania. Em documento recente, relatores especiais da entidade reforçaram que a ameaça à paz não parte dos povos latino-americanos, mas da intervenção externa que busca justificar tutela política e espoliação econômica.

E a ofensiva não se limita à Venezuela e à Colômbia: no último sábado (15), o México foi palco de protestos contra o governo de Claudia Sheinbaum, no melhor estilo das Revoluções Coloridas; no Equador, os EUA buscam avidamente instalar bases militares, intento barrado, por ora, pelo referendo do último domingo (16), quando o povo do país disse “NÃO” à proposta; na Argentina, Javier Milei governa alinhado a Trump, o que se reflete tanto em acordos econômicos espúrios quanto no contínuo lawfare contra o peronismo; e no Brasil, a narrativa de combate ao narcotráfico impulsionada em Washington acena para o governo carioca de Claudio Castro, no âmbito dos massacres nos complexos da Penha e do Alemão no fim de outubro.

Da economia à política, da guerra jurídica ao ataque armado, das redes digitais aos mares do Caribe… em suma, muda-se a forma, mantém-se o objetivo: controlar governos, subjugar povos e apropriar-se de recursos estratégicos.

<><> Arte como trincheira

Para Cleonildo Cruz e Luiz Gonzaga Belluzzo, o lançamento da produção de “Operação Condor” é um grito de alerta:

“A Operação Condor foi uma engrenagem transnacional do terror. Hoje, o intervencionismo volta a levantar seus tentáculos. Produzimos esta série para que o passado sirva de arma contra a repetição do horror.”

Ao reunir sobreviventes, familiares de vítimas e lutadores históricos como o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o evento reafirma que não haverá silêncio diante das ofensivas autoritárias que se rearticulam no continente. A educação para a memória — tão atacada por elites que temem a verdade — é aqui apresentada como instrumento de soberania e democracia.

<><> Apoio continental à resistência

A força política da obra audiovisual se evidencia na amplitude do apoio recebido, que inclui entidades dentro e fora do Brasil. No evento de lançamento, estarão presentes:

No evento de lançamento, estarão presentes entidades nacionais e internacionais como:

<><> Internacionais:

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  • Comissão Provincial pela Memória (CPM), presidida por Adolfo Pérez Esquivel
  • Parlamento do Mercosul (Parlasul)
  • Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA
  • Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul (IPPDH)
  • Museu de Memória e Direitos Humanos do Chile
  • Internacional de la Educação – América Latina

<><> Nacionais:

  • Instituto João Goulart
  • Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
  • Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE-RJ)
  • Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (SINPRO-RJ)
  • Fórum Nacional de Educação (FNE)
  • Comissão de Anistia do Brasil
  • Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB)
  • Grupo Prerrogativas
  • Clube de Engenharia do Brasil
  • Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
  • Federação Interestadual dos Engenheiros (FISENGE)
  • Instituto Zuzu Angel
  • Cátedra UNESCO/UNICAP de Direitos Humanos Dom Helder Câmara
  • Associação Brasileira de Economistas

Os realizadores e as organizações presentes convocam o país e o continente a reconhecer: o que está em disputa é o direito de nossos povos decidirem seus próprios destinos. A série nasce para lembrar o passado e impedir que ele seja futuro.

¨      Enquanto Maduro convoca povo a defender Venezuela, Corina volta a clamar por ataque

No último final de semana, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou uma “vigília e marcha permanente” em seis estados orientais do país, em resposta aos exercícios militares conjuntos que os Estados Unidos e Trinidad e Tobago realizam, desde domingo (16) até a próxima sexta-feira (21), em águas próximas à costa venezuelana.

Maduro qualificou as manobras de “irresponsáveis” e “ameaçadoras”, ao denunciar que buscam intimidar a República Bolivariana e afetam a paz da região caribenha.

No sábado (15), durante um ato de juramentação dos Comitês Bolivarianos de Base Integral (CBBI) em Petare, Miranda, o presidente instou as forças populares, militares, policiais e sociais de Bolívar, Delta Amacuro, Monagas, Anzoátegui, Nova Esparta e Sucre a se somarem, em unidade, a essa vigília, “erguendo a bandeira venezuelana em defesa da soberania nacional”. Reforçou que a mobilização deve se manter em “perfeita fusão popular-militar-policial” e enfatizou que a resposta não será agressiva, mas um ato de resistência pacífica diante da provocação imperialista.

Maduro acusou o governo trinitense de “submissão” por ceder seu território para operações estadunidenses que ameaçam a paz regional e poderiam ser utilizadas para o bombardeio indiscriminado de civis. Ressaltou, ainda, que a população de Trinidad e Tobago deve refletir se seguirá permitindo que sua nação seja utilizada para esses fins.

“Eles dizem que vão fazer de segunda a quinta-feira… Pois bem, o povo de Trinidad e Tobago verá se continua suportando que utilizem suas águas e sua terra para ameaçar gravemente a paz do Caribe”, expressou.

No mesmo discurso, reiterou que pretendem “roubar o petróleo e o gás da Venezuela”, assegurando que o povo venezuelano defenderá sua soberania sem cair em provocações.

Maduro também fez referência à Operação Lança do Sul, nome atribuído ao deslocamento militar estadunidense supostamente destinado a combater o narcotráfico no Caribe, mas que tanto o governo da Venezuela como o da Colômbia denunciaram como um plano para pressionar e até mesmo agredir diretamente ambos os países, com a intenção de derrubar seus governos.

A Venezuela está há semanas em alerta militar contínuo e desenvolveu exercícios e patrulhamentos defensivos em todo o território. O deslocamento responde à ameaça direta representada pela presença militar estadunidense em águas caribenhas. O governo venezuelano tem ressaltado o caráter defensivo e de coesão nacional dessas ações, chamando o povo a se preparar para qualquer cenário, mas sem buscar confrontação.

<><> Machado pede intervenção da Europa

Por sua vez, a dirigente da oposição de extrema-direita María Corina Machado pediu neste domingo (16) aos países da Europa que colaborem para “libertar a Venezuela”.

Durante uma participação em vídeo no Fórum sobre o Futuro da União Europeia, encerrado em Madri ainda no domingo, Machado solicitou ajuda europeia para a “reconstrução moral” de seu país. “Europa, eu sei que vão ajudar cada vez mais a libertar a Venezuela”, exclamou.

[A golpista – nota da edição] comparou a Venezuela com a Europa posterior à Segunda Guerra Mundial e disse que os europeus “sabem o que significa levantar uma nação das ruínas da guerra”. Por isso, assegurou, o continente “tem um papel essencial” como aliado no que ela chamou de “luta existencial”.

Machado tem se destacado nos últimos anos por ser uma das principais figuras venezuelanas a solicitar diretamente uma intervenção militar estadunidense em seu país, como método que lhe permita, a ela e ao seu grupo político, chegar ao poder.

¨      El Salvador: com oposição nula e “resultados palpáveis”, Bukele seria reeleito “até dormindo”

Faltando mais de um ano para as eleições presidenciais de 28 de fevereiro de 2027 em El Salvador, bem como para as da Assembleia Legislativa e as municipais do país, avaliações prematuras não permitem afirmações seguras — com exceção da reeleição do presidente Nayib Bukele.

Já começaram as antecipações e opiniões de especialistas, magistrados, figuras políticas e alguns que talvez se atribuam poderes de pitonisas em certos casos, enquanto outros, com “os pés no chão”, lançam prognósticos sobre esses eventos que mudarão o rumo do país.

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Guillermo Wellman Carpio, advogado e tabelião, ex-magistrado do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) pelo partido de direita Aliança Republicana Nacionalista (Arena), em entrevista ao diário El Salvador, fez avaliações que trazem elementos sobre a oposição e o futuro eleitoral.

Até agora, diversas opiniões e informes apontam um cenário de êxito para o governo. Segundo o ex-magistrado Wellman, quando as eleições de 2027 forem realizadas, não será apenas a segurança que impulsionará Bukele, como diversas pesquisas indicam, mas também os resultados de sua gestão, que lhe garantem sólido apoio na população.

Em 2027 estará concluída “a estrada de Los Chorros, terminado o Hospital Rosales, provavelmente já esteja pronto o Metrocable, o Hospital de Nejapa. O Hospital de Lourdes já estará finalizado; haverá um monte de obras”, exemplificou. Já não será, como apontam os críticos, um governo de “muito circo e luzes”, mas sim com resultados palpáveis.

Uma das conquistas do governo foi eliminar da capital a ação das gangues e promover uma metamorfose no Centro Histórico, agora renovado, com antigas construções resplandecendo e outras novas, como a Biblioteca Nacional, entre diversas obras que atraem salvadorenhos e turistas.

Sobre a projeção eleitoral de 2027 para os partidos políticos, Wellman afirmou: “Vou lhe dizer a verdade, e sem temor do que possa publicar (o diário El Salvador): a política de oposição não existe, não levanta a cabeça, porque não querem entender que precisam de uma mudança, uma renovação diferente.”

“Na oposição, nem sequer entre eles estão de acordo, comem-se entre si” — nada mais próximo da verdade, pois as disputas internas entre partidos de oposição, como o direitista Arena, impedem que sejam considerados uma alternativa séria ao governo e dificultam a possibilidade de impedir uma vitória de Bukele em 2027.

Após perder apoio nas últimas eleições, por outro lado, a oposição de esquerda iniciou um processo de renovação para tentar apresentar uma alternativa ao povo salvadorenho, mas que ainda não dá frutos.

<><> A resistência do FMLN

Manuel Flores, secretário-geral da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), em recente coletiva de imprensa, disse que no recente segundo congresso da entidade reuniram-se representantes da militância que não abandonaram a Frente em seus piores momentos. Houve, inclusive, o retorno de muitos seguidores que em determinado momento deram seu voto ao partido Novas Ideias, fundado pelo presidente Bukele.

O FMLN — antiga guerrilha transformada em partido político após o fim do conflito armado (1980–1992) — realizou o referido segundo congresso na localidade de San Antonio Los Ranchos, departamento de Chalatenango (norte), e revelou parte de seus objetivos.

Também ex-prefeito de Quetzaltepeque e deputado da Assembleia Legislativa de 2012 a 2021, Flores afirmou que no encontro foram definidas as estratégias do partido para os próximos cinco, 10, 15 e 20 anos, como parte desse processo de renovação.

Mas a realidade ainda é amarga na oposição, tanto de direita quanto de esquerda: não surge um líder capaz de conduzir os seguidores até a Casa Presidencial e outros órgãos de poder, como a Assembleia Legislativa, cuja composição em 2027 determinará o rumo futuro.

<><> Segurança, o “sucesso” de Bukele

Para Wellman, Bukele pode chegar até 2033: “Essa eleição ele ganha até dormindo, sem fazer campanha; vê-se o trabalho que este governo realizou.”

Atualmente, avaliações indicam que o tratamento dado por governos anteriores ao tema das gangues influenciou muito a população, que compara como vivia em anos anteriores — com muita violência — e como agora se sente segura.

O tema da segurança, visto como a principal carta de apresentação do governo — se desconsideradas supostas violações de direitos humanos e a morte de detentos nas prisões —, tem forte peso entre a população após anos de medo pela violência existente antes de 2019.

Segundo Óscar Martínez Peñate, cientista político e doutor em Ciências Sociais, o país caminha na trilha da democracia, embora outros afirmem que se trata de uma ditadura e que o partido Novas Ideias busca se perpetuar no poder.

Não se pode negar que o governo salvadorenho tem o respaldo de importantes setores, incluindo sindicatos, associações, câmaras empresariais, grupos e organizações da sociedade civil, e, sobretudo, de um setor da burguesia local, afirmou Martínez.

Se, como diz a oposição, o apoio a Bukele e ao Novas Ideias se deve ao fato de que o povo é “enganado pela máquina estatal”, é preciso ver como isso se traduzirá nas urnas em 2027.

O panorama é complexo e sua explicação, uma tarefa difícil. No entanto, as pesquisas asseguram a Bukele um apoio superior a 80%, e, apesar das críticas por violações de direitos humanos e por uma reeleição considerada inconstitucional, há opiniões de que o país avança no caminho certo.

É com essa carta que o mandatário conta em seu afã de continuar no governo.

 

Fonte: Diálogos do Sul Global/La Jornada/Prensa Latina

 

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