O
problema que afeta uma em cada cinco mães: "Eu mal conseguia andar"
Quando
Rebecca Middleton engravidou, não fazia ideia de que passaria os três meses
finais da gestação em uma cadeira de rodas.
Middleton
teve um primeiro trimestre de gravidez difícil, marcado por enjoo e mal-estar.
No início do segundo trimestre, começou a desenvolver dor pélvica.
"Eu
mal conseguia andar. Sempre tive algum problema de dor lombar na vida, mas nada
tão significativo, e a situação piorou muito rápido", diz.
Após
relatar a dor, Middleton foi encaminhada a um fisioterapeuta do NHS (sistema de
saúde pública do Reino Unido) e acabou diagnosticada com um caso extremo de dor
na cintura pélvica.
A dor
na cintura pélvica relacionada à gravidez é um termo genérico usado para falar
de diversas dores ligadas à região pélvica que podem ser sentidas em partes do
corpo como o púbis (na altura do quadril), a lombar, as coxas e o períneo.
Problemas
nas articulações pélvicas são um sintoma comum da gravidez e atingem, em algum
grau, uma em cada 5 gestantes. Eles podem afetar atividades do dia a dia, como
subir escadas, caminhar e se vestir.
Não há
informações precisas sobre as causas, mas elas podem estar ligadas a diversos
fatores, como lesões pélvicas anteriores, o peso e a posição do bebê e um
trabalho que demande bastante fisicamente (leia mais abaixo sobre sintomas,
causas e tratamentos).
"Eu
estava apavorada. Será que eu voltaria a andar? Como teria meu bebê, como
cuidaria dele?", relembra Middleton.
Após o
parto, ela passou a sentir menos dor, mas ainda tinha dificuldade para tarefas
básicas, como andar, carregar o filho ou empurrar o carrinho.
"Fiquei
incapacitada por sete meses e precisava de alguém me ajudando o tempo
todo", diz.
"Eu
simplesmente não conseguia fazer o que se espera ao cuidar de um bebê. Foi um
período muito difícil."
Antes
da gravidez, Middleton não conhecia o problema. Depois da experiência, passou a
trabalhar como voluntária na Pelvic Partnership, entidade no Reino Unido que
busca aumentar a conscientização e oferecer apoio a mulheres com a condição.
A
instituição afirma que, com as ações corretas, a condição é tratável. Recomenda
ainda que, assim que os sintomas começarem, se busque tratamento
individualizado, com terapia manual, e que se solicite ao clínico geral, à
parteira ou aos profissionais de saúde do acompanhamento no pré-natal um
encaminhamento para um tratamento fisioterapêutico pelo sistema público de
saúde.
Os
profissionais de saúde também podem encaminhar pacientes para serviços de apoio
à saúde mental materna, a fim de ajudar a lidar com os impactos emocionais de
viver com essa condição por vezes debilitante.
Nighat
Arif, especialista em saúde da mulher, afirma que uma maior conscientização e
uma avaliação precoce poderiam evitar que pacientes como Middleton precisassem
de cadeira de rodas ou muletas.
"Sem
essa identificação precoce, baseada em uma compreensão sólida do corpo
feminino, deixamos algumas dessas mulheres com efeitos negativos para o resto
da vida", diz.
A
ginecologista Christine Ekechi afirma que a falta de pesquisas sobre a condição
reduz a chance de ela ser identificada e tratada de forma adequada, sobretudo
após o parto.
"Então,
não temos um bom entendimento sobre a proporção de mulheres que continuam com
dor iniciada durante a gravidez."
Victoria
Roberton, coordenadora da Pelvic Partnership, é um exemplo de como a
conscientização pode ajudar.
Como
Middleton, ela não sabia o que era essa dor na cintura pélvica quando começou a
enfrentar a condição durante a primeira gravidez.
Roberton
tentou se manter o mais ativa possível, como recomendado, e foi encaminhada
para sessões de fisioterapia do NHS feitas online e por telefone, mas percebeu
que a dor piorava conforme a gravidez avançava.
"Eles
nos deram exercícios, alongamentos para fazer. Mas nesse momento, eu não
conseguia fazer nenhum. Doía demais", diz.
Chegou
a um ponto em que até sentar se tornou desconfortável para Roberton, e ela
acabou passando quase todo o tempo em casa até o nascimento do bebê.
A dor
diminuiu após o nascimento da filha, mas ela voltou para os mesmos sintomas
quando engravidou do segundo filho.
Não é
uma opção para muitas mães, mas Roberton disse que, diante de seu histórico
médico, decidiu pagar por uma fisioterapeuta particular, já que a espera por um
encaminhamento pelo NHS era longa.
A
fisioterapeuta fez uma avaliação completa e ofereceu um tratamento que incluía
a mobilização das articulações, além de ensinar maneiras diferentes de mover o
corpo para não agravar as articulações do quadril, o que ajudou a aliviar a
dor.
Roberton
ainda enfrenta certo grau de dor na cintura pélvica, quatro anos depois, mas a
segunda gravidez foi muito mais fácil de lidar porque ela entendia a condição e
sabia como lidar com ela.
A
segunda gravidez de Middleton, por sua vez, também tem sido uma experiência
muito mais positiva.
Desta
vez, ela sabia que tinha risco de desenvolver essa condição e conseguiu
tratá-la ao longo da gravidez, antes que se tornasse debilitante.
Middleton
se recuperou totalmente apenas dois meses após o parto, em comparação aos dois
anos que levou após o nascimento do primeiro filho.
"Provavelmente
estou em melhor forma agora do que antes de ter qualquer um dos meus filhos,
porque hoje sei o que causou a dor na cintura pélvica e tive o problema
totalmente tratado e resolvido com terapia manual", diz.
"Foram
cinco anos de inferno por causa da dor que eu sentia e da falta de conhecimento
e compreensão sobre o tema."
O que é
dor pélvica gestacional
A dor
pélvica gestacional, também chamada de dor na cintura pélvica, está relacionada
à gravidez ou à disfunção da sínfise púbica e é um conjunto de sintomas
causados pela rigidez ou pelo movimento desigual das articulações pélvicas,
segundo o sistema público de saúde do Reino Unido.
A
condição não prejudica o bebê, mas provoca dor na região do púbis, na lombar,
no períneo e, por vezes, irradia para as coxas, podendo vir acompanhada de
estalos na pelve.
Fatores
de risco incluem histórico de dor lombar ou pélvica, lesões anteriores na
pelve, dor pélvica em gestação anterior, trabalho fisicamente exigente e
excesso de peso.
Ainda
de acordo com o sistema público de saúde do Reino Unido, não se sabe exatamente
por que algumas mulheres desenvolvem o quadro, mas ele pode estar ligado a
danos prévios na pélvis, ao desalinhamento das articulações e ao peso ou à
posição do bebê.
A dor
costuma piorar ao caminhar, subir escadas, ficar apoiada em uma perna, virar-se
na cama ou afastar as pernas.
O
tratamento pode envolver fisioterapia especializada, exercícios para fortalecer
músculos do assoalho pélvico e do tronco, uso de cintas de suporte e, em alguns
casos, muletas.
Especialistas
recomendam procurar orientação médica se a dor dificultar a locomoção ou
tarefas simples, já que o diagnóstico precoce reduz o risco de piora e ajuda no
manejo durante a gravidez.
• Estresse materno acelera dentição do
bebê, aponta estudo
Um
estudo publicado na Frontiers in Oral Health indica que os níveis hormonais das
gestantes no fim da gravidez podem influenciar o momento em que os primeiros
dentes de leite despontam nos filhos. A pesquisa sugere que alterações
hormonais, especialmente relacionadas ao estresse, têm impacto direto na
erupção dentária durante os dois primeiros anos de vida.
A
pesquisa analisou 142 pares de mães e bebês. No último trimestre da gestação,
os cientistas mediram seis hormônios presentes na saliva materna — cortisol,
estradiol, progesterona, testosterona, T3 e T4. Ao longo dos primeiros 24 meses
de vida das crianças, dentistas registraram quantos dentes haviam irrompido em
consultas periódicas.
O
resultado mais expressivo envolveu o cortisol, conhecido como o “hormônio do
estresse”. Níveis mais elevados dessa substância no período pré-natal foram
associados a uma erupção dentária mais acelerada aos 6 meses de idade. Em
média, bebês de mães com maior concentração de cortisol apresentaram cerca de
quatro dentes a mais do que aqueles cujas mães tinham níveis mais baixos.
Em
contraste, diagnósticos de depressão ou ansiedade durante a gravidez —
utilizados como indicador clínico de estresse — não mostraram relação
significativa com o número de dentes irrompidos em nenhum dos períodos
analisados. Para os autores, o achado sugere que a medida biológica do
estresse, por meio do cortisol, pode ser mais sensível do que registros
clínicos tradicionais.
Além do
cortisol, os pesquisadores identificaram associações positivas entre estradiol,
progesterona, testosterona e triiodotironina (T3) e a contagem de dentes em
consultas específicas. Estradiol e testosterona, por exemplo, mostraram relação
com a erupção dentária aos 12 meses, enquanto progesterona, testosterona e T3
tiveram impacto significativo aos 24 meses.
Os
resultados reforçam a hipótese de que o ambiente hormonal intrauterino pode
desempenhar papel importante no desenvolvimento dentário, possivelmente por
meio de vias biológicas ligadas ao crescimento ósseo e ao metabolismo de cálcio
e vitamina D. Liderados por Ying Meng e Jin Xiao, os autores destacam que
estudos mais amplos são necessários para esclarecer os mecanismos que conectam
o estresse pré-natal ao ritmo de erupção dos dentes.
Fonte:
Correio Braziliense

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