Ângela
Carrato: O que a mídia não quer ver na tentativa de fuga de Bolsonaro e na
fraude do banco Master
Se o
Brasil tivesse mídia corporativa minimamente digna deste nome, era para as
manchetes de hoje e do resto da semana abordarem insistentemente dois temas:
— Quem
estava por trás da fracassada tentativa de fuga de Jair Bolsonaro, que lhe
valeu a mudança de prisão domiciliar para preventiva;
— Os
desdobramentos da liquidação extrajudicial do banco Master e da prisão de seu
dirigente, Daniel Vorcaro, considerada a maior fraude financeira de todos os
tempos no país.
Com o
fim do processo no STF, que levou à condenação de Bolsonaro e mais seis
integrantes do principal núcleo da tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023,
todos eles já vão iniciar o cumprimento de suas penas.
Daí, o
importante agora seria a mídia concentrar-se nos detalhes envolvendo esta
tentativa de fuga, bem como na possibilidade de Daniel Vorcaro, que teve o
pedido de habeas corpus negado, colocar em prática o que prometia: contar “toda
a história” do Master, uma delação premiada que vem tirando o sono de muita
gente.
Mas a
pergunta que não quer calar é: esta mídia quer ir fundo nestes aspectos ou seus
interesses são outros?
A mídia
sabe que Bolsonaro (não o bolsonarismo) está acabado. A insistência em mantê-lo
nas manchetes passa pelo expediente de não deixar que se apague da memória
popular o seu nome, até que defina o candidato que terá seu apoio na disputa
com Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2026.
Nenhum
dos grandes veículos acredita que Bolsonaro possa ser anistiado, mas manter o
assunto em pauta é fundamental para o combate que sempre empreenderam contra a
reeleição de Lula.
Quanto
ao banco Master, o objetivo é oposto. Apagar, o mais rápido possível, da
memória das pessoas, a grossa corrupção perpetrada por este banco, em parceria
com o Banco de Brasília (BRB), de propriedade do governo do Distrito Federal.
Não por acaso, a mídia prefere tratar o assunto por seu nome técnico: gestão
temerária.
Se a
mídia corporativa brasileira fosse minimamente digna deste nome, era para estar
indo fundo na elucidação de quem auxiliou ou tramou com Bolsonaro o fracassado
plano de fuga.
Indícios
para tanto não faltam. É quase impossível, por exemplo, ele sozinho ter
conseguido queimar a tornozeleira como o fez, sem se queimar, especialmente,
como ele disse, tendo alucinações.
Não é
estranho uma pessoa, tão doente como alega estar, encontrar-se praticamente
sozinho em casa, acompanhado apenas da filha adolescente?
Não é
igualmente estranho que uma de suas visitas antes da tentativa de fuga, o
deputado federal Nicolas Ferreira (PL-MG), tenha utilizado o telefone celular
no recinto, mesmo sendo amplamente sabido que era proibido?
Com
quem Nicolas conversou?
Mais
estranho ainda é saber que a pouco mais de 200 metros da mansão onde Bolsonaro
cumpria prisão domiciliar, existe uma pista para pouso e decolagem de
aeronaves. A pista, que tem autorização da ANAC para realizar voos de dia e de
noite, pertence à residência do irmão do ex-automobilista e empresário Nelson
Piquet. Os leitores mais atentos devem se recordar que foi a Piquet que
Bolsonaro confiou a guarda de parte de seu acervo e presentes recebidos durante
o mandato.
Vale
registrar que Piquet esteve com Bolsonaro em 5 de novembro.
Até uma
criança é capaz de ligar os pontos. O “culto religioso” na porta do condomínio
onde se localiza a mansão de Bolsonaro serviria para desviar a atenção da
polícia, enquanto Bolsonaro tentaria, com a tornozeleira danificada, vencer os
200 metros que o separam da pista de voo.
Sobre
esse assunto, nem um pio, com a mídia preferindo concentrar-se na visita (para
além de protocolar) da ex-primeira dama, Michelle, ao marido, nas lamúrias dos
filhos e na sexta ou sétima versão de Bolsonaro e aliados sobre a tentativa de
tirar a tornozeleira.
Tanto
espaço para o que não é essencial em relação a Bolsonaro parece talhado sob
medida para que a corrupção do banco Master e de seu dono praticamente
desaparecesse do noticiário.
E
assunto para ser abordado não falta.
O
jornal Folha de S. Paulo, na segunda-feira (17), quando Vorcaro foi preso pela
Polícia Federal no aeroporto de Guarulhos, prestes a embarcar para a ilha de
Malta, publicava como manchete que a instituição havia sido vendida.
O
jornal, único a dar a notícia, divulgou, sem qualquer apuração, a versão do
banco? Onde ficam a seriedade e a credibilidade jornalísticas?
Uma
linha de apuração que deveria estar sendo seguida – mas a mídia foge dela como
o diabo da cruz – é a relação entre Daniel Vorcaro, políticos de
extrema-direita e bolsonaristas, sendo ele próprio um bolsonarista de primeira
hora.
No meio
político, as principais conexões de Vorcaro são o presidente do Congresso
Nacional, Davi Alcolumbre (União-AP), o deputado federal Ciro Nogueira, líder
do PP, e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Cada um
a seu modo, tem rabo preso com Vorcaro. O chefe do fundo de pensão do Amapá,
Jocildo Lemos, indicado por Alcolumbre, ignorou alertas sobre riscos e investiu
R$ 100 milhões em títulos do banco Master, o que causou prejuízos a servidores
e aposentados.
Já Ciro
Nogueira atuou como lobista de Vorcaro e foi um dos principais articuladores
junto ao governador do Distrito Federal, nas negociatas para salvar o Master
com dinheiro público via compra pelo Banco de Brasília (BRB).
Nogueira
é ainda o elo das tramoias de Vorcaro em outra frente: um de seus assessores,
Victor Linhares, é investigado na Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal.
A
operação liga a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) a um
intrincado esquema de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, que passa
por fintechs instaladas na avenida Faria Lima, o coração financeiro da capital
paulista.
Ciro
Nogueira é um dos principais articuladores da candidatura do governador de São
Paulo, o extremista de direita Tarcísio de Freitas, à presidência da República
em 2026.
As
questões em torno das falcatruas do banco Master deveriam estar colocando em
primeiro plano uma figura proeminente do governo Bolsonaro, o ex-presidente do
Banco Central, Roberto Campos Neto.
Queridinho
da mídia, Campos Neto, atual vice-presidente do conselho de administração e
chefe global de Políticas Públicas do Nubank, desde julho de 2025, assumiu o
lobby das fintechs e tentou uma manobra após reclamar que essas entidades
financeiras, que ganharam força durante o governo Bolsonaro, enfrentavam uma
carga financeira maior do que os bancos tradicionais.
A
equiparação de bancos com fintechs irritou a Federação Nacional de Bancos
(Febraban), que denunciou a jogada para as fintechs pagarem menos. Não seria o
caso da mídia ouvir os banqueiros tradicionais sobre esse assunto?
Não
seria o caso, também, de questionar os motivos que não levaram Campos Neto a
investigar as políticas absurdas levadas a cabo pelo banco Master quando à
frente do Banco Central?
Igualmente
esquecido pela mídia estão os 18 fundos de pensão de estados e municípios que
aplicaram em carteiras do banco Master. Somados, os valores chegam a R$ 1,87
bilhão.
Além do
já citado Fundo do Estado do Amapá, investiram no Master entre outros, o fundos
do Amazonas, do Rio de Janeiro, e de cidades como Angélica (MS), Aparecida de
Goiânia (GO), Araras (SP), Cajamar (SP), Campo Grande (MS) e Congonhas (MG).
Coincidentemente,
estes estados e quase todas as cidades são administrados por políticos que
integram a base bolsonarista.
Apesar
de indícios de farta conexão entre bolsonarismo e corrupção financeira, a mídia
corporativa prefere tentar fazer pressão contra o governo Lula. Prova disso são
algumas manchetes dos principais jornais brasileiros da terça-feira (25).
O
jornal O Globo, por exemplo, destaca no que define como “déficit ampliado”, que
“O rombo dos Correios e de mais 12 estatais agrava quadro das contas públicas”.
Sem
citar que o maior rombo nas contas públicas brasileiras é o pagamento de R$ 1
trilhão a título de juros da dívida pública, a publicação dá sequência à
campanha permanente para tentar inviabilizar que o governo Lula consiga
investir em políticas públicas.
Campanha
agravada pelo permanente combate da família Marinho a todas as estatais
brasileiras.
Já a
Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo vão direto para o que imaginam possa
ser um duro golpe para o governo e respectivamente mancheteiam: “Motta rompe
com líder do PT e agrava desgaste de Lula na Câmara” e “Alcolumbre e Motta
ampliam crise entre Congresso e governo”.
A mesma
Folha que sempre tratou o “coronel” Arthur Lira, ex-presidente da Câmara, com
toda a deferência, mantém a postura no que diz respeito ao seu apadrinhado e
sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A
publicação de Luis Frias se esquece de que Motta é hoje um dos políticos mais
odiados do Brasil, identificado com toda a tentativa de blindagem de
parlamentares no que se refere a processos e investigações criminais.
Já o
Estado de S. Paulo parece apostar no desgaste de Lula e em dificuldades para o
Palácio do Planalto conseguir aprovar de agora em diante o que quer que seja,
de projetos do interesse público, ao nome de Jorge Messias como ministro do
STF.
As duas
manchetes lembram muito a cobertura que esses veículos fizeram do período que
antecedeu à abertura do golpe, travestido de impeachment, contra a presidente
Dilma Rousseff.
Também
naquela época, a gota d’agua que desencadeou o processo foi a posição de Dilma
ao não ceder às chantagens do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha.
Mais
existem diferenças fundamentais entre 2016 e 2025.
Pesquisa
de opinião da Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizada entre 19 e
23 de novembro, revela um quadro amplamente negativo sobre o desempenho do
Congresso Nacional.
Os
dados mostram que grande parte da população vê a atuação de deputados e
senadores como entrave para o avanço do país. Para 40,8% dos ouvidos, o
Congresso Nacional atrapalha o desenvolvimento do Brasil, superando os 19,8%
que acreditam que o parlamento contribui para o avanço do país.
A
percepção negativa se repete em outros importantes indicadores: 37% classificam
a atuação do Congresso como ruim ou péssima, ao passo que apenas 17% a
consideram positiva.
O
levantamento também deixa clara a visão predominante de que o Congresso atua
motivado por interesses próprios, distantes das necessidades da sociedade. A
título de exemplo, apenas 16,4% acreditam que o parlamento defenda os
interesses da população.
Some-se
a isso se Dilma estava no início de seu segundo mandato e não tinha clareza
sobre a real atuação de seus inimigos, Lula sabe exatamente com quem está
lidando.
Sabe
quais são os inimigos internos e externos da democracia e do desenvolvimento
soberano do Brasil.
Seja
como for, essa atuação da mídia corporativa não deixa de funcionar como uma
prévia do que teremos nas eleições de 2026.
Como
sempre, haverá o triste espetáculo de uma mídia golpista, antinacional e
trabalhando contra os interesses da maioria da população brasileira.
A boa
notícia é que as próximas eleições podem também nos livrar de todo um conjunto
de aventureiros, fisiológicos e corruptos há tempos encastelados no Congresso
Nacional.
• Bolsonaro na Papuda faria jus ao caso e
seria pedagógico, para ele e toda a nação. Por Tânia Mandarino
A
rigor, a condição de ex-presidente da República não garante automaticamente o
direito a cela especial.
O
benefício de cela especial é tipicamente previsto na legislação apenas durante
a fase de prisão preventiva (enquanto o processo está em andamento) para
categorias como ministros de Estado, oficiais das forças armadas, magistrados,
membros do ministério múblico, advogados, professores e jornalistas (em
legislação específica), e não para o réu que já condenado.
Nesse
sentido, o condenado passaria a pagar pelo crime que praticou no mesmo presídio
que os demais, a não ser que se enquadre em outras prerrogativas legais (ou que
haja critérios médicos).
No caso
do ex-presidente Fernando Collor, o STF entendeu que a condição de
ex-presidente da República garante o cumprimento da pena em ala especial de
presídio, com cela individual.
Eu
disse “ala especial de presídio, com cela individual” e não superintendência da
polícia federal!
Lula,
quando era ex-presidente, passou 580 dias preso na superintendência da polícia
federal porque estava cumprindo pena após condenação em segunda instância, ou
seja, antes do trânsito em julgado de sua condenação.
A
prisão de Fernando Collor de Mello, após a determinação do cumprimento imediato
da pena (trânsito em julgado) pelo STF, ocorreu em um presídio comum, e não na
sede da Polícia Federal.
Ainda
que em uma cela especial dentro de uma ala especial da unidade prisional,
Collor, após o trânsito em julgado de sua condenação, foi para o Presídio
Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió (AL).
Depois
saiu, por questões de idade e estado de saúde alegadas pela defesa (apneia do
sono, transtorno bipolar e Parkinson inicial).
Bolsonaro,
portanto, teria que ter iniciado o cumprimento da pena definitiva em ala
especial da Papuda, ainda que em cela individual.
Mantê-lo
na superintendência da PF é muita deferência para um traidor da pátria,
golpista, que foi o chefe da orcrim que quis abolir o Estado de Direito no
Brasil.
As
questões de saúde alegadas agora também vejo como muito precoces, uma vez que,
até ontem, ele estava tranquilo comendo farofas, leite condensado, cachorros
quentes e todo pirilampo em potentes motocicletas e jet ski.
Compará-lo
a Lula então, que nem pena definitiva tinha quando passou injustamente 580 dias
preso na PF, é uma infâmia falaciosa que deve ser rechaçada por todos nós.
Não é
punitivismo, não é vingança! É escrever corretamente a História, por linhas
retas!
Bolsonaro
na Papuda faria jus ao caso e seria pedagógico, para ele e para toda a nação.
• Sem líder claro, direita está dividida
após prisão de Bolsonaro, diz Economist
Uma
reportagem da revista britânica The Economist publicada nesta sexta-feira
(28/11) afirma que a direita brasileira está dividida após a prisão do
ex-presidente Jair Bolsonaro, e que não surgiu ainda um líder claro para ser o
candidato à eleição presidencial de 2026.
"A
menos de um ano das eleições, a direita brasileira não tem um líder claro. As
disputas internas entre os potenciais candidatos estão aumentando", afirma
a Economist.
A
reportagem cita como possíveis candidatos os governadores Tarcísio de Freitas
(de São Paulo), Ronaldo Caiado (de Goiás) e Romeu Zema (de Minas Gerais), além
de Eduardo e Flávio Bolsonaro.
A
revista afirma que há alguns meses "o cenário era bastante
diferente", com queda da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, devido ao aumento do preço dos alimentos e da pouca presença da esquerda
nas mídias sociais. Nesse momento, a direita parecia estar em vantagem.
"Em
muitos aspectos, a própria família de Bolsonaro é culpada pela mudança na sorte
da direita", afirma a reportagem, citando o que chama de lobby de Eduardo
Bolsonaro junto aos republicanos contra o julgamento de seu pai.
A
resposta americana veio na forma de um tarifaço do governo de Donald Trump
contra produtos brasileiros.
"Enquanto
Lula chamava a família Bolsonaro de 'traidores da pátria', os ambiciosos
candidatos de direita se viram em uma situação delicada. Tentando se dissociar
das impopulares tarifas, eles também queriam demonstrar apoio a Bolsonaro:
qualquer candidato de direita precisa de sua bênção para ser competitivo nas
eleições", afirma a revista.
A
Economist pontua que, com as negociações entre Trump e Lula e anúncios de
recuos no tarifaço, a direita entrou em uma disputa interna envolvendo a
família Bolsonaro e outros candidatos, enquanto o governo Lula "recuperou
sua confiança", aprovando medidas populares como o aumento da faixa de
isenção do Imposto de Renda.
A
revista afirma que a direita "está perdendo o debate sobre soberania,
tarifas e impostos", e por isso agora "está atacando o ponto fraco de
Lula: a segurança" — citando a ação policial no Rio de Janeiro contra
traficantes em outubro.
"Muita
coisa ainda pode dar errado para Lula. A maioria dos brasileiros acha que o
político de 80 anos não deveria se candidatar novamente. Sua reforma do imposto
de renda pode aumentar a inflação ao impulsionar o consumo", afirma a
revista.
"Mas,
por ora, o maior beneficiário do legado caótico de Bolsonaro é Lula."
Fonte:Viomundo/BBC
News Brasil

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