O
que levou à prisão quatro ex-presidentes do Brasil, de Collor a Bolsonaro
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso
preventivamente pela Polícia Federal (PF) em Brasília na manhã
deste sábado (22/11). Ele é o quarto ex-presidente da República preso no Brasil
em sete anos.
Presidente
entre 2018 e 2022, Bolsonaro teve sua prisão preventiva em regime domiciliar
revogada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A ordem veio após um pedido da PF, que identificou um risco concreto e iminente
de fuga.
Quando sua
prisão domiciliar foi decretada em agosto, Bolsonaro se tornou o
quarto ex-presidente brasileiro a ser preso, dos oito líderes que o Brasil teve
desde o fim da
ditadura militar, em 1985.
Foram
presos, além de Bolsonaro, o atual presidente Lula e os ex-presidentes Michel
Temer e Fernando Collor de Melo.
Os
ex-presidentes José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso nunca
foram para a prisão.
Já a
ex-presidente Dilma
Rousseff foi presa muito antes de se tornar presidente, pela
ditadura militar. Dilma, que era ativista política e membro de grupos de
esquerda que combatiam a Ditadura, ficou presa entre 1970 e 1972, submetida a
torturas.
Veja
abaixo os motivos que os levaram à prisão dos ex-presidentes, além de
Bolsonaro.
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Bolsonaro (2025)
O
ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado
a 27 anos e três meses de prisão em setembro, pelo Supremo
Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro
foi considerado pelo STF como líder de uma organização criminosa, com
militares, policiais e aliados, que atuou para impedir a transição de poder
após as eleições de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
A
investigação também levou à imposição de uma série de medidas cautelares ao
longo do processo, à medida que o tribunal entendeu haver risco concreto à
ordem institucional e à aplicação da lei penal.
O
ex-presidente foi declarado culpado de cinco crimes: organização criminosa
armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe
de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de
patrimônio tombado.
As
condenações resultaram em um endurecimento progressivo de sua situação
jurídica, com restrições cada vez mais severas de liberdade.
Além de
Bolsonaro, os outros sete réus na ação penal também foram condenados: Alexandre
Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo
Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto. Ao longo desse período, o STF passou a
adotar medidas individuais de controle e monitoramento em relação aos
condenados.
Para o
procurador-geral da República, Paulo Gonet, a organização criminosa agiu em
várias frentes desde 2021 para tentar executar o plano de ruptura, desde
discursos públicos para descreditar o sistema eleitoral até supostas pressões
sobre o Alto Comando das Forças Armadas para apoiar um decreto de cunho
golpista — a chamada "minuta do golpe".
Segundo
o Ministério Público, esse contexto de articulação e mobilização contínua foi
considerado pelo Supremo na dosimetria das penas e na análise da necessidade de
medidas cautelares.
Gonet
citou ainda na denúncia movimentos para tentar atrapalhar o andamento da
eleição, citando os bloqueios da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia da
eleição em 2022, em especial em regiões com eleitores favoráveis ao adversário
Lula. Esse histórico passou a embasar, posteriormente, a decisão de submeter
Bolsonaro a monitoramento eletrônico.
A PGR
destacou ainda os ataques de 8 de janeiro de 2023 como o ato final da tentativa
golpista.
Após
esses eventos, o STF determinou o uso de tornozeleira eletrônica por Bolsonaro,
além de restrições de circulação e de contato com outros investigados, como
forma de evitar novas articulações políticas fora do controle judicial.
Ao fim
do julgamento, o STF considerou haver provas suficientes das acusações da PGR e
condenou os réus. Mesmo após a condenação, Bolsonaro permaneceu inicialmente em
liberdade com medidas cautelares, mas, diante de episódios considerados graves
pelo tribunal, a situação foi agravada.
Primeiro,
a Justiça converteu as medidas em prisão preventiva em regime domiciliar, com
monitoramento integral.
Agora,
com a nova decisão do ministro Alexandre de Moraes, houve a revogação da prisão
domiciliar e a decretação de nova prisão preventiva, desta vez a ser cumprida
em unidade da Polícia Federal, sob o argumento de risco de fuga e necessidade
de garantia da ordem pública.
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Lula (2018-2019)
O atual
presidente Lula ficou 580
dias preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, após
ser condenado por corrupção na operação Lava Jato,
em 2018.
O
petista havia sido considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro, mas o STF mais tarde anulou essas condenações por entender
que Lula não teve seus direitos respeitados ao longo dos processos conduzidos pelo então juiz Sergio Moro (hoje
senador).
Previsto
na Constituição, o princípio da presunção da inocência diz que toda pessoa é
considerada inocente até que se prove o contrário em um julgamento realizado
dentro da lei. Dessa forma, com a anulação dos processos contra Lula, ele
recuperou seu status de inocente perante a Justiça.
Durante
a Lava Jato, Lula chegou a ser condenado em dois processos: o do tríplex do Guarujá e
o do sítio de Atibaia.
No
primeiro, o petista foi acusado de receber uma cobertura no Guarujá, cidade no
litoral paulista, do grupo OAS como um suposto acerto por desvios de recursos
da Petrobras durante o governo petista.
No
segundo, Lula foi acusado de ser beneficiado por obras realizadas por OAS e
Odebrecht em um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, que pertencia a um
amigo seu e que o ex-presidente frequentava com sua família. Também nesse caso,
a força-tarefa da Lava Jato dizia que essas benfeitorias foram bancadas com
dinheiro desviado da estatal.
Em
ambos os casos, a defesa de Lula argumentou que os dois imóveis jamais
pertenceram ao presidente.
As duas
condenações determinadas por Moro foram confirmadas depois pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª região, antes de serem anuladas pelo STF.
Em
2018, Lula foi impedido de disputar a eleição contra Bolsonaro por ter se
tornado inelegível diante das condenações.
Lula foi solto em 2019, após
uma decisão do STF que vetou a chamada execução antecipada da pena — impedindo
que réus fossem presos após julgamento em segunda instância e antes do
esgotamento de todos os recursos possíveis.
Já em
2021, o STF entendeu que processos contra Lula não deveriam ter tramitado na Justiça
de Curitiba, mas no Distritio Federal. Pouco depois, a corte decidiu
também que Moro não
julgou Lula com imparcialidade.
Com
essas duas decisões, as condenações foram consideradas nulas, mas Lula ainda
poderia responder às acusações em novos processos, a serem realizados na
Justiça de Brasília. No entanto, esse retorno à estaca zero acabou provocando a
prescrição da pretensão punitiva - um "prazo de validade" para o
poder punitivo do Estado.
Como
Lula voltou a ser considerado inocente perante a Justiça, ele pôde disputar as
eleições de 2022 contra Bolsonaro - da qual saiu vencedor.
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Michel Temer (2019)
Presidente
da República entre 2016 (após o impeachment de Dilma Rousseff)
e 2018, Michel Temer foi preso duas vezes em 2019, em desdobramento da operação
Lava Jato.
Por
determinação do então juiz Marcelo Bretas, Temer foi detido em março enquanto
saía de casa, em São Paulo, e levado ao Rio de Janeiro.
Quatro
dias depois, ele foi solto por decisão de um desembargador do Tribunal Regional
Federal da 2º Região (TRF-2), após um pedido de habeas corpus.
Temer voltaria a ser preso em
maio, após o habeas corpus ser revogado pelo colegiado do TRF-2. Cinco dias
depois, o ex-presidente foi solto novamente, por determinação do Superior
Tribunal de Justiça (STJ).
O
inquérito que levou à prisão de Temer investigava se licitações para construção
da usina nuclear Angra 3 teriam sido fraudadas para favorecer empresas de AF
Consult e Argeplan, esta última do coronel João Baptista Lima Filho, amigo de
longa data de Temer preso na mesma operação.
O
Ministério Público Federal acusou Temer de fazer parte de organização criminosa
que praticou "crimes de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de
capitais e fraudes à licitação".
Para
pedir a prisão, o MPF argumentava que havia um esquema em andamento para
dificultar as investigações ligadas ao grupo liderado por Temer, incluindo
monitoramento das investigações e dos investigadores.
Além do
caso que levou à sua prisão, Temer foi alvo de mais de dez inquéritos,
em casos como o da JBS, quando foi flagrada uma conversa em que ele diz
"tem que manter isso aí" ao empresário Joesley Batista, ao falar
sobre o ex-deputado Eduardo Cunha.
Temer
continuou respondendo aos processos, mas nunca foi condenado e permanece livre.
Muitos dos processos que envolvem o ex-presidente foram arquivados, inclusive o
que levou à sua prisão.
Em
2021, o ministro Alexandre de Moraes anulou duas ações penais no âmbito da
operação sobre Angra 3, determinando o envio dos processos para o Distrito
Federal.
Já em
Brasília, em 2022, o juiz Marcus Reis Bastos rejeitou a acusação por ser
"genérica e sem provas". O Ministério Público Federal recorreu ao
Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.
Em
2023, O TRF1 manteve a rejeição da denúncia contra o ex-presidente na
investigação sobre obras da usina nuclear Angra 3.
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Fernando Collor (2025)
O
ex-presidente Fernando
Collor de Mello foi preso em abril de 2025, em Maceió, quando se
preparava para viajar a Brasília para se entregar à Polícia Federal.
A
prisão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após esgotados os
recursos no processo no qual o ex-presidente foi condenado por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, relacionados a um esquema de fraudes na BR
Distribuidora.
O
processo também era decorrente da operação Lava Jato.
A
condenação impõe uma pena de oito anos e dez meses, a ser cumprida inicialmente
em regime fechado. Collor foi encaminhado a uma cela individual no presídio
Baldomero Cavalcanti de Oliveira, de Maceió.
Cinco
dias depois, porém, Moraes atendeu um pedido da defesa e determinou que Collor
cumprisse sua pena em prisão domiciliar.
A
defesa do ex-presidente alegou que Collor sofre de diversas comorbidades, entre
elas Parkinson.
Além de
determinar a prisão domiciliar de Collor, Moraes ordenou a suspensão do seu
passaporte, o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de visitas, exceto
nos casos de familiares, advogados e equipe médica.
Ao
condenar o ex-presidente, a Justiça entendeu que ficou provado que Collor
recebeu R$ 20 milhões para viabilizar irregularmente contratos da BR
Distribuidora com a UTC Engenharia para a construção de bases de distribuição
de combustíveis.
Com seu
poder político, Collor teria influenciado nas indicações à diretoria da BR
Distribuidora e facilitado a negociação de contratos.
Collor foi
presidente do Brasil entre 1990 e 1992. Após uma crise econômica e
política, foi instaurado um processo de impeachment contra ele.
Diante
da possibilidade de ter seu afastamento confirmado e seus direitos políticos
cassados por oito anos, Collor renunciou em dezembro de 1992. Apesar disso, o
Senado aprovou o impeachment e cassou seus direitos políticos temporariamente.
Em
2006, com direitos recuperados, ele voltou à Brasília após ser eleito senador
por Alagoas.
Collor
segue preso em seu apartamento, numa área nobre de Maceió.
Fonte:
BBC News Brasil

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