Bolsonaro
não tem como liderar a direita preso nestas condições, diz o fugitivo Paulo
Figueiredo
Para o
empresário e influencer de direita fugitivo Paulo Figueiredo, uma das vozes
mais conhecidas da direita brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não
tem, hoje, condições de liderar o campo político que o levou à Presidência da
República.
"Nestas
condições, preso sob tortura? Não. Ele não tem condições de liderar a direita
no Brasil neste momento. Eu tenho dito isso de forma bastante clara. O
presidente neste momento é uma vítima", disse Figueiredo em entrevista à
BBC News Brasil na quarta-feira (26/11). A entrevista foi concedida um dia
depois de Bolsonaro e outros seis réus serem presos para começar a cumprir suas
penas após a condenação por crimes como tentativa de golpe de Estado e abolição
violenta ao Estado democrático de Direito. O laudo do exame de corpo de delito
realizado pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) não constatou nenhuma
lesão ou violação à sua integridade física. Mesmo assim, Figueiredo afirma que
o ex-presidente estaria sendo submetido a tortura psicológica e que, assim, não
teria sequer condições de apontar o nome de quem pode sucedê-lo nas eleições
presidenciais de 2026.
Neto do
último presidente da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985,
o general João Baptista Figueiredo, Paulo Figueiredo ganhou notoriedade como
comentarista político em programas de rádio, TV e podcasts. Hoje, Figueiredo
conta com mais de 1,3 milhão de seguidores em diferentes redes sociais e
transmite, quase diariamente, um programa em seu canal no YouTube. Nos últimos
meses, parte da opinião pública brasileira e até mesmo membros do governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se surpreenderam, ao menos
temporariamente, com a atuação de Figueiredo nos Estados Unidos, onde vive. Ao
lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o empresário passou a
participar de reuniões com integrantes do governo do presidente Donald Trump
nas quais defendia, abertamente, a aplicação de sanções contra o ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes — como resposta à condução
do processo que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) respondia por tentativa de
golpe de Estado, e a favor da implementação de uma anistia aos militantes,
militares e políticos processados por seus supostos envolvimentos em uma
tentativa de golpe de Estado ocorrida entre 2022 e 2023.
Confira
abaixo os principais trechos da entrevista:
• O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso
e, ao contrário que se viu quando o presidente Lula foi preso, não se percebeu
uma grande mobilização popular contrária à prisão dele em Brasília ou mesmo em
outros lugares do Brasil nos últimos dias. Por que, na sua opinião, isso não
aconteceu?
Paulo
Figueiredo - A prisão foi decretada com base na convocação dessa mobilização
popular. Quando houve uma convocação simples para uma vigília por parte do
senador Flávio Bolsonaro, isso foi utilizado como base para a decretação da
prisão. Alexandre de Moraes criminalizou a manifestação pública de direita no
Brasil. As pessoas tiveram medo de ir para uma determinada região onde
estivesse o presidente Bolsonaro, como aconteceu com Lula, e isso ser
interpretado como um tipo de insurreição ou baderna (...) O Brasil tem tido
manifestações populares em favor do presidente Bolsonaro muito maiores do que
qualquer coisa que já tenha sido feita em favor do presidente Lula. Há poucos
meses, por exemplo, tivemos uma outra grande manifestação nesse sentido.
• Há analistas que estão lendo essa falta
de mobilização como um esvaziamento do bolsonarismo. Com a prisão do Bolsonaro,
ele ficou esvaziado?
Paulo
Figueiredo - Acho que não. O presidente Bolsonaro e, obviamente, o
bolsonarismo, são símbolo de um movimento maior no mundo inteiro que é chamado
de movimento nacional populista. Essa é a nova cara da direita. É um movimento
caracterizado por uma revolta contra um establishment, contra o sistema, contra
autoridades, contra os poderes sejam eles econômicos, de mídia, ou políticos.
Esse sentimento nunca esteve tão forte no mundo. Obviamente, temos um cenário
de muito medo por parte da direita. Tivemos pelo menos três grandes
manifestações bolsonaristas neste ano (...) então não vejo enfraquecimento
nenhum e acho que eleitoralmente isso fica bastante traduzido pelo medo que as
pessoas têm de que o Bolsonaro dispute as eleições. Isso serve tanto para o Jair
Bolsonaro quanto para o Eduardo Bolsonaro.
• Atribuir essa falta de mobilização
popular em relação à prisão do presidente Bolsonaro não mascara, de alguma
forma, uma eventual perda de mobilização popular do bolsonarismo?
Paulo
Figueiredo – Podemos fazer uma análise objetiva. Neste ano, o presidente
Bolsonaro conseguiu levar multidões às ruas? Sim. Alexandre de Moraes ameaçou
pessoas que se mobilizassem em torno do presidente? Sim. Foi essa a base da
motivação da prisão preventiva. Quando você junta esses dois argumentos, fica
bastante claro que não (houve perda de mobilização). O bolsonarismo continua
bastante engajado. As redes sociais e as ruas deixam isso claro. Mas nós
vivemos uma situação no Brasil que não é de normalidade democrática. As pessoas
de direita jamais poderiam fazer com Bolsonaro o que foi feito com o Lula no
sindicato do ABC, na ocasião da sua prisão. Caso o fizessem, os manifestantes
estariam sendo presos e nós teríamos uma chamada insurreição, uma tentativa de
golpe, uma tentativa de obstrução de justiça de pessoas antidemocráticas.
• O senhor e outras lideranças ou
influenciadores da direita sempre trataram o ex-presidente Bolsonaro como um
grande líder da direita no Brasil. Uma liderança forte e potente. Tentar romper
uma tornozeleira eletrônica com ferro de solda é a postura esperada de um
grande líder?
Paulo
Figueiredo - Eu tenho sido muito crítico à postura do presidente por não ter
tido a postura de uma pessoa tão forte quanto ele deveria ter sido. A
tentativa... não de rompimento, mas de adulteração da tornozeleira é o retrato
do estado de fragilidade no qual o presidente se encontra. E eu tenho tido
notícia de que ele já se encontra (assim) há bastante tempo. Não só uma
fragilidade física como uma fragilidade mental (...) Você coloca isso a uma
pessoa que tem passado por três anos de linchamento público, (submetido a)
constantes injustiças, a uma pressão que é muito difícil de qualquer ser humano
suportar... É uma tortura psicológica o que a gente tem porque, a todo momento,
o presidente vive sob a ameaça de (ser punido) se não se comportar (...) Quando
você associa a isso medicamentos que tem interações preocupantes, eu não tenho
dúvidas de que o presidente Bolsonaro estava e provavelmente ainda está em um
estado de confusão mental. Eu não acho que há nada de vergonhoso nisso em você,
debaixo dessa tortura e sob medicação, adotar um comportamento confuso para um
senhor de 70 e poucos anos.
• Admitindo que seja este o caso, o senhor
acha que, nessas condições, Jair Bolsonaro tem condições de liderar a direita
no Brasil?
Paulo
Figueiredo - Acho que não. Nestas condições, preso sob tortura? Não. Ele não
tem condições de liderar a direita no Brasil neste momento. Eu tenho dito isso
de forma bastante clara. O presidente neste momento é uma vítima. Ele é um
refém que está sendo torturado e nenhum refém tem condições de liderar nada.
Então, o presidente Bolsonaro precisa ser, neste momento, protegido por aqueles
que representam seu movimento.
• Preciso interromper para dizer que o
presidente Bolsonaro foi submetido a um exame de corpo de delito que não
constatou nenhum tipo de lesão ou violação à sua integridade física. Em relação
às condições às quais ele está submetido, no que se refere às instalações, não
há indicações de que elas apresentam condições desumanas. O senhor pode
qualificar melhor o que quer dizer com tortura?
Paulo
Figueiredo – Claro. O conceito de tortura psicológica é um conceito amplamente
documentado de forma acadêmica que não passa por nenhuma violação física. Você
tem várias técnicas psicológicas de submeter alguém a um ambiente de tortura.
Bolsonaro vive debaixo de um ambiente de ameaça constante e com interlocutores
constantemente indo a ele e dizendo: "Se você não for dócil ao sistema, se
você o enfrentar, vai ser pior". Ele não teria motivos para tomar
medicação se ele não estivesse num estado mental periclitante que é o estado em
que ele está (...) A ameaça (a Bolsonaro) é: "Se você não se comportar
direitinho e se você não nomear os candidatos à sua sucessão que nós queremos
que você nomeie, você será enviado para a Papuda. Você vai perder o benefício
de estar dentro da Polícia Federal". Como é que alguém sustenta uma
situação dessas? Ninguém aguenta três anos disso.
• E nessas condições, o senhor acha que o
ex-presidente Bolsonaro tem condição de indicar quem vai ser o seu candidato
nas eleições 2026?
Paulo
Figueiredo - Talvez não. Não tenho, por ordem judicial, contato direto com o
presidente Bolsonaro para saber como ele está atualmente. Mas, sem dúvida
nenhuma, ele não está numa posição onde possa, livremente, escolher quem vai
ser o sucessor para representar este movimento político, do qual ele é o maior
símbolo, nas eleições de 2026.
• Quem são os atores que estariam se
aproveitando dessa condição dele na direita?
Paulo
Figueiredo - A direita é um ambiente muito amplo, mas, sem dúvida nenhuma,
dentro do establishment do centro político brasileiro, há várias pessoas que
estão se aproveitando disso porque querem um candidato que seja dócil ao
sistema.
• Você pode citar algumas? O senador Ciro
Nogueira seria uma?
Paulo
Figueiredo - Acho que o Ciro Nogueira pode ser um exemplo, mas ele não é o
único. Boa parte dos atores de centro no Brasil querem esse tipo de coisa. Mas
não acho construtivo ficar aqui e apontar todos os nomes. Mas há pessoas, por
exemplo, no próprio mercado financeiro. Há um consenso dentro da Faria Lima
(avenida que concentra instituições financeiras em São Paulo) nessa direção. Há
um consenso, mesmo na mídia, de que o candidato precisaria ser alguém como o
Tarcísio. Eu não reputo ao governador de São Paulo esse plano. Não reputo a ele
essa vontade ou uma traição ao presidente (Bolsonaro) para que ele seja o
candidato. Mas acho que o sistema gostaria muito que alguém como ele fosse
candidato representando o Bolsonaro, tendo os votos do Bolsonaro, sem
efetivamente representar um movimento político do qual o presidente faz parte.
• No X o senhor já disse que dentro do
universo é MAGA (Make America Great Again), Tarcísio é visto como um aliado da
China e de Alexandre de Moraes. O senhor vê Tarcísio de Freitas como aliado de
Alexandre de Moraes?
Paulo
Figueiredo - Eu não o vejo como um aliado de Moraes. Eu vejo o governador
Tarcísio, que já fez elogios ao Alexandre Moraes e ao Supremo Tribunal Federal,
como alguém que não representa uma ameaça aos abusos de poderes e ao golpe de
Estado que Alexandre de Moraes começou a praticar em 2022. Isso não significa
que ele é necessariamente um aliado (de Moraes). Significa que ele não é um
opositor que representa uma ameaça.
• Como o senhor o classificaria em relação
a Bolsonaro? Ele é alguém confiável? O senhor confia nele?
Paulo
Figueiredo - Eu não conheço o governador Tarcísio o suficiente para confiar ou
não confiar. Eu me considero uma pessoa bastante ingênua e que costuma ver o
melhor das pessoas. A impressão que eu tenho do governador Tarcísio é que ele é
uma pessoa leal ao presidente Bolsonaro. Eu já conversei com ele algumas vezes
e a impressão que eu tenho é que ele tem uma visão diferente sobre a forma de
ajudar o presidente Bolsonaro. Ele tem uma visão de que é possível fazer isso
através da conversa e do diálogo e não do enfrentamento. Eu acho que essa
visão, que foi a visão implementada até hoje, falhou miseravelmente. Levou o
presidente Bolsonaro a estar cumprindo, na sede da Polícia Federal, uma pena de
27 anos na prisão. Mas isso não significa que, por ter uma tese que eu
considero equivocada, que ele seja necessariamente um traidor, um canalha ou
qualquer coisa do tipo.
• Com Bolsonaro preso hoje, quem deveria
ser o candidato da direita nas eleições de 2026?
Paulo
Figueiredo – O melhor nome para representar o movimento bolsonarista nas urnas
em 2026, entre os candidatos que se colocaram, é o deputado federal Eduardo
Bolsonaro. Algumas pessoas podem dizer que ele pode se tornar inelegível até o
final do ano que vem por conta desse julgamento fajuto no processo de coação do
processo penal, mas eu acho que esse processo vai ter muita dificuldade de
avançar. No caso de esse julgamento prosperar, há outras possibilidades. Uma
delas, que eu acho que é quase tão boa quanto, é o senador Flávio Bolsonaro,
que também representa muito bem o movimento político do pai.
• Como é que você avalia o impacto da
prisão do ex-presidente Bolsonaro sobre a direita no Brasil? Ela fica mais
fragmentada?
Paulo
Figueiredo - Não sei se deixa a direita mais fragmentada... talvez. Existe um
mito muito forte em torno de prisão. A prisão injusta traz uma certa união. Ela
é quase um arquétipo do injusto, de alguém que está sendo perseguido. O
martírio é uma coisa que tem uma imagem psicológica muito forte para as
pessoas. Então, talvez a prisão sirva para facilitar, para galvanizar e para
criar um mito de união, um mito fundador de união em torno do bolsonarismo.
• O governo de Estados Unidos impôs
tarifas de 40% a produtos brasileiros e disse que elas eram resultado de um
processo que classificou como "caça às bruxas" em relação ao
ex-presidente Bolsonaro. Bolsonaro foi preso e, salvo por uma nota da embaixada
dos Estados Unidos, não se viu nenhuma manifestação mais assertiva do governo
dos Estados Unidos. O presidente Trump abandonou Bolsonaro?
Paulo
Figueiredo – Não houve uma redução específica para o Brasil. Caíram as tarifas
para o Brasil. como caíram para vários outros países (...) A manifestação que
você falou, foi originalmente feita pelo Christopher Landau (vice-secretário de
Estado norte-americano), que é simplesmente o segundo no âmbito da diplomacia
americana e uma das pessoas mais importantes dos Estados Unidos. Talvez a gente
veja mais algumas medidas tomadas pelos Estados Unidos ao longo dos próximos
meses, mas eu não vi absolutamente nenhuma mudança de postura dos Estados
Unidos em relação a esse assunto. Abandono teria sido se as tarifas tivessem
sido removidas, se as sanções a mais de 20 indivíduos e seus familiares
tivessem sido retiradas.
• Quando presidente Trump foi questionado
sobre a prisão de Bolsonaro a única coisa que ele disse foi: "uma
pena" (em inglês, ele disse "too bad"). O senhor esperava uma
reação mais assertiva do presidente Trump em relação à prisão do ex-presidente
Bolsonaro?
Paulo
Figueiredo - Ele não disse "uma pena". Ele disse "too bad",
que significa "muito ruim". E foi a única coisa que ele disse num
momento em que ele não sabia da prisão do presidente Bolsonaro. Esse vídeo ao
qual você está se referindo foi um vídeo de uma repórter que pegou ele entrando
ou saindo do helicóptero andando pelo jardim da Casa Branca e ele não sabia
sequer do que ela estava falando. (...) Naquele momento, o presidente Trump não
tinha sido avisado sobre o assunto. Se o presidente vai voltar publicamente ou
não sobre o assunto, eu não sei. O que eu posso dizer é que, neste momento, a
política externa da administração dele não abandonou o presidente Bolsonaro.
Pelo contrário. Os Estados Unidos têm aumentado a aplicação das sanções e, eu
sei, pelas discussões que eu sei que estão acontecendo lá dentro, existe uma
possibilidade de que nós vejamos novas medidas sendo tomadas num futuro
próximo.
• Em vários momentos o senhor disse que
não havia possibilidade de aproximação ou de mudança na postura dos Estados
Unidos em relação ao Brasil. Nesse período houve uma mudança....
Paulo
Figueiredo – Não houve.
• Presidentes que nunca haviam se
encontrado se encontraram e a partir daí houve o estabelecimento de reuniões e
as negociações voltaram. Na sua avaliação, a situação entre os Estados Unidos e
o Brasil não mudou, a despeito dos encontros que ocorreram entre os dois
presidentes?
Paulo
Figueiredo - Eu te pergunto qual foi o avanço objetivo de todos esses encontros
ao qual você está se referindo.
• Minha posição aqui é perguntar. É a sua
opinião que importa.
Paulo
Figueiredo - Não houve avanço. Não há, materialmente, nada. A sanção pela Lei
Magnitsky ao Alexandre de Morais, seus familiares e às suas empresas continuam
aplicadas. Junte a isso mais de duas dúzias de indivíduos da administração
pública brasileira sancionadas com o cancelamento de vistos. As tarifas
continuam aplicadas e é importante lembrar que Eduardo Bolsonaro e eu nunca
advogamos por tarifas. As tarifas sempre foram uma decisão do presidente Trump
que nós apoiamos, como não poderia ser diferente. Imagine se nós seríamos
ingratos e irresponsáveis para criticar essa medida. Não houve mudança na
relação dos dois países. Agora, o meu interesse pessoal é que essa mudança
ocorra. Todo esse trabalho que é feito tem o objetivo de que o Brasil venha à mesa
de negociação.
• Tanto o senhor quanto Eduardo Bolsonaro
se mostravam confiantes de que o tarifaço seria importante o suficiente para
que houvesse uma reversão (do processo contra Bolsonaro) e que resultasse, nas
suas palavras, em uma anistia ampla, geral e irrestrita. A anistia ampla, geral
e irrestrita não está no horizonte e o ex-presidente Jair Bolsonaro está preso.
Vocês erraram ao apostar essas fichas em uma interferência do governo
norte-americano no Brasil?
Paulo
Figueiredo - Eu não aceito a premissa de interferência. Eu acho que diplomacia
e política externa não são interferência. Em segundo lugar, nós nunca buscamos
nada relacionado ao processo penal. Nosso objetivo era que a diplomacia
americana e que os instrumentos de política externa americanos tivessem uma
influência positiva no cenário político brasileiro para que houvesse a
aprovação de uma lei de anistia que, segundo você, não está no horizonte, mas
segundo o mundo real, poderia ter sido votada hoje (quarta-feira) na Câmara dos
Deputados e que neste momento, o mais provável é que seja votada na semana que
vem na Câmara dos Deputados, inclusive como fruto desta pressão internacional.
Continuo apostando e acho que é a forma bem-sucedida para que a pressão da
comunidade internacional em relação ao Brasil possa ser benéfica para a
aprovação de uma anistia, que é um instrumento correto político para a solução
dos problemas que o Brasil vive hoje em dia.
• Como é que fica, na sua avaliação, a
posição das Forças Armadas hoje, após a prisão de oficiais generais condenados
pelo STF?
Paulo
Figueiredo - Alguns dos mais condecorados e honrados que nós tivemos nas Forças
Armadas brasileiras, sendo escorraçados, como se fossem criminosos, enquanto o
próprio Presidente da República, esse sim, é um criminoso. Um país que vive uma
situação dessas não pode persistir (...) As Forças Armadas, que ao contrário do
STF, gozam de um enorme amparo e respeito e credibilidade junto à população,
estão vendo o seu nome jogado na lama, muito por conta do comando desastrado do
general Tomás Paiva (comandante do Exército).
• Mas o que o senhor defende? Essas
pessoas foram investigadas, processadas e condenadas. O que caberia ao
comandante do Exército fazer a uma vez que chegou a fase delas cumprirem essa
prisão?
Paulo
Figueiredo - Elas não foram investigadas, julgadas e condenadas. Eles foram
pura e simplesmente condenadas. Já começaram condenadas. Eu considero esse
julgamento uma farsa completa. Então, acho que isso é o suficiente como
resposta até agora.
• O que o comandante do Exército deveria
fazer nessa situação? Impedir a prisão deles?
Paulo
Figueiredo - Cumprir a lei. Fazer com que a lei fosse cumprida. Nada além
disso. A lei para os militares é diferente da lei para os civis. E a lei
deveria ter sido cumprida. E não foi. Eu me reservo o direito de parar por aqui
nesse momento.
• O senhor é neto de um general que foi
presidente durante o período da ditadura militar aqui no Brasil. E nessa semana
a gente viu como oficiais generais presos por tentativa de golpe pela primeira
vez no país. Como é que você vê a prisão desses oficiais generais e o que você
acha que seu avô diria vendo isso?
Paulo
Figueiredo - Em primeiro lugar, eu discordo da premissa. Meu avô não foi
presidente durante a ditadura militar no Brasil. Meu avô foi presidente durante
o regime militar no Brasil. Se teve algo que meu avô fez logo desde o início da
sua presidência, foi dar, justamente, aos perseguidos políticos, de ambos os
lados, uma anistia ampla, geral e irrestrita. Ele, inclusive, se tornou
presidente depois de o AI5 (Ato Institucional nº5) ter sido revogado pelo
governo Geisel. Havia um governo com imprensa livre, um Congresso eleito que
promoveu eleição direta no país inteiro para governadores, inclusive com enorme
vitória da oposição. O STF operava de forma livremente debaixo da lei. A
imprensa era livre. Não havia jornalistas perseguidos com passaporte cancelado,
exilados...
• Nos últimos anos, a gente observou a
fuga da deputada federal Carla Zambelli, do deputado federal Alexandre Ramagem.
Eduardo Bolsonaro vive hoje no que classificou como autoexílio. Por que essas
pessoas estão fugindo em vez de enfrentar o processo aqui no Brasil?
Paulo
Figueiredo - Porque não há processo no Brasil. O processo no Brasil é uma
farsa. Tanto que, em geral, com exceção do caso da deputada Carla Zambelli,
toda vez que o Alexandre (de Moraes) se depara com a legislação internacional,
ele tem as suas decisões tratadas como políticas e ilegais (...) as pessoas,
para fugirem da ditadura que se tornou o Brasil, não podem sofrer um martírio.
Não podem se submeter a um regime que elas consideram tirânico, porque isso
seria burrice. É muita inocência. O próprio presidente Bolsonaro não deveria
ter retornado ao Brasil.
• Na sua opinião, o presidente Bolsonaro
deveria ter fugido?
Paulo
Figueiredo - Ele não deveria ter retornado ao Brasil. Deveria ter ficado nos
Estados Unidos. Isso foi, obviamente, um ato de pouquíssima inteligência.
• Mas que tipo de líder seria ele ao fazer
isso?
Paulo
Figueiredo – Charles de Gaulle está bom pra você? Não posso pegar aqui na
história tantos líderes que organizaram uma resistência de fora do país. Eu
acabei de pegar o exemplo do general (De Gaulle) porque eu acho que é difícil
até para a esquerda chamar De Gaulle de covarde.
Fonte:
BBC News Brasil

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