domingo, 30 de novembro de 2025

‘Genocídio em Gaza não acabou’, diz Anistia Internacional

A organização de direitos humanos Anistia Internacional alertou nesta quinta-feira (27/11) que “as autoridades israelenses ainda estão cometendo genocídio” em Gaza, apesar do cessar-fogo declarado, incluindo a realização de novos ataques nesta manhã e restringindo o acesso a ajuda humanitária essencial. “O mundo não deve se deixar enganar. O genocídio de Israel não acabou”, declarou a Secretária-Geral, Agnès Callamard.

Segundo correspondentes da emissora catari Al Jazeera, as forças israelenses realizaram uma escalada de ataques em edifícios no campo de refugiados de Bureij, no centro de Gaza, e em Khan Younis, na zona leste. Essa ofensiva soma-se às centenas que a Defesa Civil de Gaza considera violações flagrantes do frágil acordo de trégua.

“Até o momento, não há indícios de que Israel esteja tomando medidas sérias para reverter o impacto mortal de seus crimes, nem evidências de que suas intenções tenham mudado”, afirmou Agnès Callamard. “Na verdade, as autoridades israelenses continuam com suas políticas implacáveis, restringindo o acesso à ajuda humanitária vital e a serviços essenciais, e impondo deliberadamente condições calculadas para destruir fisicamente os palestinos em Gaza”, acrescentou a Secretária-Geral da Anistia Internacional.

Desde outubro, quando o acordo de cessar-fogo foi firmado, Israel violou mais de 500 vezes em sete semanas. A trégua tinha como objetivo pôr fim à sua guerra genocida contra o enclave, que matou quase 70.000 palestinos.

<><> Ofensiva israelense na Cisjordânia continua

Pelo segundo dia consecutivo o regime sionista intensificou sua onda de incursões e prisões realizadas em toda a Cisjordânia ocupada, incluindo nas áreas de Qalqilya, Tubas, Hebron, Tulkarem e Nablus.

Durante a invasão militar em Tubas, as forças israelenses realizaram interrogatórios em campo e agrediram pelo menos 25 pessoas que precisaram de atendimento médico, segundo Nidal Odeh, diretor local do Crescente Vermelho Palestino, citado pela agência de notícias Wafa.

Kamal Bani Odeh, diretor da Sociedade de Prisioneiros Palestinos em Tubas, relatou que as forças continuam invadindo casas em toda a província, detendo palestinos e transferindo-os para centros de interrogatório de campanha. Odeh enfatizou que, desde quarta-feira (26/11), mais de 100 palestinos foram detidos — metade deles da cidade de Tammun. 27 presos foram libertados no final da noite passada, alguns dos quais permaneceram algemados até chegarem às suas casas. Entretanto, soldados israelenses também detiveram um palestino ferido dentro de uma ambulância na entrada de Tammun, enquanto paramédicos o transportavam para o hospital.

Devido à intervenção ilegal, todas as lojas foram obrigadas a fechar, apenas um número limitado de padarias seguem operando para atender às necessidades básicas, assim como duas farmácias. Esses estabelecimentos comerciais seguem sob controle severo das forças israelenses.

A Direção de Educação de Tubas anunciou ontem (26) a suspensão de todas as aulas em escolas públicas e jardins de infância para garantir a segurança de alunos e funcionários. Diante disso, nesta manhã (27), o Exército sionista invadiu uma escola em Tammun e destruiu seu portão principal.

O governador de Tubas e do Vale do Jordão Norte, Ahmad al-Assad, também anunciou a suspensão das atividades em todas as instituições públicas e privadas, observando que a ocupação busca — por meio desta operação militar, que deve durar dias — isolar as áreas da província umas das outras e paralisar a circulação do povo palestino.

Tubas tem testemunhado uma agressão militar israelense em larga escala e crescente por mais de 48 horas consecutivas, envolvendo reforços pesados ​​de tropas, tratores e maquinário militar. No início da incursão, helicópteros israelenses sobrevoaram a província em baixa altitude e dispararam vários tiros indiscriminadamente para o ar.

<><> Hamas denuncia 'crime jurídico' após Israel aprovar lei que facilita colonização na Cisjordânia

O grupo de resistência palestino, Hamas, repudiou veemente nesta quarta-feira (26/11) a aprovação do projeto de lei do Knesset, parlamento israelense, que permitiria aos israelenses comprar terras diretamente na Cisjordânia ocupada, alegando que “constitui um novo crime que viola o estatuto jurídico da Cisjordânia como território palestino ocupado” e exigiu a Liga Árabe e a ONU a tomarem medidas para “confrontar as flagrantes violações”.

“Afirmamos que todas as medidas da ocupação destinadas a judaizar a Cisjordânia e Jerusalém e a expulsar sua população nativa são nulas, sem efeito e ilegítimas. Elas não conseguirão alterar a identidade palestina da terra e o direito inalienável do nosso povo a ela”, declarou o movimento em comunicado.

O gabinete de imprensa do Knesset afirmou: “A Comissão de Assuntos Externos e Defesa, presidida por Boaz Bismuth, aprovou o projeto de lei ‘Fim da Discriminação’ na compra de propriedades na Judeia e Samaria”, nomes bíblicos utilizados por Israel para se referir ao território ocupado ilegalmente. Acrescentou ainda que “quatro membros do Knesset apoiaram o projeto de lei sem oposição”.

A proposta legislativa foi apresentada em conjunto pelo deputado Yuli Edelstein, do Partido Likud, por Limor Son Har-Melech, do Partido Otzma Yehudit, e por Moshe Solon, do Partido Sionismo Religioso. Segundo a assessoria de imprensa do Knesset, a medida foi aprovada com quatro votos a favor e nenhum contra, embora o número total de membros da comissão presentes não tenha sido especificado.

Segundo as regras do parlamento israelense, os projetos de lei são aprovados em nível de comissão por maioria dos membros presentes, independentemente do quórum. A assessoria de imprensa também não deu nenhuma indicação de quando a proposta será levada ao plenário do Knesset para sua primeira leitura. A lei israelense exige três leituras para que qualquer projeto de lei seja promulgado.

Segundo o projeto de lei, a nova lei “revoga a lei jordaniana sobre o aluguel e a venda de propriedades a estrangeiros”, que está em vigor na Cisjordânia desde 1953 e impede que pessoas que não sejam jordanianas, palestinas ou árabes possuam terras.

Diante da grave violação, Hamas solicitou o apoio da Liga Árabe, a ONU e suas instituições para “tomarem medidas imediatas e eficazes para confrontar essas flagrantes violações das resoluções da ONU relativas à Cisjordânia ocupada e a compelir o governo de ocupação israelense a interromper seus projetos de assentamentos e a contínua agressão contra o nosso povo palestino, nossa terra e nossos locais sagrados”, concluiu o pronunciamento.

<><> Israel intensifica ofensiva na Cisjordânia

As Forças de Defesa de Israel (IDF) informaram que iniciaram uma grande operação no norte da Cisjordânia durante a madrugada de quarta-feira (26/11). O Centro de Informação Palestino revelou que vários helicópteros de ataque cercaram a região, que também inclui Nablus, e entraram na cidade palestina de Tubas, localizada a sudeste de Jenin. Atualmente, mais de 50.000 palestinos vivem nas cinco cidades agora cercadas pelo Exército.

Moradores relataram à emissora catari Al Jazeera que tratores militares empilharam terra em todas as vias de acesso antes do amanhecer, enquanto helicópteros Apache israelenses disparavam projéteis sobre campos vazios ao redor de Tubas, numa clara estratégia de terror contra a população civil palestina.

O governador de Tubas, Ahmed Asaad, afirmou que cerca de 30 famílias foram forçadas a deixar suas casas e que as tropas tomaram vários prédios em terrenos elevados com vista para a província.

¨      O perigosíssimo “Plano de Paz” da ONU, para Gaza. Por Sari Bashi

Em 17 de novembro, o Conselho de Segurança da ONU endossou o plano de paz do presidente Donald Trump para Gaza, que cria uma “Comissão da Paz”, presidida por ele e com a participação de líderes estrangeiros, incluindo o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, para supervisionar a governança do território. Trump saudou a aprovação como “um momento de proporções históricas” e um prenúncio de “mais paz por todo o mundo”. O plano, que está anexo à resolução da ONU, marginaliza a Autoridade Palestina, rejeita a governança do Hamas e promete “empregos, oportunidades e esperança” para os palestinos em Gaza; também afirma seu direito de escolher entre ficar ou sair, e o direito daqueles que deixaram Gaza de retornar.

Mas, na realidade, ao colocar a possibilidade de reconstruir casas e infraestrutura civil fora do alcance de muitos palestinos em Gaza, o plano pode tornar impossível que eles permaneçam. O cerne da questão é uma exigência, agora codificada na resolução do Conselho de Segurança, de que o Hamas e outros grupos armados palestinos abandonem suas armas. Se eles se recusarem – como têm feito até hoje, dado seu compromisso de décadas com a luta armada – a resolução da ONU permite que o exército israelense mantenha o controle direto sobre uma área que chama de “perímetro de segurança”.

É uma escolha estranha de palavras. A área em questão atualmente corresponde a 53% do território, cobrindo não apenas toda a sua fronteira com Israel, mas estendendo-se profundamente no interior, e incluindo a maior parte de suas terras cultiváveis e zonas industriais. Embora a resolução exija que o exército israelense se retire progressivamente de Gaza, ela vincula essa retirada à desmilitarização palestina, não estabelece um cronograma e permite que Israel mantenha um perímetro de segurança “até que Gaza esteja devidamente segura contra qualquer ameaça ressurgente de terror”. Ela aprova a criação de uma Força Internacional de Estabilização para supervisionar o desarmamento em estreita cooperação com Israel e Egito. Mas se o exército israelense não conseguiu desarmar o Hamas em dois anos de guerra intensa, é improvável que forças estrangeiras tentem fazê-lo. Em outras palavras, sem um plano crível para a desmilitarização palestina, parece muito provável que a presença de tropas israelenses na maior parte de Gaza se torne permanente.

Isso é especialmente desastroso para os palestinos, porque o plano abandona a reconstrução nas áreas ainda controladas pelo Hamas. Enquanto isso, autoridades norte-americanas, segundo relatos, estão avançando com planos de construção de moradias na área leste, que o exército israelense controla diretamente, além da chamada Linha Amarela. Autoridades israelenses recentemente começaram a demarcar essa linha com blocos de concreto pintados e mataram palestinos, incluindo crianças, que a cruzaram. A terra depois dela provavelmente permanecerá proibida para quase todos os dois milhões de residentes de Gaza, que estão concentrados mais próximos do mar, na área da qual o exército israelense se retirou como parte do cessar-fogo que entrou em vigor em 10 de outubro.

A necessidade de reconstrução não poderia ser mais urgente. Imagens de satélite mostram que 81% das estruturas de Gaza foram danificadas ou destruídas; a maioria dos palestinos lá não tem mais seus lares. Embora as leis da guerra proíbam a destruição controlada de infraestrutura civil, exceto sob condições restritas de necessidade militar, o exército israelense conduziu demolições planejadas em grande escala, arrasando bairros inteiros em ambos os lados da Linha Amarela, frequentemente com a ajuda de empresas privadas, cuja remuneração estava vinculada ao número e ao tamanho das estruturas que destruíam. (O exército israelense afirma que as demolições foram justificadas por estar destruindo “infraestrutura terrorista”.) A resolução da ONU pede tanto o apoio do Banco Mundial quanto a criação de um fundo multinacional para custear o reparo desse nível quase incompreensível de devastação, e o Egito planeja sediar uma reunião de países doadores, provavelmente da Europa e do Golfo, para arrecadar fundos. Mas, como os materiais de construção não podem entrar em Gaza sem permissão israelense, o plano endossado pela ONU garante, efetivamente, que será impossível reconstruir de forma que beneficie a vasta maioria dos palestinos.

O que isso significa na prática é que, embora o governo israelense tenha suavizado seus apelos pela “emigração voluntária” dos residentes de Gaza, e embora o plano Trump afirme o direito das pessoas em Gaza de ficar, os palestinos terão dificuldade para permanecer mesmo nos 47% de Gaza ainda acessíveis a eles. Isso pode muito bem ser, de fato, exatamente o que os atuais planos de reconstrução visam alcançar.

* * *

Esta não seria a primeira vez que as autoridades israelenses tomam terras de Gaza sob o pretexto de precisar de um perímetro de segurança. A Faixa de Gaza, hoje um enclave de 363 km² [uma área equivalente a um quarto do município de São Paulo] rodeada por muros, cercas e o mar, foi criada em 1948, depois de as autoridades israelenses estabelecerem um estado judeu na maior parte da Palestina, “limpando etnicamente” as áreas que controlavam e expulsando cerca 750 mil palestinos. Aproximadamente 200 mil  desses refugiados chegaram a Gaza, transformando o território, mesmo antes da guerra mais recente, em um dos lugares mais densamente povoados da Terra.

Em 1949, o Egito, que havia ocupado Gaza, chegou a um acordo com Israel que estabeleceu fronteiras de fato, de acordo com as posições das tropas na época do armistício – a chamada linha verde. Durante a guerra de 1967, no entanto, o exército israelense capturou Gaza e, por fim, estabeleceu lá assentamentos civis, em violação às leis da guerra. Criaram-se no território zonas que eram proibidas para palestinos. O governo israelense “justificou” os assentamentos como necessários para a segurança e, portanto, autorizados pelas leis da guerra.

Em 2005, após o colapso do processo de paz de Oslo e a eclosão da segunda intifada, as autoridades israelenses retiraram tanto as tropas quanto os colonos. E, no entanto, criaram uma “zona-tampão”, estendendo-se entre 100 e 1.500 metros do lado de Gaza da cerca – o que equivalia a 17% da área total remanescente de Gaza e 35% de suas terras cultiváveis restantes. O exército israelense impediu o acesso de palestinos à área próxima à cerca e atirou naqueles que se aproximavam demais.

Cortar mais 190 km² de Gaza deixa seus dois milhões de residentes comprimidos na área mais próxima do litoral e corta o acesso a terras cultiváveis, urgentemente necessárias para a produção de alimentos. Após o extenso bombardeio e destruição planejada dos últimos dois anos, apenas 4% das terras agrícolas de Gaza estão intactas e acessíveis; dois terços delas estão além da Linha Amarela. Mesmo que as autoridades israelenses permitissem que os palestinos reentrassem nessa área, não está claro quantas pessoas estariam dispostas a correr o risco de se colocar em tanta proximidade com um exército que, de acordo com autoridades de saúde palestinas, matou mais de 69 mil pessoas em Gaza desde outubro de 2023 (sem dúvidas, uma enorme subnotificação), incluindo mais de trezentas desde que o cessar-fogo começou.

Com esta terra agora inacessível para os palestinos, devemos perguntar quem se beneficia com a reconstrução que está prevista. Um grupo não fez segredo de seus desígnios para a terra: colonos de direita que, desde o início da guerra, realizaram comícios e eventos familiares e de feriado na fronteira com Gaza, prometendo restabelecer assentamentos judeus, uma aspiração apoiada por ministros de extrema-direita do governo israelense e alguns legisladores do partido governista Likud. (O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não defendeu o assentamento judeu, mas pediu que os palestinos em Gaza saíssem voluntariamente.) Ao endossar este chamado plano de paz, potências ocidentais, Estados árabes e agora a própria ONU arriscam-se a endossar uma expansão ilegal do projeto de assentamento territorial-maximalista do governo israelense – e deixar dois milhões de palestinos sem um caminho viável para a reconstrução de suas vidas.

¨      Reconstrução de Gaza custará ao menos R$ 53 bilhões, afirma ONU

A agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) afirmou em um relatório que as operações militares de Israel “minaram significativamente todos os pilares da sobrevivência” e que toda a população de 2,3 milhões de pessoas enfrenta um “empobrecimento extremo e multidimensional”. Segundo o documento, a reconstrução provavelmente custará mais de US$ 70 bilhões (R$ 53 bilhões) ao longo de várias décadas.

O relatório afirmou que a economia de Gaza contraiu 87% ao longo de 2023-2024, deixando seu produto interno bruto (PIB) per capita em apenas US$ 161, um dos mais baixos do mundo. Também é colocado em destaque que “a violência, a expansão acelerada dos assentamentos e as restrições à mobilidade dos trabalhadores” “dizimaram a economia” na Cisjordânia.

“A queda acentuada das receitas e a retenção de transferências fiscais por parte do governo israelense têm limitado severamente a capacidade do governo palestino de manter serviços públicos essenciais e investir na recuperação”, afirmou. “Isso ocorre em um momento crítico, quando são necessários gastos maciços para reconstruir a infraestrutura destruída e enfrentar as crescentes crises ambientais e socioeconômicas”.

O relatório constatou que a maior contração econômica já registrada aniquilou décadas de progresso na Cisjordânia e em Gaza. “Até o final de 2024, o PIB palestino caiu para o nível de 2010, enquanto o PIB per capita retornou ao de 2003, apagando 22 anos de progresso no desenvolvimento em menos de dois anos”.

Em sua atualização mais recente, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) afirmou que a maioria das famílias em Gaza não tem condições de comprar itens básicos de alimentação. Segundo o PMA, os preços caíram drasticamente nas últimas semanas, mas a quantidade de alimentos consumida diariamente ainda está muito abaixo dos níveis pré-guerra.

Em outubro, Israel e Hamas aceitaram um cessar-fogo mediado pelos EUA. Entretanto, segundo o Ministério da Saúde de Gaza pelo menos 342 palestinos foram mortos por disparos israelenses desde o início da trégua. Israel afirma que três de seus soldados foram mortos por disparos de militantes no mesmo período.

Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o plano de Trump, que prevê um governo palestino tecnocrático interino em Gaza, supervisionado por um “conselho de paz” internacional e apoiado por uma força de segurança internacional.

 

Fonte: Opera Mundi/Outras Palavras

 

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