Motoristas
de aplicativo caíram no “conto do vigário”, diz Sakamoto
Uma
rotina de exploração em longas jornadas de trabalho. Essa ideia pode
representar mais o que significa a atividade de categorias como a de motoristas
de aplicativo no Brasil do que o conceito de que são empreendedores, patrões de
si mesmos.
Essa é
uma das análises do cientista político Leonardo Sakamoto no livro “O que os
coaches não te contam sobre o futuro do trabalho” (Editora Alameda, 243
páginas). Em parceria com o jornalista Carlos Juliano Barros, no livro,
Sakamoto avalia que esses trabalhadores acionados por tecnologia foram
enganados.
“Eles
caíram no conto do vigário de que são empreendedores”, afirmou em entrevista à
Agência Brasil.
A obra
foi lançada na semana passada em São Paulo e Brasília e, nessa terça (25) à
noite, apresentada no auditório da reitoria da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) com direito à palestra dos autores. No dia 8 de dezembro, haverá
sessão de autógrafos no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
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Ganhos desproporcionais
O
pesquisador entende que o principal problema para os trabalhadores é que as
plataformas ficam com boa parte dos recursos e pagam menos do que os motoristas
e entregadores reivindicam.
Além
disso, esses trabalhadores sem nenhum direito também não recolhem os tributos
para que, no futuro, possam se aposentar ou estar seguros se sofrerem algum
infortúnio.
Porém,
segundo a obra, trabalhadores começaram a culpar a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) por problemas de toda ordem, como se a lei diminuísse a força
profissional e os direitos atravessassem as oportunidades.
“A
culpa do salário baixo, na verdade, é do patrão. A culpa de trabalhar muito, na
escala de seis para um, é do Congresso Nacional”, opina o autor.
<><> Ataque aos direitos
Sakamoto
identifica que houve, na verdade, um ataque sistemático aos direitos
trabalhistas que atingiu a população.
“Influenciadores
e políticos culparam a CLT. O problema
não são as regras”.
O livro
lançado traz reflexões atualizadas a partir de um extrato de textos produzidos
por eles nos últimos quatro anos para os sites “Repórter Brasil” e “UOL” sobre
os temas relacionados à exploração no campo profissional.
Sakamoto
avalia que há exploração de diferentes categorias e desrespeito às leis em
vigor. Ele considera que existe, no momento, uma rede de preocupações de
diferentes matizes em relação ao tema.
Haveria
um alerta relacionado aos possíveis danos causados pelas ferramentas de
inteligência artificial e às práticas de precarização dos trabalhadores, como
as contratações de pessoas físicas como pessoas jurídicas (as populares
“pejotas”).
Outros
caminhos de precarização são as relações de trabalhos sem direitos, por
intermédio da figura do free lancer fixo (o frila, que tem os mesmos deveres de
uma pessoa contratada, mas nenhum direito).
Sakamoto enumera que existe também o fato de
que a fórmula de desenvolvimento de grandes conglomerados não aboliu, de fato,
o trabalho escravizado e o uso de crianças em espaços laborais.
Para o
pesquisador, esse é um momento histórico para que a sociedade possa garantir
dignidade no ambiente do trabalho.
“A
gente ainda não foi capaz de erradicar a escravidão contemporânea no Brasil.
Temos um pé apontado para a frente, um apontado para trás e os dois presos na
lama”, lamenta o pesquisador.
As
formas arcaicas de superexploração do trabalho sobreviveram às mudanças
sociais, conforme defende o livro. A obra contextualiza que essas violações
convivem com as altas tecnologias de
nossos dias.
“A
tecnologia não representa necessariamente a melhoria na qualidade de vida dos
trabalhadores”, afirma Sakamoto.
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Tecnologia pode também mobilizar
O autor
defende que são necessárias reivindicações e mobilizações por parte dos
trabalhadores para enfrentar o cenário de exploração. Inclusive, ele aborda que
a tecnologia pode ser vista de duas formas.
“Nesse
momento de transformação, a tecnologia pode ser algo que vai precarizar ainda
mais a vida dos trabalhadores. Mas pode, na verdade, garantir que a gente
consiga também mobilizar o pessoal”, disse ele.
Sakamoto
aborda que, no caso dos motoristas de aplicativo e de entregadores, a luta
atual é pela garantia de um preço mínimo da corrida e de condições de trabalho
com as quais essas categorias concordem.
Os
trabalhadores estariam se mobilizando por meio das redes sociais também, depois
do abalo sofrido pelos sindicatos com a reforma trabalhista (de 2017).
“Todo
dia aparece um empresário falando que o Brasil tem direitos demais. Isso é uma
bobagem. Outros países também têm uma série de proteções aos trabalhadores”.
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Proteção e escravagismo
O
pesquisador considera que o país vive diferentes forças que lutam em relação ao
campo profissional. Ao mesmo tempo em que o Estado Brasileiro tem uma estrutura
importante de proteção na Justiça do Trabalho e no Ministério Público do
Trabalho (MPT), há um pensamento escravagista nas três esferas de poder.
Ele
lamenta que a PEC das Domésticas, por exemplo, garantiu direitos importantes a
esse grupo profissional (formado em sua maior parte por mulheres negras), mas a
lei foi recebida com críticas pela elite financeira do Brasil.
Fonte:
Agencia Brasil

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