segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Leonardo Attuch: Num mundo de Bolsonaros, Mileis e Marçais, Gusttavo Lima não pode ser subestimado

A candidatura presidencial de Gusttavo Lima, ainda sem partido, à presidência da República em 2026 não deve ser subestimada. O sertanejo, que é uma peça relevante no projeto de dominação ideológica da elite agrária brasileira, e também parte de esquemas de desvios de recursos por parte da direita, com shows superfaturados em cidades pequenas pagos com emendas parlamentares, não se lançaria candidato sem nenhum tipo de retaguarda política.

Se Gusttavo Lima, que nasceu Nivaldo Batista Lima, na cidade de Presidente Olegário, em Minas Gerais, fez este movimento, isso ocorreu porque há poderosos e bilionários interessados neste movimento. Não por acaso, em sua primeira manifestação política, Gusttavo se colocou como: (1) o pobre que subiu na vida, (2) o empreendedor que sabe gerenciar seus negócios, (3) o empresário que prega desburocratização e, portanto, é contra o estado, e – last but not least – (4) o representante do agronegócio, que “pagaria impostos demais", sem receber as devidas benfeitorias. Ou seja: o sertanejo já tem um discurso político articulado, conectado aos interesses agropecuários e financistas, que hoje dão as cartas no País.

O sertanejo, que se tornou famoso com o refrão “tchê-tchererê-tchetchê" é um sintoma da decadência cultural brasileira, mas é inegavelmente popular. Toca nas rádios do interior e atrai multidões em seus shows. E figuras populares têm sido escolhidas a dedo por bilionários num mundo em que partidos oligárquicos têm cada vez mais dificuldade para controlar os rumos da política. Não por acaso, há muitos anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a Globo e os bilionários que ambos representam passaram a desenhar o projeto de uma candidatura do apresentador Luciano Huck, tão-somente porque ele seria supostamente popular. Hoje, quando se vê a decadência de partidos como o PSDB e a ascensão de políticos como o senador Cleitinho (Republicanos-MG), fica claro que não há mais filtros na política e qualquer invasão bárbara é possível.

No mundo de hoje, é só olhar para o cenário sul-americano para não subestimar a candidatura de Gusttavo Lima. Basta lembrar que Jair Bolsonaro, o mais desclassificado de todos os deputados federais brasileiros, foi eleito presidente em 2018. Ou que o ex-coach Pablo Marçal surgiu do nada e quase se elegeu prefeito de São Paulo, a maior cidade do País. Ou ainda que a Argentina, bem aqui ao lado, é governada por Javier Milei, um completo idiota, que é exaltado pelas burguesias locais e internacionais.

Aliás, este é um ponto importante. Aos bilionários, interessa alimentar o descrédito na política e transformar a democracia liberal em entretenimento. Com líderes circenses, um parlamento alinhado e um Judiciário fiel aos princípios neoliberais, a dominação avança com maior facilidade. Para que Gusttavo Lima se torne além de eleitoralmente um nome também politicamente viável, basta encontrar um Paulo Guedes pelo caminho, um Malafaia, uma Damares ou uma Michelle, para que se forme uma nova aliança agro-evangélico-rentista contra o projeto de desenvolvimento nacional representado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua frente ampla.

Portanto, não subestimem Gusttavo Lima. A história já deu provas suficientes de que tudo sempre pode piorar e de que o poço sempre pode ser mais fundo. A democracia liberal oferece ao público nomes ignóbeis para que os bilionários se tornem ainda mais bilionários. E bilionários não devem ser subestimados.

 

¨      Gusttavo Lima presidente: Entenda a estratégia (boa) da bizarra candidatura. Por Henrique Rodrigues

Uma notícia bizarra surpreendeu o Brasil na quinta-feira, 2 de janeiro de 2025. O cantor Gusttavo Lima, que até pouco tempo atrás estava enrolado numa investigação sobre lavagem de dinheiro e envolvimento com empresas de apostas digitais ilegais, lançou seu nome como candidato à Presidência da República em 2026.

Os primeiros minutos após o anúncio foram de piadas intermináveis. Na sequência, vieram a incredulidade e as críticas, já que boa parte do eleitorado minimamente consciente sabe da “capacidade” que o brasileiro tem de eleger figuras patéticas e toscas para cargos públicos, como o próprio Jair Bolsonaro (PL), um irrelevante deputado federal que ganhou a vida falando impropérios e coisas repugnantes e que foi parar no Palácio do Planalto após uma superexposição na mídia e nas redes por conta de sua personalidade patética e risível.

Só que a tal ambição de Gusttavo Lima não é exatamente mais uma dessas bizarrices. Pelo contrário, é uma manobra muito bem articulada e calculada que integra uma estratégia maior vinda do cerne da política profissional.

A chave para o lançamento de seu nome como candidato a presidente está num outro político, esse sim acostumado ao poder e extremamente experiente: o governador goiano Ronaldo Caiado (União Brasil).

Caiado tem como sonho máximo ser presidente da República, já disse isso abertamente e até lançou seu nome de antemão, no fim do ano passado, mesmo faltando ainda dois anos para o pleito. O chefe do Executivo de Goiás mantém uma relação de intimidade e fidelidade com o sertanejo que é sucesso em todo Brasil, e para comprovar isso é só relembrarmos que o político tomou um voo e atravessou meio mundo para ir comemorar o aniversário de Lima num iate bilionário nas águas azuis do Mar Mediterrâneo, na costa da Grécia, no último verão europeu, sem esconder a agenda e posando com o artista, todo sorridente.

Ao saber do anúncio de que Gusttavo Lima seria candidato ao Planalto, feito nesta tarde, Caiado, que por uma questão lógica seria seu adversário, disse apenas “vejo com normalidade”. Parte da imprensa interpretou, no calor da coisa, como uma atitude de desdém, ou ainda de indiferença. Mas é preciso entender que, na verdade, os dois estão no mesmo barco, e não é o iate de bilhões que navegou pelas ilhas gregas.

Para boa parte dos analistas e de quem convive com os intestinos da política nacional, há aí um claríssimo plano, em que pese a dificuldade em saber exatamente como seriam os pormenores dessa empreitada. Três possibilidades reais são analisadas e esperadas dessa “união”.

Caiado, que de fato quer ser presidente, tem hoje um problema que quase todos os caciques estaduais de fora do eixo Rio-São Paulo enfrentam: nacionalizar seu nome e se tornar competitivo, sendo reconhecido e angariando eleitores por todo o imenso Brasil. Ele não seria o primeiro a sofrer com isso na ambição de se lançar candidato à Presidência.

Na primeira hipótese, Gusttavo Lima manteria sua candidatura, arranjando uma legenda que o abrigue, e fazendo “campanha” de maneira informal durante todo o ano, nos shows e nas redes. O cantor tem uma grande penetração em todo o país e nas mais diversas camadas sociais, sobretudo nas mais populares. Facilmente conseguiria atrair muitos simpatizantes e tornaria seu nome relativamente competitivo. Aí, com a aproximação da eleição, ele começaria a mostrar-se relutante e sutilmente traria Caiado como uma opção viável, como o homem que representa os seus valores e suas ideias, mas com uma grande bagagem no universo político, substituindo-o.

A segunda opção seria de fato manter uma “campanha”, arranjar muitos votos e seguir espalhando seu nome para todo o Brasil, aproveitando-se de sua grande fama. Mais próximo da eleição, Caiado surgiria como o candidato cabeça de chapa e o sertanejo seria seu vice, trazendo muitos votos.

Por último, uma outra possibilidade seria a de carregar o nome de Goiás na política pelos quatro cantos do Brasil, e deixar Caiado sempre aparecendo em sua “campanha”, como um aliado, dando muita visibilidade ao governador goiano, para depois sair de fininho e permitir que o próprio candidato real tire proveito da exposição gerada pelo artista.

Para quem acha que Gusttavo Lima, como um bolsonarista-raiz, não trairia o “capitão”, há um ledo engano. Assim que lançou seu nome, figuras graúdas do entorno de Bolsonaro já começaram a atacar o cantor, que seria alguém muito mais fiel a Caiado do que ao ex-presidente, a quem sempre deu apoio por afinidade e por apreciar a retórica reacionária e incendiária, embora nunca tenha se colocado como um servo.

 

¨      De "nosso Bukele" a "oportunista idiota": Gusttavo Lima buga grupos bolsonaristas. Por Plínio Teodoro

O anúncio de Gusttavo Lima lançando seu nome à Presidência em 2026 para romper com essa "história de direita e esquerda", provocou um bug geral nos grupos bolsonaristas no Telegram.

Sem saber ao acerto se a declaração foi combinada com os russos - ou melhor, com Bolsonaro -, a horda bolsonarista rachou, com uma parcela aprovando a candidatura com o apoio do ex-presidente e outros classificando como mais uma idiotia de um dos bajuladores famosos do "mito".

De início, o sertanejo chegou a ser comparada com o presidente de El Salvador Nayib Nukele que, eleito pelo partido populista de direita Novas Ideias, tem ganhado admiradores da ultradireita em todo mundo principalmente pelo estilo autoritário na segurança pública e liberalóide na questão econômica.

"Com aval do JB [Jair Bolsonaro]. Seria nosso Bukele", diz publicação no grupo bolsonarista Águia, que reúne mais de 22 mil bolsonaristas no Telegram.

"Brincadeiras a parte, sobre a candidatura do Gustavo Lima, só votaria se ele viesse com aval do Jair Bolsonaro, fora isso não votaria", respondeu um membro do grupo.

"Mais um oportunista idiota", rebateu outro. "As pessoas precisa (SIC) aprender diferenciar o pato da galinha", emendou um terceiro.

As publicações entre apoio e críticas ao "traidor" se dividiriam. Ainda mais sem pronunciamento de Bolsonaro. 

"Se o JB, macaco velho da política, não conseguiu governar, imagine um paraquedista na política. Saia senador, deputado, mas presidente será mais 4 anos jogado fora", aconselhou.

Para tentar por fim à discussão, um outro membro do grupo apelou para a revista Veja, que colocou Bolsonaro na capa com as aspas: "o candidato sou eu".

"O candidato é esse aqui e ponto final!", exclamou o bolsonarista.

O que não se debate no grupo, no entanto, é a realidade: Bolsonaro está inelegível até 20230 e pode assistir às eleições de 2026 de dentro da prisão.

 

¨      Candidatura do incauto cantor é pra lá de bem-vinda. Por Juninho Bittencourt

Imbecis e aventureiros como Gusttavo Lima em candidaturas ao poder Executivo são fadados ao fracasso. Não há um que tenha caminhado para muito além das próprias pernas. A história do Brasil está cheia de exemplos. Enéas e Eymael foram recorrentes.

Sílvio Santos, em 1989, foi outro ótimo exemplo. Chegou para bagunçar o processo, teria prestado o excelente serviço de dividir os votos da direita, mas teve a candidatura impugnada pela Justiça eleitoral. Ao se retirar da campanha, estava com expressivos 30% das intenções de votos, mas ninguém apostaria que iria além disso.

<><> Pelé

Pelé, o eterno atleta do século, um dos brasileiros mais famosos do planeta de todos os tempos, se meteu a apoiar, em 1992, um polítco de direita, o advogado Vicente Cascione, à Prefeitura de Santos. Tomaram, ele e seu candidato, uma derrota fragorosa para o médico sanitarista David Capistrano Filho.

Candidatos bizarros costumam se dar bem no Legislativo. Estão por aí Tiririca, Romário, Agnaldo Timóteo e mais um sem fim de exemplos para provar. Já no Executivo, políticos profissionais são os que tendem a vencer. É o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A despeito da sua bizarrice, trata-se de um político profissional.

<><> Pablo Marçal

O povo não costuma arriscar com isso. O ex-coach Pablo Marçal, com todo o barulho que fez, é o exemplo mais recente deste fenômeno. Nas últimas eleições municipais de São Paulo não chegou nem ao segundo turno.

O deboche de Fabio Wajngarten, advogado, ex-ministro de Bolsonaro e que hoje atua como uma espécie de porta-voz do ex-mandatário, por exemplo, parece ser a mais reveladora: "Vou anunciar que serei cantor de forró".

O próprio PL aposta que Gusttavo Lima teria chances de se eleger como presidente em 2026 apenas se tivesse o apoio de Jair Bolsonaro. Pretensão e água benta, como dizia minha avó, cada um toma o que quer. Bolsonaro perdeu para Lula em 2022. Em 2026, muito mais desgastado – caso conseguisse reverter sua inelegibilidade – tudo indica que perderia novamente. O que dizer de um cantor sertanejo desarticulado apoiado por ele?

O bom mesmo disso tudo é o estrago que Lima causa do lado de lá. Com a velha máxima dos eternos candidatos de direita que dissimulam se dizer nem de direita nem de esquerda, o sertanejo presta um excelente serviço ao campo progressista dividindo o lado de lá.

Por enquanto, a única coisa que conseguiu foi causar mal-estar entre seus pares. Que assim continue.

 

¨      Gusttavo Lima presidente? Nikolas Ferreira tem reação bizarra ao anúncio do sertanejo. Por Ivan Longo

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos parlamentares mais próximos de Jair Bolsonaro, teve uma reação bizarra ao "lançamento" da candidatura de Gusttavo Lima à presidência em 2026

Em entrevista ao site "Metrópoles" divulgada nesta quinta-feira (2), o cantor sertanejo, até então um bolsonarista fervoroso, informou que pretende se candidatar ao Palácio do Planalto nas próximas eleições presidenciais. 

Aliados de Bolsonaro têm enxergado o gesto de Gusttavo Lima como uma traição, visto que o ex-presidente, ainda que esteja inelegível, se apresenta como o candidato da extrema direita em 2026. Fabio Wajngarten, advogado, ex-ministro de Bolsonaro e que hoje atua como uma espécie de porta-voz do ex-mandatário, por exemplo, reagiu com deboche: "Vou anunciar que serei cantor de forró". 

Nikolas Ferreira, entretanto, foi por um outro caminho. Em vídeo divulgado no Instagram, o deputado mineiro, a princípio, levou na brincadeira, mas logo na sequência disse que "admira" o gesto e demonstrou apoio à empreitada de Gusttavo Lima – desde que Jair Bolsonaro permaneça, de fato, inelegível. 

"Gente, que cachaça é essa que o Gusttavo Lima tomou? Agora ele quer virar presidente! O cara é o maior cantor estourado do Brasil. Não precisava arrumar problema nenhum pra cabeça, e agora tá dando a cara a tapa pra entrar na política. Isso é admirável", iniciou Nikolas Ferreira. 

"Ele, desde o início, se posicionou publicamente em favor do Bolsonaro em todos os momentos, mesmo estando no meio mais mimizento e cancelador do mundo. Mas o Gusttavo Lima é incancelável. Ele é tipo o Neymar, só que do sertanejo. E se o sistema deixar o Bolsonaro ir pra candidatura, esquece! Todo mundo vai com ele. Isso aí até o Gusttavo Lima sabe. Mas, se o sistema não deixar o Bolsonaro se candidatar à presidência, o que é um medo gigantesco – porque, se hoje ele sair presidente, Bolsonaro ganha –, o Gusttavo Lima se demonstra, até então, uma opção", prosseguiu. 

"Até o momento, ele é, sim, uma boa opção pra entrar na política", emendou o deputado federal. 

Gusttavo Lima, por sua vez, sinalizou ter ficado satisfeito com a reação de Nikolas, comentando na publicação do parlamentar com um emoji da bandeira do Brasil. 

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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