sábado, 25 de janeiro de 2025

Jovens são mais ignorantes sobre o Holocausto, diz pesquisa

Passados 80 anos desde a libertação do campo de concentração Auschwitz-Birkenau, na Polônia, em 27 de janeiro de 1945, metade dos alemães afirma não saber que 6 milhões de judeus foram mortos durante o Holocausto, segundo uma pesquisa conduzida pela organização Jewish Claims Conference (Conferência de Reivindicações Judaicas, em tradução livre) em oito países e divulgada nesta quinta-feira (23/01).

Intitulada Índice de Conhecimento e Conscientização sobre o Holocausto de Oito Países, a pesquisa avalia os conhecimentos gerais e factuais e a conscientização histórica a respeito do Holocausto, e ouviu pessoas que vivem nos Estados Unidos, Reino Unido, França, Áustria, Alemanha, Polônia, Hungria e Romênia.

Nesse quesito, os alemães se saíram melhor que todas as outras nações, onde o percentual de entrevistados que desconheciam o total de judeus mortos durante a era nazista variou de 52% na Polônia e na Áustria e atingiu 66% e 64% na Romênia e na França, respectivamente. Mas entre jovens de 18 a 29 anos, esse índice foi de 40% na Alemanha até 70% na Romênia.

O levantamento expõe lacunas no conhecimento de europeus e americanos – principalmente jovens – sobre um dos capítulos mais sombrios da história da humanidade, numa época em que já quase não resta mais testemunhas oculares vivas para contá-la.

·        Quase metade dos jovens franceses desconhece o Holocausto

Surpreendentemente, alguns adultos disseram que nunca haviam ouvido falar do Holocausto até serem questionados pelos pesquisadores, um fenômeno mais comum entre jovens de 18 a 29 anos.

Na França, por exemplo, quase metade dos jovens (46%) disseram não ter ouvido falar ou não ter certeza se já ouviram falar do Holocausto – entre os adultos franceses mais velhos, o número foi de 22%. Na Alemanha, esses mesmos índices foram de 5% para adultos e 12% para jovens. Na Romênia e na Áustria, a palavra era desconhecida por 15% e 14% dos jovens e 6% e 5% dos adultos, respectivamente.

Na mesma faixa etária, na Alemanha, 15% acreditam que menos de dois milhões de judeus foram mortos no Holocausto, enquanto 2% de todos os alemães pesquisados, de todas as idades, negam que o Holocausto tenha ocorrido.

Pelo menos 20% dos entrevistados em sete dos oito países pesquisados disseram acreditar que dois milhões ou menos de judeus foram assassinados durante o Holocausto. Na Romênia, o número foi de 28%; na Hungria, 27%; e na Polônia, 24%. Entre os jovens romenos, esse número chega a 32%.

·        Jovens duvidam mais do número de judeus mortos no Holocausto

Um quarto dos franceses e austríacos também duvidam do número de judeus mortos durante o Holocausto. Na Alemanha, a quantidade de pessoas que pensam o mesmo é quase idêntica: 24%. Polônia e Romênia, 23%; Hungria, 19%; Reino Unido, 17%; e Estados Unidos, 16%. 

Mas esses índices são bem maiores entre os jovens: 42% na França, 34% na Áustria, 33% na Romênia, 30% na Polônia, 26% na Hungria e nos EUA, 22% no Reino Unido e 20% na Alemanha.

E são também os mais jovens em praticamente todos os países que afirmam se deparar na internet com conteúdos que negam ou distorcem o Holocausto: a Polônia (65%) sai na frente, seguida de Alemanha (54%), EUA (53%) e, por último, a França (36%).

O presidente da Jewish Claims Conference, Gideon Taylor, afirmou que as lacunas de conhecimento entre os mais jovens em relação ao tema são "alarmantes" e "destacam a necessidade urgente de uma educação mais eficaz sobre o Holocausto".

"O fato de que um número significativo de adultos não consegue identificar fatos básicos, a exemplo dos 6 milhões de judeus mortos, é muito preocupante. Igualmente preocupante é a crença generalizada de que algo como o Holocausto poderia acontecer novamente, o que ressalta a importância de educar as pessoas sobre as consequências do ódio e do fanatismo. Estamos orgulhosos do progresso feito por nossos parceiros em todo o mundo, mas essa pesquisa deixa claro: ainda há muito trabalho a ser feito", disse.

O Conselho Central dos Judeus na Alemanha também expressou preocupação com os resultados da pesquisa, argumentando que políticos, educadores e comunicadores devem trabalhar juntos para combater o problema.

"O aumento da violência física e verbal antissemita que estamos vendo na Alemanha tem suas raízes, em grande parte, na falta de informação sobre o Holocausto", argumentou o presidente do conselho, Josef Schuster.

·        Possibilidade de repetição

Um dos motivos da falta de conscientização sobre Holocausto e outros horrores da Segunda Guerra Mundial pode estar no distanciamento de gerações, devido a um menor número de sobreviventes e, consequentemente, de testemunhas oculares, o que dificulta o esforço para se obter informações sobre o período e os fatos daquela época.

A Conferência de Reivindicações Judaicas estima, por exemplo, que cerca de 245 mil judeus sobreviventes do Holocausto ainda estejam vivos, espalhados em mais de 90 países. A maioria – praticamente metade – vive nos EUA e vivenciou os eventos quando ainda era criança.

Na pesquisa, com exceção da Romênia, a maioria dos entrevistados acredita que um evento semelhante ao Holocausto – um novo genocídio em massa contra os judeus – poderia acontecer novamente, nos tempos atuais.

O maior índice de preocupação em relação a isso está nos Estados Unidos, onde três em cada quatro adultos creem nessa possibilidade. Em seguida, vêm Reino (69%), França (63%), Áustria (62%), Alemanha (61%), Polônia (54%), Hungria (52%) e Romênia (44%).

"Com o rápido declínio da população de sobreviventes do Holocausto, estamos em uma encruzilhada crítica e irreversível. Os sobreviventes, [que são] nossos educadores mais poderosos, não estarão conosco por muito mais tempo", alertou Greg Schneider, vice-presidente executivo da Conferência, no site organização.

"Esse índice é um aviso claro de que, sem uma ação urgente e contínua, a história e as lições do Holocausto correm o risco de cair na obscuridade. Essa é a nossa última chance, nosso último momento na história, de honrar o legado [dos sobreviventes], garantindo que nosso compromisso de lembrar suas experiências seja sólido e inabalável", acrescentou.

·        Ensino e educação

Nos Estados Unidos, quase metade dos entrevistados (48%) não soube nomear um único campo de concentração implementado e mantido por nazistas antes e durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Europa – Auschwitz é o mais conhecido entre todos os respondentes.

Ao mesmo tempo, quase metade dos americanos (49%), além de húngaros (47%), franceses e alemães (44%) afirmaram que distorções sobre o Holocausto são comuns em seus países.

O lado positivo da pesquisa é que mais de 9 em cada 10 adultos pensam que é fundamental seguir ensinando sobre o Holocausto. 

Também há um claro desejo de que o Holocausto seja ensinado de maneira ainda mais forte nas escolas, com os EUA tendo o maior índice, 95% e a Romênia, com 78%, o pior.

"À medida que nos aprofundamos nessas pesquisas e entendemos melhor onde a educação sobre o Holocausto está funcionando e onde precisa de mais atenção, é muito importante ver que a maioria das pessoas entrevistadas em todos os países não apenas concorda que a educação sobre o Holocausto é importante, mas que ele deve continuar a ser ensinado nas escolas. Agora, nossa tarefa está clara: temos que aproveitar essa demanda e torná-la realidade", afirma Matthew Bronfman, líder da força-tarefa da pesquisa.

·        Como a pesquisa foi feita

O Índice de Conhecimento e Conscientização sobre o Holocausto de Oito Países, encomendado pela Conferência de Reivindicações Judaicas, foi conduzido pelo Global Strategy Group com uma amostra de 1.000 adultos maiores de 18 anos em cada um dos países, entre 15 e 28 de novembro de 2023.

Fundada em 1951, a Conferência de Reivindicações (Conference on Jewish Material Claims Against Germany) também busca indenizações para os sobreviventes do Holocausto em todo o mundo.

De acordo com a própria entidade, somente em 2024 mais de 535 milhões de dólares foram distribuídos em indenizações para mais de 200.000 sobreviventes do Holocausto que vivem em 83 países.

¨      Alemanha investiga projeção de suposto gesto nazista de Musk

O Ministério Público alemão anunciou nesta quinta-feira (23/01) a abertura de um inquérito para investigar a suposta projeção de imagens durante um ato de protesto na gigafábrica de veículos elétricos da Tesla em Grünheide, na Alemanha.

Na noite anterior, dois grupos de ativistas postaram em suas redes sociais imagens mostrando o que seriam projeções na fachada da fábrica. Uma delas mostrava o bilionário Elon Musk – o proprietário da empresa – fazendo um gesto similar à saudação nazista, com a palavra Heil projetada antes do logotipo da Tesla, formando o letreiro "Heil Tesla" – clara referência à expressão Heil Hitler ("salve Hitler") utilizada pelos membros do regime nazista e seus apoiadores.

Musk fez o gesto polêmico – com o braço direito erguido em riste – durante um evento em Washington em comemoração à posse de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos. Para muitas pessoas, a atitude teria sido uma referência ao nazismo.

Outra imagem divulgada nas redes mostrava uma projeção que colocava a palavra "boicote" em frente ao logotipo da Tesla. As imagens das projeções foram publicadas pelos grupos ativistas Centro de Beleza Política (Zentrum für Politische Schönheit – ZPS) e Led by Donkeys.

<><> Polícia contesta versão dos ativistas

A polícia local afirmou ao jornal Tagesspiegel na noite de quarta-feira que, após consultar os seguranças da fábrica da Tesla, nenhuma descoberta havia sido feita e, portanto, a conclusão era de que as fotos seriam falsas.

Mas, nesta quinta-feira, um porta-voz da polícia voltou atrás e confirmou que caso estava sendo investigado. "De acordo com a avaliação jurídica do Ministério Público [...] a projeção com várias inscrições adicionadas por pessoas ainda desconhecidas e a distribuição das imagens na Internet dão origem, pelo menos, à suspeita inicial de utilização de símbolos de organizações inconstitucionais", disse o porta-voz.

Os investigadores avaliam se a saudação a Hitler, proibida por lei na Alemanha, foi de fato exibida e se as imagens do gesto foram distribuídas.

<><> Vídeo mostra a ação

Um vídeo de cinco minutos divulgado pelos ativistas nesta quinta-feira na rede social X, que começa e termina com o gesto controverso de Musk, explica por que o bilionário apoia grupos de direita nos EUA e na Europa, incluindo o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD). A legenda alemã é apresentada como uma sigla parcialmente extremista e "tão à direita que nem mesmo a nacionalista de direita francesa Marine Le Pen quer trabalhar com o partido".

Existem diversos registros de membros da AfD utilizando slogans nazistas, espalhando desinformação e banalizando o Holocausto.

Musk se envolveu recentemente na campanha eleitoral alemã, visando as eleições gerais em fevereiro, apoiando publicamente a AfD, que ele diz ser o único partido capaz de "salvar a Alemanha". Durante uma conversa no X entre o bilionário e a líder da AfD, Alice Weidel, ela chegou a afirmar que Adolf Hitler era um comunista.

<><> Ativistas desmentem seguranças da Tesla

Um porta-voz do coletivo ativista Zentrum für Politische Schönheit (Centro para a Beleza Política, em tradução livre) afirmou ao Tagesspiegel nesta quinta-feira (23/01) que a ação ocorreu com a utilização de um drone, entre outros equipamentos. Segundo o porta-voz, as primeiras gravações foram feitas às 20h.

O porta-voz rejeitou a declaração dos seguranças da Tesla à polícia de que eles não teriam visto as projeções. "Eles sabem muito bem que isso aconteceu. A Tesla tem câmeras de vigilância suficientes nas instalações da fábrica para revelar isso."

Outra imagem mostra a projeção por uma nova perspectiva. Na imagem, se vê um campo amplo no qual foi colocada uma caixa de som, que presumivelmente reproduzia o som do vídeo.

Ambos os grupos já haviam projetado imagens na sede da Tesla em Amsterdã no início de janeiro, com críticas à influência de Elon Musk na política dos EUA.

Musk, em postagem recente no X, utilizou termos e nomes de lideranças do regime nazista em para fazer trocadilhos em inglês, numa aparente tentativa de zombar de seus críticos.

"Já dissemos centenas de vezes e vamos dizer de novo: o Holocausto foi um evento maligno singular, e diminuir sua importância é inapropriado e ofensivo.  Elon Musk, o Holocausto não é uma piada", reagiu na mesma rede Jonathan Greenblatt, presidente da Liga Antidifamação, ONG judaica com sede nos EUA.

 

Fonte: DW Brasil

 

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