Jovens são
mais ignorantes sobre o Holocausto, diz pesquisa
Passados 80 anos desde
a libertação do campo de concentração Auschwitz-Birkenau, na Polônia, em 27 de janeiro de 1945, metade dos alemães
afirma não saber que 6 milhões de judeus foram mortos durante o
Holocausto, segundo uma pesquisa conduzida pela organização Jewish Claims
Conference (Conferência de Reivindicações Judaicas, em tradução livre)
em oito países e divulgada nesta quinta-feira (23/01).
Intitulada Índice de
Conhecimento e Conscientização sobre o Holocausto de Oito Países, a pesquisa
avalia os conhecimentos gerais e factuais e a conscientização histórica a
respeito do Holocausto, e ouviu pessoas que vivem nos Estados Unidos,
Reino Unido, França, Áustria, Alemanha, Polônia, Hungria e Romênia.
Nesse quesito, os alemães se
saíram melhor que todas as outras nações, onde o percentual de entrevistados
que desconheciam o total de judeus mortos durante a era nazista variou de 52% na Polônia e na Áustria e atingiu 66% e 64% na
Romênia e na França, respectivamente. Mas entre jovens de 18 a 29 anos, esse
índice foi de 40% na Alemanha até 70% na Romênia.
O levantamento expõe lacunas
no conhecimento de europeus e americanos – principalmente jovens – sobre
um dos capítulos mais sombrios da história da humanidade, numa época em que já
quase não resta mais testemunhas oculares vivas para contá-la.
·
Quase metade dos jovens franceses desconhece o
Holocausto
Surpreendentemente, alguns
adultos disseram que nunca haviam ouvido falar do Holocausto até serem
questionados pelos pesquisadores, um fenômeno mais comum entre jovens de 18 a
29 anos.
Na França, por exemplo,
quase metade dos jovens (46%) disseram não ter ouvido falar ou não
ter certeza se já ouviram falar do Holocausto – entre os adultos franceses mais velhos, o número foi de 22%. Na
Alemanha, esses mesmos índices foram de 5% para adultos e 12% para
jovens. Na Romênia e na Áustria, a palavra era desconhecida por 15% e
14% dos jovens e 6% e 5% dos adultos, respectivamente.
Na mesma faixa etária, na
Alemanha, 15% acreditam que menos de dois milhões de judeus foram mortos no
Holocausto, enquanto 2% de todos os alemães pesquisados, de todas as idades,
negam que o Holocausto tenha ocorrido.
Pelo menos 20% dos
entrevistados em sete dos oito países pesquisados disseram acreditar que dois
milhões ou menos de judeus foram assassinados durante o Holocausto. Na Romênia,
o número foi de 28%; na Hungria, 27%; e na Polônia, 24%. Entre os jovens
romenos, esse número chega a 32%.
·
Jovens duvidam mais do número de judeus mortos no
Holocausto
Um quarto dos franceses e
austríacos também duvidam do número de judeus mortos durante o
Holocausto. Na Alemanha, a quantidade de pessoas que pensam o mesmo é
quase idêntica: 24%. Polônia e Romênia, 23%; Hungria, 19%; Reino Unido, 17%; e
Estados Unidos, 16%.
Mas esses índices são bem
maiores entre os jovens: 42% na França, 34% na Áustria, 33% na Romênia,
30% na Polônia, 26% na Hungria e nos EUA, 22% no Reino Unido e 20% na Alemanha.
E são também os mais jovens
em praticamente todos os países que afirmam se deparar na internet com
conteúdos que negam ou distorcem o Holocausto: a Polônia (65%) sai na
frente, seguida de Alemanha (54%), EUA (53%) e, por último, a França
(36%).
O presidente da Jewish
Claims Conference, Gideon Taylor, afirmou que as lacunas de conhecimento entre
os mais jovens em relação ao tema são "alarmantes" e "destacam a
necessidade urgente de uma educação mais eficaz sobre o Holocausto".
"O fato de que um
número significativo de adultos não consegue identificar fatos básicos, a
exemplo dos 6 milhões de judeus mortos, é muito preocupante. Igualmente
preocupante é a crença generalizada de que algo como o Holocausto poderia
acontecer novamente, o que ressalta a importância de educar as pessoas sobre as
consequências do ódio e do fanatismo. Estamos orgulhosos do progresso feito por
nossos parceiros em todo o mundo, mas essa pesquisa deixa claro: ainda há muito
trabalho a ser feito", disse.
O Conselho Central dos
Judeus na Alemanha também expressou preocupação com os resultados da pesquisa,
argumentando que políticos, educadores e comunicadores devem trabalhar juntos
para combater o problema.
"O aumento da violência
física e verbal antissemita que
estamos vendo na Alemanha tem suas raízes, em grande parte, na falta de
informação sobre o Holocausto", argumentou o presidente do conselho, Josef
Schuster.
·
Possibilidade de repetição
Um dos motivos da
falta de conscientização sobre Holocausto e outros horrores da Segunda Guerra Mundial pode
estar no distanciamento de gerações, devido a um menor número de sobreviventes
e, consequentemente, de testemunhas oculares, o que dificulta o esforço para se
obter informações sobre o período e os fatos daquela época.
A Conferência de
Reivindicações Judaicas estima, por exemplo, que cerca de 245 mil judeus
sobreviventes do Holocausto ainda estejam vivos, espalhados em mais de 90
países. A maioria – praticamente metade – vive nos EUA e vivenciou os eventos
quando ainda era criança.
Na pesquisa, com exceção da
Romênia, a maioria dos entrevistados acredita que um evento semelhante ao
Holocausto – um novo genocídio em massa
contra os judeus – poderia acontecer novamente, nos tempos atuais.
O maior índice de
preocupação em relação a isso está nos Estados Unidos, onde três em cada quatro
adultos creem nessa possibilidade. Em seguida, vêm Reino (69%), França (63%),
Áustria (62%), Alemanha (61%), Polônia (54%), Hungria (52%) e Romênia (44%).
"Com o rápido declínio
da população de sobreviventes do Holocausto, estamos em uma encruzilhada
crítica e irreversível. Os sobreviventes, [que são] nossos educadores mais
poderosos, não estarão conosco por muito mais tempo", alertou Greg
Schneider, vice-presidente executivo da Conferência, no site organização.
"Esse índice é um aviso
claro de que, sem uma ação urgente e contínua, a história e as lições do
Holocausto correm o risco de cair na obscuridade. Essa é a nossa última chance,
nosso último momento na história, de honrar o legado [dos sobreviventes],
garantindo que nosso compromisso de lembrar suas experiências seja sólido e
inabalável", acrescentou.
·
Ensino e educação
Nos Estados Unidos, quase metade
dos entrevistados (48%) não soube nomear um único campo de concentração
implementado e mantido por nazistas antes e durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) na Europa – Auschwitz é o mais
conhecido entre todos os respondentes.
Ao mesmo tempo, quase metade
dos americanos (49%), além de húngaros (47%), franceses e alemães (44%)
afirmaram que distorções sobre o Holocausto são comuns em seus países.
O lado positivo da pesquisa
é que mais de 9 em cada 10 adultos pensam que é fundamental seguir ensinando
sobre o Holocausto.
Também há um claro desejo de
que o Holocausto seja ensinado de maneira ainda mais forte nas escolas, com os
EUA tendo o maior índice, 95% e a Romênia, com 78%, o pior.
"À medida que nos
aprofundamos nessas pesquisas e entendemos melhor onde a educação sobre o
Holocausto está funcionando e onde precisa de mais atenção, é muito importante
ver que a maioria das pessoas entrevistadas em todos os países não apenas
concorda que a educação sobre o Holocausto é importante, mas que ele deve
continuar a ser ensinado nas escolas. Agora, nossa tarefa está clara: temos que
aproveitar essa demanda e torná-la realidade", afirma Matthew Bronfman,
líder da força-tarefa da pesquisa.
·
Como a pesquisa foi feita
O Índice de Conhecimento e
Conscientização sobre o Holocausto de Oito Países, encomendado pela Conferência
de Reivindicações Judaicas, foi conduzido pelo Global Strategy Group com uma
amostra de 1.000 adultos maiores de 18 anos em cada um dos países, entre 15 e 28
de novembro de 2023.
Fundada em 1951, a
Conferência de Reivindicações (Conference on Jewish Material Claims Against
Germany) também busca indenizações para os sobreviventes do Holocausto em todo
o mundo.
De acordo com a própria
entidade, somente em 2024 mais de 535 milhões de dólares foram distribuídos em
indenizações para mais de 200.000 sobreviventes do Holocausto que vivem em 83
países.
¨ Alemanha
investiga projeção de suposto gesto nazista de Musk
O Ministério Público alemão
anunciou nesta quinta-feira (23/01) a abertura de um inquérito para investigar
a suposta projeção de imagens durante um ato de protesto na gigafábrica de veículos elétricos da Tesla em Grünheide, na Alemanha.
Na noite anterior, dois
grupos de ativistas postaram em suas redes sociais imagens mostrando o que
seriam projeções na fachada da fábrica. Uma delas mostrava o bilionário Elon Musk – o proprietário da empresa – fazendo um gesto similar à saudação nazista, com a palavra Heil projetada
antes do logotipo da Tesla, formando o letreiro "Heil
Tesla" – clara referência à expressão Heil Hitler ("salve
Hitler") utilizada pelos membros do regime
nazista e seus apoiadores.
Musk fez o gesto polêmico –
com o braço direito erguido em riste – durante um evento em Washington em
comemoração à posse de Donald
Trump na Presidência dos Estados Unidos. Para muitas
pessoas, a atitude teria sido uma referência ao nazismo.
Outra imagem divulgada nas
redes mostrava uma projeção que colocava a palavra "boicote" em
frente ao logotipo da Tesla. As imagens das projeções foram publicadas pelos
grupos ativistas Centro de Beleza Política (Zentrum
für Politische Schönheit – ZPS) e Led by Donkeys.
<><> Polícia
contesta versão dos ativistas
A polícia local afirmou ao
jornal Tagesspiegel na
noite de quarta-feira que, após consultar os seguranças da fábrica da Tesla,
nenhuma descoberta havia sido feita e, portanto, a conclusão era de que as
fotos seriam falsas.
Mas, nesta quinta-feira, um
porta-voz da polícia voltou atrás e confirmou que caso estava sendo investigado.
"De acordo com a avaliação jurídica do Ministério Público [...] a projeção
com várias inscrições adicionadas por pessoas ainda desconhecidas e a
distribuição das imagens na Internet dão origem, pelo menos, à suspeita inicial
de utilização de símbolos de organizações inconstitucionais", disse o
porta-voz.
Os investigadores avaliam se
a saudação a Hitler, proibida por lei na Alemanha, foi de fato exibida e se as imagens do gesto foram distribuídas.
<><> Vídeo
mostra a ação
Um vídeo de cinco minutos
divulgado pelos ativistas nesta quinta-feira na rede social X, que começa e
termina com o gesto controverso de Musk, explica por que o bilionário apoia
grupos de direita nos EUA e na Europa, incluindo o partido
ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD). A legenda alemã é apresentada como uma sigla parcialmente extremista e
"tão à direita que nem mesmo a nacionalista de direita francesa Marine Le Pen quer
trabalhar com o partido".
Existem diversos registros
de membros da AfD utilizando slogans nazistas, espalhando desinformação e banalizando o Holocausto.
Musk se envolveu recentemente na campanha eleitoral alemã, visando as eleições gerais em fevereiro, apoiando publicamente a AfD, que ele diz ser o único partido capaz de "salvar a
Alemanha". Durante uma conversa no X entre o
bilionário e a líder da AfD, Alice Weidel, ela chegou a
afirmar que Adolf Hitler era um comunista.
<><> Ativistas
desmentem seguranças da Tesla
Um porta-voz do coletivo
ativista Zentrum für Politische Schönheit (Centro
para a Beleza Política, em tradução livre) afirmou ao Tagesspiegel nesta quinta-feira
(23/01) que a ação ocorreu com a utilização de um drone, entre outros
equipamentos. Segundo o porta-voz, as primeiras gravações foram feitas às 20h.
O porta-voz rejeitou a
declaração dos seguranças da Tesla à polícia de que eles não teriam visto as
projeções. "Eles sabem muito bem que isso aconteceu. A Tesla tem
câmeras de vigilância suficientes nas instalações da fábrica para revelar isso."
Outra imagem mostra a
projeção por uma nova perspectiva. Na imagem, se vê um campo amplo no qual foi
colocada uma caixa de som, que presumivelmente reproduzia o som do vídeo.
Ambos os grupos já haviam
projetado imagens na sede da Tesla em Amsterdã no início de janeiro, com
críticas à influência de Elon Musk na política dos EUA.
Musk, em postagem recente no
X, utilizou termos e nomes de lideranças do regime nazista em para fazer
trocadilhos em inglês, numa aparente tentativa de zombar de seus críticos.
"Já
dissemos centenas de vezes e vamos dizer de novo: o Holocausto foi um evento
maligno singular, e diminuir sua importância é inapropriado e ofensivo.
Elon Musk, o Holocausto não é uma piada", reagiu na mesma
rede Jonathan Greenblatt, presidente da Liga Antidifamação, ONG judaica
com sede nos EUA.
Fonte: DW Brasil
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