sábado, 25 de janeiro de 2025

Por que ex-chefão do varejo britânico é contra o home-office

Trabalhar de casa está criando uma geração que "não está trabalhando direito", alertou Stuart Rose, ex-chefe do Marks and Spencer (M&S) e do Asda, duas grandes redes do varejo britânico.

O executivo disse ao programa Panorama, da BBC, que o trabalho remoto fazia parte do "declínio geral" da economia do Reino Unido — e que a produtividade dos funcionários estava sendo comprometida.

As declarações dele foram feitas em um momento em que algumas empresas estão acabando com o trabalho remoto. A Amazon, o banco JP Morgan e a rede britânica de farmácias Boots são apenas algumas das empresas que agora exigem que a equipe que trabalha na sede esteja presente todos os dias.

No entanto, Nicholas Bloom, especialista em trabalho remoto, afirma que, embora trabalhar totalmente de casa possa ser "bastante prejudicial" para a produtividade de alguns funcionários, passar três dias em cada cinco no escritório era tão produtivo quanto o trabalho totalmente presencial em geral.

Rose, que foi CEO do M&S e recentemente deixou o cargo de presidente do Asda, afirmou: "Nos últimos quatro anos, acredito que regredimos 20 anos neste país em termos de práticas de trabalho, produtividade e bem-estar do país."

Em um levantamento de novembro de 2024 realizado pelo Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês) no Reino Unido, 26% das pessoas afirmaram ter trabalhado de forma híbrida nos sete dias anteriores, com alguns dias no local de trabalho e alguns dias em casa; enquanto 14% trabalharam de forma totalmente remota; e 41% se deslocaram para o local de trabalho todos os dias (o restante não estava trabalhando na semana em que a pesquisa foi realizada).

A mudança para o trabalho remoto transformou as economias locais. As estimativas do setor indicam que o espaço de escritório vago quase dobrou desde a pandemia de covid-19; um quarto dos negócios de lavanderia fechou; e o número de partidas de golfe jogadas durante a jornada de trabalho aumentou 350%, o que sugere que algumas pessoas estão misturando trabalho e lazer.

Trabalhar de casa está se tornando rapidamente um importante campo de batalha nas guerras culturais. Atualmente, o governo está legislando para fortalecer o direito dos funcionários de todo o Reino Unido de solicitar trabalho remoto — e diz que pretende tornar mais difícil para os empregadores recusarem as solicitações.

Mas alguns empregadores — incluindo órgãos do governo — estão lutando com os funcionários para levá-los de volta ao escritório, argumentando que a interação presencial é essencial para o trabalho colaborativo.

Em alguns casos, como o da gravadora independente Hospital Records, isso exige negociação entre uma força de trabalho jovem — alguns funcionários talvez nunca tenham trabalhado em tempo integral em um escritório — e seus chefes mais velhos.

O fundador da empresa, Chris Goss, introduziu uma nova política que exige que a equipe trabalhe três dias no escritório, em vez de dois. Ele afirmou que tinha "uma sensação incômoda" de que o trabalho remoto havia afetado os resultados financeiros da companhia.

"Acredito fortemente que o setor da música gira em torno de relacionamentos e, portanto, a única maneira de qualquer um de nós construir esse tipo de relacionamento significativo é fazendo isso pessoalmente."

Maya, uma gerente de marketing de 25 anos que trabalha na empresa, disse que gosta de estar perto de colegas mais experientes no local de trabalho.

"Há muitas pessoas na minha equipe que estão muito avançadas em suas carreiras, então se eu precisar de ajuda com alguma coisa, posso simplesmente pedir a alguém."

Mas ela acredita que não seria capaz de trabalhar cinco dias por semana no escritório "porque minha bateria social se esgota e, às vezes, preciso simplesmente ficar em casa, e resolver um monte de tarefas administrativas".

Bloom, economista da Universidade de Stanford, nos EUA, disse que sua pesquisa sobre o trabalho remoto sugere que os funcionários na adolescência e na faixa dos 20 e poucos anos deveriam provavelmente passar pelo menos quatro dias por semana no escritório para maximizar suas oportunidades de serem orientados.

No entanto, ele destaca que pesquisas com dezenas de milhares de funcionários no Reino Unido, nos EUA e na Europa sugerem que os profissionais valorizam a possibilidade de trabalhar de casa dois dias por semana tanto quanto um aumento salarial de 8%.

O ministro dos Direitos Trabalhistas britânico, Justin Madders, disse ao programa Panorama que há um conjunto cada vez maior de evidências mostrando que trabalhar de casa é mais produtivo. Ele também afirmou que isso é bom para o crescimento porque as empresas vão ter "uma força de trabalho muito mais motivada" — e que "se conseguirmos colocar mais pessoas no mercado de trabalho porque a flexibilidade está disponível para elas, isso vai nos ajudar a alcançar nossas ambições de crescimento".

Bloom pode não ser tão otimista quanto ao efeito do trabalho híbrido sobre a produtividade, mas concorda que aumentar o número de funções que podem ser desempenhadas de casa poderia ajudar no crescimento econômico se incentivar mais pessoas a voltar ao trabalho, como aquelas que têm responsabilidades de prestação de cuidados familiares.

"É um grande impulso" e "uma espécie de vitória do tipo ganha-ganha", porque as pessoas poderiam trabalhar em melhores condições, contribuir para a receita tributária, e "todos saem ganhando".

Uma das pessoas que poderia se beneficiar é Harleen, que foi demitida depois de ter o segundo filho, e não conseguiu voltar ao trabalho porque não consegue encontrar uma função totalmente remota que se encaixe na rotina do filho autista.

"Não estou vendo esses empregos anunciados. Não estou vendo nada que atenda a essa flexibilidade", diz ela.

"Todo dia eu acordo e acho que estou vivendo o Dia da Marmota. Tudo o que estou fazendo é ser mãe. Gosto de ser mãe, mas quero produtividade. Começo a sentir que estou tendo morte cerebral."

No setor público, a produtividade é a mais baixa desde 1997 — com exceção dos anos de lockdown da pandemia — e alguns culpam o trabalho remoto. Desde novembro de 2023, os funcionários públicos têm sido chamados de volta para trabalhar de dois a três dias por semana presencialmente.

Mas em vários órgãos públicos, inclusive no Escritório de Estatísticas Nacionais em Newport, no País de Gales, alguns funcionários estão se recusando a voltar.

Ed, gerente de TI no ONS e representante do sindicato PCS, disse que tem trabalhado quase totalmente de casa desde a pandemia. Ele afirma que isso o ajuda a levar os filhos para a escola e a creche, e a não perder tempo com deslocamentos.

"Os altos dirigentes do ONS nunca nos disseram que há um problema de produtividade, que há um problema de qualidade, que há um problema de cumprimento de prazos", ele afirma.

"Nunca mais vamos ter esta oportunidade de novo. Temos que lutar pelos direitos dos trabalhadores."

Ele e outros membros do sindicato estão ameaçando entrar em greve se forem forçados a se deslocar para o escritório 40% do tempo. Os funcionários civis da Metropolitan Police, que responde pela região de Londres, e membros do sindicato do Land Registry, agência oficial do governo britânico de registro imobiliário, também estão divergindo sobre as políticas de retorno ao escritório.

O ONS, que está em meio a negociações com o sindicato, afirma acreditar que a "interação presencial" ajuda a "construir relações de trabalho, reforça a colaboração e a inovação".

Mas seja qual for o resultado de impasses como este, está claro que todo mundo trabalhar em tempo integral no escritório agora é coisa do passado.

 

¨      Primeiro ano do Nova Indústria Brasil: o CDESS e o próximo passo. Por Marcos Rehder Batista

Em 22 de janeiro do ano passado, exatamente um ano atrás, foi lançado oficialmente o Nova Indústria Brasil, plano de retomada nas atividades produtivas brasileiras, como reação ao nítido processo de desindustrialização acentuado nos últimos 10 anos. O presidente Lula colocou a missão sob responsabilidade do vice-presidente e também Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin, que articulou uma agenda interministerial que transformou a NIB na espinha dorsal do crescimento econômico. Parte da abordagem das Missões de Desenvolvimento Sustentável sistematizada pela economista ítalo-americana Mariana Mazzucato, pautada tanto no envolvimento de todos os setores do poder público, mercado e sociedade civil participantes ou impactados, quanto numa visão que não se reduz à recuperação da indústria tal como era antes da emergência da Economia 4.0, mas da reestruturação em padrões sustentáveis.

Como resultado, conseguiu mobilizar esforços de outras áreas além do MDIC, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste, além do BNDES, Finep e Embrapii, ampliando consideravelmente o montante de recursos destinados ao investimento, dos iniciais R$ 300 bilhões para R$ 506,7 bilhões. Na medida em que esta nova concepção de desenvolvimento industrial, mais sustentável (por isso justifica-se o uso do conceito “neoindustrialização”, ao invés de simplesmente “reindustrialização”), é capaz de mobilizar outros atores, como foi o caso, ganha importância a cooperação entre um colegiado setorial como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industria – CNDI, que deu sustentação para a NIB, e outro que abarque os mais variados setores da sociedade, e certamente a instância do Governo Federal que melhor satisfaz este critério é o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – CDESS. Além de trazer um apanhado geral deste primeiro aniversário da NIB, pretendo aqui sustentar porque pode ser fundamental o fortalecimento desta agenda no CDESS.

Voltando ao desenho e resultados da NIB, em seu lançamento foi divulgado o Plano de Ação para a Neoindustrialização, onde constam 6 eixos prioritários:

§  Missão 1: Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, nutricional e energética

§  Missão 2: Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso à saúde

§  Missão 3: Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades

§  Missão 4: Transformação Digital da indústria para ampliar a produtividade

§  Missão 5: Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as gerações futuras

§  Missão 6: Tecnologias de interesse para a soberania e defesa nacionais

(fonte: https://www.gov.br/mdic/pt-br/composicao/se/cndi/plano-de-acao/nova-industria-brasil-plano-de-acao.pdf)

No final de 2024, 31 de dezembro, foi divulgado um balanço que atesta os bons resultados, inclusive sobre como o Plano Mais Produção, sistema de financiamento da neoindustrialização executado pelo BNDES, articulou estas missões em programas de outros ministérios, proporcionando uma noção de ação em conjunto para um desenvolvimento integrado. No total, os recursos da NIB somados aos do Novo PAC e do Plano de Transformação Ecológica somaram R$ 2,212 trilhões em investimento. Dadas as conhecidas demandas por infraestrutura, inclusive para a otimização dos demais investimentos, era esperado que esta área contasse com valores bem acima das demais. Porém, há de se destacar os valores em áreas até então estranhas à uma política industrial, como agroindústria e bioeconomia. Seguem os valores apresentados:

§  1,06 trilhão – construção civil

§  100,7 bilhões – TICs

§  130 bilhões – automotivo

§  296,7 bilhões – agroindústria

§  100 bilhões – siderurgia

§  105 bilhões – papel e celulose

§  380 bilhões – bioeconomia e energia renovável

§  39,5 bilhões – indústria da saúde

(fonte: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202412/mdic-avanca-na-retomada-da-industria-brasileira)

Desde 2023 a prioridade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial foi a retomada da industria em outros moldes. A abordagem, as missões, o Plano de Ação, tudo consta em suas atas, antecipando o anunciado e os resultados atingidos. Um passo adiante consiste na interlocução desta câmara setorial com outra de maior abrangência, capaz de traduzir um projeto minucioso numa linguagem mais geral, por canais diversificados, e aí entra o papel que pode ser cumprido magnificamente pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – CDESS. Por contar com uma representatividade mais plural, seria capaz de elaborar uma estratégia mais sensível e criativa sobre como os resultados podem chegar aos mais diversos setores da sociedade, inclusive alguns grupos empresariais, fortalecendo um engajamento extraordinário.

De acordo com a 12ª Edição do Barômetro da Infraestrutura Brasileira, diagnóstico desenvolvido em parceria da consultoria EY e a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base – ABDIB, esta clareza dos agentes econômicos em relação ao Plano e seus resultados é o passo necessário para consolidar a confiança nesta mobilização governamental para um novo ciclo de crescimento. Publicado em dezembro de 2024, o estudo identifica que 57,8% dos empresários entrevistados apontam como principal desafio para a NIB é a “articulação do governo com o setor produtivo”.

Considerando que se trata de um projeto de aceleração da atividade produtiva que opera na fronteira da Economia Industrial, extremamente sofisticado e sendo executado com efetividade – mesmo em uma conjuntura complexa -, a iniciativa respaldada pelo CNDI e precisamente elaborado por ele ganha uma adesão muito maior em parceria com o CDESS. Aprimorar a articulação não apenas com o setor produtivo como com a sociedade como um todo levará à otimização dos resultados e a esperada adesão geral prevista no paradigma das Missões. Trata-se de algo de suma importância em um ano em que as demandas socioambientais que estarão no topo  das prioridades, pois receberemos a COP 30.

O Nova Indústria Brasil é uma realidade, um dos projetos federais que mais está dando certo, e cujos impactos devem marcar uma nova era de nosso desenvolvimento. Como pode ser observado no montante direcionado para cada setor, impacta algumas de nossas mais significativas cadeias de valor. Se considerarmos que a reconstrução de nossa democracia passa pela geração de emprego e renda sustentada no longo prazo, ganhar capilaridade proporcionará a consistência econômica para a garantia dos direitos básicos do cidadão e um ambiente vigoroso para nossos empresários. Está dando certo, e este tipo de aprimoramento pode fortalecer ainda mais.

 

Fonte: BBC News/Opera Mundi

 

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