segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Um inferno, tortura': brasileiros deportados dos EUA relatam agressões e humilhações

Os primeiros brasileiros deportados dos Estados Unidos, depois da posse de Donald Trump como presidente, pousaram no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Grande BH, na noite deste sábado (25).

Relatos da experiência da viagem de retorno são dramáticos, com agressividade dos agentes de imigração, das condições desumanas durante todo processo de deportação, e até mesmo problemas com o avião.

Sandra Pereira de Souza, de 36 anos, o marido Alisdete Gonçalves dos Santos, de 49, e os dois filhos pequenos estavam entre os passageiros. Ela contou que viveu momentos tensos, desde o tratamento que receberam até a falta de estrutura do avião.

“Um inferno, uma tortura desde que saímos da Louisiana. Deu para perceber que o avião tinha algum problema. Acho que foi uma falta de compromisso deles com os seres humanos, a gente estava morrendo de medo de morrer”.

Segundo Sandra, eles caíram em um tipo de armadilha, saíram de casa acreditando que iriam para uma reunião com a imigração, mas não retornaram. Levando apenas os pertences que tinham em mãos e nem ao menos tiveram tempo de pegar uma fralda para o filho.

Apesar de terem imigrado ilegalmente, o casal disse que cumpria com todas as obrigações com a imigração, há três anos e meio, desde que chegaram. Eles construíram uma empresa nos Estados Unidos e a deixaram para trás, além da casa e o carro que tinham.

Sandra e Alisdete, que nasceram em Itambacuri, na Região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, disseram que não estava nos planos voltar para o Brasil, mas, depois do que passaram, querem somente reconstruir a vida no Brasil.

·        Algemas, agressões e ameaças

Entre os 88 brasileiros, vários foram algemados pelos agentes de imigração dos Estados Unidos. Durante o voo de Manaus para Belo Horizonte, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou a retirada das correntes e solicitou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para eles completassem a viagem com dignidade e segurança.

O brasileiro Carlos Vinícius de Jesus, de 29 anos, contou que ele e outros passageiros foram algemados, agredidos e ameaçados.

“Foi terrível, vim preso nos braços, nas pernas e na cintura, eles não respeitaram a gente. Bateram em nós. Disseram que iam deixar derrubar o avião e que o nosso governo não era de nada”, relatou.

Carlos é natural de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e tentou imigrar ilegalmente pelo México, em 2023. Ele foi pego durante a travessia e estava preso desde então. Ele teria gasto cerca de 30 mil dólares para imigrar, mas agora disse que está aliviado de estar no seu próprio país.

Vários homens brasileiros que estavam no voo relataram que foram agredidos durante todo percurso, com empurrões, tapas, murros e que também foram agredidos com as próprias algemas. Segundo eles, apenas mulheres, crianças e os pais que estavam com crianças foram poupados.

·        Condições do avião

Durante o trajeto dos Estados Unidos para o Brasil o avião parou no Panamá, por problemas técnicos. Apesar disso, a tripulação decidiu continuar a viagem sem trocar de aeronave.

“O avião estava em condições precárias, teve que viajar com o mecânico dentro do avião, eu nunca vi isso. O avião não queria funcionar”, contou Kaleb Barbosa, de 28 anos, que migrou para os Estados Unidos há seis anos para dar uma vida melhor aos filhos.

Depois deste tempo morando nos Estados Unidos, Kaleb retornou apenas com um saco com algumas roupas e objetos pessoais. Ele contou que, nos últimos dias, durante a deportação, enfrentou momentos aos quais jamais pretende se submeter novamente.

 “O momento mais difícil foi quando o ar-condicionado estragou no ar, as pessoas começaram a passar mal, alguns desmaiaram e as crianças estavam chorando. As turbinas estavam parando durante o voo, foi desesperador, coisa de filme mesmo”, disse.

Depois do pouso em Manaus, Kaleb contou que que as turbinas do avião chegaram a soltar fumaça enquanto tentavam continuar a viagem para Belo Horizonte. As saídas de emergência foram abertas e ele pediram socorro.

Ainda segundo ele, se não fosse a intervenção do governo e a mudança para um avião da FAB, todos poderiam estar mortos.

¨      Deportados dos EUA chegaram algemados e com pés acorrentados ao Brasil

Um grupo de deportados dos Estados Unidos chegou a Manaus algemado e com os pés acorrentados, conforme mostram imagens registradas na saída do avião na noite de sexta-feira (24). A primeira aeronave vinda dos EUA, com 158 pessoas a bordo, tinha Belo Horizonte como destino, com uma conexão prevista em Manaus.

No entanto, devido à necessidade de manutenção, o voo para Minas Gerais foi cancelado. (Veja o vídeo acima). A PF não informou a nacionalidade de todos os ocupantes, mas, segundo apurado pelo g1 com o Itamaraty, 88 são brasileiros.

As imagens também mostram parte dos tripulantes na pista de pouso do aeroporto, após desembarcarem na aeronave. O registro foi feito pela Agência Cenarium.

Segundo o blog da Andréia Sadioficiais americanos queriam manter os brasileiros deportados algemados e acorrentados até a chegada de outro avião vindo dos Estados Unidos. No entanto, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, não autorizou a continuidade do uso das algemas, já que se tratam de cidadãos livres em território brasileiro, sendo uma questão de soberania nacional.

Por esse motivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) autorizou o envio do avião da FAB para fazer essa viagem. A aeronave do Brasil que vai assumir o transporte do grupo chegou a Manaus na tarde deste sábado (25).

A aeronave em questão é um KC-30, do Segundo Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte (2º/2º GT - Esquadrão Corsário), permaneceu na capital amazonense até às 16h45 (horário local), quando decolou com destino a Minas Gerais.

Ainda conforme a Força Aérea, profissionais de saúde estão acompanhando os deportados, durante o trajeto até o destino, no Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte.

Em outras imagens obtidas pela jornalista Andréia Sadi, é possível ver o momento em que os deportados ficam sabendo que serão transportados para Belo Horizonte em um voo da FAB, sem algemas. 

<><> Deportados ficaram em colchões no chão

O grupo ficou em colchões no chão no aeroporto de Manaus e recebeu alimentos doados pelo poder público local, enquanto aguardavam pela aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB).

Segundo a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), foram disponibilizados para os brasileiros colchões, atendimento médico, alimentação e água.

“A principal solicitação aqui é o atendimento humanizado, então estamos nos fazendo presentes para garantir que os direitos desses cidadãos sejam preservados”, informou a secretária da Sejusc, Jussara Pedrosa, durante acompanhamento aos deportados.

<><> Brasileiros deportados

Entre a noite de quinta (23) e a manhã desta sexta (24), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, utilizou uma rede social para anunciar que 538 imigrantes ilegais, de diferentes origens, já foram presos desde a posse de Trump — incluindo um suspeito de terrorismo, quatro integrantes da gangue Tren de Aragua e outros indivíduos condenados por crimes sexuais contra menores.

Ela disse, ainda, que "centenas de imigrantes ilegais já foram deportados em aeronaves militares", marcando o início do que ela chamou de "a maior operação de deportação em massa da história".

"Promessas feitas. Promessas cumpridas", escreveu Leavitt, destacando que os voos de deportação já começaram. O anúncio reforça a política anti-imigração prometida pela nova gestão de Trump. 

A porta-voz publicou, com as declarações, fotos de deportados embarcando em um avião militar. Não há confirmação, entretanto, se trata do voo com destino ao Aeroporto de Confins.

Trata-se do primeiro voo deportados com destino ao Brasil desde a posse do novo presidente, mas há a possibilidade de que alguns deles tenham sido detidos ainda na gestão Biden, que chegou ao fim na última segunda-feira (20).

Segundo informações obtidas pela Rede Amazônica, após o pouso, os passageiros estavam reclamando de calor na aeronave. Houve uma discussão entre os passageiros e a tripulação e uma mulher passou mal. Como não tinha uma escada para que descessem da aeronave, a tripulação acionou a rampa inflável para desembarque, mas o equipamento leva um tempo para voltar ao normal e precisou passar por manutenção.

¨      Itamaraty fala em 'tratamento degradante' a brasileiros deportados e cobrará explicação do governo Trump

Na noite desta sexta (24), um avião contratado pelas autoridades americanas trouxe ao Brasil um grupo formado por 88 brasileiros deportados dos Estados Unidos. A aeronave precisou pousar na capital amazonense em razão de "problemas técnicos".

Segundo o Ministério da Justiça, após o pouso em Manaus, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, informou ao ministro Ricardo Lewandowski que os brasileiros haviam sido algemados pelas autoridades americanas. Diante disso, Lewandowski informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o que estava acontecendo.

Em razão das informações recebidas, segundo o ministério, o presidente Lula determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse a Manaus e buscasse os brasileiros e os levasse ao Aeroporto Internacional de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG).

A aeronave decolou de Brasília na tarde deste sábado em direção a Manaus. Por volta das 16h40 (17h40 pelo horário de Brasília), o avião decolou em direção a Minas Gerais, onde aterrissou por volta das 21h10.

<><> Governo enviou avião da FAB

Na nota enviada neste sábado sobre o episódio, o Ministério da Justiça disse que decisão do presidente Lula de enviar um avião da FAB teve como objetivo garantir que os brasileiros deportados pudessem completar a viagem "com dignidade e segurança".

"O Ministério da Justiça e Segurança Pública enfatiza que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis", afirmou o ministério.

A Polícia Federal (PF) também divulgou nota sobre o episódio. "Os brasileiros que chegaram algemados foram recebidos e imediatamente liberados das algemas pela Polícia Federal, na garantia da soberania brasileira em território nacional e dos protocolos de segurança em nosso país", disse a PF.

<><> Embaixada dos EUA

Sem dar mais detalhes, a embaixada dos Estados Unidos em Brasília informou:

"Os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras. Continuamos em contato com as autoridades brasileiras a respeito do incidente."

>>>> Leia a íntegra do que disse o Itamaraty:

"O Ministro Mauro Vieira reuniu-se esta noite em Manaus com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional.

Na reunião, foi efetuado relato detalhado sobre os incidentes no aeroporto Eduardo Gomes envolvendo cidadãos brasileiros transportados em voo de deportação do governo norte-americano.

A reunião subsidiará pedido de explicações ao governo norte-americano sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo."

 

Fonte: g1      

 

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