sábado, 25 de janeiro de 2025

Luís Pellegrini: Fake News são do mal. O poder nefasto da mentira

“O senhor sabia que a ministra Marina Silva apareceu num evento no Rio Grande do Sul usando uma bolsa da marca ‘Hermes’ avaliada em R$ 52 mil reais?”, perguntou o taxista logo depois que me acomodei no veículo, na plataforma do aeroporto de Guarulhos e dei o endereço da minha casa. Como, Marina Silva se exibindo aos gaúchos com uma caríssima bolsa Hermès? Vi na minha mente a figura magrinha da ministra, sempre com suas roupas simples e suas bijuterias de artesanato indígena. Não, aquilo simplesmente não era possível. E perguntei ao taxista: “Mas de onde você tirou essa informação ?” E ele: “Tá todo mundo falando nas redes. E eu estou conectado a uns sites que me mandam mensagens que revelam os podres dessa gente do governo, um bando de vagabundos, uns falsos que posam de santos mas na verdade são bandidos da pior espécie”. Nesse ponto resolvi cortar a conversa, antes que aquele homem intoxicado por notícias falsas produzidas por algum dos vários gabinetes do ódio que continuam por aí produzindo seu material espúrio, começasse a espumar de raiva. 

Ao chegar em casa fui checar a informação para entender que loucura fora aquela. Não deu outra. Na verdade, a bolsa que a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas usava era da marca nacional Veryrio e custa cerca de R$ 250. Mas a informação errada foi amplamente compartilhada nas redes sociais, e prontamente desmentida por verificadores de fatos e pela própria assessoria de Marina Silva.

Depois do episódio, fiquei pensando na fala daquele taxista. Sobretudo na sua voz, ao tentar me convencer de que aquela mentira era verdade. Havia nela uma vibração de ódio, um desagradável tom raivoso, e foi fácil entender porque aquele camarada se deixara seduzir e convencer por uma fake news tão improvável. Era exatamente aquele estado de alma raivoso o fator que o impedia de exercer minimamente o seu juízo crítico e perceber que a notícia era falsa. Mais que isso, o empurrava para a descarga de parte daquela energia que o corroía por dentro para cima do primeiro que lhe surgisse à frente. No caso eu, pobre passageiro que teve o azar de entrar no seu carro.

Lembrei-me de vários casos análogos em que tive de enfrentar pessoas intoxicadas pela força maléfica das fakes. Durante a última campanha eleitoral para a presidência da república, um grupo de mulheres lideradas por uma médica bolsonarista começou a me mandar mensagens de apoio ao adversário de Lula. Percebi logo que os textos dessas mensagens eram escritos por profissionais com bom domínio das técnicas de redação. Todo jornalista de texto, após anos de experiência, sabe reconhecer rapidamente se aquele material foi escrito por um amador ou por um profissional. A redação jornalística tem cacoetes, formuletas, tem um jeito particular de ser que a torna facilmente reconhecível por quem é do ramo. Assim, ao perceber que o grupo (duas integrantes dele eram minhas amigas) estava sendo engambelado por algum gabinete do ódio, escrevi para elas e disse isso. Antes tivesse ficado quieto! A reação delas foi tremenda. Me cobriram de insultos, me chamaram de idiota, pareciam um bando de hienas dispostas a me dilacerar. Achei melhor acabar logo com aquilo e acionei uma das coisas mais importantes que existem na Internet: o botão para deletar. Mandei todas elas para o inferno. Providência inútil, pensei depois: elas já estavam lá.

Mas guardei na memória o modo raivoso, intolerante e irracional expresso na reação daquelas mulheres. Ele provinha daquele mesmo núcleo psíquico interno cheio de ódio e rancor que descrevi acima ao falar do taxista.

É exatamente esse núcleo que os criadores de fake news querem atingir quando produzem suas mentiras. Simplesmente porque sabem muito bem que, uma vez ativada essa central interna de sentimentos espúrios, a primeira coisa que acontece é a anestesia do senso crítico. A pessoa vira presa fácil: não apenas acredita cegamente na mentira recebida, por mais absurda que ela seja, como a repassa para os demais. Torna-se rapidamente um replicador da fake news. Um sacerdote da mentira. 

A mentira é um fenômeno universal e antigo, presente em todas as culturas e épocas da história humana. Ela provavelmente surgiu com o desenvolvimento da linguagem. Os antropólogos explicam que nossos ancestrais pré-históricos podem ter usado a mentira como uma ferramenta de sobrevivência, para enganar predadores ou rivais. A capacidade de mentir pode ter oferecido vantagens evolutivas, ajudando a proteger recursos e a garantir a reprodução.

Na Grécia Antiga, a mentira era um tema recorrente na filosofia e na literatura. Platão, por exemplo, discutia a “nobre mentira” em sua obra “A República”, onde argumentava que certas mentiras poderiam ser justificadas para o bem da sociedade. Já Aristóteles condenava a mentira, considerando-a moralmente errada.

Mais próximo a nós, durante a Idade Média, a mentira era frequentemente associada ao pecado e à moralidade cristã. A Igreja Católica condenava a mentira, mas também reconhecia que, em algumas situações, como para proteger a vida de inocentes, a mentira poderia ser perdoada. Vem dessa época a ideia da “mentira piedosa”, quando tenta-se justificar a mentira por compaixão.

Com o Renascimento e o Iluminismo, a mentira começou a ser vista sob uma nova luz, e a opinião dos pensadores a respeito começou a se dividir. Filósofos como Maquiavel argumentavam que a mentira poderia ser uma ferramenta política útil. No entanto, outros pensadores, como Kant, defendiam a verdade como um imperativo moral absoluto.

Na era moderna, a mentira continua a ser um tema complexo e multifacetado. A psicologia moderna estuda a mentira como um comportamento humano comum, explorando suas causas e consequências. A tecnologia e as redes sociais também trouxeram novos desafios, como a disseminação de fake news e a desinformação.

A imensa maioria de quem estuda a matéria, hoje, condena a mentira e a informação falsa. Entre outros motivos, porque a mentira acarreta:

1. Destruição da confiança: A confiança é a base de qualquer relacionamento saudável, seja pessoal ou profissional. Quando alguém mente, essa confiança é corroída, tornando difícil restabelecê-la. 

2. Impacto emocional: Mentir pode causar danos emocionais significativos tanto para quem mente quanto para quem é enganado. A pessoa que mente pode sentir culpa e ansiedade, enquanto a pessoa enganada pode sentir-se traída e magoada. 

3. Consequências sociais: A mentira pode levar ao isolamento social. Quando as pessoas descobrem que alguém é mentiroso, tendem a se afastar dessa pessoa, o que pode resultar em solidão e exclusão. 

4. Problemas éticos: A mentira levanta questões éticas e morais. Em muitas culturas e religiões, a honestidade é um valor fundamental, e mentir é visto como uma violação desse princípio. 

5. Efeitos psicológicos: Mentir repetidamente pode levar a problemas psicológicos, como a mitomania, onde a pessoa mente compulsivamente. Isso pode ser um sinal de transtornos mais profundos, como ansiedade e insegurança. 

Apesar desses dados tão preocupantes, é fato que a mentira e o engano têm sido cada vez mais usados como armas e ferramentas de ação política. Não apenas no Brasil, mas em muitos outros lugares do mundo. Entre nós, os chamados “gabinetes do ódio” foram acusados de produzir e disseminar mentiras, conhecidas como fake news. Esses grupos, que funcionaram largamente durante o governo Bolsonaro, foram alvo de investigações da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal. As investigações apontaram que esses gabinetes espalhavam notícias falsas e mensagens agressivas contra adversários políticos. Tais ações tinham o objetivo de influenciar a opinião pública e atacar opositores do governo, utilizando redes sociais e outras plataformas digitais para amplificar o alcance das mentiras. 

Mas, mesmo sem se importar com as consequências legais de seus atos, seria bom que os profissionais da mentira, bem como aqueles que irresponsavelmente as replicam, refletissem um pouco sobre a “Lei do Retorno”. Trata-se de uma crença amplamente difundida que sugere que nossas ações, sejam boas ou más, retornam para nós de alguma forma. Essa ideia é encontrada em praticamente todas as culturas, filosofias e religiões, tanto as primitivas quanto as modernas, tanto no Ocidente quanto no Oriente. Sem falar da tradicional sabedoria popular com seu princípio universal do “Você colhe o que plantou” 

E há também a ciência, especialmente na área da neurociência. Ela desenvolve agora estudos sobre os neurônios-espelho, que mostram como nossas ações e comportamentos podem influenciar e ser influenciados não apenas pelos nossos próprios atos, pensamentos, emoções e sentimentos como também pelos outros ao nosso redor. Embora não seja ainda uma “lei” científica no sentido estrito, a ideia de que nossas ações têm consequências que retornam a nós é amplamente reconhecida.

Portanto, melhor ter cuidado com a mentira. Quem mente hoje poderá ser “mentido” amanhã. 

 

¨      Nicole e a farsa do pix. Por Ediel Ribeiro

Depois da “Mamadeira de Piroca” do “Kit Gay” e do “Banheiro Unissex nas Escolas”, a notícia de que o governo do presidente Lula vai taxar o Pix deixou a população em pânico.

Nos últimos dias, canais de bolsonaristas da extrema direita, usuários do ‘Facebook’, ‘Instagram’ e ‘X’ publicaram notícias falsas de que o governo do Presidente Lula iria cobrar impostos de quem fizesse Pix de 5 mil reais ou mais.

A notícia da taxação do PIX provocou as mais variadas reações no mercado e entre a população, principalmente, entre as classes A, B e C, as que mais utilizam o PIX.

A notícia correu tão rápido que até o Flávio Bolsonaro que ia pagar mais um

imóvel no Pix, desistiu.

- Por isso que eu prefiro dinheiro vivo - afirmou o parlamentar.

O dono da barraca de cachorro-quente próxima a minha casa já parou de receber pagamentos com Pix. A padaria, o açougue, a lavanderia…

Esta não foi a primeira vez que se fez alguma referência ao papel da extrema direita em espalhar fake news contra o governo do presidente Lula. Desde que perdeu a eleição para o Lula, Bolsonaro e sua trupe vem disseminando notícias falsas pelo país. Desde a insegurança das urnas eletrônicas, a segurança do voto de papel até o roubo na contagem de votos.

Com o fim do DRD ( Departamento de Recuos e Desmentidos, órgão do governo Bolsonaro ligado a SECOM Secretaria de Comunicação, que funcionava numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, ao lado do Gabinete do Ódio), a extrema direita montou, numa sala no Plano Piloto, um esquema para disseminar Fake News para a imprensa pela internet, tudo embaixo do nariz do Mark Zuckerberg, que abandonou a checagem independente de notícias no Facebook e no Instagram, como já fizera Elon Musk no X.

A internet virou terra sem lei. Outro dia, por exemplo, meu filho apareceu com a notícia que o governo acabaria com a merenda nas escolas públicas.

As mentiras vão aumentando e as pessoas mal conseguem acreditar no que ouvem na internet, no rádio ou na TV. Mentem sobre o Imposto do Pix. Imposto sobre quem compra dólar. Imposto sobre quem tem animal de estimação. Prisão para quem aborta. Tudo mentira… Posso imaginar o que vai acontecer daqui a pouco, quando o problema se tornar ainda mais grave:

Outro dia, recebi um telefonema de uma tia minha apavorada:

- Você tem que me ajudar. Li, nos jornais, que o governo Lula vai cobrar impostos sobre a quantidade de ar que respiramos. Segundo a nota, os pobres vão ter que pagar mais que os ricos porque consomem mais oxigênio que os ricos.

- Quem espalhou essa notícia?

- Nikolas Ferreira - afirmou ela.

Houve tantas versões das supostas medidas do governo que tentei imediatamente separar o joio do trigo. Não achei o trigo, então, fui ao joio.

Procurei o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, o congressista afirma que o governo quer monitorar trabalhadores informais como se fossem grandes sonegadores.

- Deputado, é verdade que o governo vai taxar o Pix? - questionei.

- Bom, taxar ele não vai, mas corre um boato no congresso, entre o pessoal do cafezinho, que o governo pode estar pensando nesta hipótese.

- E o senhor fez um vídeo com essa informação? O vídeo já alcançou 300 milhões de visualizações. O senhor não teme que uma fake news como essa possa prejudicar a política monetária do governo?

- Pode ser que o governo esteja mesmo pensando em taxar o Pix. Há sinais. Por exemplo, a loja onde eu compro as minhas perucas já pararam de receber pagamento com Pix.

As fake news se espalham por todos os setores do governo. Um vídeo falso, feito por inteligência artificial, simula uma suposta fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

No conteúdo falso, que teve grande repercussão nas redes sociais, a voz e o movimento dos lábios dele foram alterados, para dar a impressão de que Haddad anunciava a criação de uma série de novos impostos — sobre cachorros e mulheres grávidas, por exemplo.

A Advocacia Geral da União (AGU) chegou a enviar uma notificação extrajudicial ao Facebook para que o vídeo falso fosse retirado do ar.

"A postagem, manipulada por meio de inteligência artificial, contém informações fraudulentas e atribui ao ministro declarações inexistentes sobre a criação de um imposto incidente sobre animais de estimação e pré-natal" - destaca a notificação da AGU.

Nesse mesmo dia, o próprio Haddad publicou nas redes sociais um vídeo em que desmentia os boatos, inclusive sobre o monitoramento das contas bancárias.

"Fake news prejudica a democracia e traz uma série de inseguranças para as pessoas. Então fique ligado, deixe a mentira de lado" - concluiu o ministro.

As teorias conspiratórias estão vencendo a guerra da desinformação. De acordo com uma pesquisa do Datafolha, 52% dos entrevistados acreditam na possibilidade do Brasil se tornar comunista e 82% acreditam que a terra é plana.

Dia desses o meu vizinho me acordou no meio da noite dizendo que tinha um comunista mexendo na lata de lixo dele.

- Já pensou se os comunistas invadem o Brasil? Eles ainda comem criancinhas - perguntou.

 

Fonte: Brasil 247

 

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