sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Qual é o melhor momento para começar um novo hábito e realmente mantê-lo?

Resoluções de Ano Novo são bem comuns, afinal muita gente adora fazer listas de “metas” e possíveis novos hábitos para o ano que começa, como forma de impulso para uma nova fase na vida. Já outros, preferem aderir ao “janeiro seco”, que é passar o mês sem ingerir bebida alcoólica. 

Há vários momentos em que as pessoas gostam de definir novos hábitos. Nossa cultura é obcecada pela definição de metas coletivas e pela ideia de que a formação de novos hábitos durante épocas específicas do ano levará a resultados bem-sucedidos. Mas acontece que não há nenhuma evidência real de que isso seja verdade.

De fato, as pesquisas sugerem que apenas duas em cada dez pessoas cumprem suas resoluções de Ano Novo a longo prazo – e os cientistas dizem que não parece haver uma época do ano em que o sucesso seja mais provável do que em outra.  

“Não conheço nenhuma pesquisa que mostre que começar do zero em janeiro, outubro ou qualquer outro mês aumenta a probabilidade de você manter um novo comportamento”, afirma Wendy Wood, psicóloga comportamental da University of Southern California, nos Estados Unidos, e autora do livro “Good Habits, Bad Habits: The Science of Making Positive Changes that Stick”. 

·        Por que gostamos da ideia de fazer mudanças juntos

É útil começar entendendo por que somos tão atraídos a estabelecer metas coletivamente e nas mesmas épocas do ano?

Uma explicação é que os seres humanos são inerentemente seres sociais e “pertencer a uma comunidade é uma necessidade humana fundamental”, explica Selena Bartlett, neurocientista da Queensland University of Technology em Brisbane, Austrália. Rituais coletivos como as resoluções de Ano Novo, diz ela, “satisfazem o impulso humano de se encaixar, sentir-se apoiado e fazer parte de algo maior do que si mesmo”.

Há também o fator do que os psicólogos chamam de “marcos temporais” – momentos como o início de um novo ano, a formatura ou um aniversário, “que parecem uma lousa limpa ou um novo começo porque nos permitem separar mentalmente nossos hábitos passados das metas futuras”, explica Harold Hong, psiquiatra clínico e diretor médico de um centro de recuperação de vícios na Carolina do Norte, Estados Unidos. 

Há algumas vantagens nesse tipo de definição de metas, incluindo a motivação externa, a oportunidade de aprender e se inspirar em outras pessoas e, talvez acima de tudo, ser responsável perante alguém que não seja você mesmo.

“A pesquisa mostra que os casais que fazem dieta juntos têm maior probabilidade de perder peso e mantê-lo do que aqueles que o fazem sozinhos”, afirma Christine Whelan, professora clínica e cientista do consumidor na School of Human Ecology da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. Uma razão para isso é que ambos os parceiros garantem que o outro esteja cumprindo suas metas.  

Fazer mudanças ao mesmo tempo que outras pessoas também significa que você tem outras pessoas com quem compartilhar seu sucesso e progresso, acrescenta Hong, o que torna o novo comportamento mais gratificante e mais provável de continuar.  

·        O lado negativo da definição de metas coletivas

Ao mesmo tempo, muitos desses benefícios podem ser o contrário – por exemplo, quando você depende de um parceiro para mantê-lo motivado e ele decide parar de ir à academia. “É provável que você também queira ficar em casa”, diz Katherine Milkman, professora da Wharton School da Universidade da Pensilvânia e autora do livro “How to Change: The Science of Getting from Where You are to Where You Want to Be” (“Como mudar: a ciência de ir de onde você está para onde quer estar”, em tradução livre). 

Também é comum que os definidores de metas coletivas comparem seus resultados com os de outras pessoas e fiquem desanimados se alguém estiver tendo sucesso onde eles não estão conseguindo ter. “Só porque algo parece estar funcionando para outra pessoa não significa que você esteja fracassando, mas essa é a narrativa que contamos para nós mesmos”, afirma Whelan. 

Wood acrescenta que algumas de nossas metas de vida mais importantes – como segurança financeira, produtividade na escola ou no trabalho, ou ter uma dieta saudável - exigem comportamentos ou práticas contínuas e duradouras que são “mais difíceis de sustentar com motivos abstratos como a ideia de responsabilidade social”.

Outro problema de ficar entusiasmado com um novo começo é que é difícil manter a motivação meses depois, quando seu novo hábito “não parece mais fresco ou novo”, comenta Milkman.

·        Quando é realmente o melhor momento para fazer uma mudança?

Esses motivos mostram por que nem sempre é aconselhável vincular novos hábitos a momentos fugazes ou a pessoas (temporariamente) afins e, em vez disso, identificar motivos profundamente enraizados e pessoalmente significativos para mudar.

Wood chama esses momentos de “pontos de inflexão” – como a percepção de que é hora de melhorar sua carreira, ou um susto com a saúde que o desperta para priorizar um estilo de vida mais saudável. Hong diz que esses momentos tendem a proporcionar sentimentos duradouros de motivação “porque estão enraizados em algo significativo e mais profundo do que simplesmente seguir o exemplo de todo mundo”. 

Ao mesmo tempo, não é preciso esperar por um chamado para despertar. “Realmente não há motivo para adiar as mudanças que você sabe que precisam ocorrer”, diz Kyle Smith, cientista do cérebro e do comportamento do Dartmouth College, nos Estados Unidos. “Se o seu corpo está lhe dizendo para mudar alguma coisa, ouça-o e não espere que algo drástico aconteça.” 

·        O que fazer quando a motivação te atinge

Independentemente do que desencadeia sua motivação, Wood diz que é fundamental agir assim que sentir o desejo, porque “você pode ter apenas uma pequena janela de oportunidade para tomar decisões sobre o que deseja fazer antes que seus velhos hábitos o impeçam”.

Milkman concorda, dizendo que os momentos de motivação são ideais para colocar em prática um plano que aumente a probabilidade de resultados positivos a longo prazo, mesmo depois que a motivação diminuir. “Não há nada de errado em usar um novo começo momentâneo como um trampolim para se preparar para uma mudança de longo prazo”, afirma ela.  

Por exemplo, escrever uma programação diária que inclua tempo para seu novo hábito e fixá-la em um local onde você possa vê-la todas as manhãs. Você também pode se matricular em uma academia enquanto sua motivação estiver alta para se comprometer com um pagamento mensal que o manterá motivado a usar a academia mesmo depois que seu interesse em entrar em forma começar a diminuir.

Milkman diz que algumas pessoas também criam o que chamamos de “dispositivo de compromisso”, que oferece uma recompensa ou punição para mantê-las motivadas depois que a motivação inicial diminui.

Por exemplo, os fumantes de um estudo depositaram voluntariamente dinheiro em uma conta poupança, mas só podiam acessar o dinheiro depois de passar por testes de urina aleatórios durante seis meses. Se não conseguissem, o dinheiro era confiscado e iria para caridade. Os fumantes que participaram do estudo tiveram uma taxa de sucesso 40% maior do que os fumantes que não usaram um dispositivo de compromisso.

·        Mais dicas para manter um novo hábito

Outra estratégia para a formação de hábitos bem-sucedidos é dividir metas maiores em metas menores e mais específicas. Assim, em vez de dizer “Vou perder 5 quilos por mês”, estabeleça uma meta para limitar sua ingestão diária de calorias e ir à academia por 30 minutos por dia.

“Pesquisas têm demonstrado consistentemente que estabelecer metas específicas leva a um melhor desempenho do que metas vagas ou nenhuma meta”, afirma Hong.

Você também pode adicionar seu novo hábito a um hábito já estabelecido, um conceito conhecido como “empilhamento de hábitos”. É uma prática que mostra que é mais provável, por exemplo, que você leia 10 páginas de um livro todas as noites se fizer isso logo antes de criar um hábito concreto, como escovar os dentes antes de dormir.  

Tornar seu novo hábito agradável também é importante. “Sugiro encontrar um comportamento que ofereça alguma recompensa imediata”, diz Wood. “Isso significa que, se você odeia ir à academia, pode torná-la mais divertida ouvindo músicas que gosta ou podcasts enquanto corre ou se exercitando com os amigos.”

Independentemente do que o motiva, é essencial não se abater quando você escorregar ou falhar ao longo do caminho.

“Você certamente não precisa esperar o início de um novo ano para fazer uma mudança necessária, mas se fizer isso e suas resoluções não saírem como o esperado, tente novamente em 1º de fevereiro, em 15 de outubro, quando seja oportuno”, sugere Whelan. “Aprender o que funciona para você e o que não funciona é importante no ciclo de mudança.”

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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