Qual é o melhor
momento para começar um novo hábito e realmente mantê-lo?
Resoluções de Ano Novo são bem
comuns, afinal muita gente adora fazer listas de “metas” e possíveis novos
hábitos para o ano que começa, como forma de impulso para uma nova
fase na vida. Já outros, preferem aderir ao “janeiro seco”, que é passar o
mês sem ingerir bebida alcoólica.
Há vários
momentos em que as pessoas gostam de definir novos
hábitos. Nossa cultura é obcecada pela definição de metas
coletivas e pela ideia de que a formação de novos hábitos
durante épocas específicas do ano levará a resultados bem-sucedidos.
Mas acontece que não há nenhuma evidência real de que isso seja verdade.
De fato,
as pesquisas sugerem que apenas duas em cada dez pessoas cumprem
suas resoluções de Ano Novo a longo
prazo – e os cientistas dizem que não parece haver uma época do ano em que
o sucesso seja mais provável do que em outra.
“Não conheço
nenhuma pesquisa que mostre que começar do zero em janeiro,
outubro ou qualquer outro mês aumenta a probabilidade de você manter
um novo comportamento”, afirma Wendy Wood, psicóloga comportamental
da University of Southern California, nos Estados Unidos, e autora do
livro “Good Habits, Bad Habits: The Science of Making Positive Changes that
Stick”.
·
Por
que gostamos da ideia de fazer mudanças juntos
É útil começar
entendendo por que somos tão atraídos a estabelecer metas
coletivamente e nas mesmas épocas do ano?
Uma explicação é
que os seres humanos são
inerentemente seres sociais e “pertencer a uma comunidade é uma
necessidade humana fundamental”, explica Selena Bartlett, neurocientista
da Queensland University of Technology em Brisbane,
Austrália. Rituais coletivos como as resoluções de Ano Novo, diz
ela, “satisfazem o impulso humano de se encaixar, sentir-se apoiado
e fazer parte de algo maior do que si mesmo”.
Há também o
fator do que os psicólogos chamam de
“marcos temporais” – momentos como o início de um novo ano,
a formatura ou um aniversário, “que parecem uma lousa limpa
ou um novo começo porque nos permitem separar mentalmente nossos
hábitos passados das metas futuras”, explica Harold Hong, psiquiatra clínico e
diretor médico de um centro de recuperação de vícios na Carolina do Norte,
Estados Unidos.
Há algumas
vantagens nesse tipo de definição de metas, incluindo a motivação externa,
a oportunidade de aprender e se inspirar em outras pessoas e, talvez
acima de tudo, ser responsável perante alguém que não seja você mesmo.
“A pesquisa mostra
que os casais que fazem dieta juntos têm
maior probabilidade de perder peso e mantê-lo do que aqueles que o
fazem sozinhos”, afirma Christine Whelan, professora clínica e cientista do
consumidor na School of Human Ecology da Universidade de Wisconsin-Madison,
nos Estados Unidos. Uma razão para isso é que ambos os parceiros garantem
que o outro esteja cumprindo suas metas.
Fazer mudanças ao
mesmo tempo que outras pessoas também significa que você tem outras
pessoas com quem compartilhar seu sucesso e progresso, acrescenta
Hong, o que torna o novo comportamento mais gratificante e mais provável de
continuar.
·
O
lado negativo da definição de metas coletivas
Ao mesmo tempo,
muitos desses benefícios podem ser o contrário – por
exemplo, quando você depende de um parceiro para mantê-lo motivado e
ele decide parar de ir à academia. “É provável que você também queira ficar em
casa”, diz Katherine Milkman, professora da Wharton School da
Universidade da Pensilvânia e autora do livro “How to Change: The Science of
Getting from Where You are to Where You Want to Be” (“Como mudar: a ciência de
ir de onde você está para onde quer estar”, em tradução livre).
Também é comum
que os definidores de metas coletivas comparem seus resultados com os de
outras pessoas e fiquem desanimados se alguém
estiver tendo sucesso onde eles não estão conseguindo ter. “Só porque algo
parece estar funcionando para outra pessoa não significa que você esteja
fracassando, mas essa é a narrativa que contamos para nós mesmos”, afirma
Whelan.
Wood acrescenta
que algumas de nossas metas de vida mais importantes –
como segurança financeira, produtividade na escola ou no trabalho,
ou ter uma dieta saudável -
exigem comportamentos ou práticas contínuas e duradouras que são
“mais difíceis de sustentar com motivos abstratos como a ideia de
responsabilidade social”.
Outro problema de
ficar entusiasmado com um novo começo é que é difícil manter a motivação
meses depois, quando seu novo hábito “não parece mais fresco ou novo”, comenta
Milkman.
·
Quando
é realmente o melhor momento para fazer uma mudança?
Esses motivos
mostram por que nem sempre é aconselhável vincular novos hábitos a momentos
fugazes ou a pessoas (temporariamente) afins e, em vez disso,
identificar motivos profundamente enraizados e
pessoalmente significativos para mudar.
Wood chama
esses momentos de “pontos de inflexão” – como a percepção de que
é hora de melhorar sua carreira, ou um susto com a saúde que o
desperta para priorizar um estilo de vida mais saudável. Hong
diz que esses momentos tendem a proporcionar sentimentos duradouros de
motivação “porque estão enraizados em algo significativo e mais
profundo do que simplesmente seguir o exemplo de todo mundo”.
Ao mesmo
tempo, não é preciso esperar por um chamado para despertar. “Realmente não
há motivo para adiar as mudanças que você sabe que precisam ocorrer”, diz
Kyle Smith, cientista do cérebro e do comportamento do Dartmouth College,
nos Estados Unidos. “Se o seu corpo está lhe dizendo para mudar alguma
coisa, ouça-o e não espere que algo drástico aconteça.”
·
O
que fazer quando a motivação te atinge
Independentemente
do que desencadeia sua motivação, Wood diz
que é fundamental agir assim que sentir o desejo, porque “você pode
ter apenas uma pequena janela de oportunidade para tomar
decisões sobre o que deseja fazer antes que seus velhos hábitos o
impeçam”.
Milkman concorda,
dizendo que os momentos de motivação são ideais para colocar em
prática um plano que aumente a probabilidade de resultados positivos
a longo prazo, mesmo depois que a motivação diminuir. “Não há nada de errado em
usar um novo começo momentâneo como um trampolim para se preparar para uma
mudança de longo prazo”, afirma ela.
Por exemplo, escrever
uma programação diária que inclua tempo para seu novo hábito e
fixá-la em um local onde você possa vê-la todas as manhãs. Você também
pode se matricular em uma academia enquanto sua motivação
estiver alta para se comprometer com um pagamento mensal que o
manterá motivado a usar a academia mesmo depois que seu interesse em
entrar em forma começar a diminuir.
Milkman diz que
algumas pessoas também criam o que chamamos de “dispositivo de compromisso”,
que oferece uma recompensa ou punição para mantê-las motivadas depois que
a motivação inicial diminui.
Por exemplo, os fumantes de um
estudo depositaram voluntariamente dinheiro em uma conta poupança,
mas só podiam acessar o dinheiro depois de passar por testes de urina
aleatórios durante seis meses. Se não conseguissem, o dinheiro era
confiscado e iria para caridade. Os fumantes que participaram do estudo
tiveram uma taxa de sucesso 40% maior do que os fumantes que não
usaram um dispositivo de compromisso.
·
Mais
dicas para manter um novo hábito
Outra
estratégia para a formação de hábitos bem-sucedidos
é dividir metas maiores em metas menores e mais específicas. Assim,
em vez de dizer “Vou perder 5 quilos por mês”, estabeleça uma meta para limitar
sua ingestão diária de calorias e ir à academia por 30 minutos por dia.
“Pesquisas têm
demonstrado consistentemente que estabelecer metas específicas leva a
um melhor desempenho do que metas vagas ou nenhuma meta”, afirma Hong.
Você também
pode adicionar seu novo hábito a um hábito já estabelecido, um conceito
conhecido como “empilhamento de hábitos”. É uma prática que mostra que é
mais provável, por exemplo, que você leia 10 páginas de um livro
todas as noites se fizer isso logo antes de criar um hábito concreto,
como escovar os dentes antes de dormir.
Tornar seu novo
hábito agradável também é importante. “Sugiro encontrar um comportamento que
ofereça alguma recompensa imediata”, diz Wood. “Isso significa que, se
você odeia ir à academia, pode
torná-la mais divertida ouvindo músicas que gosta ou podcasts
enquanto corre ou se exercitando com os amigos.”
Independentemente
do que o motiva, é essencial não se abater quando você escorregar ou
falhar ao longo do caminho.
“Você
certamente não precisa esperar o início de um novo ano para fazer uma
mudança necessária, mas se fizer isso e suas resoluções não saírem como o
esperado, tente novamente em 1º de fevereiro, em 15 de
outubro, quando seja oportuno”, sugere Whelan. “Aprender o que funciona
para você e o que não funciona é importante no ciclo de mudança.”
Fonte: National
Geographic Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário