quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O que pode causar a volta da depressão?

O padre Fábio de Melo, 53, desabafou com fiéis e lamentou a volta da depressão. Durante um evento em Pernambuco, na noite de domingo (19), ele ressaltou como tem sido afetado pela doença nas últimas semanas.

“Quero abrir meu coração. Ao longo dessas duas últimas semanas, a depressão tomou conta de mim de novo. Ao longo dessas duas últimas semanas eu só tenho um pensamento nessa vida: a vontade de deixar de viver”, disse o religioso, durante aniversário de 35 anos da Comunidade Obra de Maria, na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife.

 “Existem vários aspectos e fatores [que podem levar ao retorno da depressão]. Por exemplo, isolamento, perdas recentes, desemprego, frustrações amorosas, decepção com vários aspectos da vida, incluindo o autodesenvolvimento”, explica Bruno Pascale Cammarota, médico psiquiatra da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Além disso, existem fatores biológicos por trás do retorno da depressão, com alterações nos níveis de neurotransmissores da serotonina, da dopamina e da noradrenalina, hormônios relacionados ao humor, conforme explica Larissa Fonseca, psicóloga clínica especialista em ansiedade, crise de pânico, burnout e sono.

“Também existe o histórico familiar, que aumenta a probabilidade de desenvolver a depressão. Fora os fatores psicológicos, que são os nossos próprios pensamentos recorrentes, ruins, negativos, baixa autoestima e algumas situações não resolvidas do passado que podem acabar retornando”, acrescenta.

·        Quais sinais indicam o retorno da depressão?

Os primeiros sinais de um novo quadro depressivo podem incluir alterações no sono (insônia ou sono excessivo), alterações de humor, como irritabilidade e tristeza permanente, sensação de vazio e angústia, acompanhada de sensação de solidão, de acordo com Fonseca.

“É possível ter falta de energia, desmotivação para viver o dia, dificuldade para acordar e para se concentrar, esquecimentos frequentes, dificuldade de tomar uma decisão, de focar em uma atividade que a pessoa já está habituada a fazer porque os pensamentos invadem a mente”, detalha a psicóloga.

Em alguns casos, podem surgir, também, sintomas físicos, como dor no corpo, alterações no apetite e diminuição da libido.

Segundo Cammarota, os sintomas em um novo quadro de depressão podem vir até mais intensos do que na primeira vez. “A pessoa se sente como se estivesse aprisionada dentro de sua própria alma. Começa a ter dificuldade de executar suas tarefas, começa a ficar mais irritadiça, com menos vontade de fazer as coisas. Por vezes, ela também pode ter ideação suicida, dependendo da situação. Em geral, alguns episódios de recorrência da depressão são mais fortes”, afirma.

·        Retorno da depressão demanda novo tratamento

O retorno da depressão exige a mudança no tratamento. Segundo Cammarota, são acrescentados novos medicamentos, como estabilizadores de humor com associação a antidepressivos. “Outro ponto importante é a psicoterapia mais frequente, mais de uma vez por semana, e a mudança de hábitos”, acrescenta.

O ajuste do tratamento é feito de acordo com a gravidade dos sintomas e é realizado após uma avaliação do médico psiquiatra.

“A terapia psicológica também é intensiva, é preciso explorar a prevenção dessas recaídas e a continuidade do tratamento. É preciso trabalhar com o paciente essa explicação da necessidade do tratamento ao longo da vida da pessoa, nem que seja em temporadas”, afirma Fonseca. “Também é necessária a mudança no estilo de vida, com a prática de atividades físicas, despertar sempre no mesmo horário, trazer técnicas de relaxamento, alimentação correta, tudo isso faz uma combinação associada à terapia mais eficiente para prevenir novos episódios”, completa.

·        Recaída na depressão e transtorno depressivo recorrente: qual é a diferença?

A recaída na depressão é quando os sintomas depressivos retornam após um período de remissão. Já a depressão recorrente é aquela em que o retorno da doença acontece de forma repetitiva mesmo após o fim do tratamento.

“Existe também aquela depressão refratária, que é aquela que não responde a medicamentos, precisa de associação de antidepressivos e até, quiçá, outras formas de abordagem”, afirma Cammarota.

O diagnóstico de transtorno depressivo recorrente acontece quando o paciente apresenta dois ou mais episódios depressivos ao longo da vida, separados por um período de remissão, segundo Fonseca.

“É comum observar alguns fatores de impacto acumulativo na vida desse paciente. Ele se sente bem, melhora e, em seguida, começa novamente a ter outros sintomas, talvez porque não tenha adotado uma nova postura de vida, talvez porque não esteja em continuidade com a terapia ou talvez porque novos problemas surgiram na vida, por exemplo”, cita a psicóloga.

As mudanças no estilo de vida e a continuidade do tratamento são essenciais para evitar novos episódios depressivos, segundo os especialistas. Moderar o consumo de café, evitar refrigerantes, ter hobbies saudáveis, adquirir novas habilidades — seja através do estudo ou através da prática esportiva — e reduzir o consumo de notícias negativas também são recomendações dos profissionais de saúde mental.

¨      Boa noite de sono pode evitar memórias indesejadas e intrusivas, diz estudo

Manter uma boa noite de sono é importante para a saúde física e mental, já que fortalece o sistema imunológico e ajuda a reduzir o estresse, entre outros benefícios. Porém, um novo estudo mostrou que a qualidade do sono pode ajudar, também, a evitar pensamentos ruins e memórias indesejadas ao longo do dia.

trabalho, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) no dia 31 de dezembro, oferece uma nova visão sobre os mecanismos cognitivos e neurais subjacentes à conexão entre sono e saúde mental. Além disso, as descobertas podem dar suporte ao desenvolvimento de novos tratamentos e estratégias de prevenção de doenças como depressão e ansiedade.

Pesquisadores das Universidades de York, Cambridge e Sussex, no Reino Unido, e da Queen’s University, no Canadá, utilizaram neuroimagem funcional para o trabalho e descobriram que a privação de sono pode levar a déficits no controle da memória.

Isso está relacionado à dificuldade em envolver regiões cerebrais que dão suporte à inibição da recuperação da memória, o que facilita que lembranças indesejadas voltem para o consciente repentinamente. Os pesquisadores também apontam que o rejuvenescimento dessas regiões cerebrais está associado ao sono REM (movimento rápido dos olhos).

“Memórias de experiências desagradáveis ​​podem invadir a consciência, geralmente em resposta a lembretes”, explica Marcus Harrington, autor principal do estudo, em comunicado. “Embora essas memórias intrusivas sejam uma perturbação ocasional e momentânea para a maioria das pessoas, elas podem ser recorrentes, vívidas e perturbadoras para indivíduos que sofrem de transtornos de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático”, esclarece.

<><> Como o estudo foi feito?

Para o estudo, 85 adultos saudáveis tentaram suprimir memórias indesejadas enquanto os pesquisadores analisavam imagens de seus cérebros por meio de ressonância magnética funcional. Metade dos participantes teve uma noite de sono tranquila no laboratório de sono antes da tarefa, enquanto a outra metade permaneceu acordada.

Durante a supressão de memória, os participantes bem descansados ​​mostraram mais ativação no córtex pré-frontal dorsolateral direito — uma região do cérebro que controla pensamentos, ações e emoções — em comparação com aqueles que ficaram acordados a noite toda.

Os participantes descansados ​​também apresentaram uma atividade reduzida no hipocampo — região do cérebro envolvida na recuperação da memória — durante tentativas de suprimir memórias indesejadas.

Além disso, entre os participantes que dormiram no laboratório, aqueles que tiveram maior tempo de sono REM foram mais capazes de envolver o córtex pré-frontal dorsolateral direito durante a supressão de memória. Isso aponta para o papel do sono REM na restauração dos mecanismos de controle pré-frontal que sustentam a capacidade de impedir que memórias indesejadas sejam intrusivas.

“Em conjunto, nossas descobertas destacam o papel crítico do sono na manutenção do controle sobre nossas memórias e pensamentos contínuos”, afirma Harrington.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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