O que
pode causar a volta da depressão?
O padre Fábio de Melo, 53, desabafou com fiéis e lamentou a volta da depressão. Durante
um evento em Pernambuco, na noite de domingo (19), ele ressaltou como tem sido
afetado pela doença nas últimas semanas.
“Quero abrir meu
coração. Ao longo dessas duas últimas semanas, a depressão tomou conta de mim
de novo. Ao longo dessas duas últimas semanas eu só tenho um pensamento nessa
vida: a vontade de deixar de viver”, disse o religioso, durante aniversário de
35 anos da Comunidade Obra de Maria, na Arena Pernambuco, em São Lourenço da
Mata, no Grande Recife.
“Existem vários aspectos e fatores [que podem
levar ao retorno da depressão]. Por
exemplo, isolamento, perdas recentes, desemprego, frustrações amorosas,
decepção com vários aspectos da vida, incluindo o autodesenvolvimento”, explica
Bruno Pascale Cammarota, médico psiquiatra da Secretaria Municipal de Saúde do
Rio de Janeiro.
Além disso, existem
fatores biológicos por trás do retorno da depressão, com alterações nos níveis
de neurotransmissores da serotonina, da dopamina e da noradrenalina, hormônios
relacionados ao humor, conforme explica Larissa Fonseca, psicóloga clínica
especialista em ansiedade, crise de pânico, burnout e sono.
“Também existe o
histórico familiar, que aumenta a probabilidade de desenvolver a depressão.
Fora os fatores psicológicos, que são os nossos próprios pensamentos
recorrentes, ruins, negativos, baixa autoestima e algumas situações não
resolvidas do passado que podem acabar retornando”, acrescenta.
·
Quais sinais indicam o retorno da depressão?
Os primeiros sinais de
um novo quadro depressivo podem incluir alterações no sono (insônia
ou sono excessivo), alterações de humor, como irritabilidade e tristeza
permanente, sensação de vazio e angústia, acompanhada de sensação de solidão,
de acordo com Fonseca.
“É possível ter falta de
energia, desmotivação para viver o dia, dificuldade para acordar e para se
concentrar, esquecimentos frequentes, dificuldade de tomar uma decisão, de
focar em uma atividade que a pessoa já está habituada a fazer porque os
pensamentos invadem a mente”, detalha a psicóloga.
Em alguns casos, podem
surgir, também, sintomas físicos, como dor no corpo, alterações no apetite
e diminuição da libido.
Segundo Cammarota, os
sintomas em um novo quadro de depressão podem vir até mais intensos do que na
primeira vez. “A pessoa se sente como se estivesse aprisionada dentro de sua
própria alma. Começa a ter dificuldade de executar suas tarefas, começa a ficar
mais irritadiça, com menos vontade de fazer as coisas. Por vezes, ela também
pode ter ideação suicida, dependendo da situação. Em geral, alguns episódios de
recorrência da depressão são mais fortes”, afirma.
·
Retorno da depressão demanda novo tratamento
O retorno da depressão
exige a mudança no tratamento. Segundo Cammarota, são acrescentados novos
medicamentos, como estabilizadores de humor com associação a antidepressivos. “Outro
ponto importante é a psicoterapia mais frequente, mais de uma vez por semana, e
a mudança de hábitos”, acrescenta.
O ajuste do tratamento é
feito de acordo com a gravidade dos sintomas e é realizado após uma avaliação
do médico psiquiatra.
“A terapia psicológica também
é intensiva, é preciso explorar a prevenção dessas recaídas e a continuidade do
tratamento. É preciso trabalhar com o paciente essa explicação da necessidade
do tratamento ao longo da vida da pessoa, nem que seja em temporadas”, afirma
Fonseca. “Também é necessária a mudança no estilo de vida, com a prática de
atividades físicas, despertar sempre no mesmo horário, trazer técnicas de
relaxamento, alimentação correta, tudo isso faz uma combinação associada à
terapia mais eficiente para prevenir novos episódios”, completa.
·
Recaída na depressão e transtorno depressivo
recorrente: qual é a diferença?
A recaída na depressão é
quando os sintomas depressivos retornam após um período de remissão. Já a
depressão recorrente é aquela em que o retorno da doença acontece de forma
repetitiva mesmo após o fim do tratamento.
“Existe também aquela
depressão refratária, que é aquela que não responde a medicamentos, precisa de
associação de antidepressivos e até, quiçá, outras formas de abordagem”, afirma
Cammarota.
O diagnóstico de
transtorno depressivo recorrente acontece quando o paciente apresenta dois ou
mais episódios depressivos ao longo da vida, separados por um período de
remissão, segundo Fonseca.
“É comum observar alguns
fatores de impacto acumulativo na vida desse paciente. Ele se sente bem,
melhora e, em seguida, começa novamente a ter outros sintomas, talvez porque
não tenha adotado uma nova postura de vida, talvez porque não esteja em
continuidade com a terapia ou talvez porque novos problemas surgiram na vida,
por exemplo”, cita a psicóloga.
As mudanças no estilo de
vida e a continuidade do tratamento são essenciais para evitar novos episódios
depressivos, segundo os especialistas. Moderar o consumo de café, evitar
refrigerantes, ter hobbies saudáveis, adquirir novas habilidades — seja através
do estudo ou através da prática esportiva — e reduzir o consumo de notícias
negativas também são recomendações dos profissionais de saúde mental.
¨ Boa
noite de sono pode evitar memórias indesejadas e intrusivas, diz estudo
Manter uma boa noite de
sono é importante para a saúde física e mental, já que fortalece o sistema
imunológico e ajuda a reduzir o estresse, entre outros benefícios. Porém, um
novo estudo mostrou que a qualidade do sono pode ajudar, também, a evitar pensamentos
ruins e memórias indesejadas ao longo do dia.
O trabalho, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences
(PNAS) no dia 31 de dezembro, oferece uma nova visão sobre os mecanismos
cognitivos e neurais subjacentes à conexão entre sono e saúde mental. Além
disso, as descobertas podem dar suporte ao desenvolvimento de novos tratamentos
e estratégias de prevenção de doenças como depressão e ansiedade.
Pesquisadores das
Universidades de York, Cambridge e Sussex, no Reino Unido, e da Queen’s
University, no Canadá, utilizaram neuroimagem funcional para o trabalho e
descobriram que a privação de sono pode
levar a déficits no controle da memória.
Isso está relacionado à
dificuldade em envolver regiões cerebrais que dão suporte à inibição da
recuperação da memória, o que facilita que lembranças indesejadas voltem para o
consciente repentinamente. Os pesquisadores também apontam que o
rejuvenescimento dessas regiões cerebrais está associado ao sono REM (movimento
rápido dos olhos).
“Memórias de
experiências desagradáveis podem invadir a
consciência, geralmente em resposta a lembretes”, explica Marcus Harrington,
autor principal do estudo, em comunicado. “Embora essas memórias intrusivas sejam uma perturbação ocasional
e momentânea para a maioria das pessoas, elas podem ser recorrentes, vívidas e
perturbadoras para indivíduos que sofrem de transtornos de saúde mental, como
depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático”, esclarece.
<><> Como o
estudo foi feito?
Para o estudo, 85
adultos saudáveis tentaram suprimir memórias indesejadas enquanto os
pesquisadores analisavam imagens de seus cérebros por meio de ressonância magnética funcional.
Metade dos participantes teve uma noite de sono tranquila no laboratório de
sono antes da tarefa, enquanto a outra metade permaneceu acordada.
Durante a supressão de
memória, os participantes bem descansados mostraram
mais ativação no córtex pré-frontal dorsolateral direito — uma região do
cérebro que controla pensamentos, ações e emoções — em comparação com aqueles
que ficaram acordados a noite toda.
Os participantes
descansados também apresentaram uma atividade reduzida no hipocampo — região do
cérebro envolvida na recuperação da memória — durante tentativas de suprimir
memórias indesejadas.
Além disso, entre os
participantes que dormiram no laboratório, aqueles que tiveram maior tempo de
sono REM foram mais capazes de envolver o córtex pré-frontal dorsolateral
direito durante a supressão de memória. Isso aponta para o papel do sono REM na
restauração dos mecanismos de controle pré-frontal que sustentam a capacidade
de impedir que memórias indesejadas sejam intrusivas.
“Em conjunto, nossas
descobertas destacam o papel crítico do sono na manutenção do controle sobre
nossas memórias e pensamentos contínuos”, afirma Harrington.
Fonte: CNN Brasil
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