sábado, 25 de janeiro de 2025

Assassinato de John Kennedy é alvo de teorias da conspiração há seis décadas; conheça a versão oficial e as especulações

Às 12h30 do dia 22 de novembro de 1963, o então presidente dos EUA, John F. Kennedy, desfila em uma limousine aberta pela Dealey Plaza, na cidade de Dallas, ao lado da primeira-dama, Jackie, e do governador do Texas, John Connally, quando tiros são ouvidos pela multidão. Kennedy fecha os dois punhos e inclina-se à esquerda, em direção à sua mulher. Ele havia acabado de ser atingido por um tiro.

Segundos depois, um novo tiro atinge em cheio seu crânio, atravessando-o. Sua cabeça se inclina para trás e depois para o lado. Jackie, em choque, tenta escalar o porta-malas do veículo. Um agente do Serviço Secreto pula para acudi-la. Connally também está ferido. Da Elm Street (que margeia a Dealey Plaza) o motorista acelera a até 130 km/h em direção ao hospital Parkland Memorial, onde os médicos constatam aquilo que a primeira-dama já havia visto com seus próprios olhos: que o presidente havia sido assassinado.

Mais de 60 anos depois, a cena ainda repercute na memória coletiva dos EUA — e alimenta diversas teorias da conspiração. A investigação oficial aponta um ex-fuzileiro naval que teria agido sozinho, Lee Harvey Oswald, como autor dos disparos, mas proponentes de versões alternativas jogam a responsabilidade pelo crime em Cuba, na CIA e até na máfia.

Os conspiracionistas ganharam um novo impulso nesta quinta-feira (23), quando o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva para retirar o sigilo de todos os documentos sobre o assassinato: "Tudo será revelado", disse o republicano.

Conheça, a seguir, a versão oficial e as especulações alternativas sobre o ocorrido:

·        Comissão Warren, a versão oficial

Seis dias após a morte de Kennedy, o presidente Lyndon B. Johnson, que assumiu em seu lugar, criou a Comissão Warren, para dar a palavra final sobre o assassinato. Johnson estava sendo pressionado pela opinião pública após a morte do principal suspeito, Lee Harvey Oswald, dois dias após a morte de Kennedy, em frente às câmeras de TV que transmitiam imagens ao vivo.

A comissão concluiu que o presidente havia sido morto por Oswald e que ele agiu sozinho. Os investigadores concluíram também que Oswald foi morto por Jack Ruby, dono de uma boate com ligações com a máfia — e que este também agiu sozinho.

Um dos principais pontos da investigação da comissão é a "teoria da bala única". Ela aponta que o primeiro tiro, que atingiu a nuca de Kennedy e saiu por sua garganta (e que, embora o tenha deixado gravemente ferido, provavelmente não foi fatal), foi o mesmo que atingiu o governador texano John Connally.

O relatório final atesta que os tiros foram todos disparados por Lee Harvey Oswald do sexto andar de um depósito de livros escolares na Elm Street, que estava vazio devido a uma reforma.

O principal registro usado pela comissão (e pelos conspiracionistas) é o chamado Filme de Zapruder, uma filmagem sem som de cerca de 30 segundos registrada em cores pelo cinegrafista amador Abraham Zapruder. Apesar de não ser o único registro em filme, é o que mostra o evento mais nitidamente.

O nome da comissão vem de Earl Warren, então presidente da Suprema Corte americana. Seus principais membros eram senadores e deputados (um republicano e um democrata de cada Casa do Legislativo), o diretor da CIA, Allen Dulles, e o alto funcionário John McCloy. Outras comissões governamentais e legislativas investigaram o caso nas décadas seguintes, que colocaram dúvidas sobre algumas de suas conclusões.

·        Desconfiança, ceticismo e teorias alternativas

O relatório final da Comissão Warren foi alvo de desconfiança desde o momento em que foi publicado. Analistas apontam dúvidas, omissões e falhas, como o fato de o médico pessoal de Kennedy — que testemunhou a ação e assinou seu atestado de óbito — não ter sido ouvido.

Outro ponto especialmente contestado é a "teoria da bala única", que segundo críticos, exigiria que o projétil descrevesse uma trajetória impossível para ferir Kennedy e Connally. Estes críticos alegam que a conclusão da comissão, apelidada de "teoria da bala mágica", é conveniente para direcionar para a conclusão de que Oswald teria agido sozinho, sendo o autor de todos os disparos.

Além disso, muitos apontam que o Filme de Zapruder mostra a cabeça de Kennedy, ao receber o segundo tiro, inclinando-se rapidamente para trás e caindo para a esquerda, o que indicaria um tiro disparado de frente e à direita.

Ao rodar os instantâneos um por um, investigadores concluíram que a cabeça do presidente é jogada ligeiramente para frente antes do movimento brusco para trás, o que poderia ser tanto resultado do projétil quanto de uma frenagem do carro, visto que Kennedy já estava ferido. Uma outra comissão, em 1975, concluiu que o movimento para trás é resultado de uma reação neuromuscular.

Há ainda quem diga que o Filme de Zapruder tenha sido manipulado posteriormente, após ser apreendido pelas autoridades.

Segundo o promotor Vincent Bugliosi, desde 1963, um total de 42 grupos, 82 assassinos e 240 pessoas já foram acusadas de ter algum envolvimento com o assassinato de John F. Kennedy. Conheça os alvos mais comuns apontados por teóricos da conspiração:

·        A União Soviética e sua agência de espionagem, a KGB

A Presidência de Kennedy foi marcado por um dos períodos mais tensos na Guerra Fria, quando a União Soviética se aproximou do regime de Fidel Castro e instalou mísseis balísticos em Cuba. Temia-se que uma guerra fosse iminente entre as duas maiores potências nucleares do planeta. Soma-se a isso as inclinações comunistas de Lee Harvey Oswald: após deixar os Fuzileiros Navais, ele desertou para a cidade de Minsk, então na União Soviética, onde se casou, antes de voltar e se estabelecer em Dallas.

·        O regime de Fidel Castro em Cuba

Castro tomou o poder na ilha após depor o ditador Fulgencio Batista, pró-EUA, em 1958, e a partir de então as relações entre os dois países se deterioraram rapidamente. Em abril de 1961, já com Kennedy na Casa Branca, um grupo paramilitar de cubanos exilados treinados pela CIA entrou em Cuba, em um episódio conhecido como a Invasão da Baía dos Porcos.

A operação fracassou, terminando com 118 cubanos exilados e 4 americanos mortos, além de todos os outros 1.202 invasores capturados.

Em favor da teoria de que o assassinato seria uma retaliação de Havana estão, novamente, as inclinações de Oswald, que participou de um grupo a favor do regime castrista nos EUA.

·        A máfia

Após sua morte, surgiram boatos de que John Kennedy e seu pai tinham conexões com Sam Giancana, um conhecido mafioso de Chicago, que teria ajudado a angariar votos em sua campanha presidencial. Uma teoria diz que a máfia teria se enfurecido com a cruzada contra o crime organizado perpetrado por seu irmão, Robert, nomeado procurador-geral por John.

Robert era inimigo pessoal do sindicalista Jimmy Hoffa, que tinha conexões com a máfia e também teriam motivos para atentar contra os Kennedy.

Além disso, após o fracasso da Baía dos Porcos, Kennedy teria tentado negociar com Havana pela via diplomática, irritando os mafiosos, ansiosos por retomar o suposto controle dos cassinos em Cuba que tinham nos tempos de Fulgencio Batista.

·        A CIA, o FBI ou um grupo composto por seus agentes

Diversas teorias conspiratórias envolvem as organizações no assassinato do presidente — ou elas como um todo, ou alguns agentes descontentes com a administração. A mais famosa delas tem origem no investigador de Nova Orleans Jim Garrison, um dos primeiros a presumir que Lee Harvey Oswald não seria um ex-fuzileiro naval com inclinações comunistas, mas um agente da CIA.

Em um livro, Garrison desenvolve a teoria de que agentes de extrema direita da CIA e do FBI, possivelmente associados a outros elementos mais poderosos, como grandes empresários, planejaram e executaram o assassinato por estarem descontentes com a tentativa de solução diplomática para a Guerra do Vietnã e a crise com Cuba.

É a teoria de Garrison que embasa o filme "JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar" (1991), de Oliver Stone. Tanto o livro quanto o longa-metragem ajudaram a popularizar o questionamento da "teoria da bala única" defendida pela Comissão Warren.

·        Lyndon B. Johnson

Eventualmente surgem tentativas de colocar seu então vice como o mentor do assassinato do presidente. Há indícios de que Kennedy pretendia prescindir de Johnson concorrer à reeleição com um outro nome democrata em sua chapa.

·        Israel

Sem provas, teóricos da conspiração alegam que o assassinato foi uma operação do Mossad, o serviço secreto israelense, motivado pela oposição vocal de Kennedy ao programa nuclear israelense, desenvolvido pelo então primeiro-ministro do país, David Ben-Gurion.

O Mossad já era conhecido por realizar operações secretas em países estrangeiros, com o objetivo de capturar ex-altos funcionários nazistas, como Adolf Eichmann, na Argentina. A teoria foi citada por Muammar Kaddafi, então ditador da Líbia, na ONU, em 2009.

Boa parte das teorias da conspiração coloca vários desses atores como co-conspiradores que executaram o atentado em associação. Além disso, quase a totalidade das teorias justifica o assassinato de Lee Harvey Oswald como uma queima de arquivo.

 

¨      O dia em que Elvis Presley quis dar uma pistola de presente a Richard Nixon, presidente dos EUA

Em uma manhã de dezembro de 1970, um visitante inesperado chegou até a Casa Branca, ocupada na época pelo presidente republicano Richard M. Nixon.

Tratava-se nada menos que o rei do rock and roll, Elvis Presley, que deixou uma mensagem com os seguranças solicitando uma reunião com o presidente.

O encontro entre Elvis e Nixon foi registrado inicialmente em uma fotografia —o documento mais solicitado dos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos— e, em 2016, foi reconstituído no filme Elvis & Nixon.

Na Sala Oval, havia também um terceiro homem, o funcionário público Bud Krogh, que mais tarde foi preso por seu envolvimento no escândalo Watergate.

Krogh atualmente trabalha na Escola de Ética Global e Liderança, em Washington, e concedeu uma entrevista à BBC sobre a inusitada visita do roqueiro à Casa Branca.

"Quando recebi a carta escrita à mão por Elvis, em um avião a caminho de Washington DC, parecia muito sincera, mas eu precisava verificar essa sinceridade me reunindo com dois dos acompanhantes de Elvis para confirmar que se tratava de um pedido sério", declarou Krogh.

O pedido se mostrou genuíno e a reunião foi realizada.

·        Momento histórico

Para entender como dois homens aparentemente tão diferentes puderam se encontrar em uma reunião tão improvável, é necessário compreender um pouco do contexto.

Naquela época, eram dois dos indivíduos mais famosos do mundo.

Nixon, o presidente do país mais poderoso, e Elvis, um cantor com uma popularidade que atraía milhões. No entanto, ambos estavam passando por momentos difíceis em suas carreiras.

O presidente enfrentava a guerra do Vietnã, o descontentamento popular, protestos violentos e um grave problema de consumo de drogas nas grandes cidades.

Elvis, por sua vez, já estava há alguns anos sem um grande sucesso e sua imagem de ídolo rebelde havia sido ultrapassada por uma juventude atraída pelo movimento hippie, do amor livre, do pacifismo e das drogas.

Mas Elvis também tinha um motivo bem específico para se reunir com Richard Nixon, um desejo alimentado por uma fantasia pessoal.

Segundo Jerry Schilling, um dos amigos mais próximos do cantor, Elvis adorava a ideia de lei e ordem. Ele era fascinado pela polícia e possuía uma grande coleção de armas e distintivos policiais.

·        Agente antidrogas disfarçado

Mas Elvis queria algo mais: um distintivo autêntico que lhe permitisse atuar como um agente disfarçado da Agência Antidrogas para combater as drogas que, segundo ele, estavam destruindo os Estados Unidos.

Presley convocou Schilling e outro de seus amigos próximos, Sonny West, para uma viagem secreta a Washington DC, com o objetivo de solicitar a reunião com Nixon.

No avião, Presley escreveu à mão suas razões e seu desejo de ajudar o presidente.

"Ele queria usar sua influência como figura do entretenimento para incentivar os jovens a não consumirem drogas", explicou Bud Krogh.

Algo bastante irônico, pois, como se soube depois, o próprio Elvis abusava de medicamentos controlados, o que, no fim, foi o que lhe custou a vida aos 40 anos.

Elvis alcançou a fama em 1956 com sua música 'Heartbreak Hotel'. — Foto: Getty Images via BBC

Mas Schilling afirma que Elvis não via esse consumo da mesma forma que via o abuso de drogas ilícitas.

"Elvis não gostava da música que promovia as drogas. Ele se sentiu responsável quando o rock se tornou um veículo para as drogas. Mas ele não percebia que os medicamentos controlados também são igualmente perigosos", disse Schilling.

Nixon também via o problema das drogas como um dos maiores desafios enfrentados pela juventude americana, e seu governo formulou uma iniciativa para combatê-las.

·        Uma pistola automática Colt 45

Bud Krogh recomendou ao presidente que seria importante para o público vê-lo ao lado de uma figura tão popular, alguém que poderia ter uma conexão com os jovens.

A reunião foi aprovada, e a estrela do rock and roll chegou à Casa Branca acompanhada por seus dois amigos.

No entanto, Elvis trouxe de presente para Nixon uma pistola automática Colt 45, em um elegante estojo, incluindo as balas.

"Tive que dizer a Elvis que ele não poderia levar a pistola para o Salão Oval", explicou Krogh.

No início, Nixon não estava muito impressionado com a estrela do rock. Levou algum tempo para tentar entender por que aquele indivíduo diante dele era tão popular, contou Krogh.

Após conversar um pouco com Elvis, Nixon percebeu que o cantor havia chegado onde estava através de um caminho árduo e reconheceu sua determinação e ambição para alcançar o topo de sua profissão, algo que ele também fazia com a política.

Ambos também entenderam a solidão que acompanha essa posição no topo, e que, apesar de seu poder e popularidade, ambos já não estavam mais no auge.

Nixon tinha alguns tópicos de conversa preparados por seus assistentes, mas Elvis foi direto e lhe disse que havia feito um estudo profundo sobre as técnicas comunistas de lavagem cerebral.

"Esse foi um dos assuntos que me pegou de surpresa", revelou Krogh. "O presidente disse algo como: 'Continue com isso, não podemos deixar que muita gente caia na lavagem cerebral comunista'."

Mas o que Elvis realmente queria era o distintivo da Agência Antidrogas e fez o pedido diretamente.

·        Quebrando o protocolo

Nixon perguntou a Krogh se poderiam lhe dar um distintivo. "Senhor presidente, se o senhor quiser, podemos conseguir um", disse o assistente. "Quero que ele tenha um", foi a resposta de Nixon.

Elvis ficou tão emocionado com essas palavras que quebrou o protocolo e deu um abraço em Nixon.

Elvis estava feliz. Ele conseguiu o distintivo que lhe permitia atuar como um agente federal antidrogas.

Ele o manteve consigo pelo resto de sua vida, e hoje está exposto junto aos seus troféus em sua mansão, Graceland, que foi transformada em museu.

A carta de Nixon agradece a Presley pelo presente e lhe deseja o melhor para ele e sua família no ano seguinte. — Foto: Getty Images via BBC

É a história do jovem que saiu da pobreza para se tornar um ídolo mundial, um milionário que ainda sentia falta de algo que não podia comprar, e cujo sonho acabara de se realizar.

Nixon se sentiu tão satisfeito e identificado que até permitiu que os dois acompanhantes de Elvis, Jerry Schilling e Sonny West, também entrassem no Salão Oval para cumprimentá-lo.

"Meu momento favorito daquele dia foi quando Elvis abriu a porta do Salão Oval para mim", contou Schilling. "Ele me empurrou para dentro com uma risada e disse: 'Não tenha medo, Jerry, é apenas o presidente'."

 

Fonte: g1/ News Mundo

 

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