sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Qual é a melhor forma de tomar banho? Como a humanidade trocou os banhos coletivos por chuveiros

Os brasileiros são famosos em todo mundo por seu hábito de tomar muitos banhos – mas não é só uma fama. De acordo com uma pesquisa recente de 2024, realizada pela World Population Review (organização independente que fornece dados demográficos e populacionais globais atualizados), o povo brasileiro é o campeão mundial em frequência de banhos, com uma média de dois banhos diários de chuveiro.

Para o norte-americano médio, o dia não está completo sem uma ducha, ao menos. Mais de 60% dos adultos dos Estados Unidos relataram tomar banho pelo menos uma vez por dia, por uma média de 8,2 minutos a cada vez, de acordo com uma pesquisa pública de 2021.

Por mais indispensáveis que sejam hoje, os chuveiros (ou duchas) são uma adição relativamente nova à civilização humana. Durante a maior parte da história humana registrada, que remonta a aproximadamente 3 mil anos a.C., as evidências sugerem que os banhos comunitários desempenhavam um papel central na vida diária. Desde os antigos banhos gregos até os onsen japoneses, pessoas de todas as classes sociais se reuniam nas casas de banho para se exercitar, tomar banho e socializar. 

Hoje em dia, as pessoas gostam mais de tomar banho sozinhas do que de banhos sociais, priorizando a eficiência em detrimento da comunhão e do relaxamento. Mas, por mais arraigado à cultura atual que o banho de chuveiro possa parecer, a prática não é necessariamente preferível do ponto de vista da saúde. Os especialistas refletem sobre a evolução da cultura do banho e o que foi ganho e perdido no processo.

·        Milhares de anos de banhos de banheira

Como parte central da vida, as práticas de banho ao longo da história refletiram as mudanças nos ideais de cuidado pessoal e saúde. 

Na Antiguidade, especialmente no Império Romano, o banho era quase que inteiramente um assunto público. Somente os poucos mais ricos tinham seus próprios banhos particulares, enquanto todos os outros participavam do ritual de banho comunitário, que geralmente ocorria em grandes complexos de banho e incluía massagens, bibliotecas e até mesmo comida e bebida. 

 “Há muitas ilustrações artísticas mostrando festas e coisas acontecendo nos banhos e pessoas jantando no banho”, comenta Virgina Smith, historiadora e autora do livro “Clean: A History of Personal Hygiene and Purity”. 

Para os gregos antigos, o banho era muitas vezes um ritual de autopurificação antes de ritos religiosos ou de receber convidados, de acordo com Katherine Ashenburg, autora de “The Dirt on Clean: An Unsanitized History”. As casas de banho tradicionais em estilo japonês eram usadas inicialmente para fins terapêuticos e religiosos e, posteriormente, como locais de reunião social. Os banyas russos e os hammams turcos também foram centros historicamente importantes de atividades sociais e religiosas.

“O banho nem sempre estava ligado à limpeza e higiene na mente das pessoas”, diz Ashenburg. “Às vezes, achava-se que entrar na água não só não fazia nada por você em termos de limpeza, como também era perigoso para sua saúde.”

Durante a Peste Negra, por exemplo, os banhos públicos foram fechados porque os europeus medievais acreditavam que a abertura dos poros com água quente permitiria que a peste entrasse pela pele.

Embora esse pensamento estivesse incorreto, havia preocupações com a higiene nos banhos públicos, de acordo com James Hamblin, médico e professor da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e autor do livro “Clean: The New Science of Skin and the Beauty of Doing Less”. “Alguns relatos de casas de banho antigas descrevem camadas de lodo na superfície da água”, afirma ele. “Na verdade, você estava se expondo a agentes patogênicos.” 

·        Uma nova era para os banhos

Os banhos coletivos em larga escala acabaram desaparecendo por volta da virada do século 20 no Ocidente. Um dos principais fatores foi o surgimento da teoria dos germes das doenças, “quando o banho passou a ser fortemente associado à limpeza”, explica Hamblin. A partir de meados de 1800, as cidades do Reino Unido começaram a construir banheiros públicos e casas de banho principalmente para os pobres. 

Um fenômeno semelhante logo aconteceria nos Estados Unidos, principalmente na cidade de Nova York, onde o encanamento ainda era bastante inacessível e as populações de imigrantes aumentavam. Com o desenvolvimento do chamado “banho de chuva” – um tipo de chuveiro antigo que foi usado pela primeira vez por militares europeus e trabalhadores da indústria – surgiu uma nova visão de saúde pública e higiene em massa. 

Foi-se o tempo dos longos e luxuosos banhos comunitários. Por causa do espaço, da água, do combustível e do custo-benefício, o banho de chuva tornou-se a forma preferida de banho. À medida que as pessoas começaram a ter encanamento em suas casas, as banheiras e chuveiros pessoais tornaram-se cada vez mais comuns e, por fim, passaram a ser a norma. 

Naomi Adiv, professora assistente de ciências políticas da Universidade de Toronto Mississauga, no Canadá, atribui essa mudança, em grande parte, à “ascensão do capitalismo industrial” nos Estados Unidos. “A ideia de sair para tomar banho à tarde não está de acordo com a produtividade do trabalhador.” 

Ainda existem casas de banho públicas em todo o mundo, inclusive na Turquia, Rússia e Japão. Mas nossos rituais diários de limpeza foram em grande parte relegados a banheiras e chuveiros individuais – e não necessariamente para melhor.

“Perdemos o aspecto social [do banho] e, para muitas pessoas, a sensação de prazer”, diz Hamblin.

·        O que é melhor, tomar banho de chuveiro ou de banheira?

Do ponto de vista do saneamento, há poucas pesquisas sobre a preferência entre tomar banho de chuveiro ou de banheira. Com uma fonte de água limpa, ambos são eficazes para a higiene pessoal, afirma Kelly Reynolds, professora de Comunidade, Meio Ambiente e Política na Universidade do Arizona (Estados Unidos), e “realmente parece ser uma questão de escolha pessoal”. 

Para aqueles que se preocupam em ficar de molho em água não higiênica, Amy Huang, dermatologista do Medical Offices of Manhattan, em Nova York, diz que “a menos que você esteja extremamente sujo, não deve haver nenhuma preocupação”.

Assim como o microbioma intestinal, o bioma da pele contém milhares de espécies de micróbios que vivem e apoiam a saúde da pele, explica Hamblin. Tanto o banho quanto a ducha podem remover temporariamente esse bioma ou danificar nossa pele se a água estiver muito quente, se for usado muito sabão e se a esfregação for muito vigorosa.

“O regime ideal é basicamente um sabonete suave sem fragrância, sem corantes e, de preferência, sem espuma”, diz Huang. Você nem precisa esfregar em todos os lugares – concentre-se nas axilas, nos órgãos genitais, nos pés e no couro cabeludo se estiver lavando o cabelo, acrescenta ela. Katrina Abuabara, professora associada de dermatologia da Universidade da Califórnia de San Francisco (UCSF), acrescenta que “usar buchas e panos pode danificar a barreira da pele, e lavar com as mãos é suficiente”.

Para pessoas com eczema ou outros problemas de pele, por exemplo, os banhos podem ser uma parte eficaz de seu regime de tratamento. “Como você fica na banheira por mais tempo do que no chuveiro, você deixa a pele mais macia para que, ao aplicar o medicamento, a pele o absorva melhor”, diz Huang. 

Tomar um banho quente também pode funcionar como um estímulo físico e mental, de acordo com Justine Grosso, psicóloga mente-corpo em Nova York e na Carolina do Norte. O banho de imersão, mais do que o banho de chuveiro, “demonstrou melhorar o humor de pessoas com depressão, melhorar o sono de pessoas com insônia e ter efeitos positivos no sistema cardiovascular”, comenta a psicóloga.

Como exatamente o banho quente afeta o corpo ainda está sendo pesquisado. “Há algumas evidências de que ele funciona por meio da vasodilatação, na qual os vasos sanguíneos se alargam, permitindo que mais oxigênio e nutrientes cheguem à periferia do corpo”, acrescenta Grosso.

“A questão é o calor”, diz Ashley Mason, psicóloga clínica do Osher Center for Integrative Health da UCSF. Estudos preliminares sugerem que mergulhar em saunas, salas de vapor, banheiras de hidromassagem e chuveiros ou banheiras quentes pelo menos uma vez por dia pode ser benéfico. 

Em geral, quando se trata de limpeza, diz Hamblin, menos é mais. O setor de higiene pessoal “medicalizou” uma prática que tem muito pouco a ver com a prevenção de doenças, afirma ele. Sem desconsiderar a necessidade do sabonete na saúde pública, ele culpa o marketing moderno por manipular os consumidores com crenças distorcidas sobre a importância de um ritual diário que usa produtos caros

Do ponto de vista médico, o banho coletivo nunca foi um meio de melhorar a saúde, acrescenta Hamblin. Mas “em termos de conexão social, de relaxamento psicológico, não duvido que tenha tido algum efeito”.

 

¨      Mito ou realidade: tomar banho de água fria traz benefícios à saúde?

O banho com água fria é uma prática que se tornou popular nos últimos anos devido a uma série de supostos benefícios comentados nas redes sociais. Muitas pessoas tomam banhos frios após atividades físicas, mas também há quem mergulhe em duchas geladas apenas por diversão. 

Devido à popularidade do fenômeno, uma pesquisa de 2022 que foi publicada pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (NLM) procurou descobrir se tomar banho ou mergulhar em água fria tem realmente efeitos positivos sobre a saúde das pessoas.

Conforme argumentado pela NLM, alguns estudos indicam que essa exposição voluntária tem alguns efeitos benéficos à saúde. Entretanto, a questão está sujeita a debate porque muitos dos pontos positivos sugeridos são baseados em alegações subjetivas das pessoas e evidências sem provas.

<><> Tomar banho frio traz benefícios? 

Há uma crença de que os banhos de água fria podem estimular o sistema imunológico, tratar a depressão, melhorar a circulação periférica, aumentar a libido, queimar calorias e até reduzir o estresse

No entanto, o estudo publicado pela NLM adverte que muitos dos benefícios à saúde atribuídos a essa exposição regular à água fria podem não ser causais e, em vez disso, são explicados por outros fatores.

Entre essas influências, o estudo da biblioteca norte-americana menciona que um estilo de vida ativo, o gerenciamento de estresse por meio de meditação e técnicas de respiração, além de interação social constante, alimentação saudável e uma mentalidade positiva são pontos a serem considerados. 

É por essa razão que os autores do artigo insistem que esse é um assunto que deve continuar a ser debatido na ciência. Só que a pesquisa reconhece que a exposição do corpo a um ambiente frio tem uma variedade de efeitos sobre o corpo.

Como os banhos de água fria afetam o corpo

De acordo com a NLM, a exposição à água fria é um desafio fisiológico para os sistemas de órgãos. O corpo precisa se adaptar ao ambiente de água fria para manter a temperatura no cérebro e nos órgãos, regulando adequadamente os mecanismos de produção e perda de calor.

>>>> Diante disso, veja alguns efeitos da exposição à água fria no corpo humano: 
<<<< Respostas cardiopulmonares: devido ao choque das baixas temperaturas, a pressão arterial pode aumentar. 

<<<< Termogênese por tremores: aumenta a produção de calor metabólico no corpo por meio de tremores – que são contrações dos músculos para aumentar a temperatura corporal.

<<<< Termogênese sem tremores: o tecido adiposo marrom (gordura subcutânea) é ativado pela liberação de noradrenalina e pela queima de gordura para proteger o corpo como um isolante contra o frio externo.

É importante observar que, de acordo com a pesquisa, todas essas reações corporais podem variar de pessoa para pessoa. Isso se deve a características de gênero, idade, ritmo circadiano, constituição corporal e temperatura da água à qual o organismo específico está exposto.

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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