Combater
o ajuste fiscal para enfrentar a extrema direita
Na
opinião de um brasilianista, Brian Winter, Lula pode se tornar o inimigo
ideal para Trump. Poderia ser a contraparte perfeita, pelo baixo impacto na
economia dos EUA que uma disputa e retaliações ao Brasil teriam. Isso se
reforça por que o Brasil em 2025 ocupa duas posições importantes em temas
centrais da agenda de Trump. Em novembro Belém vai sediar a COP-30, enquanto
Trump nas suas primeiras medidas se retirou novamente do débil acordo de Paris.
Em outro flanco, ainda mais importante, Lula presidirá os Brics em meio as
discussões e tratativas para tentar prescindir do dólar como moeda nas
transações entre os países do bloco.
Abre-se também a questão de como ficam os processos do
oito de janeiro, a prisão dos generais e a inelegibilidade de Bolsonaro, na
media em que Trump perdoou no primeiro dia de governo os invasores do
Capitólio. Para Brian Winfer, "há uma contagem regressiva para o primeiro
tuíte de Trump criticando Lula e ameaçando sanções, a menos que Jair Bolsonaro
seja autorizado a ser candidato em 2026. Porque isso faz parte do acordo com
ele: quando você apoia Trump, como os Bolsonaros fizeram, você recebe esse tipo
de apoio de volta”.
A mesma frase de Trump, de que o Brasil precisa mais
dos EUA do que eles do Brasil, no entanto, também serviu de fundamento para os
que pensam quase o oposto, como os editorialistas do jornal O Estado de São
Paulo, no editorial de 21/01, “Hora de pragmatismo na relação com os EUA”.
Depois de dizer que o Brasil tem que fazer a “lição de casa”, o jornal continua
“para o bem ou para o mal, a América Latina não está entre suas prioridades
geopolíticas. Suas políticas econômicas criam riscos aos emergentes em geral.
Para o Brasil, em particular, não será diferente, mas o impacto tende a ser
comparativamente moderado e pode até vir acompanhado de oportunidades. O maior
desafio é doméstico: evitar que vulnerabilidades econômicas e voluntarismos
políticos potencializem esses riscos e desperdicem essas oportunidades.”
Podemos especular sobre os próximos passos de um governo
Trump, o que pode ser perigoso é exagerar sua força. Apesar da maioria
republicana nas duas casas está ainda atravessado por divisões justamente sobre
qual caminho priorizar e ainda terá que se enfrentar com os movimentos de
juventude e de greves que vieram num crescente nos últimos anos e especialmente
na oposição ao genocidio sionista patrocinado pelos EUA. O que se pode ter
certeza é do o aumento da pressão dos EUA sobre seus aliados e inimigos na
afirmação dos interesses imperialistas dos EUA de suas empresas e bancos com,
inclusive, a ameaça do uso da força contra um país aliado, como o Panamá, se
assim quiser o amo do norte.
O ano mal começou e os jornais já largaram a campanha
pelo aprofundamento do ajuste fiscal em 2025 exibindo a projeção do aumento da
dívida pública como a grande ameaça a ser atacada. Está aí a “lição de casa”
que os bons serviçais se apressam em apresentar para a nova administração da
Casa Branca. A conta não fecha, dizem, e os juros tendem a aumentar, o que vai
fazer aumentar a dívida. Aparentemente, a conclusão é que sem o retorno de
condições analagos a escravidão para a maioria da população, seria impossivel
equelibrar juros, cambio e divida, satisfazendo os investidores estrangeiros.
Eles sempre foram vorazes e com Trump, virão mais sedentos. Tio Sam aplaude.
A tática de ajoelhar para o mercado e se aliar ao
centrão de direita e extrema direita que até ontem era bolsonarista tende a não
render sequer os miseráveis frutos eleitorais de 2022. A “crise do PIX” foi um
sinal da fragilidade da coalizão frente amplista com a eleição de Trump. Uma
medida de baixo impacto, que poderia nem ser notada, foi transformada numa fake
news que abalou a confiança do governo e projetou um boçal como Nikolas
Ferreira na nova figurinha da moda para a extrema direita. Não se trata
simplesmente de uma falha de comunicação por mais que Lula reclame, mas da
dinâmica de classe e da aposta política dessa estranha aliança entre os
golpistas e golpeados de 2016, debilitada pela derrota de Biden. O episódio
revela a continuidade da crise orgânica e de legitimidade que persistem.
A única aposta forte do governo nesse momento é se
entrincheirar na retórica da luta contra a extrema direita… em 2026. Até lá
“agir pragmaticamente”, convergir com o Estadão, com o centrão, com o STF, além
de um longo etc que inclui Tarcísio e outros, e fazer a “lição de casa”, ou
seja, baratear a mão de obra, atacar direitos sociais e buscar os investimentos
dos EUA e da China. A estratégia da frente ampla coloca a classe trabalhadora
num jogo de perde-perde, entrega direitos e perde as eleições, como pode-se
resumir o resultado do ano de 2024 e o significado da “crise do Pix”, que abriu
o ano político de 2025 na semana anterior à posse de Trump, bem antes do
carnaval.
Os argumentos e a covardia política descem ao nível dos
tempos em que vivemos. Façamos nós tudo o que o “mercado” quer da extrema
direita e talvez assim a dita esquerda talvez fique no governo. Não é difícil
ver que esse caminho não trará bons frutos. Difícil é o trabalho de
reorganização da juventude e da classe trabalhadora que temos pela frente, na
difícil e tortuosa experiência com o governo Lula/Alckmin e na luta contra a
extrema-direita. Mãos à obra.
¨ Grande
mídia começa o ano exigindo mais ajuste fiscal
O ano de 2025 começa com a posse de Donald Trump como
um fato político, o que acarretou a imprensa brasileira especular quais seriam
os impactos na economia. É possível nos depararmos com diferentes análises, mas
há um aspecto fundamental que elas convergem: a defesa de maior ajuste fiscal
sobre as costas dos trabalhadores. Os fatos da política nacional não tratam-se
de fatos políticos jogados ao vento, na verdade, expressam a política econômica
de sujeição à extrema-direita e cooperação com o imperialismo, o que em síntese
significa respeito à dívida pública e mais ajuste sobre a população.
Dado isso, a grande mídia, a exemplo do editorial do
Estadão, que o governo brasileiro precisa “fazer a lição de casa” o cenário da
política fiscal encontra-se insustentável. Isso significa, para eles, que com
as expectativas de instabilidades em relação ao dólar e política geopolítica
com os EUA, os juros tendem a aumentar e é preciso haver um controle para que
seja possível pagar a dívida pública, alegando que não há orçamento para tal.
Disso, lê-se aumentar o ajuste fiscal, como ataques como o do salário mínimo,
que recaem sobre as costas da nossa classe para pagar a dívida fraudulenta que
eles criaram, os capitalistas, e não nós.
Fica claro que essa é a política do governo Lula a
partir da declaração do ministério da Fazenda, Fernando Haddad, sobre estar
preocupado com a evolução da dívida pública e como cumprí-la. Visando esse
objetivo, e também como meio de cumprir o Arcabouço Fiscal para tal, o governo
anunciou um pacote de cortes obrigatórios estimados em 70 bilhões para os
próximos dois anos. Dentre tais cortes encontram-se o abono salarial e o
reajuste do salário mínimo e para tentar equilibrar tais cortes - aqui lê-se
tentar conter a insatisfação dos trabalhadores e possíveis instabilidades
sociais ao governo - houve um aumento da faixa de isenção do imposto de renda
(até salário de cinco mil reais). Além disso, houve um corte no BPC (Benefício
de Prestação Continuada) que é um benefício que atende uma parcela vulnerável da
população, idosos e deficientes; ainda houve maiores restrições e burocracias
para receber o Bolsa Família. E ainda, a promoção de benefícios como é o caso
da bolsa estudantil Pé de Meia carrega contradições, esta é envolta por uma
produtividade alta e atende apenas estudantes com notas superiores a 650 no
ENEM, excluindo a juventude mais precária.
Ou seja, está bem evidente que a consequência desse
ajuste fiscal e do “fazer a lição de casa” que os economistas defendem é
baratear a mão de obra brasileira e atacar os direitos e gastos sociais e
estreitar as relações geopolíticas com os centros do imperialismo, como EUA e
China. Aqui também lê-se o país que financia genocídios como é o caso do
interminável genocídio palestino ou operações militares como é o caso do Haiti.
Trata-se da posse que teve um discurso clássico da extrema-direita, saudando o
imperialismo e atacando imigrantes e LGBTs.
Com isso, temos que essa política de ajuste fiscal
significa um estreitamento dos laços do governo de Lula com a política
econômica do centrão, extrema-direita e imperialismo, a qual coloca a classe
trabalhadora num jogo de perder direitos e ser entregue à precarização para que
essa dívida seja paga. Isso coloca a necessidade de pensarmos a reorganização
dos trabalhadores e juventude para se enfrentar a política de morte e
precarização da extrema-direita sob o mundo.
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Prévia da inflação
desacelera e fica em 0,11% em janeiro, diz IBGE
O Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), também conhecido como prévia da
inflação oficial, marcou em janeiro 0,11%, uma desaceleração em relação ao
registrado em dezembro de 2024 (0,34%).
Esse resultado é o
menor para um mês desde julho de 2023, quando houve inflação negativa de 0,07%.
É também o menor para um mês de janeiro em todo o Plano Real, iniciado em 1994.
Em janeiro de 2024, o IPCA-15 registrou 0,31%.
Dados foram
divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). No acumulado dos últimos doze meses, o IPCA-15 soma 4,5%,
exatamente no limite máximo da meta de inflação do governo. Em dezembro, esse
acumulado era 4,71%.
A desaceleração de
janeiro significa que a inflação perdeu força, isto é, os preços subiram em
média, porém em menor velocidade. Os preços dos alimentos e das passagens
aéreas exerceram pressão de alta no IPCA-15. Por outro lado, o custo da
habitação recuou, puxado por queda na conta de luz.
<><> Pressão
de alimentos
Oito dos nove
grupos pesquisados pelo IBGE apresentaram alta. As maiores influência vieram de
alimentos e bebidas, que subiram 1,06%, representando peso de 0,23 ponto
percentual (p.p.) no índice. O efeito dos alimentos na inflação tem motivado discussões
no governo.
Dentro do grupo dos
alimentos, os itens que pressionaram a inflação para cima foram a refeição
(0,96% e peso de 0,04 p.p.), o café moído (7,07% e peso de 0,03 p.p.) e o
tomate, que subiu 17,12%, representando peso de 0,03 p.p.
Os transportes
foram o segundo grupo com maior pressão no custo de vida, com expansão de 1,01%
e peso de 0,21 p.p.
<><> Alívio
na luz
O único grupo com
taxa negativa foi a habitação, com queda de 3,43% e peso de -0,52 p.p. A
explicação está na energia elétrica, que regrediu 15,46%, beneficiada pelo
Bônus de Itaipu, um desconto na conta de luz dos consumidores. Essa variação
significou diminuição de 0,6 p.p. na prévia da inflação.
Determinado em lei,
o bônus é uma forma de distribuir com a sociedade os lucros da empresa estatal
responsável por geração de energia.
<><> Transportes
Em termos
individuais, a maior alta de toda a inflação ficou com as passagens aéreas, que
subiram 10,25% no mês, impactando o IPCA-15 em 0,08 p.p.
Ainda no grupo
transportes, os combustíveis subiram 0,67%. No mês em que diversas capitais
tiveram reajuste nas tarifas rodoviárias, o subitem ônibus urbano apresentou
variação de 0,46%.
<><> Meta
A diferença do IPCA
15 para o chamado IPCA fechado é o período de apuração de preços e a
abrangência. A prévia pesquisou valores no período de 13 de dezembro de 2024 a
14 de janeiro de 2025, em 11 localidades, sendo nove regiões metropolitanas.
Já o IPCA fechado
trará dados de 16 localidades e em datas dentro do mês de referência somente.
Ambos os índices levam em conta o custo de vida de famílias com renda até 40
salários mínimos. Atualmente o salário mínimo é de R$ 1.518.
O IPCA fechado será
divulgado no dia 11 de fevereiro. É com base nele que o Banco Central monitora
a meta de inflação. Para 2025, o objetivo é 3%, com tolerância de 1,5 ponto
percentual para mais ou para menos. Em 2024, o país, terminou com o IPCA de
4,83%, acima
da meta,
que também tinha limite em 4,5%.
A partir deste ano,
a perseguição da meta se dá em relação aos 12 meses imediatamente passados e
não apenas no resultado final de dezembro. A meta só será considerada
descumprida se estourar o intervalo de tolerância por seis meses seguidos.
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Déficit das contas
externas soma US$ 56 bi em 2024, segundo BC
As contas externas
do país registraram saldo negativo em 2024, chegando a US$ 55,966 bilhões,
informou nesta sexta-feira (24), em Brasília, o Banco Central (BC). O valor
representa 2,55% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e serviços
produzidos no país). Em 2023, o déficit foi de US$ 24,516 milhões (1,12% do
PIB) nas transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e
serviços e transferências de renda com outros países.
“De modo geral, o
que motivou foi o aumento da demanda por bens e serviços do exterior, o que
pode ser visto nos dados da balança comercial e na conta de serviços”, explicou
o chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do BC, Renato Baldini.
A piora na
comparação interanual é resultado da queda de US$ 26,1 bilhões no superávit
comercial, em razão, principalmente, do aumento das importações. Também
contribuiu para o saldo negativo nas transações correntes o aumento no déficit
em serviços, em US$ 9,8 bilhões. Os resultados foram compensados parcialmente
pela redução de US$ 4,1 bilhões no déficit de renda primária (pagamento de
juros e lucros e dividendos de empresas) e pelo aumento no superávit de renda
secundária, US$ 367 milhões.
Segundo o Banco
Central, as transações correntes têm cenário bastante robusto e vinham com
tendência de redução no déficit, que se inverteu a partir de março de 2024 com
a expansão da demanda interna. Ainda assim, o déficit externo está financiado
por capitais de longo prazo, principalmente pelos investimentos diretos no
país, que têm fluxos de boa qualidade e estoque recorde de US$ 1,5 trilhão.
Os resultados do
ano passado foram divulgados pelo BC com a consolidação dos dados de dezembro
de 2024, quando as transações correntes tiveram resultado negativo de US$ 9,033
bilhões, ante déficit de US$ 5,587 bilhões em dezembro de 2023.
<><> Balança
comercial e serviços
No ano, as
exportações de bens totalizaram US$ 339,847 bilhões, uma redução de 1,2% em
relação a 2023. Enquanto isso, as importações somaram US$ 273,629 bilhões, com
elevação de 8,8% na comparação interanual. Com os resultados, a balança
comercial fechou com superávit de US$ 66,218 bilhões no ano passado, ante o
saldo positivo de US$ 92,275 bilhões em 2023.
O déficit na conta
de serviços – viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e
seguros, entre outros – somou US$ 49,707 bilhões em 2024, aumento de 24,7% em
comparação com 2023.
Segundo o BC, há
crescimento na corrente de comércio de serviços, com diversificação na conta.
Na comparação interanual, uma das maiores altas – de 58% – foi no déficit em
serviços de propriedade intelectual, ligados a serviços de streaming e venda de
softwares, totalizando US$ 8,683 bilhões. Serviços de telecomunicação,
computação e informações, também puxados por operações por plataformas
digitais, chegaram a US$ 7,158 bilhões.
Outro destaque são
as despesas líquidas com transportes, que somaram a US$ 15,057 bilhões,
resultado dos aumentos na corrente de comércio e no preço dos fretes.
No caso das viagens
internacionais, em 2024, o déficit na conta fechou em US$ 7,484 bilhões,
resultado de US$ 7,341 bilhões nas receitas (que são os gastos de estrangeiros
em viagem ao Brasil) e de US$ 14,825 bilhões nas despesas de brasileiros no
exterior.
Segundo Baldini, a
receita de viagens – de gastos de turistas no país – em 2024 é o recorde da
série histórica iniciada em 1995. Já as despesas foram as maiores desde 2019,
quando os brasileiros gastaram US$ 17,6 bilhões em viagens fora do país.
<><> Rendas
Em 2024, o déficit
em renda primária – lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários –
chegou a US$ 75,403 bilhões, 5,1% abaixo do registrado em 2023. Normalmente,
essa conta é deficitária, já que há mais investimentos de estrangeiros no
Brasil – e eles remetem os lucros para fora do país – do que de brasileiros no
exterior.
A conta de renda
secundária – gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e
remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens – teve resultado
positivo de US$ 2,925 bilhões no ano passado, contra superávit US$ 2,558
bilhões em 2023.
<><> Financiamento
Os ingressos
líquidos em investimentos diretos no país (IDP) subiram 13,8% na comparação
interanual. O IDP somou US$ 71,070 bilhões (3,24% do PIB) em 2024, ante US$
62,442 bilhões em 2023, resultado de ingressos líquidos de US$ 60,074 bilhões
em participação no capital e de US$ 10,996 bilhões em operações intercompanhia.
Quando o país
registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com
investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do
saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo e
costumam ser investimentos de longo prazo.
No caso dos
investimentos em carteira no mercado doméstico, houve saída líquida de US$
4,287 bilhões em 2024, composta de saídas líquidas de US$ 17,115 bilhões em
ações e fundos de investimentos e ingressos líquidos de US$ 12,827 bilhões em
títulos de dívida.
O estoque de
reservas internacionais atingiu US$ 329,730 bilhões no final de 2024. No final
de 2023, as reservas estavam em US$ 355,034 bilhões.
Fonte: Esquerda
Diário/Agencia Brasi/Jornal GGN
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