Jair de Souza: Sem
trabalho de base não há transformação de verdade
Por
mais que se procure dizer que não, as questões de caráter econômico sempre
foram, são e continuarão sendo o fator determinante para impulsar mudanças
estruturais em uma sociedade ou, por outro lado, para justificar os esforços no
sentido de manutenção do status quo.
Porém,
via de regra, tão somente as classes dominantes e seus representantes teóricos
demonstram ter plena consciência disto. As classes subjugadas, pelo contrário,
costumam carecer de plena compreensão das causas reais de seu estado de penúria
e suas dificuldades para levar adiante uma vida digna.
E o
grande confronto que as forças populares devem travar para almejar ter êxito em
sua luta por efetivar transformações nas bases de um sistema como o capitalista
está relacionado com o enigma de como coadunar os embates diretamente
relacionados com pautas de cunho socioeconômico com aquelas de outra índole,
com as quais os exploradores tratam de manipular os subjugados.
Todo
revolucionário com um mínimo de embasamento teórico tem plena consciência de
que as tais pautas ditas morais são meras enganações, que visam ludibriar as
massas populares. Mas, deveríamos por isso fugir das mesmas e centrar fogo tão
somente naquilo que consideramos representar as questões que, de verdade,
merecem ser debatidas? Bem, se isto fosse algo que dependesse tão somente de
nossa própria escolha, não teria nenhuma relutância em responder
afirmativamente.
No
entanto, por mais que nos desagrade, aqueles que detêm a hegemonia econômica de
nosso país sabem muito bem manipular com os preconceitos enraizados na mente de
nossa gente mais espoliada. Por isso, seu objetivo nunca vai ser deixar que
nosso povo possa debater e decidir sobre se lhe é mais ou menos conveniente que
os níveis salariais sejam elevados, que o atendimento médico público seja
ampliado e melhorado, que as escolas funcionem verdadeiramente como entes
formadores de uma cultura liberadora, e outros temas na mesma linha.
É
evidente que para os grandes banqueiros, para os rentistas especuladores em
geral, para os senhores do grande capital agroexportador, para os comandantes
das empresas-igrejas que trabalham para a prosperidade e o domínio de seus
próprios donos, para essa gente toda é muito mais conveniente que as massas
populares se digladiem e se matem em função de um imaginário kit-gay, ou de um
hipotético banheiro unissex, ou seja, que empreguem suas energias, e descarreguem
toda sua bronca internalizada contra esse tipo de coisas. O que lhes é
absolutamente inadmissível é que essa fúria e essa frustração sejam
direcionadas contra pontos que ameacem afetar o que é de mais sagrado para
nossas classes dominantes: sua riqueza e o poder e privilégios dela advindos.
A
pergunta que nos acomete de imediato é: como lidar com tal situação em que
impera a desinformação e a falta de consciência. Por mais banal que venha a
soar, a resposta é direta: levar informação e dotar de consciência a nossas
massas populares.
Agora,
a maneira de efetivar esta tarefa aparentemente tão simples é o que vem a ser,
de fato, a questão crucial. Sua consecução exige e depende de um sentido de
luta imbuído de muita paciência, dedicação e persistência, para realizar a
única coisa que ao longo do tempo vem demonstrando ser um remédio quase que
milagroso para dotar as massas de consciência política: dedicar-se de verdade
ao trabalho de base.
Lamentavelmente,
nos últimos anos, aquilo que era uma consagrada tradição das forças de
esquerda, passou a ser muito mais uma característica da extrema direita de
cunho nazifascista. E antes de avançar na explicação, é preciso que deixemos
sempre evidente que, em política, o termo “esquerda” se relaciona com os
interesses das maiorias trabalhadoras, ao passo que “direita” tem a ver com os
das classes dominantes. Estes são e sempre foram os significados
histórico-etimológicos destas expressões.
A
partir da chegada de Lula ao governo em 2003, o PT e muitas outras organizações
políticas da base popular se afastaram do contato diuturno com as maiorias
populares em seus locais de moradia e trabalho para se dedicarem com mais
prioridade à luta institucional. Porém, como no universo político não há vácuo
de longa duração, os espaços abandonados foram rapidamente ocupados por outras
forças de sinal inverso. Foi assim que a extrema direita mais fascista e
reacionária imaginável passou a fazer parte do cotidiano de nossas populações
mais carentes através de igrejas-empresas de orientação neopentecostal que se
autodenominam cristãs.
Com a
experiência de mais de três dezenas de anos no trabalho educacional junto a
comunidades de nossas periferias, sinto-me impelido a dizer que sem o trabalho
de base realizado pelas igrejas-empresas neopentecostais o fascismo brasileiro
jamais teria significado nada que pudesse representar um sério risco de
completa fascistização de nosso país. Ouso dizer que a versão do fascismo
predominante por aqui, o bolsonarismo, seria nada mais do que uma mera peculiaridade,
de patetas e para patetas, se não fosse pelo trabalho de base empreendido pelas
células orgânicas do verdadeiro partido do fascismo em nosso país.
Tradicionalmente,
por aqui e por todo lado, era a Igreja Católica a principal responsável por
levar adiante este trabalho político de domesticação das massas populares em
favor dos interesses das classes dominantes. Foi assim até a entrada em cena
dos adeptos da Teologia da Libertação, que decidiram tomar as lições dos
Evangelhos e fazê-las coincidir com as aspirações de solidariedade e amparo aos
mais necessitados com as quais a figura de Jesus sempre foi vista e sentida
pelo conjunto de nossa população.
Como é
sobejamente sabido, essa ousadia não foi tolerada por muito tempo. Uma das
primeiras medidas tomadas por Carol Woytila ao assumir o papado foi exterminar
da Igreja Católica a Teologia da Libertação. Assim, com a severa perseguição
desatada contra essa corrente popular do catolicismo e com a ausência da
militância política de esquerda, as massas de nossas periferias ficaram
inteiramente à mercê da nova ferramenta que o grande capital havia engendrado
para salvaguardar seus interesses, em outras palavras, entramos na era da
hegemonia das igrejas neopentecostais junto aos mais necessitados de nossos compatriotas.
É
claro que enfrentamos também o flagelo das redes digitais e seus algoritmos
pró-grande capital, mas, para se impor, estes também dependem muito do trabalho
político efetivo executado pelos agentes do neopentecostalismo junto as bases
populares. É no contato pessoal com os agentes neopentecostais a serviço do
grande capital que boa parte de nosso povo se deixa levar por aquelas campanhas
de desinformação e deturpação disseminadas pelas redes digitais. Assim, ao
neutralizar ou reduzir o peso da influência neopentecostal, em consequência, o
poder de convencimento das mentiras espalhadas pelas redes também sofreria um
baque significativo.
O
recente caso da monstruosa campanha desatada para desgastar Lula e seu governo
com o invento da iminente taxação do pix pode servir como ilustração da
importância de estar junto das massas e poder dialogar com elas a todo momento.
Tratava-se de uma portaria que atingiria única e exclusivamente a bandidagem
que opera atividades criminosas e recorre ao pix como forma de evitar
rastreamento de seus crimes. Havia uma ameaça real aos interesses econômicos
das máfias envolvidas. Por isso, elas se puseram em movimento e lançaram uma
campanha insidiosa a respeito da questão.
A
boataria infernal e criminosa só ganhou terreno porque as forças ligadas ao
governo de Lula não estavam no seio do povo no momento em que as mentiras
começaram a circular. Porém, por sua vez, os agentes das igrejas-empresa
neopentecostais, sim, estavam, e referendavam os conteúdos falsos disseminados.
Ao ordenar a retirada da portaria sobre a questão, o governo acabou dando ares
de verdade às monstruosas invenções direitistas.
Infelizmente,
o excelente vídeo da deputada Erika Hilton, que desmontava a farsa por
completo, só apareceu depois que os estragos já haviam sido causados. Se a
militância de esquerda não tivesse quase que desaparecido das bases, a boataria
não teria ganhado tal proporção, assim como as respostas do tipo Erika Hilton
teriam surgido de imediato e de várias fontes.
Fazendo
uma síntese do que estamos tentando elucidar, os partidos de esquerda, suas
organizações e seus militantes precisam voltar a estar participando do dia a
dia da luta de nosso povo. Esta é a simples receita que pode vir a ser decisiva
para que consigamos avançar no rumo da construção de uma sociedade mais justa e
solidária. E isto significa que nossas prioridades devem ser exatamente as
questões socioeconômicas que tornam essa melhoria possível. Mas, não adianta
conseguir os ganhos e transpassá-los ao povo. É de fundamental importância que
o povo sinta e compreenda que estas conquistas dependem e só podem ser
alcançadas com seu engajamento ativo nas lutas pelas mesmas. Isto quer dizer
que o povo precisa ser educado politicamente e, para tal, nossa presença junto
a ele no trabalho de base é INDISPENSÁVEL.
¨ Lula deve
ouvir chamado de Claudia Sheinbaum. Por Paulo Moreira Leite
Numa
conjuntura marcada pela barbárie imperialista do governo Trump, até agora
recebida com o silêncio temeroso da maioria dos países da América Central e do
Sul, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, teve uma reação clara e direta.
Anunciou
que pretende convidar o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para
uma conversa sobre a situação. A iniciativa merece aplausos imediatos e demorados.
Num
país cuja diplomacia parecia ter modificado a própria bússola histórica,
abandonando a prioridade latino-americana que chegou a marcar tantos momentos
de um passado nem tão distante assim por uma submissãoe sem disfarces aos
apelos e promessas vãs da potência imperial instalada do lado de lá do Rio
Grande, o movimento de Sheinbaum constitui um gesto necessário na direção
oposta. Mostra uma presidente capaz de entender a gravidade de uma nova
situação e procurar respostas a ela.
O
gesto pode abrir um caminho de lucidez e solidariedade mútua no Continente, num
primeiro passo para modificar uma conjuntura que anuncia imensas dificuldades e
nenhuma esperança realista -- pelo menos enquanto o trumpismo estiver a frente
da principal força economica, política e militar do planeta. .
Com
uma historia diplomática respeitada pela competência e capacidade de realizar
movimentos compatíveis com interesses e necessidades de seus povos países,
brasileiros e mexicanos só tem a ganhar com uma aproximação que pode enfrentar
dificuldades como toda ação diplomática -- mas é benvinda, necessária e
urgente.
Demonstra
que o destino dos povos e países que habitam as áreas menos prósperas da
civilização do século XXI, não está traçado com antecedência nem pode ser
esculpido pela truculência trumpista, caminho inevitável para a barbárie e
dominação de povos e países.
Alguma
dúvida?
¨ Gleisi:
'Estadão é comitê permanente de campanha contra Lula e o PT'
A presidente do PT, a
deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o jornal Estado de S. Paulo tornou-se um “comitê
permanente de campanha” contra o presidente Lula (PT) e seu partido. Um dos
alvos dos editoriais do jornal nesta quinta-feira (23) foi a iniciativa do
governo de adotar medidas para baratear o custo dos alimentos para a população
brasileira.
“Os editoriais do Estadão
são um comitê permanente de campanha contra Lula e o PT, desde que entraram na
cena política do país; sempre atacando, quase sempre ofendendo e muitas vezes
mentindo, como no texto desta quinta-feira. Mas quem já escreveu que era ‘uma
escolha difícil’ votar em Bolsonaro ou no candidato do PT, Fernando Haddad, em
2018, não tem autoridade para duvidar dos compromissos democráticos de Lula e
do nosso partido. Lula tem razão: a campanha eleitoral da oposição de
extrema-direita já começou, inclusive nos editoriais do Estadão”, publicou
Gleisi nas redes sociais.
“Bastou o presidente Lula avisar que botar comida
na mesa do povo trabalhador é prioridade do governo e a reação contrária
começou. Baixar o preço dos alimentos é realmente um desafio, especialmente num
país em que as políticas de abastecimento e estocagem foram destruídas, a
distribuição de combustíveis para o transporte foi criminosamente privatizada,
os cartéis cresceram sem controle e os grandes agropecuaristas vivem em Miami e
fazem negócios na Bolsa de Chicago. Mas as mentiras e ataques que vemos na
mídia e na oposição bolsonarista comprovam que Lula está certo: o governo
precisa melhorar é a vida do povo”, complementou.
O governo federal está
analisando um conjunto de propostas para conter a inflação e reduzir os custos
para os consumidores, incluindo medidas que podem impactar tanto o mercado de
alimentos quanto o setor farmacêutico. Uma das ideias apresentadas é permitir a
venda de medicamentos sem prescrição médica em supermercados.
Em entrevista ao programa
“Bom Dia, Ministro”, Rui Costa (PT), chefe da Casa Civil, afirmou que o governo
está empenhado em encontrar soluções para reduzir o preço dos alimentos.
Costa informou ainda que o
governo pretende dialogar com produtores para identificar alternativas que
possam estimular o mercado e facilitar a queda de preços. No entanto, o
ministro foi cauteloso ao esclarecer que o governo não pretende adotar
intervenções diretas nos preços, mas sim estratégias de
"redirecionamento".
O Estado de S. Paulo, no
entanto, ignorou a advertência de Rui Costa, de que o governo não fará
intervenções diretas nos preços dos alimentos, para trazer à baila o fantasma
da hiperinflação que assolava o Brasil antes do Plano Real. “Ainda há muitos
brasileiros com idade suficiente para lembrar como era o Brasil antes do Plano
Real, que pôs fim à espiral inflacionária a partir de 1994. Naquelas décadas,
experimentou-se de tudo, de estoques reguladores à retenção de exportações,
passando por congelamento de preços e fiscais voluntários que davam voz de
prisão a gerentes de supermercado. Mas os preços, indóceis, teimavam em subir”.
Nenhuma destas medidas,
porém, parecem estar nos planos do governo. Rui Costa destacou que o Planalto
está comprometido em criar políticas que favoreçam o consumidor, mas sem
comprometer a sustentabilidade dos mercados.
Fonte: Brasil 247
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