sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Jair de Souza: Sem trabalho de base não há transformação de verdade

Por mais que se procure dizer que não, as questões de caráter econômico sempre foram, são e continuarão sendo o fator determinante para impulsar mudanças estruturais em uma sociedade ou, por outro lado, para justificar os esforços no sentido de manutenção do status quo.

Porém, via de regra, tão somente as classes dominantes e seus representantes teóricos demonstram ter plena consciência disto. As classes subjugadas, pelo contrário, costumam carecer de plena compreensão das causas reais de seu estado de penúria e suas dificuldades para levar adiante uma vida digna.

E o grande confronto que as forças populares devem travar para almejar ter êxito em sua luta por efetivar transformações nas bases de um sistema como o capitalista está relacionado com o enigma de como coadunar os embates diretamente relacionados com pautas de cunho socioeconômico com aquelas de outra índole, com as quais os exploradores tratam de manipular os subjugados.

Todo revolucionário com um mínimo de embasamento teórico tem plena consciência de que as tais pautas ditas morais são meras enganações, que visam ludibriar as massas populares. Mas, deveríamos por isso fugir das mesmas e centrar fogo tão somente naquilo que consideramos representar as questões que, de verdade, merecem ser debatidas? Bem, se isto fosse algo que dependesse tão somente de nossa própria escolha, não teria nenhuma relutância em responder afirmativamente.

No entanto, por mais que nos desagrade, aqueles que detêm a hegemonia econômica de nosso país sabem muito bem manipular com os preconceitos enraizados na mente de nossa gente mais espoliada. Por isso, seu objetivo nunca vai ser deixar que nosso povo possa debater e decidir sobre se lhe é mais ou menos conveniente que os níveis salariais sejam elevados, que o atendimento médico público seja ampliado e melhorado, que as escolas funcionem verdadeiramente como entes formadores de uma cultura liberadora, e outros temas na mesma linha.

É evidente que para os grandes banqueiros, para os rentistas especuladores em geral, para os senhores do grande capital agroexportador, para os comandantes das empresas-igrejas que trabalham para a prosperidade e o domínio de seus próprios donos, para essa gente toda é muito mais conveniente que as massas populares se digladiem e se matem em função de um imaginário kit-gay, ou de um hipotético banheiro unissex, ou seja, que empreguem suas energias, e descarreguem toda sua bronca internalizada contra esse tipo de coisas. O que lhes é absolutamente inadmissível é que essa fúria e essa frustração sejam direcionadas contra pontos que ameacem afetar o que é de mais sagrado para nossas classes dominantes: sua riqueza e o poder e privilégios dela advindos.

A pergunta que nos acomete de imediato é: como lidar com tal situação em que impera a desinformação e a falta de consciência. Por mais banal que venha a soar, a resposta é direta: levar informação e dotar de consciência a nossas massas populares.

Agora, a maneira de efetivar esta tarefa aparentemente tão simples é o que vem a ser, de fato, a questão crucial. Sua consecução exige e depende de um sentido de luta imbuído de muita paciência, dedicação e persistência, para realizar a única coisa que ao longo do tempo vem demonstrando ser um remédio quase que milagroso para dotar as massas de consciência política: dedicar-se de verdade ao trabalho de base.

Lamentavelmente, nos últimos anos, aquilo que era uma consagrada tradição das forças de esquerda, passou a ser muito mais uma característica da extrema direita de cunho nazifascista. E antes de avançar na explicação, é preciso que deixemos sempre evidente que, em política, o termo “esquerda” se relaciona com os interesses das maiorias trabalhadoras, ao passo que “direita” tem a ver com os das classes dominantes. Estes são e sempre foram os significados histórico-etimológicos destas expressões.

A partir da chegada de Lula ao governo em 2003, o PT e muitas outras organizações políticas da base popular se afastaram do contato diuturno com as maiorias populares em seus locais de moradia e trabalho para se dedicarem com mais prioridade à luta institucional. Porém, como no universo político não há vácuo de longa duração, os espaços abandonados foram rapidamente ocupados por outras forças de sinal inverso. Foi assim que a extrema direita mais fascista e reacionária imaginável passou a fazer parte do cotidiano de nossas populações mais carentes através de igrejas-empresas de orientação neopentecostal que se autodenominam cristãs.

Com a experiência de mais de três dezenas de anos no trabalho educacional junto a comunidades de nossas periferias, sinto-me impelido a dizer que sem o trabalho de base realizado pelas igrejas-empresas neopentecostais o fascismo brasileiro jamais teria significado nada que pudesse representar um sério risco de completa fascistização de nosso país. Ouso dizer que a versão do fascismo predominante por aqui, o bolsonarismo, seria nada mais do que uma mera peculiaridade, de patetas e para patetas, se não fosse pelo trabalho de base empreendido pelas células orgânicas do verdadeiro partido do fascismo em nosso país.

Tradicionalmente, por aqui e por todo lado, era a Igreja Católica a principal responsável por levar adiante este trabalho político de domesticação das massas populares em favor dos interesses das classes dominantes. Foi assim até a entrada em cena dos adeptos da Teologia da Libertação, que decidiram tomar as lições dos Evangelhos e fazê-las coincidir com as aspirações de solidariedade e amparo aos mais necessitados com as quais a figura de Jesus sempre foi vista e sentida pelo conjunto de nossa população.

Como é sobejamente sabido, essa ousadia não foi tolerada por muito tempo. Uma das primeiras medidas tomadas por Carol Woytila ao assumir o papado foi exterminar da Igreja Católica a Teologia da Libertação. Assim, com a severa perseguição desatada contra essa corrente popular do catolicismo e com a ausência da militância política de esquerda, as massas de nossas periferias ficaram inteiramente à mercê da nova ferramenta que o grande capital havia engendrado para salvaguardar seus interesses, em outras palavras, entramos na era da hegemonia das igrejas neopentecostais junto aos mais necessitados de nossos compatriotas.

É claro que enfrentamos também o flagelo das redes digitais e seus algoritmos pró-grande capital, mas, para se impor, estes também dependem muito do trabalho político efetivo executado pelos agentes do neopentecostalismo junto as bases populares. É no contato pessoal com os agentes neopentecostais a serviço do grande capital que boa parte de nosso povo se deixa levar por aquelas campanhas de desinformação e deturpação disseminadas pelas redes digitais. Assim, ao neutralizar ou reduzir o peso da influência neopentecostal, em consequência, o poder de convencimento das mentiras espalhadas pelas redes também sofreria um baque significativo.

O recente caso da monstruosa campanha desatada para desgastar Lula e seu governo com o invento da iminente taxação do pix pode servir como ilustração da importância de estar junto das massas e poder dialogar com elas a todo momento. Tratava-se de uma portaria que atingiria única e exclusivamente a bandidagem que opera atividades criminosas e recorre ao pix como forma de evitar rastreamento de seus crimes. Havia uma ameaça real aos interesses econômicos das máfias envolvidas. Por isso, elas se puseram em movimento e lançaram uma campanha insidiosa a respeito da questão.

A boataria infernal e criminosa só ganhou terreno porque as forças ligadas ao governo de Lula não estavam no seio do povo no momento em que as mentiras começaram a circular. Porém, por sua vez, os agentes das igrejas-empresa neopentecostais, sim, estavam, e referendavam os conteúdos falsos disseminados. Ao ordenar a retirada da portaria sobre a questão, o governo acabou dando ares de verdade às monstruosas invenções direitistas.

Infelizmente, o excelente vídeo da deputada Erika Hilton, que desmontava a farsa por completo, só apareceu depois que os estragos já haviam sido causados. Se a militância de esquerda não tivesse quase que desaparecido das bases, a boataria não teria ganhado tal proporção, assim como as respostas do tipo Erika Hilton teriam surgido de imediato e de várias fontes.

Fazendo uma síntese do que estamos tentando elucidar, os partidos de esquerda, suas organizações e seus militantes precisam voltar a estar participando do dia a dia da luta de nosso povo. Esta é a simples receita que pode vir a ser decisiva para que consigamos avançar no rumo da construção de uma sociedade mais justa e solidária. E isto significa que nossas prioridades devem ser exatamente as questões socioeconômicas que tornam essa melhoria possível. Mas, não adianta conseguir os ganhos e transpassá-los ao povo. É de fundamental importância que o povo sinta e compreenda que estas conquistas dependem e só podem ser alcançadas com seu engajamento ativo nas lutas pelas mesmas. Isto quer dizer que o povo precisa ser educado politicamente e, para tal, nossa presença junto a ele no trabalho de base é INDISPENSÁVEL.

 

¨      Lula deve ouvir chamado de Claudia Sheinbaum. Por Paulo Moreira Leite

Numa conjuntura marcada pela barbárie imperialista do governo Trump, até agora recebida com o silêncio temeroso da maioria dos países da América Central e do Sul, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, teve uma reação clara e direta.

Anunciou que pretende convidar o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para uma conversa sobre a situação. A iniciativa merece aplausos imediatos e demorados.

Num país cuja diplomacia parecia ter modificado a própria bússola histórica, abandonando a prioridade latino-americana que chegou a marcar tantos momentos de um passado nem tão distante assim por uma submissãoe sem disfarces aos apelos e promessas vãs da potência imperial instalada do lado de lá do Rio Grande, o movimento de Sheinbaum constitui um gesto necessário na direção oposta. Mostra uma presidente capaz de entender a gravidade de uma nova situação e procurar respostas a ela.

O gesto pode abrir um caminho de lucidez e solidariedade mútua no Continente, num primeiro passo para modificar uma conjuntura que anuncia imensas dificuldades e nenhuma esperança realista -- pelo menos enquanto o trumpismo estiver a frente da principal força economica, política e militar do planeta. .

Com uma historia diplomática respeitada pela competência e capacidade de realizar movimentos compatíveis com interesses e necessidades de seus povos países, brasileiros e mexicanos só tem a ganhar com uma aproximação que pode enfrentar dificuldades como toda ação diplomática -- mas é benvinda, necessária e urgente.

Demonstra que o destino dos povos e países que habitam as áreas menos prósperas da civilização do século XXI, não está traçado com antecedência nem pode ser esculpido pela truculência trumpista, caminho inevitável para a barbárie e dominação de povos e países.

Alguma dúvida?

 

¨      Gleisi: 'Estadão é comitê permanente de campanha contra Lula e o PT'

A presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o jornal Estado de S. Paulo tornou-se um “comitê permanente de campanha” contra o presidente Lula (PT) e seu partido. Um dos alvos dos editoriais do jornal nesta quinta-feira (23) foi a iniciativa do governo de adotar medidas para baratear o custo dos alimentos para a população brasileira.

“Os editoriais do Estadão são um comitê permanente de campanha contra Lula e o PT, desde que entraram na cena política do país; sempre atacando, quase sempre ofendendo e muitas vezes mentindo, como no texto desta quinta-feira. Mas quem já escreveu que era ‘uma escolha difícil’ votar em Bolsonaro ou no candidato do PT, Fernando Haddad, em 2018, não tem autoridade para duvidar dos compromissos democráticos de Lula e do nosso partido. Lula tem razão: a campanha eleitoral da oposição de extrema-direita já começou, inclusive nos editoriais do Estadão”, publicou Gleisi nas redes sociais.

 “Bastou o presidente Lula avisar que botar comida na mesa do povo trabalhador é prioridade do governo e a reação contrária começou. Baixar o preço dos alimentos é realmente um desafio, especialmente num país em que as políticas de abastecimento e estocagem foram destruídas, a distribuição de combustíveis para o transporte foi criminosamente privatizada, os cartéis cresceram sem controle e os grandes agropecuaristas vivem em Miami e fazem negócios na Bolsa de Chicago. Mas as mentiras e ataques que vemos na mídia e na oposição bolsonarista comprovam que Lula está certo: o governo precisa melhorar é a vida do povo”, complementou.

O governo federal está analisando um conjunto de propostas para conter a inflação e reduzir os custos para os consumidores, incluindo medidas que podem impactar tanto o mercado de alimentos quanto o setor farmacêutico. Uma das ideias apresentadas é permitir a venda de medicamentos sem prescrição médica em supermercados.

Em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro”, Rui Costa (PT), chefe da Casa Civil, afirmou que o governo está empenhado em encontrar soluções para reduzir o preço dos alimentos.

Costa informou ainda que o governo pretende dialogar com produtores para identificar alternativas que possam estimular o mercado e facilitar a queda de preços. No entanto, o ministro foi cauteloso ao esclarecer que o governo não pretende adotar intervenções diretas nos preços, mas sim estratégias de "redirecionamento". 

O Estado de S. Paulo, no entanto, ignorou a advertência de Rui Costa, de que o governo não fará intervenções diretas nos preços dos alimentos, para trazer à baila o fantasma da hiperinflação que assolava o Brasil antes do Plano Real. “Ainda há muitos brasileiros com idade suficiente para lembrar como era o Brasil antes do Plano Real, que pôs fim à espiral inflacionária a partir de 1994. Naquelas décadas, experimentou-se de tudo, de estoques reguladores à retenção de exportações, passando por congelamento de preços e fiscais voluntários que davam voz de prisão a gerentes de supermercado. Mas os preços, indóceis, teimavam em subir”.

Nenhuma destas medidas, porém, parecem estar nos planos do governo. Rui Costa destacou que o Planalto está comprometido em criar políticas que favoreçam o consumidor, mas sem comprometer a sustentabilidade dos mercados.

 

Fonte: Brasil 247

 

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