sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Antônio Augusto Queiroz: A tática de extrema direita para conquistar o poder

A tática de extrema-direita para criar instabilidade e deslegitimar governos, autoridades e instituições tem se mostrado um fenômeno preocupante no cenário político atual, tanto no Brasil quanto em diversas partes do mundo. Este artigo busca explorar os métodos e os efeitos dessa estratégia, que tem como objetivo central minar a confiança das populações em regimes democráticos e em seus representantes.

A base dessa tática é a utilização massiva de desinformação, incluindo fake news, ilações sem fundamento e narrativas manipuladoras. Essas ferramentas são disseminadas principalmente por meio das redes sociais, que se tornaram o palco principal para a difusão de mensagens que exploram medos e inseguranças, especialmente entre as camadas mais vulneráveis da sociedade. O impacto é profundo: cria-se um ambiente de desconfiança e hostilidade, onde as instituições democráticas passam a ser vistas como ineficazes ou corruptas, e os líderes eleitos, como incompetentes ou coniventes com esquemas de poder.

Os movimentos de extrema-direita se valem de narrativas que apelam para os instintos mais primitivos do ser humano, como a raiva, o medo e a busca por certezas. Essas emoções são estrategicamente manipuladas para criar um sentimento de urgência e uma percepção equivocada de ameaça constante. Nesse contexto, a verdade é relegada a um plano secundário, enquanto as convicções pessoais, crenças e dogmas ganham status de realidade inquestionável.

É importante destacar que essas narrativas não surgem de maneira espontânea. Elas são meticulosamente planejadas e disseminadas por líderes e grupos que almejam consolidar poder à custa da fragmentação social. Esses atores perseguem a fama e utilizam armadilhas discursivas para desacreditar seus adversários políticos e institucionais. Por meio de discursos inflamados e acusações infundadas, eles provocam atritos e alimentam a polarização, dificultando o diálogo e o consenso.

Um dos principais efeitos dessa estratégia é o enfraquecimento da democracia. Quando as instituições públicas são constantemente atacadas e suas ações são questionadas sem bases sólidas, cria-se um vácuo de liderança e governança que pode ser explorado por movimentos autoritários. Além disso, a população é levada a acreditar que não há soluções institucionais para os problemas enfrentados, o que fortalece discursos que pregam rupturas institucionais e soluções simplistas.

Para enfrentar essa tática, é fundamental promover a educação midiática, incentivando a população a verificar fontes de informação e a desconfiar de conteúdos que apelam exclusivamente para emoções negativas. Além disso, é necessário fortalecer as instituições democráticas, garantindo transparência em suas ações e promovendo o diálogo entre diferentes segmentos da sociedade.

A democracia é um sistema complexo que exige constante vigilância e aperfeiçoamento. Combatê-la com armas tão desleais quanto a desinformação e o medo é um ataque direto à liberdade e à dignidade humana. Somente por meio do comprometimento com a verdade e com o respeito às diferenças seremos capazes de superar esse desafio e construir sociedades mais justas e democráticas.

No governo do presidente Lula, a Advocacia-Geral da União (AGU) tem se destacado como uma das poucas instituições do Estado que age no combate eficaz a esse mal. Para tanto, implementou o Observatório da Democracia, instituiu a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia, criou o Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia, promoveu seminários sobre regulamentação das redes sociais e combate às fake news, ingressou com ações para punir os atos golpistas e buscar o ressarcimento aos cofres públicos pela destruição de patrimônio, além de exigir das big techs a moderação de conteúdos como forma de prevenir crises e ataques à democracia via redes sociais.

O recente arranjo na comunicação governamental, combinado com as futuras mudanças na composição ministerial, aponta para o caminho certo, isto é, a busca por maior eficiência na gestão e no combate às denúncias infundadas promovidas pela oposição e pela extrema direita brasileira. Contudo, é imprescindível adotar cuidados especiais em relação às investidas dos extremistas, pois há o risco de aprofundamento da perda de credibilidade e de confiança no governo e nas instituições. Isso não apenas pode interromper a trajetória de inclusão social, como também criar uma crise de confiança que comprometa a gestão e resulte em ingovernabilidade.

É de conhecimento geral que crises de confiança e de credibilidade no âmbito político e institucional têm como origem a percepção de descumprimento de promessas, falta de transparência e/ou polarização extrema. As consequências incluem o crescimento do populismo e da desinformação, o aumento da descrença nas autoridades e instituições, bem como o enfraquecimento da percepção de imparcialidade e justiça. Esses cenários precisam ser evitados, uma vez que sua concretização abala os alicerces da democracia e do sistema político.

Por isso, é fundamental que a sociedade civil, a imprensa e outros órgãos do Estado brasileiro se mobilizem nessa luta em defesa da democracia e da verdade. Caso contrário, corre-se o risco de o País ser entregue, pela via eleitoral, a indivíduos sem qualquer compromisso com a democracia, a ciência, os direitos humanos, o meio ambiente, a inclusão social e o respeito às minorias. Este é um compromisso que deve ser assumido por todo cidadão que valorize a dignidade humana e a preservação do planeta.

 

¨      Após Pix, oposição mira Pé-de-Meia em guerra de informação contra Lula nas redes

Após a onda de desinformação com as medidas tomadas pela Receita Federal sobre o Pix, a oposição busca a próxima pauta do governo Lula como mote para ataques à imagem nas redes. Ao atingir o ‘trending topics’ da vez, o programa Pé-de-Meia do governo foi alçado a razões pela oposição para aplicar um impeachment de Lula.

O novo engajamento da oposição ao governo Lula nas redes envolve o programa federal destinado a estudantes do ensino médio público, que, em pouco tempo, já é considerada a maior política de combate à desigualdade pelo alcance de beneficiários.

No programa criado pelo governo em 2024, quase 4 milhões de alunos registrados no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal), que cumprem com 80% da frequência escolar, recebem um auxílio de R$ 200 por mês.

Em decisão tomada nesta quarta-feira (20), o Tribunal de Contas da União (TCU) considerou uma irregularidade o programa social ser financiado sem ter sido colocado nos planos orçamentários da União em 2024. Com base nesse entendimento, o TCU pediu a suspensão dos pagamentos.

Mas apesar de público, o financiamento do novo programa Lula é feito por dois fundos privados: o Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo (FGEDUC) e o Fundo Garantidor de Operações (FGO).

Em recurso judicial ingressado nesta quarta (22), a Advocacia-Geral da União (AGU) esclareceu o erro do entendimento do Tribunal, alegou que “não há qualquer ilegalidade na transferência de tais recursos” e que “o bloqueio das verbas poderá inviabilizar a continuidade do programa social de fundamental importância para a manutenção de alunos em escolas públicas”.

Mas o entendimento do TCU já foi suficiente para a oposição alegar que o governo Lula estaria cometendo um “drible fiscal”, à semelhança da “pedalada fiscal” que foi usado para referendar o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.

“Todos os indícios caminham para configurar uma pedalada fiscal. O Congresso precisa cumprir seu dever constitucional neste caso”, escreveu Damares Alves (Republicanos-DF), de forma oportunia.

Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Damares Alves (Republicanos-DF), Kim Kataguiri (União Brasil-SP), entre outros bolsonaristas e oposição à Lula dispararam nas redes sociais a comparação e os supostos motivos para um impeachment contra Lula.

“Lula imitou Dilma e pedalou. Agora, seu único destino é o impeachment!”, escreveu o filho de Jair Bolsonaro, que é senador. Kim Kataguiri havia se antecipado e pedido o impeachment ainda na terça-feira (21), quando o TCU iniciava a análise do caso.

Entre terça e quarta-feira, as palavras-chave “pé de meia”, “impeachment lula” e “tcu” estiveram entre as 10 maiores buscas do Google.

Ao contrário do Pix, as respostas do governo federal, desta vez, foram imediatas e o desmentido vem tentando conter a nova tentativa de guerra informacional da oposição.

¨      Para entender o xadrez de Trump com a China

Ex-ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis se destacou por suas opiniões críticas em relação à austeridade fiscal imposta pela União Europeia e pelo FMI, que quase destruíram o país.

Em artigo ao “Project Syndicate”, ele minimiza as ameaças de Donald Trump de aumento tarifários. Diz ele que os líderes chineses interpretam como jogadas políticas simbólicas, e não armas econômicas – mesmo porque, empresas americanas estão entre as grandes beneficiárias da produção chinesa.

O grande dilema chinês é se deve ou não desvincular sua economia do sistema monetário dominado pelo dólar, montando um arranjo tipo Bretton-Woods com os BRICS.

A bola está com os falcões de Trump encarregados de pensar a China.

Tarifas de importação, mais cortes de impostos para grandes corporações e desregulamentação radical aumentarão os lucros e os preços das ações nos EUA. A consequência será aumentar o fluxo de capital estrangeiro para os EUA.

Haverá um aumento do déficit orçamentário e um fortalecimento inicial do dólar, mitigando o efeito negativo das tarifas sobre as exportações chinesas. Mas há um limite, diz Varoufakis, que é a crença dos investidores de que o aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA não ofuscará os índices de ações dos EUA. Aumentará a lacuna entre poupança doméstica e investimento, a causa raiz do déficit comercial dos EUA em relação à China e à Europa.

Varoufakis descreve os problemas de Trump como um “trilema”: como combinar tarifas altas, um dólar mais fraco e manter a hegemonia global do dólar?

Os líderes chineses julgam que Trump tentará com eles o que Ronald Reagan fez com o Japão no Plaza Accord de 1985.

Nos anos 1980, o dólar americano estava extremamente valorizado devido a uma combinação de altas taxas de juros nos EUA e políticas fiscais expansionistas do governo Reagan. Essa valorização tornou as exportações americanas muito caras e pouco competitivas, ao mesmo tempo que incentivava a entrada de importações baratas, ampliando o déficit comercial dos EUA.

Foi fechado um acordo com o Japão e a Alemanha Ocidental. Ambos se comprometeram a valorizar suas moedas em relação ao dólar, barateando as exportações americanas e encarecendo as suas exportações.

Com o acordo, o dólar perdeu 50% de seu valor. A valorização do iene acabou provocando a formação de uma bolha de ativos que explodiu anos depois e a crise financeira continuou nos anos 90.

Obviamente, a China não é o Japão. Na época, havia 55 mil militares dos EUA estacionados no Japão, derrotado na Segunda Guerra Mundial. Além disso, a China já não é mais tão dependente do mercado norte-americano, diversificou, montou cadeias de suprimento próprias, indispensáveis em todo o mundo.

Não há chance, portanto, de um repeteco do Plaza Accord com a China. Mas é possível que aceite uma negociação simbólica com um acordo envolvendo tarifas ligeiramente mais baixas.

O maior impacto será sobre a União Europeia. A recalibração do comércio mundial se dará com os EUA comprando mais do Vietnã e da Índia e a China disparando suas exportações para a Europa e o resto do mundo. Além disso, a valorização do dólar provocará uma transferência de capitais europeus para os Estados Unidos.

O enorme salto tecnológico recente da China foi reação à nova Guerra Fria produzida por Trump em seu primeiro mandato e intensificada por Joe Biden.

O risco maior será se os falcões pressionaram o governo Trump a impor sanções financeiras à China, como foram impostas à Rússia. A defesa da China será acelerar a moeda única dos BRIC. tendo o superávit comercial chinês como seu suporte.

Para consolidar a moeda, a China teria que disponibilizar seus excedentes aos BRICS para permitir que as rúpias que a Rússia recebe por suas exportações de petróleo à Índia possam ser trocadas, a uma taxa quase fixa, por renminbi, para serem gastos em produtos chineses. Foi o que os EUA fizeram nas décadas de 1950 e 1960 para consolidar o sistema de Bretton Woods.

Mas tudo isso dependerá do jogo geopolítico, não da economia.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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