Antônio Augusto
Queiroz: A tática de extrema direita para conquistar o poder
A tática de
extrema-direita para criar instabilidade e deslegitimar governos, autoridades e
instituições tem se mostrado um fenômeno preocupante no cenário político atual,
tanto no Brasil quanto em diversas partes do mundo. Este artigo busca explorar
os métodos e os efeitos dessa estratégia, que tem como objetivo central minar a
confiança das populações em regimes democráticos e em seus representantes.
A base dessa tática
é a utilização massiva de desinformação, incluindo fake news, ilações sem
fundamento e narrativas manipuladoras. Essas ferramentas são disseminadas
principalmente por meio das redes sociais, que se tornaram o palco principal
para a difusão de mensagens que exploram medos e inseguranças, especialmente
entre as camadas mais vulneráveis da sociedade. O impacto é profundo: cria-se
um ambiente de desconfiança e hostilidade, onde as instituições democráticas
passam a ser vistas como ineficazes ou corruptas, e os líderes eleitos, como
incompetentes ou coniventes com esquemas de poder.
Os movimentos de
extrema-direita se valem de narrativas que apelam para os instintos mais
primitivos do ser humano, como a raiva, o medo e a busca por certezas. Essas
emoções são estrategicamente manipuladas para criar um sentimento de urgência e
uma percepção equivocada de ameaça constante. Nesse contexto, a verdade é
relegada a um plano secundário, enquanto as convicções pessoais, crenças e
dogmas ganham status de realidade inquestionável.
É importante
destacar que essas narrativas não surgem de maneira espontânea. Elas são
meticulosamente planejadas e disseminadas por líderes e grupos que almejam
consolidar poder à custa da fragmentação social. Esses atores perseguem a fama
e utilizam armadilhas discursivas para desacreditar seus adversários políticos
e institucionais. Por meio de discursos inflamados e acusações infundadas, eles
provocam atritos e alimentam a polarização, dificultando o diálogo e o
consenso.
Um dos principais
efeitos dessa estratégia é o enfraquecimento da democracia. Quando as
instituições públicas são constantemente atacadas e suas ações são questionadas
sem bases sólidas, cria-se um vácuo de liderança e governança que pode ser
explorado por movimentos autoritários. Além disso, a população é levada a
acreditar que não há soluções institucionais para os problemas enfrentados, o
que fortalece discursos que pregam rupturas institucionais e soluções
simplistas.
Para enfrentar essa
tática, é fundamental promover a educação midiática, incentivando a população a
verificar fontes de informação e a desconfiar de conteúdos que apelam
exclusivamente para emoções negativas. Além disso, é necessário fortalecer as
instituições democráticas, garantindo transparência em suas ações e promovendo
o diálogo entre diferentes segmentos da sociedade.
A democracia é um
sistema complexo que exige constante vigilância e aperfeiçoamento. Combatê-la
com armas tão desleais quanto a desinformação e o medo é um ataque direto à
liberdade e à dignidade humana. Somente por meio do comprometimento com a
verdade e com o respeito às diferenças seremos capazes de superar esse desafio
e construir sociedades mais justas e democráticas.
No governo do
presidente Lula, a Advocacia-Geral da União (AGU) tem se destacado como uma das
poucas instituições do Estado que age no combate eficaz a esse mal. Para tanto,
implementou o Observatório da Democracia, instituiu a Procuradoria Nacional da
União de Defesa da Democracia, criou o Prêmio Eunice Paiva de Defesa da
Democracia, promoveu seminários sobre regulamentação das redes sociais e
combate às fake news, ingressou com ações para punir os atos golpistas e
buscar o ressarcimento aos cofres públicos pela destruição de patrimônio, além
de exigir das big techs a moderação de conteúdos como forma de
prevenir crises e ataques à democracia via redes sociais.
O recente arranjo
na comunicação governamental, combinado com as futuras mudanças na composição
ministerial, aponta para o caminho certo, isto é, a busca por maior eficiência
na gestão e no combate às denúncias infundadas promovidas pela oposição e pela
extrema direita brasileira. Contudo, é imprescindível adotar cuidados especiais
em relação às investidas dos extremistas, pois há o risco de aprofundamento da
perda de credibilidade e de confiança no governo e nas instituições. Isso não
apenas pode interromper a trajetória de inclusão social, como também criar uma
crise de confiança que comprometa a gestão e resulte em ingovernabilidade.
É de conhecimento
geral que crises de confiança e de credibilidade no âmbito político e
institucional têm como origem a percepção de descumprimento de promessas, falta
de transparência e/ou polarização extrema. As consequências incluem o
crescimento do populismo e da desinformação, o aumento da descrença nas
autoridades e instituições, bem como o enfraquecimento da percepção de
imparcialidade e justiça. Esses cenários precisam ser evitados, uma vez que sua
concretização abala os alicerces da democracia e do sistema político.
Por isso, é
fundamental que a sociedade civil, a imprensa e outros órgãos do Estado
brasileiro se mobilizem nessa luta em defesa da democracia e da verdade. Caso
contrário, corre-se o risco de o País ser entregue, pela via eleitoral, a
indivíduos sem qualquer compromisso com a democracia, a ciência, os direitos
humanos, o meio ambiente, a inclusão social e o respeito às minorias. Este é um
compromisso que deve ser assumido por todo cidadão que valorize a dignidade
humana e a preservação do planeta.
¨ Após Pix, oposição mira Pé-de-Meia em guerra de
informação contra Lula nas redes
Após a onda de
desinformação com as medidas tomadas pela Receita Federal sobre o Pix, a
oposição busca a próxima pauta do governo Lula como mote para ataques à imagem
nas redes. Ao atingir o ‘trending topics’ da vez, o programa
Pé-de-Meia do governo foi alçado a razões pela oposição para aplicar um
impeachment de Lula.
O novo engajamento
da oposição ao governo Lula nas redes envolve o programa federal destinado a
estudantes do ensino médio público, que, em pouco tempo, já é considerada a
maior política de combate à desigualdade pelo alcance de beneficiários.
No programa criado
pelo governo em 2024, quase 4 milhões de alunos registrados no CadÚnico
(Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal), que cumprem com 80%
da frequência escolar, recebem um auxílio de R$ 200 por mês.
Em decisão tomada
nesta quarta-feira (20), o Tribunal de Contas da União (TCU) considerou uma
irregularidade o programa social ser financiado sem ter sido colocado nos
planos orçamentários da União em 2024. Com base nesse entendimento, o TCU pediu
a suspensão dos pagamentos.
Mas apesar de
público, o financiamento do novo programa Lula é feito por dois fundos
privados: o Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo (FGEDUC) e o
Fundo Garantidor de Operações (FGO).
Em recurso judicial
ingressado nesta quarta (22), a Advocacia-Geral da União (AGU) esclareceu o
erro do entendimento do Tribunal, alegou que “não há qualquer ilegalidade na
transferência de tais recursos” e que “o bloqueio das verbas poderá
inviabilizar a continuidade do programa social de fundamental importância para
a manutenção de alunos em escolas públicas”.
Mas o entendimento
do TCU já foi suficiente para a oposição alegar que o governo Lula estaria
cometendo um “drible fiscal”, à semelhança da “pedalada fiscal” que foi usado
para referendar o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016.
“Todos os indícios
caminham para configurar uma pedalada fiscal. O Congresso precisa cumprir seu
dever constitucional neste caso”, escreveu Damares Alves (Republicanos-DF), de
forma oportunia.
Flávio Bolsonaro
(PL-RJ), Damares Alves (Republicanos-DF), Kim Kataguiri (União Brasil-SP),
entre outros bolsonaristas e oposição à Lula dispararam nas redes sociais a
comparação e os supostos motivos para um impeachment contra Lula.
“Lula imitou Dilma
e pedalou. Agora, seu único destino é o impeachment!”, escreveu o filho de Jair
Bolsonaro, que é senador. Kim Kataguiri havia se antecipado e pedido o
impeachment ainda na terça-feira (21), quando o TCU iniciava a análise do caso.
Entre terça e
quarta-feira, as palavras-chave “pé de meia”, “impeachment lula” e “tcu”
estiveram entre as 10 maiores buscas do Google.
Ao contrário do
Pix, as respostas do governo federal, desta vez, foram imediatas e o desmentido
vem tentando conter a nova tentativa de guerra informacional da oposição.
¨ Para entender o xadrez de Trump com a China
Ex-ministro das
Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis se destacou por suas opiniões críticas em
relação à austeridade fiscal imposta pela União Europeia e pelo FMI, que quase
destruíram o país.
Em artigo ao
“Project Syndicate”, ele minimiza as ameaças de Donald Trump de aumento
tarifários. Diz ele que os líderes chineses interpretam como jogadas políticas
simbólicas, e não armas econômicas – mesmo porque, empresas americanas estão
entre as grandes beneficiárias da produção chinesa.
O grande dilema
chinês é se deve ou não desvincular sua economia do sistema monetário dominado
pelo dólar, montando um arranjo tipo Bretton-Woods com os BRICS.
A bola está com os
falcões de Trump encarregados de pensar a China.
Tarifas de
importação, mais cortes de impostos para grandes corporações e
desregulamentação radical aumentarão os lucros e os preços das ações nos EUA. A
consequência será aumentar o fluxo de capital estrangeiro para os EUA.
Haverá um aumento
do déficit orçamentário e um fortalecimento inicial do dólar, mitigando o efeito
negativo das tarifas sobre as exportações chinesas. Mas há um limite, diz
Varoufakis, que é a crença dos investidores de que o aumento nos rendimentos
dos títulos do Tesouro dos EUA não ofuscará os índices de ações dos EUA.
Aumentará a lacuna entre poupança doméstica e investimento, a causa raiz do
déficit comercial dos EUA em relação à China e à Europa.
Varoufakis descreve
os problemas de Trump como um “trilema”: como combinar tarifas altas, um dólar
mais fraco e manter a hegemonia global do dólar?
Os líderes chineses
julgam que Trump tentará com eles o que Ronald Reagan fez com o Japão no Plaza
Accord de 1985.
Nos anos 1980, o
dólar americano estava extremamente valorizado devido a uma combinação de altas
taxas de juros nos EUA e políticas fiscais expansionistas do governo Reagan.
Essa valorização tornou as exportações americanas muito caras e pouco
competitivas, ao mesmo tempo que incentivava a entrada de importações baratas,
ampliando o déficit comercial dos EUA.
Foi fechado um
acordo com o Japão e a Alemanha Ocidental. Ambos se comprometeram a valorizar
suas moedas em relação ao dólar, barateando as exportações americanas e
encarecendo as suas exportações.
Com o acordo, o
dólar perdeu 50% de seu valor. A valorização do iene acabou provocando a
formação de uma bolha de ativos que explodiu anos depois e a crise financeira
continuou nos anos 90.
Obviamente, a China
não é o Japão. Na época, havia 55 mil militares dos EUA estacionados no Japão,
derrotado na Segunda Guerra Mundial. Além disso, a China já não é mais tão
dependente do mercado norte-americano, diversificou, montou cadeias de
suprimento próprias, indispensáveis em todo o mundo.
Não há chance,
portanto, de um repeteco do Plaza Accord com a China. Mas é possível que aceite
uma negociação simbólica com um acordo envolvendo tarifas ligeiramente mais
baixas.
O maior impacto
será sobre a União Europeia. A recalibração do comércio mundial se dará com os
EUA comprando mais do Vietnã e da Índia e a China disparando suas exportações
para a Europa e o resto do mundo. Além disso, a valorização do dólar provocará
uma transferência de capitais europeus para os Estados Unidos.
O enorme salto
tecnológico recente da China foi reação à nova Guerra Fria produzida por Trump
em seu primeiro mandato e intensificada por Joe Biden.
O risco maior será
se os falcões pressionaram o governo Trump a impor sanções financeiras à China,
como foram impostas à Rússia. A defesa da China será acelerar a moeda única dos
BRIC. tendo o superávit comercial chinês como seu suporte.
Para consolidar a
moeda, a China teria que disponibilizar seus excedentes aos BRICS para permitir
que as rúpias que a Rússia recebe por suas exportações de petróleo à Índia
possam ser trocadas, a uma taxa quase fixa, por renminbi, para serem gastos em
produtos chineses. Foi o que os EUA fizeram nas décadas de 1950 e 1960 para
consolidar o sistema de Bretton Woods.
Mas tudo isso
dependerá do jogo geopolítico, não da economia.
Fonte: Jornal GGN
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