segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Viver nas sombras, um risco para a saúde mental dos migrantes

“Viver nas sombras”, temendo uma deportação, afeta a saúde mental dos migrantes, que pode se deteriorar, assim como a de seus filhos, devido às ameaças de operações de captura em massa de estrangeiros nos Estados Unidos, afirmam especialistas.

Durante a maior parte de suas vidas, os migrantes arcam com “instabilidade e incerteza”, pois deixaram para trás seus entes queridos, afirma à AFP Susanna Francies, uma psicóloga especializada em migração com dez anos de experiência.

“Muitos migrantes sofrem traumas” e “se sentem que têm que permanecer nas sombras ou que não podem revelar seu status migratório, isso torna mais difícil para para eles terem acesso a tratamento de saúde mental”, explica.

A incerteza disparou nas últimas semanas com a promessa do presidente Donald Trump de realizar deportações em massa. Uma angústia constante para muitos estrangeiros.

“Minha ansiedade aumentou muitíssimo”, disse por telefone à AFP Alejandro Flórez, um venezuelano de 26 anos, que chegou em 2016 aos Estados Unidos.

– “Custo a dormir” –

Ele sente isso na dificuldade para conciliar o solo. “Custo a dormir. Desde a semana passada, quando dormi, foi durante três ou quatro horas por noite”, conta.

“Eu não posso voltar para a Venezuela. Se voltar, me põem na prisão ou me matam porque protestei contra a ditadura”, explica o jovem que pediu asilo há sete anos e está sob a proteção de um recurso migratório que dá permissão de residência e trabalho conhecido como o TPS (Status de Proteção Temporária).

Organizações de defesa dos migrantes temem que as ameaças de Trump gerem pânico e que os migrantes se escondam por medo das batidas policiais que, no caso das crianças, deixam marcas profundas.

Pesquisas realizadas pela ONG Centro de Direito e Política Social (Clasp) demonstram que “a simples ameaça de separação pode prejudicar o desenvolvimento de uma criança”, afirmou sua diretora de imigração, Wendy Cervantes, em uma coletiva de imprensa.

“Quando um pai é deportado, as crianças que ficam para trás sofrem com má saúde física e mental, resultados acadêmicos ruins, assim como a insegurança alimentar e de moradia” e isto “pode durar anos”, assegura.

Cervantes alerta para as consequências das operações em residências particulares.

“As batidas em casa costumam ser o pior pesadelo de uma criança transformado em realidade porque ocorrem tarde da noite, quando está dormindo, e incluem a entrada à força de agentes armados em sua casa para levar seus pais”, explica.

A separação familiar também o preocupa.

O “czar da fronteira” Tom Honan chefiou o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) no primeiro mandato de Trump, durante o qual milhares de crianças foram separadas de suas famílias para desestimular a chegada de migrantes sem visto pela fronteira com o México.

“Especialistas em saúde confirmaram mais de uma vez que simplesmente não há uma forma segura de deter uma criança”, afirma Cervantes.

– “Consequências duradouras” –

“Conheci crianças que foram separadas dos pais na fronteira” com o México “e [isto] tem consequências duradouras”, confirma Susanna Francies.

“O czar da fronteira” não descartou reintroduzir os centros de detenção familiar e afirmou que os migrantes teriam a opção de deixar seus filhos nascidos nos Estados Unidos em solo americano ou serem expulsos com eles.

Cinco milhões de crianças americanas têm pelo menos um dos pais em situação irregular.

Enquanto isso, os migrantes vivem grudados nos meios de comunicação.

“Durante grande parte do dia, ficamos atentos ao que disseram agora, ao que vão fazer”, admite Flórez.

 

¨      Bactérias guardam memórias como computadores, descobre pesquisa

Cientistas da Universidade do Texas (UT), nos Estados Unidos, descobriram que as bactérias possuem a capacidade de armazenar memórias e transmiti-las para as gerações seguintes. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica PNAS nesta terça-feira (21).

As bactérias não armazenam as memórias como os seres humanos. Por não possuírem neurônios, sinapses nem sistema nervoso, as lembranças desses seres são como informações guardadas em um computador, compararam os cientistas em comunicado.

Como as bactérias armazenam memórias

A motivação para a pesquisa surgiu pelo fato dos pesquisadores notarem que as bactérias conseguem melhorar o seu mecanismo de swarming, isto é, quando elas se movem em uma superfície de maneira coletiva, a cada vez que o fazem.

O objetivo era, então, descobrir porque isso acontece. A partir do estudo, feito com bactérias Escherichia coli,  os pesquisadores descobriram que o principal motivo é o ferro.

O estudo mostrou que bactérias apresentam diferentes quantidades de ferro, inclusive no que diz respeito a serem tolerantes ou não a antibióticos. A hipótese é que, quando os níveis de ferro estão baixos, as memórias desses microrganismos são acionadas e fazem com que eles façam swarming para procurar ferro no ambiente.

Já quando os níveis de ferro são altos, as memórias levam as bactérias a permanecerem onde estão. Foi observado que as bactérias tolerantes a antibióticos possuíam níveis moderados do elemento químico.

Desse modo, as bactérias utilizam o ferro para armazenar informações sobre comportamentos que podem ser ativados a partir de estímulos. Os cientistas descobriram que isso pode ser passado por pelo menos quatro gerações e no máximo sete.

"As bactérias não têm cérebro, mas podem coletar informações de seu ambiente; e, se tiverem visto esse ambiente com frequência, podem armazenar essas informações e acessá-las rapidamente mais tarde para seu benefício", explicou Souvik Bhattacharyya, principal autor do estudo.

Aplicação prática da descoberta

Bhattacharyya afirma que “quanto mais soubermos sobre o comportamento das bactérias, mais fácil será combatê-las”. Agora, descobriram que esses seres podem usar suas memórias armazenadas para adaptar suas estratégias de infecção.

Os cientistas acreditam que esta última descoberta pode ajudar a prevenir e combater infecções bacterianas, uma vez que forneceu mais informações sobre as bactérias resistentes a antibióticos.

¨      Como “substituir memórias ruins”, de acordo com a ciência

Um grupo de cientistas de todo o mundo têm trabalhado em um método para “substituir memórias ruins” durante o sono.

Em estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os pesquisadores narram uma abordagem promissora para "enfraquecer memórias negativas" e ajudar na superação de traumas. O método é "simples": baseia-se em usar as mesmas palavras como "ativadoras" tanto de memórias negativas como de memórias positivas, para provocar uma espécie de "substituição inconsciente" entre as duas.

Em um experimento que durou vários dias, realizado com um grupo de 37 pessoas, pesquisadores de diversos países pediram para que palavras aleatórias fossem associadas pelos participantes a "imagens negativas". 

Para isso, a equipe selecionou bancos de dados que continham imagens positivas e negativas, como ferimentos, animais perigosos, paisagens calmas, crianças sorrindo etc. 

Num primeiro momento, pediu-se aos participantes que eles selecionassem imagens negativas para vincular a palavras "sem sentido", que haviam sido inventadas especialmente para o estudo. 

No dia seguinte, após uma noite completa de sono (que consolida informações no cérebro), foram trazidas, novamente, as imagens positivas, que os pesquisadores tentaram associar a pelo menos metade das palavras usadas anteriormente no experimento.

Essa primeira fase serviria como uma tentativa de "reprogramar as lembranças" dos participantes por associação espontânea. 

Na segunda noite do experimento, os cientistas reproduziram gravações das palavras aleatórias enquanto os participantes estavam na fase do "sono profundo" (REM, que ocorre cerca de 90 minutos após o início do sono e serve à transformação de memórias de curto prazo em memórias de longo prazo). Enquanto o experimento ocorria, a atividade cerebral dos participantes era monitorada por eletroencefalografia. 

De acordo com o estudo, a atividade ligada ao processamento de memórias emocionais (a banda theta, oscilação neural ligada a função cognitivas como a da memória) aumentava em resposta às gravações reproduzidas, e obteve um volume "significativamente maior" quando os pacientes foram submetidos às associações positivas das palavras.

Na última fase do estudo, quando os cientistas distribuíram questionários a fim de avaliar o quanto os participantes mantiveram das memórias "ruins", concluiu-se que "as memórias positivas eram mais suscetíveis a aparecer", em associação às mesmas palavras, em relação às lembranças ruins.

O cérebro estava, de certa forma, "priorizando" as memórias boas, ainda que ambas estivessem ligadas à mesma palavra.

"Uma intervenção de sono não invasiva pode, portanto, modificar uma lembrança aversiva e as respostas afetivas. No geral, nossas descobertas podem oferecer insights relevantes para o tratamento de lembranças patológicas ou relacionadas ao trauma", informa o estudo.

Vale lembrar, no entanto, que o experimento foi realizado em um ambiente altamente controlado, com estímulos contínuos e específicos, e que não reflete de maneira integral o processo individual de formação de memórias.

 

Fonte: AFP/Fórum

 

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