O último comandante
da América Central
Em 10 de outubro,
ostentando uma nova barba, mas em forma e forte como sempre, Julio César Macías
López — conhecido como César Montes — o último comandante centro-americano,
saiu do sistema prisional guatemalteco. Depois de quase quatro anos, em sua
sentença de 175, ele era quase um homem livre, enviado para esperar em prisão
domiciliar até que seu caso pudesse ser esclarecido.
“Não foram feitos
acordos com ninguém”, declarou ele após ser transferido para prisão domiciliar.
Seus apoiadores ficaram aliviados por ele não ter sido assassinado na prisão. A
libertação coincidiu com o aniversário da emboscada e assassinato de Ernesto
“Che” Guevara, o médico argentino que virou revolucionário, um combatente
internacional do socialismo. Montes é um revolucionário ao estilo Che,
comprometido com a insurreição ao redor do mundo contra os antigos poderes do
dinheiro, do privilégio e da tradição — por muitos anos através de guerrilhas
na América Latina.
Praticamente assim
que ele chegou em casa, o tribunal guatemalteco anulou sua decisão e ordenou
que voltasse para a prisão. Mas quando as autoridades foram buscá-lo,
descobriram que a raposa já havia escapado. Um alerta vermelho da Interpol foi
emitido, mas não há sinal dele.
·
O
comandante
No início deste
ano, antes de sua prisão domiciliar e fuga, nós dois — ex-militantes das
Forças Armadas Rebeldes da Guatemala (FAR) — visitamos o Comandante César em
seus aposentos na prisão Mariscal Zavala, na maior base militar da Guatemala. Levamos
conosco comida chinesa para viagem e um caderno cheio de perguntas.
César Montes fundou
várias colunas de guerrilha que, entre as décadas de 1960 e 1990, lutaram
contra forças governamentais repressoras na Guatemala, Nicarágua e El Salvador.
Eram combates localizados liderados por cidadãos fervorosos lutando pela
liberdade contra uma opressão de séculos. Os Estados Unidos, temendo uma onda
incontrolável de comunismo vinda do sul, financiaram e apoiaram governantes
autoritários na América Latina, treinando e armando seus militares, policiais e
esquadrões da morte para reprimir as rebeliões a qualquer custo.
Montes passou por
treinamento em Cuba e ficou um tempo no Vietnã do Norte. Ele possui um relógio
de pulso que lhe foi dado por Fidel Castro. Era de Che, deixado em Cuba quando
viajou para Angola.
Montes nunca foi
preso em sua longa carreira como rebelde, mas acabou capturado em Acapulco,
México, em dezembro de 2021 em uma operação ilegal, levado clandestinamente de
volta para a Guatemala e então jogado na prisão após um julgamento fraudulento.
Ele é o grande prêmio conquistado pelo ineficaz ex-presidente da Guatemala,
Alejandro Giammattei, que tinha poucos planos de governança nos quatro anos de
seu mandato (2020–24). O governo de Giammattei fez vista grossa enquanto todos
os tipos de bandidos, de velhos militares corruptos a novos chefões do tráfico,
se envolviam em uma pilhagem aberta do país.
Montes, em
contraste, trabalhou por quase vinte e cinco anos, desde a assinatura dos
acordos de paz entre a liderança insurgente e o governo guatemalteco, na
criação de estruturas civis para transformar as condições de vida dos
guatemaltecos do campo. Ele assumiu esse trabalho, diz, quando percebeu que a
luta armada nunca poderia “vencer uma guerra contra um inimigo que preferiria
queimar o país inteiro até reduzi-lo a cinzas”.
·
As
longas guerras da Guatemala e de El Salvador
Passando o portão,
fazemos uma caminhada arejada pela floresta, pinheiros apontando para o alto,
ciprestes retorcidos, eucaliptos de cheiro forte trocando de casca. Aqui,
nestes terrenos, os planos detalhados para o horror foram elaborados por
generais e estrategistas treinando e enviando tropa após tropa. Um guarda pega
nossa identidade. Passamos.
Um beco estreito de
abrigos, aparentemente improvisados, amontoados como um acampamento, como uma
favela, serpenteia diante de nós. Os homens que passamos, todos prisioneiros,
são nada além de perfeitamente educados. Estranhamente, não há um único guarda
à vista. Nenhuma grade; nenhuma cela. Eles se governam? Carregamos nossas
pesadas sacolas de comida para viagem até que um homem mais jovem as pega de
nós e vai a frente no caminho.
Montes está cercado
por companheiros de cela que em uma era anterior teriam sido inimigos:
soldados, policiais, narcotraficantes, mas nenhuma ralé — apenas aqueles de
patente mais alta. Todos o chamam de “Comandante”. Se não o saúdam quando ele
passa, se endireitam um pouco mais por hábito. Nós também.
O Comandante César
nos conduz para dentro, subindo uma escada íngreme, até sua sala de estar e
cozinha cheias de luz, até uma grande mesa quadrada, coberta de livros e
papéis. Cartazes de versões mais jovens dele e de seus vários camaradas
falecidos adornam as paredes. O café é feito. As histórias começam. Ele é o
herói justo de cada conto.
Montes nunca
esperou sobreviver a todos os seus companheiros, aqueles que morreram na selva
ou os muitos outros que desapareceram. Ele ficou horrorizado ao se ver na
prisão. Em maio de 2023, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), então presidente
do México, pediu a Giammattei que perdoasse Montes, dizendo que ele seria
bem-vindo para se estabelecer no México. (O pai de Montes era do estado de
Chiapas, no sul, e ele tem três filhos que são cidadãos mexicanos.) O governo
guatemalteco não respondeu a esse pedido. Então Montes começou a contar os
dias: comendo bem e malhando com seu treinador japonês, também um prisioneiro.
Montes nunca foi
nosso oficial comandante direto na FAR. Entramos na guerra no final dos anos
1980. Naquela época, ele estava na liderança da Frente de Libertação Farabundo
Martí (FMLN) na guerra civil de El Salvador. Uma de nós, Margarita, o conheceu
quando estava exilada na Nicarágua, onde ele apoiava o governo sandinista da
Nicarágua em sua guerra contra os contrarrevolucionários financiados pelos EUA.
Em 1954, quando
César não era bem um adolescente, o primeiro experimento democrático da
Guatemala foi destruído por um golpe patrocinado pela CIA. Os EUA instalaram um
fantoche, o General Carlos Castillo Armas, que foi assassinado em um conflito
interno apenas três anos depois.
Em 1960, um motim
irrompeu dentro das forças armadas lideradas por jovens oficiais progressistas
do exército, desgostosos com a cumplicidade do governo guatemalteco com a
invasão da Baía dos Porcos em Cuba, apoiada pelos EUA. (Ele havia permitido que
o território nacional guatemalteco fosse usado para treinamento de
mercenários.) Quando a deflagração da insurreição dos oficiais falhou, os
capitães Luis Turcios Lima e Marco Antonio Yon Sosa lançaram as Forças Armadas
Rebeldes. O exército nacional foi rápido em revidar, e a longa miséria da
Guerra Civil da Guatemala começou.
Durante a guerra de
trinta e seis anos, 250.000 foram mortos ou desapareceram, enquanto um milhão
de guatemaltecos foram deslocados, um quarto deles para campos de refugiados no
sul do México. O relatório das Nações Unidas de 1999, Memories of
Silence [Memórias do Silêncio], identifica as forças de segurança do
Estado como responsáveis por 93% da
violência, descrevendo o que ocorreu em certas áreas como um genocídio estatal
para exterminar nações maias específicas por completo.
César Montes, aos
21 anos, juntou-se ao bando rebelde em seus primeiros dias, em 1962, após ser
expulso da faculdade de direito. Ele visitou Cuba, onde estudou medicina e
conheceu Castro, e o Vietnã do Norte, onde falou com prisioneiros de guerra dos
EUA. Ele também treinou ao lado de Carlos Fonseca, fundador da Frente
Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) da Nicarágua, e outros de El Salvador
que formariam a FMLN. No final de 1966, com a morte de Turcios Lima em um
suspeito acidente de carro, Montes ascendeu a comandante-chefe da FAR.
Em maio de 1970,
Yon Sosa também estava morto. As Forças Armadas Rebeldes recuaram. Em 1972,
Montes e uma dúzia de camaradas deslizaram silenciosamente pela fronteira
mexicana para o departamento de Quiché, no norte da Guatemala, tendo formado o
que se tornaria o grupo rebelde mais forte do país, o Exército Guerrilheiro dos
Pobres (EGP). O EGP provocaria o exército guatemalteco e recrutaria milhares de
simpatizantes entre as comunidades indígenas maias, dezenas de padres católicos
e centenas de líderes leigos que haviam sido revigorados pela teologia da
libertação. (A teologia da libertação seria a porta de entrada para uma de nós,
Emilie, para a ação cristã radical.)
No início dos anos
1980, Montes, seguindo divisões dentro do EGP, passou a lutar na guerra civil
em El Salvador. Em 1989, os rebeldes da FMLN estavam envolvidos no que chamavam
de “ofensiva final”, enquanto o exército salvadorenho continuava a atacar
“alvos fáceis”.
Em novembro de
1989, o batalhão de elite Atlacatl do exército invadiu o campus da
Universidade Centro-Americana, tirando seu reitor e cinco professores, todos
padres jesuítas, sua governanta e sua filha de suas camas e assassinando-os no
jardim de rosas da residência. A condenação mundial foi rápida, e Montes se viu
na equipe que negociava a paz. Os acordos foram assinados em 1992 no Castelo de
Chapultepec, na Cidade do México, e a Guerra Civil Salvadorenha acabou.
·
Captura
de Montes
Quatro anos depois,
a Guatemala também encerraria sua guerra, embora Montes não tenha participado
das negociações de paz que duraram anos e deixe claro que nunca assinou nada e
nunca se rendeu. Uma de nós, Margarita, diz o mesmo; mas em 1996 ela retornaria
à Guatemala para continuar no trabalho teatral, frequentemente nas comunidades
das terras altas que se recuperavam da guerra ou nas desesperadas favelas da
cidade. Emilie deixou a FAR em 1995, retornando para sua casa no Canadá, onde,
dois anos depois, inspirada por mulheres cristãs guatemaltecas na luta,
começaria os estudos no seminário.
De volta à
Guatemala, Montes continuou se organizando. Ele trabalhou com fazendeiros
deslocados, refugiados que retornavam e ex-combatentes, tanto da guerrilha
quanto das forças governamentais. Embora ele tenha agrupado essas pessoas (a
maioria homens) em batalhões e os tenha organizado com disciplina de estilo
militar, não havia armas presentes. Eles se concentraram em três coisas:
produção, construção da paz e dignidade. Um pilar central de sua vida juntos,
diz Montes, era o respeito absoluto e a autonomia para as mulheres. Não deveria
haver bebida, drogas ou mesmo fumo em suas comunidades.
Enquanto Montes
mantinha um olho na situação nacional, ainda estava conectado a lutas regionais
mais amplas. Em 1996, foi visitado pelo embaixador mexicano na Nicarágua, que
tinha uma pergunta: “Você, Comandante César, é aquele por baixo da balaclava
preta do misterioso Comandante Marcos, o rosto público dos zapatistas?” Montes
ri. O embaixador — depois que ele verificou que Montes não era Marcos — tinha
outra pergunta: Montes serviria como negociador entre os zapatistas e o governo
mexicano? A proposta veio com um “cheque gordo”, Montes bufa. Montes era um
estrategista militar. Marcos era um poeta e um idealista.
Um chequesote não era tentação para nenhum dos dois.
Já estamos ouvindo
histórias há horas. Hora da refeição. Margarita organiza os pratos e, um por
um, os coloca no micro-ondas. Montes continua a contar história após história
enquanto cozinha um macarrão chinês fumegante. Ele ri novamente nos contando
sobre como, em El Salvador, no início dos anos 1990, sua namorada soviética fez
um borscht de beterraba para servir a um certo venezuelano bonito de cabelos pretos
chamado Hugo em seu jantar de aniversário. Montes para de rir, fica sério e
observa como Hugo Chávez, Fidel Castro e Schafik Hándal, da FMLN, agora estão
todos mortos. “Castro amava Chávez — como seu próprio filho”, ele reflete,
mexendo seu macarrão, agora frio.
Depois do almoço,
focamos na história de sua armadilha. Os inimigos de Montes tinham algo contra
ele, principalmente o magnata empresarial ultradireitista Ricardo Méndez Ruiz,
filho de um militar. Desde 2013, Méndez Ruiz, por meio de sua organização, a
Fundação Contra o Terrorismo, tem trabalhado febrilmente para derrubar todos os
esforços de democratização na Guatemala. Investigações sobre oficiais de alta
patente do exército foram interrompidas, e muitos juristas, jornalistas e
ativistas de direitos humanos que trabalhavam em casos anticorrupção foram
silenciados, presos ou levados ao exílio.
Desde 2021, Méndez
Ruiz foi incluído na “lista Engel”, o relatório ao Congresso dos EUA que
identifica os atores corruptos mais perniciosos da América Central. Méndez
Ruiz, que quando jovem foi mantido refém por dois meses por militantes do
partido comunista da Guatemala antes de ser libertado ileso, nutre um ódio
específico por Montes.
O julgamento de
2013 contra o general Efraín Ríos Montt, ditador da Guatemala de 1982 a 1983,
enfureceu Méndez Ruiz. Condenado em um tribunal guatemalteco por genocídio
contra o povo Maya-Ixil e crimes contra a humanidade, Rios Montt foi
sentenciado a oitenta anos de prisão. (A decisão foi posteriormente anulada por
uma questão técnica, e ele morreu em casa, em prisão domiciliar, enquanto
aguardava novo julgamento.) O pai de Méndez Ruiz foi ministro do interior do
general durante o genocídio. Se ativistas e juristas conseguiram atacar com
tanto sucesso o antigo regime militar, quem seria o próximo? Além de juristas e
jornalistas, ele voltou sua atenção para o Comandante César.
Em setembro de
2019, uma atividade militar suspeita foi relatada em Semuy II, El Estor. Em vez
de um movimento regular de tropas, a ação consistiu em nove soldados de baixa
patente avançando pela mata em caminhos pouco percorridos. A comunidade entrou
em alerta máximo. A Fundação Turcios Lima — a ONG que Montes lançou em 1997,
nomeada em homenagem ao fundador da FAR — estava ativa na área, tanto em projetos
de produção alternativa quanto em treinamento para autodefesa comunitária.
O vale foi
mergulhado em conflitos por muito tempo, graças ao seu rico depósito de níquel
que uma empresa de mineração canadense explorou antes de fechar durante os anos
de guerra. Em 2006, as minas estavam programadas para reabrir. A violência
contra membros da comunidade explodiu novamente,
com incidentes de assassinato, agressão e estupro coletivo. Forças do estado e
da empresa estavam por trás da violência e raramente enfrentavam consequências
sérias.
Quando a poeira da
incursão de 2019 baixou, três soldados estavam mortos. Os moradores alegaram
que estavam se defendendo. As autoridades governamentais viram sua chance.
Declararam estado de sítio e impuseram lei marcial. O Ministério Público acusou
Montes de estar por trás das ações.
Montes nega
vigorosamente essas acusações, dizendo que não teve contato recente com os
membros da comunidade e que poderia provar que não esteve em nenhum lugar perto
da área — que não tem sinal de celular — e não ordenou nenhuma ação. (Ele
também disse, de forma um tanto inútil, que se tivesse
se envolvido em ação, haveria mais de três soldados mortos.) Em uma
camada adicional de confusão, cinco dias após a morte dos soldados, um membro
da comunidade, Agustín Chub, foi encontrado estrangulado até a morte.
Autoridades estaduais dizem que foi ele quem puxou o gatilho que matou os soldados
e que havia tirado a própria vida.
Após escapar da
emboscada armada para ele, Montes deixou a Guatemala, primeiro entrando em El
Salvador e depois no México, onde se declarou exilado político e iniciou
negociações com a Comissão Mexicana de Assistência a Refugiados. Ele recebeu
apoio de seu amigo, o escritor e editor Paco Ignacio Taibo II, e esperava se
estabelecer como um conselheiro político. Mas em Acapulco, em outubro de 2020,
Montes foi capturado por uma unidade policial mexicana desonesta. Ele foi levado
algemado para a Cidade do México, depois levado de avião para Tapachula, na
fronteira entre o México e a Guatemala, e entregue às autoridades
guatemaltecas.
Em 29 de março de
2022, Montes foi considerado culpado junto com outros sete membros da comunidade
de Semuy II, incluindo as líderes femininas Rosa Ich Xi, Olivia Mucú e Angelina
Coy Choc. Ele foi condenado a 175 anos de prisão.
Méndez Ruiz e
outros, como o então presidente Alejandro Giammattei e a filha de Ríos Montt, a
candidata presidencial conservadora Zury Ríos, recorreram às mídias sociais
para expressar sua alegria. Seu arqui-inimigo havia sido preso para o resto da
vida.
·
A
batalha pelo passado da Guatemala
Montes foi preso
pelo mesmo motivo que dezenas de juristas e intelectuais estão no exílio e
outros, como o jornalista Rubén Zamora, foram presos.
Esses líderes são figuras fundamentais na batalha sobre a narrativa do que
realmente aconteceu na história recente da Guatemala. A guerra civil foi — de
acordo com as análises de esquerda — a história de um bando aguerrido de
idealistas junto com seus aliados indígenas (que no final suportaram o peso
devastador da reação violenta) lutando contra uma opressão despótica de
séculos, ou — na visão da direita — a luta de um pequeno bando de seus heroicos
militares que se levantaram para defender a honra da nação contra um grupo de
comunistas desesperados?
Até junho de 2023,
parecia que a narrativa da direita estava bloqueada, enquanto Méndez Ruiz e
seus comparsas se fortaleciam para uma proeminência cada vez maior. Mas na
eleição guatemalteca de 21 de junho de 2023 e no segundo turno de 20 de agosto,
algo chocante aconteceu: um cruzado anticorrupção, Bernardo Arévalo, filho de
um dos primeiros presidentes democraticamente eleitos a ocupar o cargo na
Guatemala antes do golpe patrocinado pela CIA, venceu de forma justa e honesta.
Seu partido, o Movimiento Semilla, havia entrado pela porta dos fundos. O
bloco de direita não se preocupou em desqualificar ou banir Arévalo ou seu
partido — eles eram pequenos demais para se preocupar.
Então, em 14 de
janeiro de 2024, Bernardo Arévalo assumiu o cargo, apesar dos esforços
desesperados da direita, liderada por um Méndez Ruiz cada vez mais frenético,
para minar e deslegitimar as eleições.
O que tornou
possível o sucesso de Arévalo foi uma revolta sem precedentes das comunidades
indígenas maias unidas. Elas pararam o país durante todo o mês de outubro em
uma greve geral. Então, em uma ação concisa, eles ocuparam as ruas ao redor dos
escritórios da procuradora-geral corrupta Consuelo Porras e seus capangas por
105 dias. As nações maias e seu conjunto rotativo de líderes foram claros: eles
não estavam lá para apoiar Arévalo ou o Semilla em particular, mas
para defender o processo democrático. Depois de todas suas perdas que tiveram,
as guerras, sua falta de acesso à representação estatal, as nações maias eram
imbatíveis quando exerciam seu poder.
·
A
batalha pelo futuro da Guatemala
Quando nos
despedimos, nosso antigo comandante nos entrega uma camiseta com sua foto na
frente. Três dias depois, iremos à Central Plaza para assistir ao discurso de
vitória de Arévalo às 4 da manhã, após um atraso de nove horas orquestrado por
seus inimigos.
Sabíamos que a
vitória de Arévalo não significaria a libertação imediata dos prisioneiros de
consciência. Quase um ano depois, os inimigos eternos da Guatemala — elites
econômicas corruptas e seus aliados semivisíveis — ainda mantêm o país refém.
Eles estão tão furiosos, escorregadios e perigosos como sempre.
Após a libertação
surpresa de Montes para prisão domiciliar em outubro, a revogação imediata
dessa ordem e seu desaparecimento furtivo das mãos das autoridades, é
impossível dizer como essa história terminará. Para alguns, um herói, para
outros, um vilão e, em sua mente, nunca uma vítima, Montes tem o que mais
deseja: a capacidade de decidir até o fim seu próprio destino como o último
comandante da América Central.
Fonte: Por Emilie
Teresa Smith e Margarita Kenefic, com tradução de Pedro Silva, para Jacobin
Brasil
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