sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Pesquisa identifica fatores associados a um AVC mais grave

Uma pesquisa publicada em dezembro no periódico Neurology aponta que ter hipertensão ou fibrilação atrial – um tipo de arritmia cardíaca – ou fumar aumenta o risco de um acidente vascular cerebral (AVC) mais grave. Os resultados ressaltam a importância de controlar esses fatores, considerados modificáveis, para reduzir o risco de desenvolver sequelas severas. 

Os autores usaram dados do INTERSTROKE, um estudo internacional que avalia pacientes recrutados em 32 países entre 2007 e 2015, e compararam diversos casos de AVC com quem não sofreu um evento desse tipo. O objetivo era estabelecer uma associação entre os fatores de risco e analisar como eles contribuem para os desfechos. 

São considerados quadros severos aqueles que deixam sequelas graves, como depender de assistência constante, ou mesmo morte. Já nos casos moderados, a pessoa consegue preservar a capacidade de caminhar sem ajuda, por exemplo. 

Após o ajuste de vários fatores, os autores constataram que pessoas com pressão alta têm um risco 3,2 vezes maior de sofrer um AVC severo e quase o triplo de apresentar um derrame em qualquer intensidade, em comparação àquelas com pressão normal.  

A fibrilação atrial aumenta em 4,7 vezes o risco de um acidente vascular cerebral grave e em 3,6 o de um quadro leve em relação a quem não tem esse problema cardíaco. Já o tabagismo praticamente duplica a probabilidade de um AVC, segundo a pesquisa. 

Para especialistas, o resultado não surpreende considerando o impacto vascular das condições avaliadas. “Esses fatores têm efeitos diretos e mais imediatos sobre a dinâmica vascular e a coagulação”, explica a neurologista Gisele Sampaio Silva, do Hospital Israelita Albert Einstein.  

A hipertensão pode causar hemorragias cerebrais devido à ruptura de vasos, enquanto a fibrilação atrial frequentemente resulta em embolias (formação de trombos) grandes e mais graves. O cigarro, por sua vez, acelera o enrijecimento arterial e reduz a elasticidade vascular.  

Os pesquisadores também avaliaram a relação de condições como diabetes, colesterol alto, consumo de álcool, qualidade da dieta, sedentarismo e circunferência abdominal. Ainda que sejam fatores de risco para AVC, não foi encontrada uma associação tão forte com a gravidade do evento. “Embora colesterol alto e diabetes sejam fatores importantes, seus impactos geralmente são mais progressivos e crônicos, não resultando necessariamente em eventos agudos tão graves”, explica Silva. 

A gravidade de um AVC depende de múltiplos fatores, incluindo a localização e extensão do dano — quando afeta áreas críticas, como o tronco cerebral, causa déficits mais graves. Entre os tipos de AVC, os hemorrágicos tendem a ser mais graves do que os isquêmicos.  

Já o estilo de vida e a presença de comorbidades, sedentarismo e doenças crônicas podem piorar o prognóstico. “Apesar disso, o resultado de um AVC pode ser imprevisível, pois depende também da resposta individual ao evento e da rapidez no acesso ao tratamento”, observa a neurologista. 

Há ainda casos de AVC que podem não estar relacionados a fatores de risco tradicionais ou modificáveis, como aqueles em que há certas malformações ou doenças autoimunes como vasculites. Esses casos reforçam a necessidade de diagnóstico preciso e estratégias personalizadas para prevenção e manejo. 

Saiba quais são os sinais de um AVC 

Sempre vale ficar atento aos seguintes sinais e procurar atendimento de emergência o quanto antes. Os tratamentos são mais eficazes quanto mais cedo forem administrados. 

  • Dormência ou fraqueza súbita no rosto, braço ou pernas, especialmente de um lado do corpo; 
  • Dificuldade para falar ou entender; 
  • Problemas para enxergar em um ou ambos os olhos; 
  • Dificuldade para andar, tontura ou perda de equilíbrio; 
  • Dor de cabeça grave sem causa conhecida. 

 

¨      Estudos conectam a poluição do ar ao desenvolvimento de demência e outros distúrbios cerebrais

Uma série de estudos conduzidos por neurocientistas indica que a poluição do ar pode impactar diretamente na probabilidade de desenvolvimento de demência e outros transtornos. A análise da pesquisadora Deborah Cory-Slechta, da Universidade de Rochester, Nova York, foi pioneira dos achados biológicos .

Investigações recentes confirmaram que níveis mais altos de poluição do ar estão relacionados com o aumento de casos de demência, depressão, ansiedade e psicose. Também foram observados impactos em condições do neurodesenvolvimento, como autismo e déficits cognitivos em crianças.

Em 2020, a Comissão Lancet sobre Demência reconheceu a poluição do ar como um fator de risco para a condição e em seu relatório lançado no ano passado afirmou que a exposição a partículas transportadas pelo ar “agora é de intensa preocupação e interesse”.

Essa área de pesquisa ainda sofre com a falta de atenção e investimento, fazendo com que suas descobertas apareçam lentamente. Porém, a apuração recente faz com que os órgãos ambientais e de pesquisa sejam forçados a reconhecer a importância da situação.

As diretrizes globais de qualidade do ar, alteradas em 2021, da Organização Mundial da Saúde (OMS), já enfatizaram a importância do estudo dos efeitos neurológicos da poluição do ar em pessoas jovens e idosas.

“Os pesquisadores agora devem tentar descobrir os mecanismos por trás desses problemas para tomar medidas para mitigar tais questões”, disse Ian Mudway, toxicologista ambiental do Imperial College London e coautor de um dos relatórios sobre o caso, para o periódico Nature.

Os próximos passos dos laboratórios internacionais são procurar e divulgar qual dos compostos emitidos na atmosfera é o mais prejudicial, buscando a diminuição dele e alertando a população mundial da seriedade da questão.

 

Fonte: Agência Einstein /Revista Planeta 

 

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