sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Bolsonaro diz que seria fácil dar golpe em 2022: "Quero ver o day after"

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quarta-feira (22/1) que era fácil “fazer besteira” no fim de 2022 “fora das quatro linhas” da Constituição. A expressão era utilizada por ele para dizer que atuava dentro dos limites da lei e da democracia apesar das decisões judiciais desfavoráveis. Para Bolsonaro, o difícil seria lidar com as consequências no dia seguinte ao golpe.

“O que eu poderia fazer fora das quatro linhas? Diga. Ponto final. Fazer besteira? É fácil. Eu quero ver o after day (day after), o dia seguinte. A idade que eu tenho, a experiência que eu tinha de 28 anos de parlamento, 15 de Exército e três na Presidência, a gente sabe o que se pode fazer, a gente sabe das consequências”, afirmou o ex-presidente em entrevista ao canal bolsonarista Fio Diário.

Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal no fim de 2023 em um inquérito que investiga uma tentativa de golpe de Estado liderada por ele e com a participação de seus aliados, depois de perder as eleições de 2022.

Na entrevista desta quarta, ele argumentava ter perdido as eleições por consequência de ações de comunicação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo sistema eletrônico de votação. Em determinado ponto da entrevista, o ex-presidente chegou a dizer que o Brasil deveria ter um sistema eleitoral parecido com o da Venezuela, onde, segundo ele, foi possível constatar uma fraude na eleição de Nicolás Maduro.

 “A Maria Corina (política de oposição a Maduro) arrastava multidões na Venezuela, semelhantemente (ao que ocorria) aqui no Brasil. E mesmo assim, ela se tornou inelegível. E mesmo tendo tornado inelegível os dois, o Edmundo (González) acabou ganhando e serviu para o mundo democrático ver o que estava acontecendo na Venezuela. E hoje nós clamamos aqui por um sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela”, afirmou.

¨      Caiu a ficha: Bolsonaro fala sobre “outro nome” em 2026 por estar inelegível

Desde que foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral e considerado inelegível, em junho de 2023, Jair Bolsonaro (PL) vira um leão quando é questionado sobre quem será seu “nome” na eleição presidencial de 2026. Irritado, ele diz que “não há democracia sem seu nome na urna” e insiste que será candidato. A parte curiosa fica por conta da “defesa da democracia” vinda do homem que tentou um golpe de Estado violento para se manter na Presidência depois de ser derrotado por Lula (PT) em 2022.

Agora, nas primeiras semanas de 2025, ano que antecede o próximo pleito, após muita insistência, ele resolveu falar sobre a “hipótese” de não disputar a eleição, algo que, na verdade, é dado como certo pela quase totalidade dos juristas especializados na legislação eleitoral brasileira.

Em entrevista à rádio de extrema direita AuriVerde, que mantém um canal no YouTube recheado de seguidores fanáticos do ex-mandatário ultrarreacionário, Bolsonaro finalmente respondeu à pergunta que não quer calar, ainda que sem mencionar “o nome”.

“Quem vai ser o cara da direita? Tem que ser Jair Bolsonaro. Não será democrática, a eleição de 2026, sem a minha presença. Quem você vai apoiar? Só falo algo parecido aos 48 do segundo tempo, quando eu realmente não tiver mais chance”, respondeu o ex-presidente num tom nitidamente desconfortável e irritado.

Nos bastidores do poder, embora se reconheça que é muito cedo para cravar “o nome”, muitos são os “papabiles” que podem ser escolhidos para a missão. Os nomes vão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil), governadores de São Paulo e Goiás, respectivamente, até os de seus filhos Eduardo (PL-SP), deputado federal, e Flávio, senador (PL-RJ).

¨      Bolsonaro se diz arrependido de ter nomeado generais no governo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta quarta-feira, que se pudesse voltar no tempo teria escolhido ministros mais "parrudos" e "casca grossa" em vez de generais para os ministérios palacianos no seu governo. Segundo ele, faltou "competência" e "malícia" para "enfrentar o sistema".

"O sistema tá forte, tá aí (sic). Faltou competência para nós, malícia. Você me pergunta o que eu faria diferente. Os ministros palacianos seriam diferentes. Eu não teria mais alguns nomes, um general ali. Eu não teria mais general ali. Teria ministro mais parrudo, mais casca grossa, para enfrentar o sistema", disse, em entrevista ao canal bolsonarista Fio Diário.

Os ministérios chamados palacianos são aqueles cuja sede fica dentro do Planalto. São eles a Casa Civil, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Secretaria-Geral e a Secretaria de Governo. As chefias dessas pastas foram ocupadas pelos generais Walter Braga Netto — preso desde dezembro por participação, segundo a Polícia Federal, na trama golpista do fim de 2022 — que comandou a Casa Civil e também foi ministro da Defesa; Augusto Heleno — também suspeito de integrar a trama golpista de 2022 (GSI, de 2019 a 2022) —; Santos Cruz (Secretaria de Governo, 2019); e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo de 2019 a 2021; Casa Civil, 2021; e Secretaria-Geral da Presidência de 2021 a 2023).

A mudança de discurso vem depois de a Polícia Federal indiciar 28 militares por participação em um plano de golpe de Estado no fim de 2022, depois de Bolsonaro perder as eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-chefe do Executivo, também indiciado, é apontado pela PF como o líder da organização criminosa que planejou abolir o Estado Democrático de Direito e impedir que o petista tomasse posse.

<><> Traumas

Segundo ele, a passagem pela Presidência da República lhe deixou traumas. Nas últimas entrevistas que tem dado a canais bolsonaristas no YouTube, o ex-chefe do Executivo tem repetido que, durante seu mandato, em diversas ocasiões, chorava no gabinete presidencial. Nesta quarta-feira, ele frisou que uma das consequências de ter chegado à Presidência é ter, todos os dias, a sensação de que a Polícia Federal está à sua porta logo pela manhã.

"Eu digo e alguns até reclamam: não é fácil a vida de presidente. (Perguntam) 'se é tão difícil, por que tu quer ir pra lá?'. Porque eu quero ajudar o meu país. Como é que você acha que eu acordo todo dia? Com a sensação da PF na porta! Qual a acusação? Não interessa", disse.

Outra tônica das entrevistas de Bolsonaro é o motivo da derrota em 2022. Nesta quarta-feira, ele voltou a culpar o sistema eleitoral brasileiro e destacou que o país deveria ter um sistema de votação igual ao da Venezuela, país que o ex-presidente criticou ativamente durante seu mandato.

Para ele, a existência do voto impresso no sistema venezuelano foi o que permitiu à comunidade internacional perceber que havia fraude nas eleições do último ano que reconduziram Nicolás Maduro. Até hoje, no entanto, as autoridades venezuelanas não forneceram as atas eleitorais, a despeito dos pedidos de organizações internacionais. A afirmação de Bolsonaro, portanto, é falsa.

"Hoje, nós clamamos aqui por um sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela. (...) Só o Brasil e mais dois países insignificantes têm isso daí", referindo-se à urna eletrônica adotada no Brasil. Ele também sustentou que é perseguido pelo Judiciário e que não pode mais dizer que há ou que houve fraudes no sistema eleitoral brasileiro. "Se eu falar em fraude aqui, pode daqui a meia hora a Polícia Federal bater na minha porta", justificou.

¨      Bolsonaro diz que Brasil deveria ter sistema eleitoral igual ao da Venezuela

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quarta-feira (22/1) que o Brasil clama por um sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela. Para ele, o voto impresso permitiu ao mundo saber que a eleição de Nicolás Maduro foi fraudada.

“A Maria Corina (política de oposição a Maduro) arrastava multidões na Venezuela, semelhantemente (ao que ocorria) aqui no Brasil. E mesmo assim, ela se tornou inelegível. E mesmo tendo tornado inelegível os dois (referindo-se a Edmundo González, mas na verdade, só Maria Corina ficou inelegível), o Edmundo acabou ganhando e serviu para o mundo democrático ver o que estava acontecendo na Venezuela. E hoje nós clamamos aqui por um sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela”, disse Bolsonaro ao canal de direita Fio Diário.

“Só o Brasil e mais dois países insignificantes têm isso daí”, referindo-se à urna eletrônica. Ele também afirmou que é perseguido pelo Judiciário e que não pode mais dizer que há ou que houve fraudes no sistema eleitoral brasileiro. “Se eu falar em fraude aqui, pode daqui a meia hora a Polícia Federal bater na minha porta”, pontuou.

Durante a entrevista, Bolsonaro também colocou parte da culpa de sua derrota nas eleições de 2022 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por ter feito campanhas para incentivar a população mais jovem (de 16 e 17 anos) a tirar o título de eleitor. 

 “O Brasil estava decolando em 2022, e teve aquela campanha toda contra eu (sic), ‘ah, quer dar golpe’, ‘é ditador’, ‘fala palavrão’, ‘não gosta de mulher’, ‘não gosta de negro’, ‘não gosta de nordestino’, ‘não gosta de imigrante’, e o TSE trabalhando para que o jovem tirasse título de eleitor e essa faixa etária 3/4 votava no PT”, disse.

Esse tipo de campanha por parte do TSE, no entanto, é comum. Em anos eleitorais, o tribunal reforça suas ações de comunicação para coibir notícias falsas, para divulgar os testes públicos de segurança da urna eletrônica e para orientar os eleitores sobre seus direitos e deveres.

¨      PF identifica elo entre blitze da PRF e plano golpista de Bolsonaro

A Polícia Federal (PF) revelou um elo entre a ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para obstruir o direito ao voto de eleitores do Nordeste durante o segundo turno das eleições de 2022 e o plano golpista supostamente articulado por Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados. As informações foram divulgadas por Aguirre Talento, do UOL, que teve acesso ao relatório final do inquérito enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao procurador-geral da República, Paulo Gonet. 

O documento, que embasou o indiciamento do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do ex-diretor da PRF Silvinei Vasques, descreve ações coordenadas para criar barreiras ilegais no dia da eleição. Segundo a PF, essas operações estavam dedicadas à "alteração criminosa do resultado das eleições presidenciais" e faziam parte de uma organização criminosa articulada em torno do plano de golpe que buscava impedir a vitória do presidente Lula (PT).

<><> Blitze e intimidação de eleitores no Nordeste

As blitze realizadas pela PRF, principalmente na Bahia — estado onde Lula obteve votação expressiva —, foram descritas pela PF como ações orquestradas sob ordens diretas de Anderson Torres. O relatório cita que Torres pressionou as forças de segurança a intensificar o policiamento em regiões estratégicas para o resultado eleitoral. "Houve uma atuação orquestrada deliberada pelo ministro da Justiça, empregando recursos materiais e humanos do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal como força armada para criar óbices e intimidação aos eleitores do Nordeste", destaca o texto.

Segundo o relatório, a operação ilegal utilizou a PRF como ferramenta de intimidação, com a finalidade de desestimular o comparecimento às urnas de eleitores no Nordeste, região que historicamente concentra um forte eleitorado progressista. 

<><> A conexão com o plano de golpe

O relatório também vinculou essas ações ao plano golpista amplamente investigado. De acordo com a PF, o plano incluía núcleos com diferentes funções, desde a desinformação e ataques ao sistema eleitoral até operações para incitar apoio de militares e ações coercitivas. O inquérito sobre Torres e a PRF adiciona um possível sétimo núcleo à estrutura criminosa, que visava alterar por meio de crime o resultado eleitoral.

Um trecho do documento descreve os atos como uma "tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito", tipificada nos artigos 359-L e 359-M do Código Penal. A minuta golpista apreendida na residência de Anderson Torres, que previa a alteração do resultado das eleições, é outro elemento que reforça o vínculo direto entre as ações do ex-ministro e o planejamento antidemocrático.

<><> Repercussão e próximos passos

Enquanto a equipe de Paulo Gonet analisa as provas apresentadas, cabe à Procuradoria-Geral da República decidir se os atos envolvendo as blitze da PRF serão incluídos na denúncia principal sobre o plano golpista ou se configurarão um caso à parte. Alexandre de Moraes, ministro do STF, já destacou a possibilidade de conexão entre as investigações.

As defesas de Torres e Vasques afirmaram não ter acesso ao relatório completo e, por isso, não se manifestaram. Jair Bolsonaro, também indiciado, permanece em silêncio sobre o caso. 

 

Fonte: Correio Braziliense/Brasil 247

 

Nenhum comentário: