Bolsonaro diz que
seria fácil dar golpe em 2022: "Quero ver o day after"
O ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quarta-feira (22/1) que era fácil “fazer
besteira” no fim de 2022 “fora das quatro linhas” da Constituição. A expressão
era utilizada por ele para dizer que atuava dentro dos limites da lei e da
democracia apesar das decisões judiciais desfavoráveis. Para Bolsonaro, o
difícil seria lidar com as consequências no dia seguinte ao golpe.
“O que eu poderia
fazer fora das quatro linhas? Diga. Ponto final. Fazer besteira? É fácil. Eu
quero ver o after day (day after), o dia seguinte. A idade que eu
tenho, a experiência que eu tinha de 28 anos de parlamento, 15 de Exército e
três na Presidência, a gente sabe o que se pode fazer, a gente sabe das
consequências”, afirmou o ex-presidente em entrevista ao canal bolsonarista Fio
Diário.
Bolsonaro foi indiciado pela
Polícia Federal no fim de 2023 em um inquérito que investiga uma
tentativa de golpe de Estado liderada por ele e com a participação de seus
aliados, depois de perder as eleições de 2022.
Na entrevista
desta quarta, ele argumentava ter perdido as eleições por consequência de
ações de comunicação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo sistema
eletrônico de votação. Em determinado ponto da entrevista, o ex-presidente
chegou a dizer que o Brasil deveria ter um sistema eleitoral parecido com o da
Venezuela, onde, segundo ele, foi possível constatar uma fraude na eleição
de Nicolás Maduro.
“A Maria Corina (política de oposição a
Maduro) arrastava multidões na Venezuela, semelhantemente (ao que ocorria) aqui
no Brasil. E mesmo assim, ela se tornou inelegível. E mesmo tendo tornado
inelegível os dois, o Edmundo (González) acabou ganhando e serviu para o mundo
democrático ver o que estava acontecendo na Venezuela. E hoje nós clamamos aqui
por um sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela”, afirmou.
¨ Caiu a
ficha: Bolsonaro fala sobre “outro nome” em 2026 por estar inelegível
Desde que foi condenado
pelo Tribunal Superior Eleitoral e considerado inelegível, em junho de 2023,
Jair Bolsonaro (PL) vira um leão quando é questionado sobre quem será seu
“nome” na eleição presidencial de 2026. Irritado, ele diz que “não há
democracia sem seu nome na urna” e insiste que será candidato. A parte curiosa
fica por conta da “defesa da democracia” vinda do homem que tentou um golpe de
Estado violento para se manter na Presidência depois de ser derrotado por Lula
(PT) em 2022.
Agora, nas primeiras
semanas de 2025, ano que antecede o próximo pleito, após muita insistência, ele
resolveu falar sobre a “hipótese” de não disputar a eleição, algo que, na
verdade, é dado como certo pela quase totalidade dos juristas especializados na
legislação eleitoral brasileira.
Em entrevista à rádio
de extrema direita AuriVerde, que mantém um canal no YouTube recheado de
seguidores fanáticos do ex-mandatário ultrarreacionário, Bolsonaro finalmente
respondeu à pergunta que não quer calar, ainda que sem mencionar “o nome”.
“Quem vai ser o cara da
direita? Tem que ser Jair Bolsonaro. Não será democrática, a eleição de 2026,
sem a minha presença. Quem você vai apoiar? Só falo algo parecido aos 48 do
segundo tempo, quando eu realmente não tiver mais chance”, respondeu o
ex-presidente num tom nitidamente desconfortável e irritado.
Nos bastidores do poder,
embora se reconheça que é muito cedo para cravar “o nome”, muitos são os
“papabiles” que podem ser escolhidos para a missão. Os nomes vão de Tarcísio de
Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil), governadores de São
Paulo e Goiás, respectivamente, até os de seus filhos Eduardo (PL-SP), deputado
federal, e Flávio, senador (PL-RJ).
¨ Bolsonaro se diz arrependido de ter nomeado generais no
governo
O ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta quarta-feira, que se pudesse voltar no
tempo teria escolhido ministros mais "parrudos" e "casca
grossa" em vez de generais para os ministérios palacianos no seu governo.
Segundo ele, faltou "competência" e "malícia" para
"enfrentar o sistema".
"O sistema tá
forte, tá aí (sic). Faltou competência para nós, malícia. Você me pergunta o
que eu faria diferente. Os ministros
palacianos seriam diferentes. Eu não teria mais alguns nomes, um general ali.
Eu não teria mais general ali. Teria ministro mais parrudo, mais casca grossa,
para enfrentar o sistema", disse, em entrevista ao canal
bolsonarista Fio Diário.
Os ministérios
chamados palacianos são aqueles cuja sede fica dentro do Planalto. São eles a
Casa Civil, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Secretaria-Geral e a
Secretaria de Governo. As chefias dessas pastas foram ocupadas pelos generais
Walter Braga Netto — preso desde dezembro por participação, segundo a Polícia
Federal, na trama golpista do fim de 2022 — que comandou a Casa Civil e também
foi ministro da Defesa; Augusto Heleno — também suspeito de integrar a trama
golpista de 2022 (GSI, de 2019 a 2022) —; Santos Cruz (Secretaria de Governo,
2019); e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo de 2019 a 2021; Casa Civil,
2021; e Secretaria-Geral da Presidência de 2021 a 2023).
A mudança de
discurso vem depois de a Polícia Federal indiciar 28 militares por participação
em um plano de golpe de Estado no fim de 2022, depois de Bolsonaro perder as
eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-chefe do Executivo,
também indiciado, é apontado pela PF como o líder da organização criminosa que
planejou abolir o Estado Democrático de Direito e impedir que o petista tomasse
posse.
<><> Traumas
Segundo ele, a
passagem pela Presidência da República lhe deixou traumas. Nas últimas
entrevistas que tem dado a canais bolsonaristas no YouTube, o ex-chefe do
Executivo tem repetido que, durante seu mandato, em diversas ocasiões, chorava
no gabinete presidencial. Nesta quarta-feira, ele frisou que uma das
consequências de ter chegado à Presidência é ter, todos os dias, a sensação de
que a Polícia Federal está à sua porta logo pela manhã.
"Eu digo e
alguns até reclamam: não é fácil a vida de presidente. (Perguntam) 'se é tão
difícil, por que tu quer ir pra lá?'. Porque eu quero ajudar o meu país. Como é
que você acha que eu acordo todo dia? Com a sensação da PF na porta! Qual a
acusação? Não interessa", disse.
Outra tônica das
entrevistas de Bolsonaro é o motivo da derrota em 2022. Nesta quarta-feira, ele
voltou a culpar o sistema eleitoral brasileiro e destacou que o país deveria
ter um sistema de votação igual ao da Venezuela, país que o ex-presidente criticou
ativamente durante seu mandato.
Para ele, a
existência do voto impresso no sistema venezuelano foi o que permitiu à
comunidade internacional perceber que havia fraude nas eleições do último ano
que reconduziram Nicolás Maduro. Até hoje, no entanto, as autoridades
venezuelanas não forneceram as atas eleitorais, a despeito dos pedidos de
organizações internacionais. A afirmação de Bolsonaro, portanto, é falsa.
"Hoje, nós
clamamos aqui por um sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela. (...) Só o
Brasil e mais dois países insignificantes têm isso daí", referindo-se à
urna eletrônica adotada no Brasil. Ele também sustentou que é perseguido pelo
Judiciário e que não pode mais dizer que há ou que houve fraudes no sistema
eleitoral brasileiro. "Se eu falar em fraude aqui, pode daqui a meia hora
a Polícia Federal bater na minha porta", justificou.
¨ Bolsonaro diz que Brasil deveria ter sistema eleitoral
igual ao da Venezuela
O ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quarta-feira (22/1) que o Brasil clama por um
sistema eleitoral semelhante ao da Venezuela. Para ele, o voto impresso
permitiu ao mundo saber que a eleição de
Nicolás Maduro foi fraudada.
“A Maria Corina
(política de oposição a Maduro) arrastava multidões na Venezuela,
semelhantemente (ao que ocorria) aqui no Brasil. E mesmo assim, ela se tornou
inelegível. E mesmo tendo tornado inelegível os dois (referindo-se a Edmundo
González, mas na verdade, só Maria Corina ficou inelegível), o Edmundo acabou
ganhando e serviu para o mundo democrático ver o que estava acontecendo na
Venezuela. E hoje nós clamamos aqui por um sistema eleitoral semelhante ao da
Venezuela”, disse Bolsonaro ao canal de direita Fio Diário.
“Só o Brasil e mais
dois países insignificantes têm isso daí”, referindo-se à urna eletrônica. Ele
também afirmou que é perseguido pelo Judiciário e que não pode mais dizer que
há ou que houve fraudes no sistema eleitoral brasileiro. “Se eu falar em fraude
aqui, pode daqui a meia hora a Polícia Federal bater na minha porta”, pontuou.
Durante a
entrevista, Bolsonaro também colocou parte da culpa de sua derrota nas eleições
de 2022 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por ter feito campanhas
para incentivar a população mais jovem (de 16 e 17 anos) a tirar o título de
eleitor.
“O Brasil estava decolando em 2022, e teve
aquela campanha toda contra eu (sic), ‘ah, quer dar golpe’, ‘é ditador’, ‘fala
palavrão’, ‘não gosta de mulher’, ‘não gosta de negro’, ‘não gosta de
nordestino’, ‘não gosta de imigrante’, e o TSE trabalhando para que o jovem
tirasse título de eleitor e essa faixa etária 3/4 votava no PT”, disse.
Esse tipo de
campanha por parte do TSE, no entanto, é comum. Em anos eleitorais, o tribunal
reforça suas ações de comunicação para coibir notícias falsas, para divulgar os
testes públicos de segurança da urna eletrônica e para orientar os eleitores
sobre seus direitos e deveres.
¨ PF identifica
elo entre blitze da PRF e plano golpista de Bolsonaro
A Polícia
Federal (PF) revelou um elo entre a ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF)
para obstruir o direito ao voto de eleitores do Nordeste durante o segundo
turno das eleições de 2022 e o plano golpista supostamente articulado por Jair
Bolsonaro (PL) e seus aliados. As informações foram divulgadas por Aguirre
Talento, do UOL, que teve acesso ao relatório final do inquérito enviado ao
Supremo Tribunal Federal (STF) e ao procurador-geral da República, Paulo
Gonet.
O documento,
que embasou o indiciamento do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do
ex-diretor da PRF Silvinei Vasques, descreve ações coordenadas para criar barreiras
ilegais no dia da eleição. Segundo a PF, essas operações estavam dedicadas à
"alteração criminosa do resultado das eleições presidenciais" e
faziam parte de uma organização criminosa articulada em torno do plano de golpe
que buscava impedir a vitória do presidente Lula (PT).
<><>
Blitze e intimidação de eleitores no Nordeste
As blitze
realizadas pela PRF, principalmente na Bahia — estado onde Lula obteve votação
expressiva —, foram descritas pela PF como ações orquestradas sob ordens
diretas de Anderson Torres. O relatório cita que Torres pressionou as forças de
segurança a intensificar o policiamento em regiões estratégicas para o
resultado eleitoral. "Houve uma atuação orquestrada deliberada pelo
ministro da Justiça, empregando recursos materiais e humanos do Ministério da
Justiça, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal como força armada
para criar óbices e intimidação aos eleitores do Nordeste", destaca o
texto.
Segundo o
relatório, a operação ilegal utilizou a PRF como ferramenta de intimidação, com
a finalidade de desestimular o comparecimento às urnas de eleitores no
Nordeste, região que historicamente concentra um forte eleitorado
progressista.
<><>
A conexão com o plano de golpe
O relatório
também vinculou essas ações ao plano golpista amplamente investigado. De acordo
com a PF, o plano incluía núcleos com diferentes funções, desde a desinformação
e ataques ao sistema eleitoral até operações para incitar apoio de militares e
ações coercitivas. O inquérito sobre Torres e a PRF adiciona um possível sétimo
núcleo à estrutura criminosa, que visava alterar por meio de crime o resultado
eleitoral.
Um trecho do
documento descreve os atos como uma "tentativa de abolição violenta do
Estado democrático de Direito", tipificada nos artigos 359-L e 359-M do
Código Penal. A minuta golpista apreendida na residência de Anderson Torres,
que previa a alteração do resultado das eleições, é outro elemento que reforça
o vínculo direto entre as ações do ex-ministro e o planejamento
antidemocrático.
<><>
Repercussão e próximos passos
Enquanto a
equipe de Paulo Gonet analisa as provas apresentadas, cabe à Procuradoria-Geral
da República decidir se os atos envolvendo as blitze da PRF serão incluídos na
denúncia principal sobre o plano golpista ou se configurarão um caso à parte.
Alexandre de Moraes, ministro do STF, já destacou a possibilidade de conexão
entre as investigações.
As defesas de
Torres e Vasques afirmaram não ter acesso ao relatório completo e, por isso,
não se manifestaram. Jair Bolsonaro, também indiciado, permanece em silêncio
sobre o caso.
Fonte: Correio
Braziliense/Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário