quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Moisés Mendes: O recado de Trump à extrema-direita moderada de Tarcísio de Freitas

A efusiva extrema-direita moderada de Tarcísio de Freitas, que se jogou sem medo nos braços de Trump no dia da posse, já tem um slogan para a campanha de 2026: “A gente somos inútil”.

E toda a velha direita absorvida pela nova extrema-direita já pode explorar, como mensagem ao seu povo, o recado que Trump enviou aos brasileiros que o idolatram. 

Trump disse o seguinte a Raquel Krähenbühl, da Globo, já no salão oval da Casa Branca, quando a jornalista fez uma pergunta sobre as futuras relações com o Brasil e a América Latina:

"Eles precisam muito mais de nós do que nós precisamos deles. Na verdade, não precisamos deles, e o mundo todo precisa de nós".

Trump não estava mandando um recado a Lula, a Alexandre de Moraes ou às esquerdas. Estava dizendo que irá impor suas vontades a países que considera subalternos: “Não precisamos deles”.

Não haverá mais a farsa da cooperação desigual, mas a explicitação de um domínio. É o que Tarcísio de Freitas e todos os que colocaram o boné da América grande terão de assimilar e passar adiante.

O governador de São Paulo e outros do time intermediário passam a ser subordinados ao discurso e às ações dessa imposição desqualificadora. Tarcísio de Freitas vai se submeter, como herdeiro de Bolsonaro, ao que as lideranças da Europa já enxergam como a maior ameaça ao mundo desde o fim do nazismo?

Os jornalões brasileiros, que vinham cortejando essa gente, parecem meio assustados. Porque Trump não deprecia nem tenta pisar só em governos e líderes políticos de esquerda, mesmo que sua prioridade hoje seja atacar Lula.

Trump desqualifica os países, em especial o Brasil, e avisa que todos os que aspirarem chegar ao poder nessas periferias, sendo de esquerda ou de direita, serão seus prepostos. 

A direita agora apegada à extrema-direita moderada, essa velha direita do PSD de Kassab, a direita dos jornalões que decidiram investir pesado na sabotagem do governo Lula, que aposta na farsa de uma alternativa de centro na extrema-direita, essa direita pode até passar a fingir que não estava tão próxima de Trump e de Musk.

É a mesma direita que vem enchendo as redes sociais com antigas fotos de líderes mundiais com o braço estendido, para tentar compará-los a Elon Musk e à sua saudação nazista em Washington.

A direita só meio constrangida tenta dizer: todos abrem e estendem os braços desse jeito. Sabem que não, porque uma imagem congelada conduz ao engano, mas um vídeo é revelador: o gesto de Musk foi, sim, uma saudação nazista. 

Mas a direita ainda encabulada finge negar-se a admitir o que vê, para dizer que o nazismo explicitado é o seu limite. O nazismo dissimulado ainda era aceitável, mas o teatral, não.

É com esse incômodo que os jornalões terão de lidar a partir de agora, depois da adesão juramentada de Tarcísio, com seu boné vermelho, à nova era Trump e a tudo o que significa. 

Tarcísio, o candidato deles, se jogou de cabeça, na empolgação provocada pela festa em Washington, em obediência ao que Bolsonaro mandou que fizesse, e escreveu nas redes:

“Tá chegando a hora! Novos ventos que apontam para o progresso, prosperidade e liberdade. Todos atentos ao que está por vir?”

O que está por vir poderá obrigá-lo a tirar o boné, para tentar recalibrar a retórica do novo extremismo moderado, mas talvez seja tarde demais. 

 

¨      Trump e a extrema-direita jaboticaba. Por Oliveiros Marques

A extrema-direita brasileira está em festa, radiante com a posse de Donald Trump na presidência dos EUA. Antes agarrados a Javier Milei, presidente da Argentina, como sua boia salva-discurso, agora voltam os olhos para o norte. Viram o líder portenho se transformar em uma grande âncora: uma economia em frangalhos, miséria crescente e carros circulando com placas de papelão como símbolos do caos. 

Mas, para os oportunistas de plantão – que, como velas de barco, seguem o vento –, Trump agora se tornou o grande farol. Até que o vento mude, e então abandonem o barco e seus tripulantes à deriva. 

Trump é a nova inspiração da extrema-direita brasileira, mesmo que sua trajetória como empresário e presidente não se alinhe totalmente ao discurso conservador que tentam emular. Ele critica Israel, defende a legalização da maconha, é contra que o governo federal proíba o aborto, e mantém diálogo com os comunistas chineses. Seria ele, então, um comunista? 

Os ideólogos da extrema-direita brasileira certamente buscarão apoio no governo Trump. Steve Bannon já deu o recado ao lançar a candidatura de Eduardo Bolsonaro à Presidência. Além de possíveis ganhos financeiros para o estrategista, essa aliança pode trazer outras consequências. Uma delas, me parece óbvio, é o uso das redes sociais. O X (antigo Twitter), de forma descarada, deve controlar o que circula. Já as plataformas da Meta, fingindo defender a liberdade, podem, assim como a rede de Elon Musk, ajustar o alcance de conteúdos para favorecer os extremistas. Prestemos atenção à foto da posse de Trump no Capitólio. A aliança está selada. 

Outra possibilidade está na articulação de agendas econômicas que promovam ataques especulativos contra o Brasil. Não dá para subestimar a audácia dessa gente, que poderia até sugerir, veladamente, algo como: “Dá uma mexidinha aí pra sacudir lá embaixo.” Com o controle do capital financeiro e das redes sociais é claro que o estrago seria grande. Eleve a N potência o que ocorreu com a fake news do PIX. 

E não podemos esquecer a possível atuação de órgãos de inteligência americanos. Não nos enganemos: eles existem, vão além dos filmes de espionagem e, sim, atuam. Se haverá intervenção no Brasil? Vigiai e orai. 

Contra a CIA e outros atores desse tipo, penso ser difícil se antecipar. No entanto, não resta dúvida de que os órgãos de inteligência brasileiros devem estar atentos. 

Quanto aos ataques especulativos, acredito que é necessário jogar pesado na regulamentação, punindo com rigor os criminosos e, talvez, até considerando o banimento de algumas redes sociais. Afinal, se os EUA podem cogitar isso com o TikTok, por que não? Claro, tudo deve ser feito com avaliações críticas e aprofundadas, garantindo que qualquer medida seja proporcional e eficaz. 

 

¨      O pesadelo mundial - Donald Trump e a promessa do inferno na Terra. Por Marcia Tiburi

O discurso de posso de Donald Trump não deve ter espantado ninguém. O demagogo estadunidense falou tudo o que se esperava dele nos termos da agenda fascista. 

Requintes de confusão para os desavisados têm uma função especifica. Ao citar Martin Luther King, ao falar em favor da população asiática e negra e, ao mesmo tempo contra a raça, Trump segue a pauta da extrema-direita. Se fazer passar por alguém digno, homem de bem, dono do seu mundo colonizado, inteiro em sua braquitude, ele falou para os racializados estadunidenses que votaram nele contra o fato de que são negros e latinos. Não devem ter entendido o que fizeram, como uma pessoa pobre não entende que é vitima do capitalismo. Quem é cidadão “americano” estará a salvo de uma deportação, mas os parentes ilegais serão expulsos com a ajuda compulsória dos próprios primos. Trump também falou que os americanos derrotaram fascistas e comunistas mostrando não saber nada do passado, do presente e, do futuro.  

A retórica do desnorteio, certa ambiguidade na fala, a frieza e as certezas cínicas serve para paralisar os ouvintes e impedir a contestação. Nessa linha, Trump falou até contra o fascismo, como se ele não fosse o maior dos fascistas nesse momento. Na linha da promoção da perturbação e do caos, usando palavras como amor e respeito, ele conseguia ser odiento e desrespeitoso, mas usando uma máscara. Misógino e sexista, Trump afirmou que nos EUA haverá apenas dois gêneros de agora em diante como se alguém fosse deixar de ser gay ou lésbica a partir de seu decreto maníaco. Gays de direita podem ter se sentido ofendidos, mas como a submissão ao líder autoritário é uma norma no fascismo, eles apenas abaixaram a cabeça. 

O ódio sobe um nível a partir de agora. Imigrantes e população LGBTQIA+ são os principais inimigos declarados pelo arcaico novo presidente. Ódio ao México e ao Panamá, bem como a China e aos países com quem os EUA tem relações comerciais, marcaram a cena. Apitos foram acionados para que comecem os ataques que trazem compensação emocional às massas fascistizadas. De todos os sinais do inferno na Terra - incluso a agenda anti ecológica - e ainda que possa haver muita falação, um deles é que, a extrema-direita raiz não tratará com amor nem seus lambe-botas. Os bolsonaros ficaram fora da festa, como pobres coitados barrados no baile porque Donald Hitler Trump não está pra brincadeira.

 

¨      Autocracia chega à Casa Branca. Por César Fonseca

Sai democracia, entra autocracia.

O novo presidente americano prometeu que seu primeiro ato no cargo será anistiar os invasores terroristas do Capitólio em 6 de janeiro de 2020.

Chute no traseiro da democracia ou não?

O novo panorama político mundial a ser inaugurado no império, se isso acontecer, não deixa dúvidas.

Se o exemplo vem de cima, é de se esperar que os de baixo seguirão, ou não?

Vão ou não para o ralo da história americana os valores iluministas que a formaram?

Como ficarão os ensinamentos e as práticas implementadas pelos pais da pátria gloriosa?

Benjamin Franklin, Jefferson, Madison etc serão exterminados com os seus pensamentos, base da nacionalidade e da educação?

A louvação do terrorismo contra democracia pela autocracia trumpista é a nova experiencia histórica que se inicia?

A proposição de Trump é ou não o ponto de partida para o novo nazifascismo mundial?

Representa ou não palavra de ordem para os discípulos do novo chefão troglodita espalhados pelo mundo?

O bolsonarismo estará ou não sendo estimulado para fazer de novo o que já tentou em 8 de janeiro de 2023, com o quebra-quebra dos 3 poderes?

Ou a promessa trumpista não passa de bravata?

ESTRATÉGIA DO MEDO

As preliminares da governabilidade trumpista evidencia o óbvio: espalhar medo e ameaças.

O direito da força no lugar da força do direito parece ser o modus operandi do troglodita.

Primeiro, ameaçou a China com a promessa de tarifa de 100% sobre importações chinesas.

Tal ameaça apenas demonstra que os Estados Unidos não têm competitividade suficiente para enfrentar a China de peito aberto.

1 x 0 para os chineses.

Nesta sexta, 18, Trump, segundo Global Times, deu um alô para Xi Jinping.

Disse que pretende ter relações amigáveis com o colega chinês.

Desfez ou não com o contato a impressão inicial de que sairia no pau, logo na largada?

Portanto, 2 x 0 para a China, já antes da posse.

Trump confirmou ou não a velha frase de Mao Tsé Tung de que os Estados Unidos são tigres de papel?

Outra controvertida posição trumpista se apresentou com o acordo de cessar fogo em Gaza pelo genocida Netanyahu.

Biden, às vésperas de passar o bastão, não perdeu a oportunidade histórica: anunciou a decisão.

Vai para a história de que não foi Trump, mas Biden que deu um basta no sionismo genocida na faixa de Gaza.

Jogou Israel em crise política.

Vale dizer: se Netanyahu voltar atrás, como já ameaça, obrigará ou não Trump a honrar a ação de Biden?

O mundo cairia em cima de Trump, caso deixe Netanyahu fazer o que quiser.

Seria taxado de imperador frouxo, sem autoridade.

Seu governo seria considerado submisso às forças armamentistas, as que, realmente, dão as ordens.

Tudo como dantes no Quartel de Abrantes.

VALENTIA CONTRA FRACOS

Se não tem forças para dobrar nem a China nem Israel, o que restaria ao imperador senão exercer sua força contra os mais fracos?

Não é o que deixou claro nas últimas semanas, fazendo ameaças ao México, Canadá, Groenlândia, Panamá e, também, imigrantes?

A presidente mexicana, Cláudia Scheinbaum, disse altivamente que não tem medo dele.

À ameaça trumpista de que mudará o nome do Golfo do México para Golfo da América (note, não é "Golfo das Américas", mas da América), Sheinbaum provocou: chamaria os Estados Unidos de América Espanhola.

Afinal, os Estados Unidos tomaram na marra mais da metade do México para si, no século 19!

Já em relação às ameaças de sobretaxar importações mexicanas em 25%, Sheinbaum retrucou que faria o mesmo com as importações americanas.

O primeiro-ministro Justin Trudeau, do Canadá, igualmente, ameaçado por Trump com tarifas de importação de 25%, disse que reagiria com a mesma moeda.

Quanto à ameaça de transformar o Canadá no estado americano número 51, anexando-o, tal bravata pode ficar somente nas palavras, se os canadenses resistirem politicamente a essa agressão imperialista.

Emergiria ou não tensão revolucionária?

E o canal do Panamá, o valentão vai invadir o pequeno país para exercitar sua força de modo a impor a Doutrina Monroe, no peito e na raça?

São muitos contenciosos explosivos abertos ao mesmo tempo.

Quem tudo quer, como diz o ditado, tudo perde.

Verifica-se, dessa forma, que Trump não está nem aí para a autodeterminação dos povos, pelo menos os dos países mais fracos, vulneráveis.

O mesmo não aconteceria em relação aos mais fortes como Rússia e China.

Com Xi Jinping, Trump se apressou em levantar bandeira branca.

Quanto a Putin, também, antecipou declarações de que quer paz, propondo encerrar a guerra na Ucrânia.

Disse que ela não deveria nem ter sido iniciada.

Denota propensão à paz, não à guerra.

O que dirá o Deep State todo poderoso?

O que Trump quer é petróleo.

Venezuela e Brasil, grandes reservatórios de óleo, que se cuidem: pode vir turbulências por aí.

CONFLITO INTERNO

Prenuncia-se que a batalha que enfrentará será a de expulsar imigrantes.

A maioria dos americanos, segundo pesquisas, apoiaria a expulsão.

Muita agitação política desde já vai acontecer, para encher o mundo midiático de notícias, colocando o imperador em evidência.

Mas, seriam, mesmo, os imigrantes o real problema que enfrenta o capitalismo americano?

Ou se trata de cortina de fumaça para desviar assunto, tal como o perigo da desdolarização em decorrência do excesso de dívida pública que implodiria o sistema capitalista, se a moeda perder força para continuar bancando a financeirização especulativa?

O telefonema de Trump para Jinping não denunciaria o medo dele de o chefe chinês utilizar as trilionárias reservas em dólar chinesas, estimadas em mais de 4 trilhões de dólares, como arma monetária?

Afinal, se essas reservas forem jogadas na circulação capitalista global, adeus dólar!

Trump seria obrigado a enxugar a liquidez global, para evitar hiperinflação.

Ou não, de acordo com a lei da oferta e da procura?

A instabilidade monetária americana em face do elevado endividamento interno, algo em torno de 1,9 trilhão de dólares, 118% do PIB, seria ou não o calcanhar de Aquiles de Trump, se a desdolarização desandar?

A valentia trumpista estaria ou não revelando mera aparência de força frente à realidade oculta de vulnerabilidade do império?

Daria ou não razão a Mao Tsé Tung de que Tio Sam é tigre de papel, por não dispor mais da hegemonia atômica, enquanto balança, também, a hegemonia monetária, já que perdeu para a China a hegemonia comercial e financeira?

A realidade trumpista, enfim, é a representação da força ou da debilidade do unilateralismo imperialista?

A democracia americana, nesse cenário, corre ou não perigo com a subida ao poder do autocrata?

 

Fonte: Brasil 247

 

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