quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Luís Nassif: Trump e a psicologia de massa do fascismo

A imagem de Donald Trump – assim como a de Jair Bolsonaro no Brasil – foi modelada de acordo com o figurino do fascismo dos anos 20.

Tanto lá, como agora, o Ocidente foi submetido a uma ampla financeirização e as mudanças tecnológicas que esmagaram o emprego e deixaram as pessoas órfãs de Estado. Nos dois momentos, a ultrafinanceirização criou um enorme mal estar, resultando na reação dos movimentos sindicais.

O fascismo conquistou admiradores entre o empresariado por bater de frente com o movimento sindical e praticar um populismo enganador, contando com o uso intensivo das novas mídias – rádio, nos anos 20, redes sociais, agora.

Não fosse o papel de Franklin Delano Roosevelt, e a postura expansionista de Adolf Hitler, e provavelmente o grande empresariado norte-americano teria aderido ao fascismo.

Agora, sem o bode do expansionismo alemão, os oligarcas da tecnologia e do mercado se aliam ao novo Mussolini.

O uso da psicologia de massas do fascismo é nítido.

·        Uso de símbolos e gestos

Hitler apontou os judeus. Trump aponta os imigrantes e os árabes.

Depois do jogo de cena da interrupção provisória do genocídio de Gaza, Trump aprofundará as relações com Israel. No primeiro governo, liberou geral a ocupação de terras da Palestina por colonos judeus radicais.

Algumas lideranças judaicas progressistas manifestaram preocupação com sua eleição. Mas Trump tem recebido amplo apoio de sionistas conservadores.

​​A Liga Antidifamação – órgão de vigilância do antissemitismo nos EUA – defendeu Elon Musk depois da saudação nazista:

“Este é um momento delicado. É um novo dia e, ainda assim, muitos estão nervosos. Nossa política está inflamada, e as mídias sociais só aumentam a ansiedade.

Parece que @elonmusk fez um gesto estranho em um momento de entusiasmo, não uma saudação nazista, mas, novamente, reconhecemos que as pessoas estejam nervosas.

Neste momento, todos os lados devem dar um pouco de graça um ao outro, talvez até mesmo o benefício da dúvida, e respirar fundo. Este é um novo começo. Vamos esperar pela cura e trabalhar pela unidade nos meses e anos que virão”.

·        A ideia do “país grande”.

Mussolini desenvolveu uma política externa agressiva e expansionista, buscando restaurar o Império Romano e aumentar a prestígio da Itália no cenário mundial. Conseguiu expandir o Império Italiano na África e no Mediterrâneo, invadindo a Líbia, a Etiópia e outras regiões. Nas colônias, as populações locais foram submetidas a políticas racistas e opressivas.

A segregação racial foi imposta, com os colonos italianos recebendo privilégios, enquanto os nativos eram tratados como inferiores. Na Etiópia, o uso de armas químicas e a violência sistemática contra a população civil marcaram a brutalidade do regime.

Trump ameaça invadir o Panamá, mudar o nome do Golfo do México, invadir a Groenlândia.

·        Os grandes eventos e o culto à personalidade 

As celebrações nazistas enfatizavam a unidade do “Volk” (povo) alemão. O regime usava esses eventos para reforçar a ideia de que todos faziam parte de uma grande máquina destinada a restaurar a glória. Nenhuma coincidência com o discurso de Trump.

Hitler era apresentado como o salvador da Alemanha, e seus discursos nos eventos públicos eram o ponto alto das celebrações. A massa era incentivada a demonstrar devoção incondicional

·        As batalhas pela produção

Trump anunciou a batalha pela produção interna de petróleo, como maneira de mobilizar o país. Mussolini montou campanhas como a “Batalha pelo Trigo” (para aumentar a autossuficiência agrícola) e a “Batalha pelos Nascimentos” (para incentivar o crescimento populacional).

·        Os elementos comuns

Há inúmeros elementos comuns no nazismo, no fascismo e no trumpismo:

# Uso de Simbolismo: Ambos os regimes usavam bandeiras, uniformes e gestos (como a saudação romana) para fortalecer o pertencimento ao grupo.

# Exaltação Militar: Desfiles militares eram comuns, simbolizando a força do regime e intimidando opositores.

# Mídia de Massa: Fotografia, cinema e rádio amplificaram o impacto dos eventos, levando uma mensagem além dos locais onde ocorriam.

# Emoção e Controle: Os eventos criavam uma atmosfera emocional intensa, eliminando o pensamento crítico e promovendo o conformismo.

# Liderança Carismática: Ambos projetavam a imagem de líderes fortes, próximos do povo, mas infalíveis e visionários.

# Propaganda Massiva: A propaganda era central para transmitir mensagens simples e emotivas que ressoavam com a população.

# Culpa em “Inimigos Externos” e “Traidores Internos”: Minorias e opositores eram demonizados como responsáveis ​​pelos problemas nacionais.

# Criação de um Ideal de Comunidade: O povo era incentivado a se unir em torno de um ideal nacionalista e cultural comum.

# Ataques aos críticos: Squadristi , conhecidos como “Camisas Negras”, eram milícias paramilitares que atacavam críticos do regime. Eles realizaram espancamentos, destruição de propriedades e, em casos extremos, assassinatos de opositores. Até agora, a ultradireita tem utilizado ataques em massa aos críticos, pelas redes sociais.

O renascimento de Mussolini, à frente da maior nação do planeta, será o desafio da próxima década.

 

¨      O retorno de Trump: a comédia trágica das ameaças globais. Por Fernando Castilho

E lá vamos nós novamente! Donald Trump, o magnata do reality show, está de volta ao centro do poder, pronto para transformar o mundo em seu palco pessoal de caos e controvérsia. Se você pensou que a primeira temporada foi intensa, prepare-se para a sequência: “Trump 2.0 – A Vingança”.

Primeiro ato: A Guerra Comercial 2.0. Trump, com sua clássica abordagem protecionista, já prometeu tarifas alfandegárias de 60% sobre produtos chineses. Porque, claro, nada diz “vamos melhorar a economia global” como uma boa e velha guerra comercial. A Europa, coitada, não é o alvo principal, mas pode acabar sendo a maior vítima dessa brincadeira de tarifas1. Afinal, quem precisa de estabilidade econômica quando se pode ter drama?

Segundo ato: O Desmonte Ambiental. Trump, o negacionista climático de carteirinha, está de volta com seu bordão favorito: “Perfure, Querida, Perfure”. Ele já deixou claro que pretende reverter todas as regulamentações ambientais que puder, porque, aparentemente, o planeta não está aquecendo rápido o suficiente. A COP30 no Brasil? Apenas um detalhe insignificante no grande plano de Trump para transformar os EUA no maior produtor mundial de petróleo2.

Terceiro ato: A Diplomacia do Twitter e da Meta. Quem precisa de diplomacia tradicional quando se tem um smartphone e uma conta no Twitter ou na Meta? Trump já mostrou que prefere resolver questões internacionais com tweets inflamados e declarações bombásticas. A recente proibição do TikTok nos EUA e a ordem executiva de Trump para buscar um acordo que permita a rede continuar operando no país, é apenas uma amostra do que está por vir. E se você acha que isso é uma estratégia para negociar com a China, bem, talvez seja hora de rever seus conceitos sobre diplomacia.

Quarto ato: A Crise dos Imigrantes. Trump, sempre o showman, promete ordens executivas draconianas contra imigrantes. Porque, claro, a melhor maneira de resolver problemas sociais é criar mais conflitos. A sociedade americana, já inquieta, pode esperar um aumento nas tensões sociais e políticas. Afinal, nada une mais um país do que a divisão e o conflito, certo?

E assim, o mundo assiste, com um misto de fascinação e horror, ao retorno de Donald Trump ao poder. Será que ele conseguirá transformar o caos em ordem? Ou será que estamos prestes a assistir a uma comédia trágica de proporções épicas? Só o tempo dirá. Enquanto isso, preparem a pipoca e ajustem seus cintos, porque o show está apenas começando.

 

¨      O 1º dia do fim da civilização ocidental. Por Luís Nassif

A máxima é “tudo para os Estados Unidos”. E o objetivo final é o “delenda, China”, apresentada como o maior risco para a hegemonia norte-americana, maior até que a União Soviética no seu auge.

Com base nesses princípios, adotará políticas comerciais protecionistas. Como elas impactarão o custo de vida – já que tornará mais caros os produtos importados – a compensação virá de uma Declaração de Emergência Energética Nacional, um plano de emergência para combustíveis, permitindo a exploração de petróleo em regiões com restrições ambientais.

Ao mesmo tempo, anunciou a revogação de Políticas Ambientais Anteriores. Anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e o fim de iniciativas como o Green New Deal, visando remover regulamentações que, segundo ele, limitavam a produção de energia fóssil.

Finalmente, cancelou os incentivos às energias renováveis, para veículos elétricos e rescindiu contratos de arrendamento para parques eólicos, com o objetivo de direcionar investimentos para a indústria de petróleo e gás.

A ideia é baratear o combustível, para contrabalançar o impacto do protecionismo comercial sobre os preços.

Esses movimentos conjunturais servem apenas para preparar a grande estratégia trumpiana, que é submeter o mundo a uma frente de oligarcas norte-americanos, usando as big techs e o mercado financeiro.

A lógica de dominação é clara:

- Isolamento dos Estados Unidos, com políticas protecionistas, boicote aos organismos multilaterais, expulsão de imigrantes, fim das políticas inclusivas, inclusive nas grandes corporações, fim do financiamento da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), deixando a Europa dependendo de suas próprias forças armadas.

- Tomada total de controle do Estado americano, colocando bilionários e aliados em todos os cargos relevantes, do procurador geral ao presidente do FED.

- Pressão sobre os países através de três grupos: as big techs controlando o mercado de opinião; o estímulo às criptomoedas, enfraquecendo as políticas monetária e cambial dos países; e a parceria com a ultradireita religiosa.

A Europa se torna a grande incógnita desta equação. Fica à mercê das ameaças de Trump ao mesmo tempo em que os governos nacionais são acossados por uma ultradireita cada vez mais agressiva e influente. 

Aí se chega ao impasse final. De um lado, a China, como maior parceira comercial de mais de uma centena de países; de outro, os Estados Unidos, como a maior máquina bélica do planeta.

Obviamente, haverá um movimento da parte dos países em direção aos BRICS. Mas Trump fez ameaças diretas de retaliação a qualquer país que ousar essa aproximação.

Aparentemente, o mundo entrou em uma dinâmica que só será contida com uma grande tragédia, como foi nos anos 30 e 40. 

 

Fonte: Jornal GGN

 

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