Eduardo Guimarães: O primeiro
Estado neonazista
No
decurso das décadas de 1910 e 1920 do século 20, Adolf Hitler ascendeu na
política alemã usando discursos contra minorias, políticos de esquerda,
pacifistas, feministas, gays, negros, elites progressistas, imigrantes, a mídia
e a Liga das Nações, precursora das Nações Unidas.
Em
1932, porém, 37% dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, a nova
força política dominante no país, pois o partido nazista era o maior do
Reichstag , o parlamento alemão, que, um ano depois, seria incendiado a mando
presumido do "führer" para incriminar os comunistas e exterminá-los.
. Em 30 de janeiro de 1933, Hitler se tornou chefe de governo, nomeado
chancelar da Alemanha pelo então presidente alemão, Paul von Hindenburg.
Até
hoje, muitos se perguntam por que o povo mais instruído do mundo naqueles dias,
o povo alemão, acreditou em um patético bufão que levaria o país ao abismo.
Hitler
ascendeu na política utilizando um recurso discursivo que se baseava em três
partes.
Na
primeira parte, apontava, afetando comiseração, a situação de pobreza e
dificuldades que assolava um povo que arcava com a insensatez da Alemanha ao
deflagrar a Primeira Grande Guerra, que perderia, o que a obrigaria a firmar o
Tratado de Paz de Versalhes em 1919 com os países vitoriosos da Primeira
Guerra Mundial, tentdo que arcar com pesadas reparações financeiras aos
vencedores.
Na
segunda parte invariável de seus discursos, o führer apontava culpados.
Imigrantes, negros, comunistas, judeus, homossexuais, artistas.... O povo
almejava por culpados para suas dores e por soluções simples para erguer a
Alemanha, destinada à grandeza e à qual não chegava por conta dessas
"infecções sociais" que precisariam ser debeladas para pôr fim ao
"declínio" alemão.
Eis
que, na terceira parte da sua lenga-lenga fascista ele prometia uma nova era de
ouro para a Alemanha....
Se
você identificou, até aqui, semelhança da tática política de Adolf Hitler para
chegar ao poder com a de um outro político que ora ocupa as atenções do mundo,
saiba que vem mais por aí.
Hitler
também chegou ao poder valendo-se de um discurso expansionista e cumprindo o
que prometeu após assumir o comando da nação. Seu expansionismo foi um conjunto
de ações que visavam ampliar o território alemão. O expansionismo nazista
iniciou a Segunda Guerra Mundial e teve três etapas preparatórias de um plano
para dominar o mundo:
*
Anexação da Áustria, em 1938, em um evento conhecido como Anschluss
*
Anexação dos Sudetos, em 1938, região da Checoslováquia
*
Invasão da Polônia, em 1939, que deu início à Segunda Guerra Mundial
Mais
parecido ainda? Então aperte o cinto que vem mais por aí.
Já no
primeiro governo Trump, grupos de supremacistas brancos e neonazistas receberam
com entusiasmo suas declarações sobre os casos de violência registrados em
Charlottesville, vendo neles apoio a suas posições.
O
ataque em Charlottesville, na Virgínia, foi empreendido por um homem chamado
James Alex Fields Jr., que usou seu Dodge Challenger como arma contra uma
multidão de manifestantes antirracistas, criando um dos marcos da violência da
extrema direita nos Estados Unidos.
Segundo
a polícia, Fields era membro ativo de uma comunidade online de extrema direita.
Como muitos outros ativistas dessa ideologia:
"Este
homem está fazendo absolutamente tudo o que está ao seu alcance para nos apoiar
e precisamos de seu apoio", escreveu Andrew Anglin em DailyStormer, um
site neonazista e antissemita no qual se reúnem grupos de extrema direita.
Naquele
ano, Trump, iniciando seu primeiro mandato, deixou o país boquiaberto ao
condenar energicamente os manifestantes antirracistas como igualmente
responsáveis pela violência desatada na marcha de sábado em Charlottesville.
Esse
foi apenas um dos muitos episódios em que Trump apoiou neonazistas, apesar de
sempre dizer que não os apoia.
E nem
precisamos falar de Elon Musk, cujas peripécias neonazistas como apoiar o
partido nazista alemão, o AFD (Alternativa para Alemanha), ou fazendo a
saudação nazista diante do mundo na posse de Trump.
Seguem
trechos de reportagem da revista norte-americana The Atlantic de 22 de outubro
de 2024, intitulada "Trump: ‘I Need the Kind of Generals That Hitler Had’
":
"Em
abril de 2020 , Vanessa Guillén, uma soldado rasa de 20 anos do Exército, foi
espancada até a morte por um colega soldado em Fort Hood, no Texas. O
assassino, auxiliado por sua namorada, queimou o corpo de Guillén. Os restos
mortais de Guillén foram descobertos dois meses depois, enterrados em uma
margem de rio perto da base, após uma busca massiva.
Guillén,
filha de imigrantes mexicanos, cresceu em Houston, e seu assassinato provocou
indignação em todo o Texas e além. Fort Hood ficou conhecido como uma tarefa
particularmente perigosa para mulheres soldados, e membros do Congresso
assumiram a causa da reforma. Pouco depois que seus restos mortais foram
descobertos, o próprio presidente Donald Trump convidou a família Guillén para
a Casa Branca. Com a mãe de Guillén sentada ao lado dele, Trump passou 25
minutos com a família enquanto as câmeras de televisão gravavam a cena.
Na
reunião, Trump manteve uma postura digna e expressou simpatia à mãe de Guillén.
'Eu vi o que aconteceu com sua filha Vanessa, que era uma pessoa espetacular,
respeitada e amada por todos, inclusive nas forças armadas', disse Trump. Mais
tarde na conversa, ele fez uma promessa: 'Se eu puder ajudar você com o
funeral, eu vou ajudar — eu vou ajudar você com isso”, ele disse. “Eu vou
ajudar você. Financeiramente, eu vou ajudar você.'
(...)
Cinco
meses depois, o secretário do Exército, Ryan McCarthy, anunciou os resultados
de uma investigação. McCarthy citou inúmeras 'falhas de liderança' em Fort Hood
e dispensou ou suspendeu vários oficiais, incluindo o general comandante da base.
Em uma entrevista coletiva, McCarthy disse que o assassinato 'chocou nossa
consciência' e 'nos forçou a dar uma olhada crítica em nossos sistemas, nossas
políticas e em nós mesmos'.
De
acordo com uma pessoa próxima a Trump na época, o presidente ficou agitado com
os comentários de McCarthy e levantou questões sobre a severidade das punições
aplicadas a oficiais superiores e suboficiais.
Em uma
reunião no Salão Oval em 4 de dezembro de 2020, autoridades se reuniram para
discutir uma questão separada de segurança nacional. Perto do fim da discussão,
Trump pediu uma atualização sobre a investigação de McCarthy. Christopher
Miller, o secretário de defesa interino (Trump havia demitido seu antecessor,
Mark Esper, três semanas antes, escrevendo em um tweet, "Mark Esper foi
demitido"), estava presente, junto com o chefe de gabinete de Miller, Kash
Patel . Em um certo ponto, de acordo com duas pessoas presentes na reunião,
Trump perguntou: 'Eles nos cobraram pelo funeral? Quanto custou?'
De
acordo com os participantes e com anotações contemporâneas da reunião feitas
por um participante, um assessor respondeu: 'Sim, recebemos uma conta; o
funeral custou US$ 60.000'.
Trump
ficou bravo. 'Não custa 60.000 dólares para enterrar um maldito mexicano!' Ele
se virou para seu chefe de gabinete, Mark Meadows, e emitiu uma ordem: 'Não
pague!' Mais tarde naquele dia, ele ainda estava agitado. 'Você acredita?', ele
disse, de acordo com uma testemunha. 'Pessoas do caralho, tentando me roubar.'
(...)
As
qualidades pessoais demonstradas por Trump em sua reação ao custo do funeral de
Guillén — desprezo, raiva, parcimônia, racismo — dificilmente surpreenderam seu
círculo íntimo. Trump frequentemente expressou seu desdém por aqueles que
servem nas forças armadas e por sua devoção ao dever, honra e sacrifício.
Ex-generais que trabalharam para Trump dizem que a única virtude militar que
ele preza é a obediência. À medida que sua presidência se aproximava do fim, e
nos anos seguintes, ele se tornou cada vez mais interessado nas vantagens da
ditadura e no controle absoluto sobre as forças armadas que ele acredita que
isso proporcionaria. 'Preciso do tipo de generais que Hitler teve', disse Trump
em uma conversa privada na Casa Branca, de acordo com duas pessoas que o
ouviram dizer isso. 'Pessoas que eram totalmente leais a ele, que seguiam
ordens.'
Vamos,
agora, definir o que é neonazismo. A Wikipedia o define assim:
"O
neonazismo está associado ao resgate do nazismo, ideologia política propagada
por Adolf Hitler, a partir do começo da década de 1920. O movimento neonazista
tem suas origens assentadas na intolerância e em preceitos racialistas,
primando sempre pela 'raça pura ariana' ou pela 'superioridade da raça branca'.
Os seguidores da doutrina, em sua maioria, promovem discriminação contra
minorias e grupos específicos, como homossexuais, negros, estrangeiros, índios,
além de imigrantes caboclos e islâmicos e contra os comunistas"
O
termo neonazista, porém, refere-se a pessoas ou a grupos, mas nunca se referiru
a nações e, muito menos, a alguma potência militar, econômica e cultura. No
último dia 20 de janeiro de 2025, isso mundo. Agora, o mundo tem um Estado
neonazista declarado, com direito a saudações nazistas e medidas que vão do
racismo e da homofobia ao expansionismo hitleristas. E isso é só o começo...
Supremacistas
brancos comemoram gesto de Musk: "Estamos de volta"
Supremacistas
brancos e grupos de extrema-direita comemoraram um gesto realizado pelo
bilionário Elon Musk, durante um comício no primeiro dia de governo do novo
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O movimento feito por Musk – no
qual ele coloca a mão direita sobre o lado esquerdo do peito e, em seguida,
estica o braço à altura da cabeça – foi comparado amplamente à saudação nazista
de Adolf Hitler.
O
grupo nacionalista branco White Lives Matter divulgou uma nota de agradecimento
pelo gesto: "Obrigado por (às vezes) nos ouvir, Elon. A Chama Branca se
erguerá novamente", disseram. A mensagem inclui um apelo para que o
empresário apoie as causas do grupo, incluindo o que chamam de fim do
“genocídio branco".
Andrew
Torba, fundador de uma plataforma conhecida por reunir antissemitas e
defensores da supremacia branca, também reagiu. Em uma publicação, Torba
compartilhou a imagem de Musk fazendo o gesto e escreveu: "Coisas
incríveis já estão acontecendo".
Já no
Telegram, um canal focado em memes nazistas celebrou com frases como:
"Estamos de volta".
¨ Saudação
nazista de Musk provoca indignação global, mas entidade judaica alivia
Nesta
segunda-feira 20, Elon Musk realizou o gesto associado à saudação nazista em
pleno palco do Capital One Arena, em Washington, DC, durante um evento que
celebrava a posse de Donald Trump como 47º presidente dos Estados Unidos.
Apesar de sua clara execução, a Anti-Defamation League (ADL),
organização reconhecida no combate ao antissemitismo, classificou o ato como
“um gesto desajeitado em um momento de entusiasmo” e pediu calma ao público.
Durante
o discurso, Musk exaltou a vitória de Trump como “não uma vitória qualquer”,
descrevendo-a como “um marco no caminho da civilização humana”. Enquanto
agradecia aos apoiadores, ele bateu a mão no peito e, em seguida, estendeu o
braço em ângulo ascendente, com a palma voltada para baixo e os dedos juntos,
em um gesto inconfundível. As imagens do ato viralizaram imediatamente nas
redes sociais, sendo amplamente reconhecido como o famoso "Sieg
Heil", associado a Adolf Hitler e ao regime nazista.
Entre
os críticos, o jornalista britânico Owen Jones foi categórico:Isso honestamente
não poderia parecer mais uma saudação nazista.A imprensa israelense, como o
jornal Haaretz, também foi enfática, descrevendo o gesto como uma
“saudação romana”, historicamente vinculada ao fascismo e ao nazismo. A
publicação destacou que Musk concluiu sua fala com esse ato simbólico em um
contexto que não deixa margem para interpretações ambíguas, dada a celebração
de um presidente frequentemente acusado de flertar com o autoritarismo.Apesar
da indignação generalizada, a ADL optou por uma postura branda, publicando no X
(antigo Twitter):“Neste momento, todas as partes deveriam dar uma margem de
graça umas às outras, talvez até o benefício da dúvida, e respirar fundo.
A
reação da ADL foi duramente criticada por ativistas e líderes comunitários, que
acusaram a organização de minimizar a gravidade do ato. Para críticos, a defesa
de Musk por parte da ADL reforça um padrão perigoso de leniência com figuras de
poder, mesmo diante de gestos que simbolizam ódio e opressão.
A
repetição do gesto, somada ao contexto de apoio explícito a Trump, é interpretada
por muitos como um sinal alarmante de normalização de práticas simbólicas do
nazismo em espaços públicos. A presença de Musk, um dos homens mais ricos e
influentes do mundo, apenas amplifica o impacto negativo do episódio.
Para
além das explicações oferecidas por seus defensores, o gesto de Musk ecoa
preocupações globais sobre o ressurgimento de símbolos fascistas e discursos
extremistas, especialmente em uma cerimônia destinada a consolidar o poder de
uma figura polarizadora como Trump. A impunidade aparente e a tentativa de
justificar atos como este abrem precedentes perigosos, alertam especialistas em
direitos humanos e história.
¨ 'Apoio à
extrema-direita é inaceitável', diz chanceler alemão sobre gesto feito por Elon
Musk após posse de Trump
O
chanceler alemão, Olaf Scholz, criticou nesta terça-feira (21) o apoio de Elon
Musk a “posições de extrema-direita” depois que o magnata da tecnologia apoiou
o partido de extrema-direita AfD da Alemanha e provocou críticas com um gesto
que remete à saudação nazista, utilizada por Adolf Hitler e seus apoiadores.
“Temos
liberdade de expressão na Europa e na Alemanha”, disse Scholz ao Fórum
Econômico Mundial quando perguntado sobre Musk, que fez o gesto em um evento
que marcou a posse do presidente dos EUA, Donald Trump. “Todo mundo pode dizer
o que quiser, mesmo que seja um bilionário. O que não aceitamos é se ele
estiver apoiando posições de extrema-direita”.
O
gesto aconteceu após Musk ressaltar que a posse de Trump como presidente dos
EUA "marcou um ponto de virada para a civilização humana" e expressar
sua empolgação com os planos de pousar uma missão tripulada em Marte durante o
segundo mandato de Trump."Só quero agradecer a vocês por fazerem isso
acontecer", disse o bilionário, antes de bater com a mão direita no peito,
com os dedos abertos, e estender o braço direito em uma diagonal para cima, com
os dedos juntos e a palma da mão voltada para baixo.
A Liga
Anti-Difamação (ADL), que faz campanha contra o antissemitismo, define a
saudação nazista como "levantar o braço direito estendido com a palma da
mão para baixo".
"Começo
a me perguntar se alguém nessa nova administração, se alguém no universo Maga
[sigla para Make America Great Again – Faça a América Grande de Novo] já pegou
um livro de história", disse a jornalista estadunidense Anne Bagamery à
France 24, reagindo ao fato de Musk oferecer aos apoiadores de Trump o que
parecia ser uma saudação nazista enquanto ele fazia seu discurso.
O
jornal israelense Haaretz descreveu Musk fazendo "uma saudação romana, uma
saudação fascista mais comumente associada à Alemanha nazista".
Conforme
descrito pela ADL, na Alemanha, entre 1933 e 1945, a saudação dos seguidores de
Adolf Hitler "era frequentemente acompanhada de cânticos ou gritos de
'Heil Hitler' ou 'Sieg Heil'. Desde a Segunda Guerra Mundial, os neonazistas e
outros supremacistas brancos continuaram a usar a saudação, tornando-a o gesto
supremacista branco mais comum no mundo".
Em uma
declaração publicada em suas mídias sociais nesta segunda, a ADL disse:
"este é um momento delicado. É um novo dia e, ainda assim, muitos estão
nervosos. Nossa política está inflamada, e a mídia social só aumenta a
ansiedade".
"Parece
que Elon Musk fez um gesto estranho em um momento de entusiasmo, não uma
saudação nazista, mas, novamente, entendemos que as pessoas estão nervosas.
Neste momento, todos os lados devem se dar um pouco de graça, talvez até mesmo
o benefício da dúvida, e respirar fundo. Este é um novo começo. Vamos torcer
pela cura e trabalhar pela unidade nos próximos meses e anos", segue o
texto.
Musk
fez diversas contribuições para Trump desde sua campanha presidencial. O valor
total que o empresário sul-africano naturalizado estadunidense gastou com o
republicano foi de U$ 250 milhões (cerca de R$1,5 bilhão).
Em troca,
Trump prometeu um cargo em seu governo. Musk comandará, ao lado de outro
bilionário, Vivek Ramaswamy, o Departamento de Eficiência Governamental.
Fonte: Brasil
247/Brasil de Fato
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