Quem é a bispa de
Washington Mariann Edgar Budde, que disse a Trump para ter misericórdia com
imigrantes e LGBT
O presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, criticou um culto realizado na
terça-feira (21/1) na Catedral Nacional de Washington em que ele foi citado
durante um sermão.
A reverenda Mariann
Edgar Budde pediu "misericórdia" a Trump, citando sentimentos de medo
entre as comunidades LGBT e imigrantes.
O sermão fez parte
de um culto especial como parte da celebração da posse
de Trump.
O culto foi realizado na igreja St. John's Episcopal Church, em Washington, e
contou com a presença de Trump.
Falando à imprensa
depois, Trump disse que
"não achou que foi um bom culto".
"O que vocês
acharam? Vocês gostaram? Vocês acharam emocionante?", perguntou Trump aos
repórteres no local.
"Não foi muito
emocionante, não é? Não achei que foi um bom serviço. Muito obrigado. Eles
podem fazer muito melhor", disse Trump, antes de ir embora do local.
Na sua rede social,
a Truth Social, Trump escreveu: "A suposta bispa que discursou no Serviço
Nacional de Oração na terça-feira de manhã era uma radical de esquerda que
odeia Trump".
Após o culto, o
representante republicano dos EUA, Mike Collins, da Geórgia, postou um
videoclipe no X do sermão de Budde junto com o texto: "A pessoa que faz
este sermão deve ser adicionada à lista de deportação".
·
O
que disse a bispa em seu sermão?
Pouco depois de ser
empossado como presidente dos EUA na segunda-feira (20/1), Trump disse que
tornaria "política oficial" que há "apenas dois gêneros —
masculino e feminino".
Ele também prometeu
acabar com a imigração ilegal no país e disse que milhões de "estrangeiros
criminosos" seriam deportados.
No dia seguinte,
Trump participou do culto em Washington.
A bispa Mariann
Edgar Budde fez um sermão que durou cerca de 15 minutos.
"Deixe eu
fazer um apelo final, senhor presidente. Milhões depositaram sua confiança em
você. E como você disse à nação ontem, você sentiu a mão providencial de um
Deus amoroso. Em nome do nosso Deus, peço que tenha misericórdia das pessoas em
nosso país que estão assustadas agora", disse a bispa.
Trump estava na
plateia com uma expressão séria no rosto enquanto ouvia o sermão.
"Há crianças
gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e
independentes, algumas que temem por suas vidas."
Budde também fez um
apelo em defesa aos imigrantes — no mesmo dia em que Trump assinou medidas
executivas contra a imigração no país.
"As pessoas
que colhem nossas safras e limpam nossos prédios de escritórios; que trabalham
em granjas avícolas e frigoríficos; que lavam a louça depois que comemos em
restaurantes e trabalham nos turnos noturnos em hospitais, elas — elas podem
não ser cidadãs ou ter a documentação adequada. Mas a grande maioria dos imigrantes
não é criminosa. Elas pagam impostos e são boas vizinhas", disse Budde.
Ao final do sermão,
ela fez um novo apelo em defesa dos imigrantes.
"Peço que
tenha misericórdia, senhor presidente, daqueles em nossas comunidades cujos
filhos temem que seus pais sejam levados embora. E que ajude aqueles que estão
fugindo de zonas de guerra e perseguição em suas próprias terras a encontrar
compaixão e boas-vindas aqui. Nosso Deus nos ensina que devemos ser
misericordiosos com o estrangeiro, pois todos nós já fomos estrangeiros nesta
terra."
·
Quem
é a bispa de Washington?
Mariann Edgar
Budde, de 65 anos, é bispa episcopal de Washington. Nessa condição, ela liderou
uma cerimônia inter-religiosa na Catedral Nacional de Washington — uma tradição
na semana de posse de um novo presidente americano.
Sua biografia no
site da diocese episcopal de Washington diz que ela atua como líder espiritual
de 86 congregações episcopais e dez escolas episcopais no Distrito de Columbia
e quatro condados de Maryland — a primeira mulher eleita para essa posição.
"Ela acredita
que Jesus convida todos os que o seguem a lutar por justiça e paz, e a
respeitar a dignidade de cada ser humano. Para esse fim, a bispa Budde é uma
defensora e organizadora em apoio a preocupações com justiça, incluindo
equidade racial, prevenção da violência armada, reforma da imigração, inclusão
total de pessoas LGBTQ+ e o cuidado da criação", diz sua biografia na
diocese.
Antes de
Washington, ela serviu em Minneapolis. Ela escreveu livros com os
títulos Como aprendemos a ser corajosos: momentos decisivos na vida e na
fé, Recebendo Jesus: o caminho do amor e Reunindo os fragmentos:
a pregação como prática espiritual.
Segundo a rádio
americana NPR, Budde é conhecida por ser crítica de Trump.
Em junho de 2020,
ela escreveu um artigo de opinião para o jornal The New York Times criticando o
então presidente por usar a polícia para evacuar a Lafayette Square, perto da
igreja de St. John's, em meio aos protestos sobre a morte de George Floyd e o
surgimento do movimento Black Lives Matter.
Quando o local
estava vazio, Trump posou para fotos segurando uma Bíblia.
"O Deus a quem
sirvo está do lado da justiça. Jesus chama seus seguidores para imitar seu
exemplo de amor sacrificial e construir o que ele chamou de Reino de Deus na
Terra", Budde escreveu no artigo de opinião. "Como seria o amor
sacrificial de Jesus agora?"
O Washington Post
noticiou na época que Budde disse sobre Trump: "Tudo o que ele disse e fez
é para inflamar a violência... Precisamos de liderança moral, e ele fez de tudo
para nos dividir."
¨
Quem é Ross
Ulbricht, criador do Silk Road que teve perdão concedido por Trump
O presidente dos
EUA, Donald Trump, assinou um perdão
total e incondicional para Ross Ulbricht, que operava o Silk Road, um mercado
da dark web onde drogas
ilegais eram vendidas.
Ulbricht foi
condenado à prisão perpétua em 2015 em Nova York por lavagem
de dinheiro e venda de narcóticos.
Trump postou na
plataforma Truth Social que ligou para a mãe de Ulbricht para informá-la de que
havia concedido perdão ao filho dela.
O Silk Road — que
pode ser traduzido para português como "Rota da Seda" — foi fechado
em 2013 depois que a polícia prendeu Ulbricht.
A investigação
mostrou que a plataforma vendia drogas ilegais usando bitcoin como moeda,
além de oferecer equipamentos para hackear sistemas e passaportes roubados.
"A escória que
trabalhou para condená-lo reunia alguns dos mesmos lunáticos que estavam
envolvidos na moderna armamentização do governo contra mim", disse Trump
em sua postagem online na terça-feira (21/1).
"Ele recebeu
duas sentenças de prisão perpétua, de mais 40 anos. Ridículo!",
complementou Trump.
<><> Quem
é Ross Ulbricht
Ulbricht foi
considerado culpado de acusações que incluem conspiração para cometer tráfico
de drogas, lavagem de dinheiro e invasão de computadores.
Durante o
julgamento, os promotores disseram que o site de Ulbricht, hospedado na
chamada dark web, vendeu mais de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bi, na cotação
atual) em drogas de forma anônima.
Ele comandava a
Silk Road sob o pseudônimo Dread Pirate Roberts, uma referência a um personagem
do filme Uma Princesa Prometida, de 1987.
Os promotores
disseram que ele também encomendou seis assassinatos, incluindo uma tentativa
de matar um ex-funcionário do Silk Road — embora os investigadores tenham
ponderado que não havia evidências de que esses crimes foram realmente
consumados.
O Silk Road recebeu
esse nome inspirado nas rotas comerciais históricas que abrangem a Europa, a
Ásia e partes da África.
O site alcançou
notoriedade por meio de reportagens na mídia e conversas online.
Mas os usuários só
podiam acessar o site pelo Tor, um sistema que permite que as pessoas usem a
web sem revelar quem são ou em que país se encontram.
Documentos
judiciais do FBI apontam que o site tinha pouco menos de um milhão de usuários
registrados, mas os investigadores admitiram que não sabiam quantos estavam
ativos.
Ao condenar
Ulbricht, que tem dois diplomas universitários, a juíza distrital Katherine
Forrest disse que ele "não era melhor do que qualquer outro traficante de
drogas".
Ela disse que o
site havia sido um "trabalho de vida cuidadosamente planejado" de
Ulbricht.
A juíza observou
que a longa sentença também servia como uma mensagem a possíveis imitadores,
para eles entenderem que uma ação dessas levaria a "consequências muito
sérias".
"Eu queria
capacitar as pessoas a fazer escolhas em suas vidas e ter privacidade e
anonimato", declarou Ulbricht quando a sentença foi anunciada em maio de
2015.
Ulbricht expressou
remorso e implorou para não receber uma sentença de prisão perpétua.
"Sei que você
deve retirar minha liberdade durante meus anos de meia-idade", ele
escreveu, "mas, por favor, me deixe a minha velhice".
Antes que a
sentença fosse anunciada, Ulbricht disse à juíza que ele não se considerava uma
pessoa gananciosa.
"Eu
essencialmente arruinei minha vida e parti os corações de todos os membros da
minha família e de meus amigos mais próximos", ele disse.
"Não sou uma
pessoa sociopata egocêntrica que estava tentando expressar alguma maldade
interior. Eu amo a liberdade. Foi devastador perdê-la.''
Trump deu a
entender anteriormente que planejava alterar a sentença de Ulbricht durante um
discurso no ano passado, realizado durante a Convenção Nacional Libertária.
O Partido
Libertário defendia a libertação de Ulbricht e acreditava que esse caso
exemplificava os exageros do governo.
O congressista
republicano Thomas Massie, um aliado de Trump, aplaudiu a decisão do
presidente.
"Obrigado por manter
sua palavra para mim e para os outros que têm defendido a liberdade de
Ross", comemorou o representante de Kentucky.
¨
O
que era o Silk Road?
Como mencionado
anteriormente, o site alcançou notoriedade por meio de reportagens na mídia e
conversas na internet — mas os usuários só podiam acessar o site por meio do
sistema Tor.
O Tor, por sua vez,
foi criado pelo governo dos EUA para fornecer anonimato na internet, mas agora
é frequentemente usado para mascarar transações ilegais.
Drogas ilegais,
como heroína, cocaína e LSD, podiam ser compradas no Silk Road.
O pagamento era
feito com a moeda virtual bitcoin, que também é difícil de rastrear.
A plataforma
da dark web também oferecia outros produtos, como equipamentos para
hackear sistemas e passaportes roubados.
Os promotores que
participaram do caso disseram que seis pessoas que morreram de overdose
compraram drogas pelo site — e que tais acordos não rastreáveis renderam a Ulbricht pelo menos US$ 18 milhões (R$ 108
milhões).
Nos meses que
antecederam a prisão de Ulbricht em uma biblioteca pública na cidade de São
Francisco em 2013, investigadores empreenderam um processo meticuloso para
juntar os rastros digitais dele.
A busca começou com
o trabalho do "Agente-1", que navegou por páginas na internet que datavam
de janeiro de 2011.
Ele encontrou uma
postagem intitulada Mercado anônimo online?, na qual um usuário apelidado
de Altoid começou a divulgar o Silk Road.
Registros
descobriram que o blog havia sido criado por um usuário anônimo que havia
escondido sua localização.
Mas o usuário
Altoid também deu as caras em um site de discussão sobre moeda virtual, chamado
bitcointalk.org.
Meses depois, em
outubro, Altoid apareceu novamente — mas cometeu um deslize.
Em uma publicação
em que buscava um especialista em Tecnologia da Informação (TI) com
conhecimento sobre bitcoin, ele pediu que as pessoas o contatassem pelo e-mail
rossulbricht@gmail.com.
¨
Melania Trump e a
guinada conservadora nas tendências
Quem busca
"moda modesta" em qualquer rede social — Instagram, Tik Tok,
Facebook, Pinterest — encontra uma infinidade de influenciadoras de moda com um estilo
marcado por vestidos e saias de comprimento midi (abaixo dos joelhos), cores
discretas, pouco decote, pouca pele exposta — mas tudo muito tradicionalmente
feminino.
A tendência em
geral está ligada a uma forma de se vestir mais discreta para mulheres regulada
pela religião, explica a consultora de moda Thais Farage. No Brasil, são
influenciadoras evangélicas, mas nos EUA e na Europa também há mulheres
muçulmanas ou judias ortodoxas alavancando o estilo.
E a tendência não é
nova: o termo "moda modesta" passou a ser buscado com frequência a
partir de 2018, segundo o Google Trends, e desde então o interesse no tema só
cresceu.
Mas nos últimos
tempos há um novo fenômeno em curso: essa estética tem passado para outros
ambientes que não são necessariamente ligados à religião.
O estilo aparece no
mundo fashion, com cada vez mais grifes abraçando a estética em campanhas
publicitárias e cada vez mais marcas de fast fashion disponibilizando roupas
que agradam às adeptas da "moda modesta".
A forma de se
vestir de Melania Trump na posse de Donald Trump como presidente dos EUA, na
segunda (20/1), é uma ótima representação do estilo.
"Tradicional,
comportada, mas com cintura marcada, muito feminina. Repare que ela não usou
calça, estava com as pernas de fora mesmo no frio de -13º em Washington",
diz a consultora.
Melania não é
conhecida por ser especialmente religiosa, mas, como primeira-dama de Trump,
está em uma posição perfeita para representar essa estética.
"Até agora,
Kate Middleton era o exemplo perfeito do estilo no mundo. Mas Melania Trump
também pode se tornar um símbolo disso", afirma Thais Farage.
<><> Reflexo
do conservadorismo
O sucesso da
"moda modesta" está intimamente ligado ao conservadorismo que tem
marcado a política no Brasil e o mundo — e do qual Trump é um dos principais
expoentes.
"O mundo da
moda gosta de acreditar que dita as tendências, mas, na verdade é o contrário.
A moda está sendo afetada por esse comportamento que está mudando, que está se
voltando para o conservadorismo", afirma Farage. "A moda é parte da
cultura, ela é um reflexo do que está acontecendo na sociedade."
Um exemplo é que o estilo
de se vestir das chamadas tradwives, "esposas tradicionais", que
defendem que o papel da mulher é cuidar do marido, da casa e dos filhos, também
se encaixa na "moda modesta".
No Brasil, o estilo
reflete uma mudança no próprio meio evangélico. "Se antes as igrejas viam
o mundo da moda como uma tentação, como algo negativo e perigoso, agora elas
perceberam que esse lugar da influenciadora de moda é muito forte", afirma
Farage.
"A 'moda
modesta' não é 'anti-fashion'", explica a consultora. "Ela não é contra
o consumo, contra tendências, ela não está desconectada do resto do que está
acontecendo no mundo. O estereótipo de roupas religiosas como feias, cafonas,
sem graça, há muito tempo está ultrapassado."
O estilo - e os
valores que estão ligados a ele - também afetam outras tendências de moda que
as pessoas não costumam associar a religião.
"Estamos
falando de uma cultura que valoriza muito o tradicional, que fala muito sobre
elegância, há uma obsessão, especialmente no Brasil, com parecer
elegante", diz Farage. "Hashtags que não são ligadas a religião, como
clean beauty, old money, clássico, minimalismo, também tem muito a ver com esse
estilo."
"É um estilo
no qual tudo o que é sexy não é elegante. Também rejeita tudo o que é muito
colorido, muito chamativo. O sofisticado é o discreto", afirma a
consultora.
"Isso não é
necessariamente ruim — por um lado é uma rejeição à ideia de mulher como objeto
sexual. O perigo é que, ao opor o sensual ao elegante, é muito fácil cair em um
moralismo."
No campo progressista,
também há quem adote um estilo que rejeita a sexualização da mulher. Um exemplo
é a cantora Billie Eilish, que no início da carreira se vestia somente com
roupas largas, confortáveis, com camisetas compridas que não marcavam o corpo.
"A diferença é
que, na 'moda modesta', não pode haver uma neutralidade de gênero ou uso de
roupas consideradas masculinas. Tudo tem que ser muito feminino", afirma
Thais Farage.
<><> 'Mulher
modesta não sente calor'
Mas como um estilo
que preza por não mostrar o corpo funciona em um país quente como o Brasil?
"Existe uma
frase que vi muito entre influenciadoras de moda modesta que é 'se piriguete
não sente frio, a mulher modesta não sente calor'", diz Farage.
Ou seja, diz a
consulta, não é um estilo onde o conforto ou o bem-estar são a prioridade.
"Estamos falando de uma moda que, se não é regulada pela religião, é
regulada pelos valores conservadores. O conforto não é prioritário."
Mostrar a pele não
é o único hábito cultural brasileiro que não parece se encaixar na estética da
"moda modesta".
Maximalismo,
estampas chamativas ou muito coloridas, unhas cumpridas também não fazem parte
do estilo.
"É um estilo
muito marcado pelas influências europeias. De certa forma, é uma rejeição do
tropical, do que se considera — ai com muitas aspas — uma 'selvageria sensual
latina'."
Adaptada ou não aos
trópicos, a 'moda modesta' está cada vez mais presente e influente no Brasil.
"Não é uma moda passageira", diz Farage. "É reflexo de uma
mudança cultural, e mudanças culturais não acontecem de uma hora para a
outra."
Fonte: BBC News
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