quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Quem é a bispa de Washington Mariann Edgar Budde, que disse a Trump para ter misericórdia com imigrantes e LGBT

presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou um culto realizado na terça-feira (21/1) na Catedral Nacional de Washington em que ele foi citado durante um sermão.

A reverenda Mariann Edgar Budde pediu "misericórdia" a Trump, citando sentimentos de medo entre as comunidades LGBT e imigrantes.

O sermão fez parte de um culto especial como parte da celebração da posse de Trump. O culto foi realizado na igreja St. John's Episcopal Church, em Washington, e contou com a presença de Trump.

Falando à imprensa depois, Trump disse que "não achou que foi um bom culto".

"O que vocês acharam? Vocês gostaram? Vocês acharam emocionante?", perguntou Trump aos repórteres no local.

"Não foi muito emocionante, não é? Não achei que foi um bom serviço. Muito obrigado. Eles podem fazer muito melhor", disse Trump, antes de ir embora do local.

Na sua rede social, a Truth Social, Trump escreveu: "A suposta bispa que discursou no Serviço Nacional de Oração na terça-feira de manhã era uma radical de esquerda que odeia Trump".

Após o culto, o representante republicano dos EUA, Mike Collins, da Geórgia, postou um videoclipe no X do sermão de Budde junto com o texto: "A pessoa que faz este sermão deve ser adicionada à lista de deportação".

·        O que disse a bispa em seu sermão?

Pouco depois de ser empossado como presidente dos EUA na segunda-feira (20/1), Trump disse que tornaria "política oficial" que há "apenas dois gêneros — masculino e feminino".

Ele também prometeu acabar com a imigração ilegal no país e disse que milhões de "estrangeiros criminosos" seriam deportados.

No dia seguinte, Trump participou do culto em Washington.

A bispa Mariann Edgar Budde fez um sermão que durou cerca de 15 minutos.

"Deixe eu fazer um apelo final, senhor presidente. Milhões depositaram sua confiança em você. E como você disse à nação ontem, você sentiu a mão providencial de um Deus amoroso. Em nome do nosso Deus, peço que tenha misericórdia das pessoas em nosso país que estão assustadas agora", disse a bispa.

Trump estava na plateia com uma expressão séria no rosto enquanto ouvia o sermão.

"Há crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes, algumas que temem por suas vidas."

Budde também fez um apelo em defesa aos imigrantes — no mesmo dia em que Trump assinou medidas executivas contra a imigração no país.

"As pessoas que colhem nossas safras e limpam nossos prédios de escritórios; que trabalham em granjas avícolas e frigoríficos; que lavam a louça depois que comemos em restaurantes e trabalham nos turnos noturnos em hospitais, elas — elas podem não ser cidadãs ou ter a documentação adequada. Mas a grande maioria dos imigrantes não é criminosa. Elas pagam impostos e são boas vizinhas", disse Budde.

Ao final do sermão, ela fez um novo apelo em defesa dos imigrantes.

"Peço que tenha misericórdia, senhor presidente, daqueles em nossas comunidades cujos filhos temem que seus pais sejam levados embora. E que ajude aqueles que estão fugindo de zonas de guerra e perseguição em suas próprias terras a encontrar compaixão e boas-vindas aqui. Nosso Deus nos ensina que devemos ser misericordiosos com o estrangeiro, pois todos nós já fomos estrangeiros nesta terra."

·        Quem é a bispa de Washington?

Mariann Edgar Budde, de 65 anos, é bispa episcopal de Washington. Nessa condição, ela liderou uma cerimônia inter-religiosa na Catedral Nacional de Washington — uma tradição na semana de posse de um novo presidente americano.

Sua biografia no site da diocese episcopal de Washington diz que ela atua como líder espiritual de 86 congregações episcopais e dez escolas episcopais no Distrito de Columbia e quatro condados de Maryland — a primeira mulher eleita para essa posição.

"Ela acredita que Jesus convida todos os que o seguem a lutar por justiça e paz, e a respeitar a dignidade de cada ser humano. Para esse fim, a bispa Budde é uma defensora e organizadora em apoio a preocupações com justiça, incluindo equidade racial, prevenção da violência armada, reforma da imigração, inclusão total de pessoas LGBTQ+ e o cuidado da criação", diz sua biografia na diocese.

Antes de Washington, ela serviu em Minneapolis. Ela escreveu livros com os títulos Como aprendemos a ser corajosos: momentos decisivos na vida e na fé, Recebendo Jesus: o caminho do amor e Reunindo os fragmentos: a pregação como prática espiritual.

Segundo a rádio americana NPR, Budde é conhecida por ser crítica de Trump.

Em junho de 2020, ela escreveu um artigo de opinião para o jornal The New York Times criticando o então presidente por usar a polícia para evacuar a Lafayette Square, perto da igreja de St. John's, em meio aos protestos sobre a morte de George Floyd e o surgimento do movimento Black Lives Matter.

Quando o local estava vazio, Trump posou para fotos segurando uma Bíblia.

"O Deus a quem sirvo está do lado da justiça. Jesus chama seus seguidores para imitar seu exemplo de amor sacrificial e construir o que ele chamou de Reino de Deus na Terra", Budde escreveu no artigo de opinião. "Como seria o amor sacrificial de Jesus agora?"

O Washington Post noticiou na época que Budde disse sobre Trump: "Tudo o que ele disse e fez é para inflamar a violência... Precisamos de liderança moral, e ele fez de tudo para nos dividir."

 

¨      Quem é Ross Ulbricht, criador do Silk Road que teve perdão concedido por Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um perdão total e incondicional para Ross Ulbricht, que operava o Silk Road, um mercado da dark web onde drogas ilegais eram vendidas.

Ulbricht foi condenado à prisão perpétua em 2015 em Nova York por lavagem de dinheiro e venda de narcóticos.

Trump postou na plataforma Truth Social que ligou para a mãe de Ulbricht para informá-la de que havia concedido perdão ao filho dela.

O Silk Road — que pode ser traduzido para português como "Rota da Seda" — foi fechado em 2013 depois que a polícia prendeu Ulbricht.

A investigação mostrou que a plataforma vendia drogas ilegais usando bitcoin como moeda, além de oferecer equipamentos para hackear sistemas e passaportes roubados.

"A escória que trabalhou para condená-lo reunia alguns dos mesmos lunáticos que estavam envolvidos na moderna armamentização do governo contra mim", disse Trump em sua postagem online na terça-feira (21/1).

"Ele recebeu duas sentenças de prisão perpétua, de mais 40 anos. Ridículo!", complementou Trump.

<><> Quem é Ross Ulbricht

Ulbricht foi considerado culpado de acusações que incluem conspiração para cometer tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e invasão de computadores.

Durante o julgamento, os promotores disseram que o site de Ulbricht, hospedado na chamada dark web, vendeu mais de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bi, na cotação atual) em drogas de forma anônima.

Ele comandava a Silk Road sob o pseudônimo Dread Pirate Roberts, uma referência a um personagem do filme Uma Princesa Prometida, de 1987.

Os promotores disseram que ele também encomendou seis assassinatos, incluindo uma tentativa de matar um ex-funcionário do Silk Road — embora os investigadores tenham ponderado que não havia evidências de que esses crimes foram realmente consumados.

O Silk Road recebeu esse nome inspirado nas rotas comerciais históricas que abrangem a Europa, a Ásia e partes da África.

O site alcançou notoriedade por meio de reportagens na mídia e conversas online.

Mas os usuários só podiam acessar o site pelo Tor, um sistema que permite que as pessoas usem a web sem revelar quem são ou em que país se encontram.

Documentos judiciais do FBI apontam que o site tinha pouco menos de um milhão de usuários registrados, mas os investigadores admitiram que não sabiam quantos estavam ativos.

Ao condenar Ulbricht, que tem dois diplomas universitários, a juíza distrital Katherine Forrest disse que ele "não era melhor do que qualquer outro traficante de drogas".

Ela disse que o site havia sido um "trabalho de vida cuidadosamente planejado" de Ulbricht.

A juíza observou que a longa sentença também servia como uma mensagem a possíveis imitadores, para eles entenderem que uma ação dessas levaria a "consequências muito sérias".

"Eu queria capacitar as pessoas a fazer escolhas em suas vidas e ter privacidade e anonimato", declarou Ulbricht quando a sentença foi anunciada em maio de 2015.

Ulbricht expressou remorso e implorou para não receber uma sentença de prisão perpétua.

"Sei que você deve retirar minha liberdade durante meus anos de meia-idade", ele escreveu, "mas, por favor, me deixe a minha velhice".

Antes que a sentença fosse anunciada, Ulbricht disse à juíza que ele não se considerava uma pessoa gananciosa.

"Eu essencialmente arruinei minha vida e parti os corações de todos os membros da minha família e de meus amigos mais próximos", ele disse.

"Não sou uma pessoa sociopata egocêntrica que estava tentando expressar alguma maldade interior. Eu amo a liberdade. Foi devastador perdê-la.''

Trump deu a entender anteriormente que planejava alterar a sentença de Ulbricht durante um discurso no ano passado, realizado durante a Convenção Nacional Libertária.

O Partido Libertário defendia a libertação de Ulbricht e acreditava que esse caso exemplificava os exageros do governo.

O congressista republicano Thomas Massie, um aliado de Trump, aplaudiu a decisão do presidente.

"Obrigado por manter sua palavra para mim e para os outros que têm defendido a liberdade de Ross", comemorou o representante de Kentucky.

¨      O que era o Silk Road?

Como mencionado anteriormente, o site alcançou notoriedade por meio de reportagens na mídia e conversas na internet — mas os usuários só podiam acessar o site por meio do sistema Tor.

O Tor, por sua vez, foi criado pelo governo dos EUA para fornecer anonimato na internet, mas agora é frequentemente usado para mascarar transações ilegais.

Drogas ilegais, como heroína, cocaína e LSD, podiam ser compradas no Silk Road.

O pagamento era feito com a moeda virtual bitcoin, que também é difícil de rastrear.

A plataforma da dark web também oferecia outros produtos, como equipamentos para hackear sistemas e passaportes roubados.

Os promotores que participaram do caso disseram que seis pessoas que morreram de overdose compraram drogas pelo site — e que tais acordos não rastreáveis ​​renderam a Ulbricht pelo menos US$ 18 milhões (R$ 108 milhões).

Nos meses que antecederam a prisão de Ulbricht em uma biblioteca pública na cidade de São Francisco em 2013, investigadores empreenderam um processo meticuloso para juntar os rastros digitais dele.

A busca começou com o trabalho do "Agente-1", que navegou por páginas na internet que datavam de janeiro de 2011.

Ele encontrou uma postagem intitulada Mercado anônimo online?, na qual um usuário apelidado de Altoid começou a divulgar o Silk Road.

Registros descobriram que o blog havia sido criado por um usuário anônimo que havia escondido sua localização.

Mas o usuário Altoid também deu as caras em um site de discussão sobre moeda virtual, chamado bitcointalk.org.

Meses depois, em outubro, Altoid apareceu novamente — mas cometeu um deslize.

Em uma publicação em que buscava um especialista em Tecnologia da Informação (TI) com conhecimento sobre bitcoin, ele pediu que as pessoas o contatassem pelo e-mail rossulbricht@gmail.com.

 

¨      Melania Trump e a guinada conservadora nas tendências

Quem busca "moda modesta" em qualquer rede social — Instagram, Tik Tok, Facebook, Pinterest — encontra uma infinidade de influenciadoras de moda com um estilo marcado por vestidos e saias de comprimento midi (abaixo dos joelhos), cores discretas, pouco decote, pouca pele exposta — mas tudo muito tradicionalmente feminino.

A tendência em geral está ligada a uma forma de se vestir mais discreta para mulheres regulada pela religião, explica a consultora de moda Thais Farage. No Brasil, são influenciadoras evangélicas, mas nos EUA e na Europa também há mulheres muçulmanas ou judias ortodoxas alavancando o estilo.

E a tendência não é nova: o termo "moda modesta" passou a ser buscado com frequência a partir de 2018, segundo o Google Trends, e desde então o interesse no tema só cresceu.

Mas nos últimos tempos há um novo fenômeno em curso: essa estética tem passado para outros ambientes que não são necessariamente ligados à religião.

O estilo aparece no mundo fashion, com cada vez mais grifes abraçando a estética em campanhas publicitárias e cada vez mais marcas de fast fashion disponibilizando roupas que agradam às adeptas da "moda modesta".

A forma de se vestir de Melania Trump na posse de Donald Trump como presidente dos EUA, na segunda (20/1), é uma ótima representação do estilo.

"Tradicional, comportada, mas com cintura marcada, muito feminina. Repare que ela não usou calça, estava com as pernas de fora mesmo no frio de -13º em Washington", diz a consultora.

Melania não é conhecida por ser especialmente religiosa, mas, como primeira-dama de Trump, está em uma posição perfeita para representar essa estética.

"Até agora, Kate Middleton era o exemplo perfeito do estilo no mundo. Mas Melania Trump também pode se tornar um símbolo disso", afirma Thais Farage.

<><> Reflexo do conservadorismo

O sucesso da "moda modesta" está intimamente ligado ao conservadorismo que tem marcado a política no Brasil e o mundo — e do qual Trump é um dos principais expoentes.

"O mundo da moda gosta de acreditar que dita as tendências, mas, na verdade é o contrário. A moda está sendo afetada por esse comportamento que está mudando, que está se voltando para o conservadorismo", afirma Farage. "A moda é parte da cultura, ela é um reflexo do que está acontecendo na sociedade."

Um exemplo é que o estilo de se vestir das chamadas tradwives, "esposas tradicionais", que defendem que o papel da mulher é cuidar do marido, da casa e dos filhos, também se encaixa na "moda modesta".

No Brasil, o estilo reflete uma mudança no próprio meio evangélico. "Se antes as igrejas viam o mundo da moda como uma tentação, como algo negativo e perigoso, agora elas perceberam que esse lugar da influenciadora de moda é muito forte", afirma Farage.

"A 'moda modesta' não é 'anti-fashion'", explica a consultora. "Ela não é contra o consumo, contra tendências, ela não está desconectada do resto do que está acontecendo no mundo. O estereótipo de roupas religiosas como feias, cafonas, sem graça, há muito tempo está ultrapassado."

O estilo - e os valores que estão ligados a ele - também afetam outras tendências de moda que as pessoas não costumam associar a religião.

"Estamos falando de uma cultura que valoriza muito o tradicional, que fala muito sobre elegância, há uma obsessão, especialmente no Brasil, com parecer elegante", diz Farage. "Hashtags que não são ligadas a religião, como clean beauty, old money, clássico, minimalismo, também tem muito a ver com esse estilo."

"É um estilo no qual tudo o que é sexy não é elegante. Também rejeita tudo o que é muito colorido, muito chamativo. O sofisticado é o discreto", afirma a consultora.

"Isso não é necessariamente ruim — por um lado é uma rejeição à ideia de mulher como objeto sexual. O perigo é que, ao opor o sensual ao elegante, é muito fácil cair em um moralismo."

No campo progressista, também há quem adote um estilo que rejeita a sexualização da mulher. Um exemplo é a cantora Billie Eilish, que no início da carreira se vestia somente com roupas largas, confortáveis, com camisetas compridas que não marcavam o corpo.

"A diferença é que, na 'moda modesta', não pode haver uma neutralidade de gênero ou uso de roupas consideradas masculinas. Tudo tem que ser muito feminino", afirma Thais Farage.

<><> 'Mulher modesta não sente calor'

Mas como um estilo que preza por não mostrar o corpo funciona em um país quente como o Brasil?

"Existe uma frase que vi muito entre influenciadoras de moda modesta que é 'se piriguete não sente frio, a mulher modesta não sente calor'", diz Farage.

Ou seja, diz a consulta, não é um estilo onde o conforto ou o bem-estar são a prioridade. "Estamos falando de uma moda que, se não é regulada pela religião, é regulada pelos valores conservadores. O conforto não é prioritário."

Mostrar a pele não é o único hábito cultural brasileiro que não parece se encaixar na estética da "moda modesta".

Maximalismo, estampas chamativas ou muito coloridas, unhas cumpridas também não fazem parte do estilo.

"É um estilo muito marcado pelas influências europeias. De certa forma, é uma rejeição do tropical, do que se considera — ai com muitas aspas — uma 'selvageria sensual latina'."

Adaptada ou não aos trópicos, a 'moda modesta' está cada vez mais presente e influente no Brasil. "Não é uma moda passageira", diz Farage. "É reflexo de uma mudança cultural, e mudanças culturais não acontecem de uma hora para a outra."

 

Fonte: BBC News

 

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