quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Daniel Afonso da Silva: O significado do retorno de Donald J. Trump no 20 de janeiro de 2025

Entronização de presidentes norte-americanos sempre causou sensação. A confirmação do presidente Roosevelt, em 1941, como exemplo eloquente, decidiu a sorte da alternativa nazista. A integralidade do mundo livre aguardava esse gesto. Que veio naquela entronização. Que deu início à ofensiva contra Hitler.

A conjuntura era complexa. O voluntarismo do presidente Wilson selara o desfecho da Grande Guerra em 1917-1918. Agora – após 1933 da ascensão de Hitler, 1936 da aventura fascista pela África, 1939 da subversão da Paz de Versalhes com a violação do território polonês e 1940 com a queda da França frente à Alemanha – os Estados Unidos eram, novamente, mobilizados à condição de salvador. Malgrado o seu isolacionismo.

Era um empilhamento de reflexos fortes. Que a debacle francesa agudizou. Pois foi depois dela que o primeiro-ministro britânico atravessou o Atlântico para clamar auxílio ao locatário da Casa Branca. Que tinha as mãos atadas pois a opinião pública norte-americana era indiferente ao sofrimento dos europeus.

O drama de 1917-1918, do envio de tropas à Europa, ainda atormentava o imaginário de gerações. As crises dos anos de 1920 ainda eram percebidas. A tragédia de 1929 também. De maneira que o New Deal do presidente Roosevelt depois de 1933 tinha por atributo nuclear o isolacionismo. Que informava que aventuras internacionais nem pensar. Regressar à Europa, menos ainda.

Mas a queda francesa começou a modificar impressões. A intelligentsia norte-americana balançou. Pessoas bem educadas também. Especialmente da classe política. Que tinha perfeita noção do sinistro causado pelo Reich, que fazia sangrar a democracia e o Ocidente.

De toda sorte, sob o temor das urnas, o presidente Roosevelt manteve-se acanhado até a sua nova vitória em novembro de 1940 e a sua recondução ao cargo em inícios do ano seguinte.

E somente em sua nova posse que ações de solidariedade concreta aos europeus começaram a surgir.

Evidentemente que o incidente de Pearl Harbor, em dezembro de 1941, modificaria decisivamente o humor de todos os norte-americanos sobre a guerra. Mas, por exemplo, a Carta do Atlântico ocorreu bem antes.

A posse do presidente Kennedy em 1961 também baralhou emoções e impulsionou expectativas. Pela jovialidade dos novos locatários da Casa Branca. Mas essencialmente pelo seu arejamento.

A presidência Kennedy era a primeira determinadamente descompromissada com as guerras totais e focada na Guerra Fria. Que seguia a todo vapor. Com os soviéticos e liberais demarcando o mundo inteiro.

O presidente Reagan, vinte anos depois, em janeiro de 1981, produziu comoção similar. Sangue novo, novo ânimo. Após Watergate e o fracassado período Carter. Aquele do malaise, da impotência e do tempo feio entre os norte-americanos.

Reagan – como Wilson e Roosevelt – era a marca do sonho americano. Como, adiante, seria o presidente Obama e o próprio Trump.

O frescor da segunda entronização de Trump dias atrás pode causar vertigem. Muita informação, imagem, avaliação. Na média, apenas duas compreensões. Uma entusiasta e outro contrária ao novo presidente norte-americano.

Numa dualidade quase maniqueísta. Típica da cobertura desse tipo de acontecimento. Afinal, após o juramento, subitamente, o cidadão eleito torna-se o cidadão mais politicamente relevante do planeta.

E foi exatamente isso que ocorreu, novamente, com Trump na segunda-feira, 20 de janeiro de 2025.

Mas, claro, com peculiaridades.

A primeira, seguramente, envolvendo a personagem Trump.

Goste-se ou não, ninguém foi paralelamente mais hostilizado e, ao mesmo tempo, mais endeusado e mitificado que ele em praticamente toda história de eleições democráticas em todos os tempos. Impressionante.

Não vem ao caso uma recomposição – por mais breve que possa ser – do Armagedon judicial vivido por ele desde 2020. Do lado oposto, vai também desnecessária uma problematização maior sobre a natureza desesperada daqueles que ocuparam o Capitólio em 2021 ou seguiram desejando, quase carnalmente, o seu retorno desde então.

Seguro foi que o seu retorno à Casa Branca pelas urnas e como se deu promoveu uma derrota acachapante, esmagadora e humilhante ao conjunto de seus adversários, oponentes e inimigos.

Também não vem ao caso retomar detalhes. O partido democrata, para dizer rápido, perdeu todos os seus eixos – e, quem sabe, até a sua razão de existir. O judiciário do país mais importante do mundo saiu avariado. A imprensa mainstream então nem se fale. Todos contra Trump e todos derrotados por Trump.

Como resultado, a efeméride da posse no 20 de janeiro produziu situação singular. Notavelmente em sua violência. Inicialmente simbólica. Em seguida, estética. E, por fim, concreta.

Nenhum presidente norte-americano, em qualquer época, realizou exposições tão desconcertantes. Biden, Obama e Bush presentes ficaram rubros diante de tamanha demonstração força. Tudo sintetizado na expressão Golden Age.

A tópica da Golden Age, reconheça-se, foi muito mais agressiva que o mantra MAGA – Make America Great Again. Mesmo os ouvidos mais moucos do establishment norte-americano ficaram aturdidos. Fora dos Estados Unidos, Golden Age soou como aquele 1945-1955, quando os norte-americanos, mediante custos imensos, impuseram ao mundo inteiro a American Order transvestida de New World Order e suavizada pelo United Nations Order.

Dito sem meias palavras, o significado do retorno de Donald J. Trump no 20 de janeiro de 2025 lastreado nessa nova perspectiva de Golden Age trouxe novidade muito mais desconcertante que a quase centena de decretos assinados após a posse.

Os decretos disseram muito, mas não tudo. Ou melhor, quase nada. Foram decisões, em muito, previsíveis. Desde o arrocho aos imigrantes até as regressões climáticas.

Mas Golden Age vai muito além. Muito além do America First e muito próximo da truculência dos tempos de Truman e Eisenhower. Tempos sombrios. Talvez mais turbulentos que as previsões.

 

¨      O 1º dia do fim da civilização ocidental, por Luís Nassif

A máxima é “tudo para os Estados Unidos”. E o objetivo final é o “delenda, China”, apresentada como o maior risco para a hegemonia norte-americana, maior até que a União Soviética no seu auge.

Com base nesses princípios, adotará políticas comerciais protecionistas. Como elas impactarão o custo de vida – já que tornará mais caros os produtos importados – a compensação virá de uma Declaração de Emergência Energética Nacional, um plano de emergência para combustíveis, permitindo a exploração de petróleo em regiões com restrições ambientais.

Ao mesmo tempo, anunciou a revogação de Políticas Ambientais Anteriores. Anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e o fim de iniciativas como o Green New Deal, visando remover regulamentações que, segundo ele, limitavam a produção de energia fóssil.

Finalmente, cancelou os incentivos às energias renováveis, para veículos elétricos e rescindiu contratos de arrendamento para parques eólicos, com o objetivo de direcionar investimentos para a indústria de petróleo e gás.

A ideia é baratear o combustível, para contrabalançar o impacto do protecionismo comercial sobre os preços.

Esses movimentos conjunturais servem apenas para preparar a grande estratégia trumpiana, que é submeter o mundo a uma frente de oligarcas norte-americanos, usando as big techs e o mercado financeiro.

A lógica de dominação é clara:

Isolamento dos Estados Unidos, com políticas protecionistas, boicote aos organismos multilaterais, expulsão de imigrantes, fim das políticas inclusivas, inclusive nas grandes corporações, fim do financiamento da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), deixando a Europa dependendo de suas próprias forças armadas.

Tomada total de controle do Estado americano, colocando bilionários e aliados em todos os cargos relevantes, do procurador geral ao presidente do FED.

Pressão sobre os países através de três grupos: as big techs controlando o mercado de opinião; o estímulo às criptomoedas, enfraquecendo as políticas monetária e cambial dos países; e a parceria com a ultradireita religiosa.

A Europa se torna a grande incógnita desta equação. Fica à mercê das ameaças de Trump ao mesmo tempo em que os governos nacionais são acossados por uma ultradireita cada vez mais agressiva e influente. 

Aí se chega ao impasse final. De um lado, a China, como maior parceira comercial de mais de uma centena de países; de outro, os Estados Unidos, como a maior máquina bélica do planeta.

Obviamente, haverá um movimento da parte dos países em direção aos BRICS. Mas Trump fez ameaças diretas de retaliação a qualquer país que ousar essa aproximação.

Aparentemente, o mundo entrou em uma dinâmica que só será contida com uma grande tragédia, como foi nos anos 30 e 40. 

¨      Trump começa a colocar promessas de campanha em prática

Donald Trump começa a usar seu segundo mandato à frente dos Estados Unidos para avançar e derrubar seus opositores que atuam dentro do funcionalismo público, e que quase o levaram para a prisão.

A primeira vítima da campanha de vingança do republicano foi John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional de Trump e um de seus críticos mais severos. Ele teve sua autorização de segurança revogada, e o novo presidente ordenou a remoção da equipe de proteção atribuída a Bolton em 2019 depois de ser ameaçado de morte por iranianos.

Em seu discurso de posse, Trump deixou claro que “nunca mais o imenso poder do Estado será transformado em arma para perseguir oponentes políticos” – e, horas depois, o republicano assinou uma ordem executiva onde autoriza a revisão da Agência de Inteligência dos Estados Unidos e de outras agências para a correção de “má conduta passada” por meio de “ações apropriadas”.

Para Trump, o momento atual é de retaliação, já que ele expurga os funcionários que comprometeram o andamento de sua agenda no primeiro mandato, ou aprofundaram seu risco legal conforme os processos judiciais se acumulavam contra o agora presidente. Em linhas gerais, as punições e as benesses serão conduzidas de acordo com o humor do novo mandatário.

 “Isso pode ser apenas o começo, já que Trump se move para esmagar oponentes percebidos no governo, mirando em alvos de agências de inteligência a reguladores militares, financeiros e empresariais, e dentro do próprio aparato de aplicação da lei”, segundo reportagem publicada pelo site britânico Financial Times.

¨      Trump acabará com cargos de minorias do governo contratados para reduzir desigualdades

O novo presidente Donald Trump irá afastar mulheres, negros e pessoas com deficiência de cargos de programas federais, a partir de hoje. O afastamento ocorrerá por meio de licença remunerada.

A medida ocorre porque Trump determinou o fim da força de trabalho de programas criados dentro das agências do governo com o objetivo de promover a diversidade, a equidade e a inclusão. Por consequência, os funcionários contratados para este fim serão afastados.

A contratação destes servidores ocorreu em meio às políticas do governo Biden de exigir que as agências federais do governo adotassem planos de contratação e promoção que assegurassem a diversidade e a inclusão, ou seja, de mulheres, negros e pessoas com deficiência.

Entre as ordens tomadas em seu primeiro dia de governo, Trump assinou a que estabelece “Acabar com programas e preferências governamentais radicais e de desperdício”  e caracterizou os programas de diversidade do governo Biden, os chamados “DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão)”, como “discriminatórios”.

 “Esses programas dividiram os americanos por raça, desperdiçaram o dinheiro dos contribuintes e resultaram em discriminação vergonhosa”, escreveu o Escritório de Gestão de Pessoal dos Estados Unidos, em comunicado enviado às agências federais como sugestão do que deve ser escrito por e-mail no afastamento destes funcionários.

O Escritório determinou que todas as agências federais dos EUA têm até o meio dia desta quinta-feira (23) para reportar ao governo como cumpriram a determinação e até o dia 31 de janeiro para enviar um plano para “reduzir a força de trabalho dos programas DEI”.

Além da esfera pública, o novo presidente vem pressionando as empresas a adotarem a mesma política de não beneficiar mulheres, negros e pessoas com deficiência.

Para isso, determinou que o Departamento de Justiça dos EUA elabore recomendações para suspender programas voltados às minorias históricas dentro do setor privado e entidades educacionais que recebem fundos federais. Empresas como Walmart e Facebook já reverteram suas políticas ligadas às minorias.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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