Frei Gilvander
Luís Moreira: Nos EUA, águia ou abutre?
A história da
humanidade demonstra que nenhum império é eterno e que todos eles têm uma
história de nascimento, ascensão, decadência e morte. Tornando-se um longo
capítulo da história da humanidade. Assim aconteceu com muitos impérios, tais
como o Egípcio, o Assírio, o Babilônico, o Persa, o Grego, o Romano, o
Português, o Inglês e não será diferente com o império dos Estados Unidos ou
das Big techs. A águia, um belo animal, é símbolo nacional dos Estados Unidos,
mas na verdade reage como um abutre posicionando-se de forma gananciosa,
expansionista, separatista e belicosa, perseguindo os povos latino-americanos e
outros.
A história
mostra também que todo império quando está se desintegrando e apodrecendo deixa
seus chefes irados e, como abutre, reage, cuspindo fogo e ameaças. Assim
aconteceu com a posse do novo “imperador” dos Estados Unidos, no dia 20 de
janeiro de 2025. Pelo discurso colonialista, racista, prepotente e ufanista, e
também pelos decretos assinados no mesmo dia da posse, expõe a podridão de um
sistema que tenta desesperadamente manter sua hegemonia. Por isso, assistimos a
algo com rompantes de um imperador, usando em vão o nome de Deus, o que é
idolatria (usar o nome de Deus para justificar políticas de morte), se
autoapresentando como imbatível ao afirmar que “inicia agora a era de ouro da
América”, “construiremos as Forças Armadas mais poderosas do mundo”, “vamos
invadir o Panamá e retomar o Canal”, “vamos terminar o muro que separa os EUA
do México”, “vamos cobrar impostos dos povos em outros países impondo tarifas
comerciais para que nossos cidadãos paguem menos impostos e possam ter
prosperidade, glória e seremos motivo de inveja em todo o mundo...”.
O continente
americano inclui América do Norte, Central e do Sul, e americanos são todos os
habitantes das três Américas, não apenas quem é estadunidense. E os verdadeiros
cidadãos da América são os Povos Originários (Indígenas), que foram vítimas de
genocídio, mas resistem em centenas de Povos.
Todavia, esse
discurso proferido por Donald Trump demonstra soberba e megalomania. Trump
revela não só o medo de um Chefe de Estado que sabe que nos limites do seu país
o projeto capitalista de sociedade baseado no consumismo não deu certo! Porque
por trás da fala belicosa e ameaçadora de invasão de outros Estados-Nação, a
promessa de ruptura do Direito Internacional à autodeterminação dos povos, o
rompimento do acordo ambiental assinado em Paris, que previa a desaceleração da
emissão de gases poluentes responsáveis pelo aquecimento global e por sua vez
provocadores da atual e gravíssima crise climática. A promessa de retirar
direitos civis construídos a duras penas pela população negra, pelas mulheres e
pelo Movimento LGBTQIA+ através de uma reconstrução baseada em uma nova
engenharia social demonstra os traços fascistas e nazistas da cúpula retrógrada
de empresários que o apoiam. Tudo isso que a grande imprensa divulgou e ao
mesmo tempo disseminou expõe a fratura na coluna do gigante, como na
esquizofrenia de Nabucodonosor, imperador da Babilônia na história antiga, que
tão alto pensava ser, melhor que os céus, e no seu império experimentou, a
comer capim como os bois e a vaguear em sua loucura de megalomania.
Após jurar
obedecer à Constituição dos Estados Unidos, o discurso de Trump foi deprimente,
colonialista, populista, homofóbico, xenófobo, déspota, fascista/nazista e
exterminador do futuro. Deprimente porque as centenas de pessoas que o
assistiam presencialmente aplaudiam quando os slogans ufanísticos e
‘estadunidensecêntricos’ eram proferidos, o que revela o apodrecimento das
instituições estadunidenses e a visão tacanha do povo que o elegeu.
Como pode
aplaudir uma postura homofóbica ao afirmar que “nos Estados Unidos a partir de
hoje terão só dois gêneros: o masculino e o feminino”?! O direito à orientação
sexual homoafetiva não pode ser abafado nem por decreto e nem por preconceito
homofóbico. Como pode alguém aplaudir que “o muro que separa os Estados Unidos
e o México será concluído em breve e deportaremos os imigrantes ilegais”, como
se fosse possível a vida no planeta Terra sem a convivência entre os povos?!
Em todos os
países há cidadãos e cidadãs vivendo fora do seu país de origem e em todos os
países pessoas de muitos outros países são acolhidas. O direito de ir e vir
inclui também o direito de viver no país que a pessoa escolher. Impossível
cercar um país e isolá-lo da convivência internacional, o que traz inúmeros
benefícios para os povos como a troca de experiência cultural e, óbvio, a ajuda
em força de trabalho. Imagine os Estados Unidos sem os 11 milhões de imigrantes
ilegais que atualmente fazem uma série de trabalhos que os estadunidenses se
recusam a fazer: serviços de limpeza, construção civil, cuidador/a de
idosos/as, segurança, serviços gerais, cozinhar, servir...
Absurdo também
o Trump vociferar que vai “perfurar, perfurar, todos os poços de petróleo
inexplorados no país e que não estará nem aí para transição energética” e
assinar decreto retirando novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris, que
exige redução das emissões de gás carbônico para reduzir o colapso ambiental e
frear a ferocidade dos eventos extremos cada vez mais frequentes e letais. A
promessa é de devastar o que resta do Planeta, nossa única Casa Comum, em nome
de lucros imediatos.
Até a mãe
natureza boicotou a posse de Trump por ter imposto à capital Washington a
temperatura de 5º celsius negativos com sensação térmica de 10º negativos.
Milhares de trumpistas ficaram fora da festa da posse pela severidade climática
que impediu cerimônias ao ar livre. Alardear o negacionismo científico e fazer
discurso populista criticando que Joe Biden não conseguiu pôr bombeiros e
defesa civil para apagar o fogo apocalíptico que varreu uma região da
Califórnia é lorota, pois se acelerar a indústria petrolífera nos Estados
Unidos, o império será devastado com maior rapidez, pois a natureza virá
rugindo como um leão na selva e devorará tudo o que encontrar pela frente. Ou
seja, negar a necessidade de frear o desenvolvimentismo econômico à custa da
brutal devastação dos bens naturais – terra, águas, ar – será acelerar a marcha
em um desfiladeiro para o precipício e a morte final de todos e todas. Será
como a anedota contada por Franz Hinkelammert, para ilustrar a irracionalidade
do racionalizado sistema capitalista: dois homens que competem – com muita
eficiência, cada qual com um motosserra mais poderoso – para cortar o galho em
que estão sentados à beira do precipício. Assim atua o Trump, toda
extrema-direita pelo mundo afora, a turma do agronegócio, do hidronegócio, das
mineradoras, todos os capitalistas, fascistas ou não, e seus adeptos que estão
sacrificando o planeta Terra no altar do mercado idolatrado.
Retirar os
Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde e perdoar milhares de criminosos
que invadiram o Capitólio tentando impedir que Joe Biden, que havia sido
eleito, tomasse posse é o absurdo dos absurdos, é insistir em voltar à idade
das trevas, é sepultar de vez a hipocrisia da democracia burguesa e declarar à
luz do sol o imperialismo nu e cru.
Ainda bem que
a história demonstra também que não há varinha mágica que tenha o poder de
transformar em políticas públicas idôneas discursos populistas que enganam os
incautos. Em breve, quem elegeu Trump abrirá os olhos ao perceber que a vida
real não se transformará na 8ª maravilha com “prosperidade e glória”, porque os
grandes coronéis do mundo, magnatas como Elon Musk e Mark Zuckerberg sempre
usaram o povo para enriquecer e nunca serão idôneos para contribuir com
políticas públicas que construam relações sociais de justiça, paz, respeito e
amor.
A história demonstra
também que diante das opressões, a resistência cresce. Não há império que dure
para sempre, e a força dos povos, unidos em luta pelo bem comum, é o motor da
verdadeira transformação. A América Afro-Latina, berço de coragem e esperança,
será a tumba do neofascismo/neonazismo global. Inspirados/as pela aurora
austral (boreal), que são raios de luzes em noites escuras, ou descobrindo
luzes no túnel e não apenas no final do túnel, construiremos a partir dos
últimos um mundo com justiça, paz e amor, onde todas as fronteiras serão
abertas e todos os muros derrubados. A Internacional da direita
neofascista/neonazista não passará, é vencível, pois está recheada e podre de
contradições! A força e a luz do justo, ético e da verdade, o que nos faz mais
humanos, terão a última palavra.
Por fim, a
luta, a resistência e a história continuam e é animador ter a certeza de que a
humanidade aspira um projeto social pautado por relações sociais de justiça,
paz e amor, cuja colaboração entre os povos prevaleça sobre a barbárie
prometida com a ascensão da extrema direita internacional, engendrada como ovos
de serpente no útero do capitalismo que superexplora não só a dignidade humana,
mas também todos os bens da natureza.
¨ Se Trump quer
isolar os EUA, que o faça! Por Ricardo Mezavila
O festival de horrores que foram os eventos de antes, durante e depois
da posse de Donald Trump, não pode abalar a democracia brasileira. Se, por um
lado, os EUA saem pela porta dos fundos do Acordo de Paris, por outro o Brasil
aumenta seu protagonismo no tratado internacional sobre mudanças climáticas.
Trump partiu para o isolacionismo e isso não pode ser bom para os
norte-americanos. O apoio que vem recebendo, de primeira hora, dos magnatas das
big techs, será consumido pelo egocentrismo dessa aliança neofascista.
Elon Musk fez questão de demonstrar para o mundo sua origem nazista
– parece que seus avós maternos apoiaram Hitler – e fez o
gesto típico da saudação que os nazistas costumam fazer de bater no peito e
esticar o braço.
O anúncio da saída dos EUA da OMS – Organização Mundial da Saúde, também
pode refletir positivamente, assim também seria se deixassem todos os outros
tratados internacionais assinados anteriormente.
Ou seja, Trump não está disposto, em seu segundo mandato, a somar com os
outros países, seu objetivo é segregar, perseguir e exterminar o que não for
espelho. Enquanto a nova ordem for essa, é melhor que fique distante.
O real perigo da ascensão da extrema direita neonazista nos EUA, é o
salseiro que faz na nossa parte podre, aquela composta por vassalos, vira-latas
e borra-botas, desde o bagrinho empoderado, passando pelos puxa-sacos que foram
assistir à posse na neve, até o senhor decrépito que fez a cena bizarra do
aeroporto.
O governo brasileiro e todos nós que defendemos o Estado Democrático de
Direito, temos de ficar atentos porque teremos ‘chumbo grosso’ de fake news em
2026 e somente com a união pela democracia conseguiremos neutralizar a nova
onda.
¨ Donald Trump,
entre bravatas e a real correlação de forças. Por José Alvaro de Lima Cardoso
O mundo assistiu, entre curioso e temeroso, ao discurso de posse de
Donald Trump, marcadamente ameaçador e triunfalista. No próprio dia 20 de
janeiro, o mandatário assinou cerca de 200 ordens executivas (os números são
imprecisos), incluindo medidas para eliminar a indústria de energia eólica
offshore dos EUA, restrições à imigração e concessão de perdão a 1,5 mil
cidadãos envolvidos na insurreição do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Foram
revogadas várias políticas do período de Joe Biden, como ações de diversidade,
equidade e inclusão e acordos ligados ao clima, como o Acordo de Paris. Entre
os anúncios, o de instalação do Departamento de Eficiência Governamental, com o
objetivo de reduzir gastos governamentais, comandado pelo bilionário Elon Musk.
Como já era esperado, sobraram ameaças, mais ou menos veladas, para a
América Latina. No discurso de posse, Trump afirmou que os países
latino-americanos, incluindo o Brasil, "precisam mais de nós do que
precisamos deles", e deixou claro que nas relações bilaterais não haverá
igualdade. Quem dominará a relação são os EUA. Anunciou também a declaração de
emergência nacional na imensa fronteira com o México, visando intensificar as
medidas de controle da imigração ilegal. Ameaçou retomar o controle do Canal do
Panamá, alegando inclusive que a China atualmente o controla, impondo tarifas
excessivas aos navios americanos. Assinou uma ordem executiva para renomear o
Golfo do México como "Golfo da América". Trump retomou um tipo de
postura imperialista feitas às claras, sem dissimulações, como era o estilo do
dissimulado governo anterior, que falava das crianças assassinadas em Gaza, ao
mesmo tempo que continuava autorizando o envio de dinheiro para os nazistas de
Israel.
Claro que as ações iniciais de Donald Trump foram anunciadas para causar
impacto e parte do seu discurso não passa de bravatas. Mas a presença da
extrema direita no principal governo imperialista do mundo é sintoma de um
processo complexo e muito importante. A vitória acachapante, sob todos os
ângulos, de Donald Trump nas eleições norte-americanas é uma face da gradual e
contínua desagregação dos regimes imperialistas chamados “democráticos” e, por
tabela, das forças ligadas a ele em todo o mundo. É inegável que a extrema
direita conquistou uma parcela majoritária da opinião pública norte-americana e
esse fenômeno tem impacto político no mundo todo, em função do peso político e
econômico dos EUA na Terra.
A vitória de Trump nos EUA é um sintoma daquela que é, possivelmente, a
maior crise política do imperialismo na história. A falência completa do
Partido Democrata no processo eleitoral do ano passado representa uma crise sem
precedentes na própria política de dominação do imperialismo. Reflete uma
inusitada perda de controle político por parte do império, fruto da própria
crise econômica vigente. Apesar da desagradável estridência de Trump, sua
vitória significa para o imperialismo um contratempo em sua política, dentro e
fora dos EUA.
Exemplo concreto: Joe Biden é o principal responsável pelo genocídio de
quase 50 mil palestinos, boa parte mulheres e crianças, no conflito na
Palestina. Donald Trump, por seu turno, antes mesmo de sua posse, desempenhou
um papel significativo no acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa
de Gaza. O seu enviado especial para a Região, Steve Witkoff, esteve no centro
das discussões, e da pressão feita em cima de Benjamin Netanyahu para fazer
algumas concessões, sem as quais não haveria acordo com as forças de
resistência.
Outro caso revelador de que a política de Trump não é a política do
chamado deep state é a política que vem anunciando em relação
à guerra na Ucrânia. Os EUA precisariam desesperadamente impor uma derrota
total à Rússia, militar e economicamente para, em seguida, ir para cima da China,
considerado o grande inimigo econômico a ser derrotado. Porém, no seu discurso
de posse, apesar de não ter mencionado a guerra na Ucrânia, Trump enfatizou a
necessidade de os Estados Unidos priorizarem seus próprios interesses e
evitarem envolvimentos em conflitos estrangeiros prolongados. Mais do que isso,
o presidente dos EUA reafirmou que será o político que acabará com as guerras
que os EUA estão provocando ao redor do mundo. Trump não quer gastar com a
guerra da Ucrânia e isso vai acelerar a derrota de Zelensky. Alguns cálculos
concluíram que o apoio financeiro dos EUA à Ucrânia é superior a US$ 84
bilhões, sem contar os recentes conjuntos de armamentos fornecidos ao governo
da Ucrânia, que somam algo em torno de US$ 8,9 bilhões.
Donald Trump não era o candidato apoiado pelo chamado Estado profundo
porque defende propostas que não são a dos grandes monopólios que dominam a
economia mundial. Portanto, em boa medida, se o governo Trump conseguir cumprir
boa parte de suas promessas (o que não será fácil, pois terá que combinar com
os “russos”), ele tende a aprofundar enormemente a crise do imperialismo, ou
seja, ameaça agravar os problemas que o imperialismo enfrenta. Mas claro, é
ilusão também achar que o governo Trump terá liberdade total para exercer suas
políticas, como se não tivesse adversários no mundo.
Uma coisa é a retórica triunfalista e arrogante de Trump, outra é a real
correlação de forças existente no mundo. A assunção de Trump acontece em uma
conjuntura na qual se agravou muito o problema da erosão da influência
norte-americana no mundo e a simultânea elevação da influência global do Brics,
que em Kazan, no mês de outubro, ampliou o bloco. Um dos projetos centrais dos
países que constituem o Brics é substituir o dólar como moeda das transações
realizadas dentro do bloco. China e Rússia já estão comercializando em suas
moedas nacionais. Trump, que já classificou a política de substituição do dólar
como uma guerra mundial, em seu discurso de posse ameaçou todas as nações que
tentarem criar ou adotar uma moeda alternativa ao dólar, inclusive com a
possibilidade concreta de aplicação de tarifas de 100% sobre as exportações
desses países para os EUA.
Há uma evidente crise do imperialismo, com uma escalada da guerra ao
nível internacional que tende a piorar nos próximos anos. Com ou sem Trump, os
EUA são uma máquina de guerra, que somente para este ano tem um orçamento
militar de US$ 895 bilhões, aumento de 10,2% em relação ao ano passado. O
orçamento deste ano, prevê aquisições militares como sete navios de guerra,
incluindo um porta-aviões nuclear, 200 aeronaves e 300 veículos blindados.
Prevê também investimentos pesados em tecnologia, com foco em armas
hipersônicas, defesa cibernética e inteligência artificial.
Para efeitos comparativos, a Rússia, que trava uma guerra aberta contra
a Otan, tem um orçamento de defesa equivalente a 12,64% do orçamento dos EUA
(conforme orçamentos dos dois países, do ano passado). O orçamento dos EUA para
a defesa é superior ao acumulado dos dez gastos seguintes no ranking dos
maiores orçamentos de defesa dos países. Se Donald Trump cumprir sua promessa
de campanha e conseguir acabar com a guerra da Ucrânia, estará afetando
diretamente o lucro dos monopólios envolvidos com a máquina de guerra.
O vigoroso voluntarismo de Trump terá que enfrentar a crise financeira
dos EUA, que é colossal. A dívida pública dos Estados Unidos está em US$ 35
trilhões, o que corresponde a 125% do PIB norte-americano. Quase US$ 2 bilhões
são gastos diariamente apenas em juros da dívida nacional. Mesmo para o país
mais rico da Terra, é muito difícil pagar, infinitamente, uma dívida dessa
magnitude. O país que sustenta a máquina de guerra mais cara do planeta (não
necessariamente a mais eficiente) compromete mais de 30% de sua receita tributária
federal com o pagamento de juros. O que permite financiar a dívida é a demanda
por dólares existente no mundo. Mas essa demanda tende a diminuir, como estamos
assistindo. Com a perda de influência dos EUA no mundo, tudo indica que os
países não financiarão infinitamente a dívida norte-americana.
O problema da dívida pública, que está no centro dos problemas dos EUA,
é extremamente complexo. Quem manda no país ganha muito dinheiro com essa roda
gigante especulativa: os bancos, grandes empresas, os ricos em geral. Ou seja,
0,5% da população, em prejuízo de 99,5% dos norte-americanos (é como no
Brasil). Essa elite, majoritariamente, apoiou a candidata do Partido Democrata.
Trump é apoiado por setores da burguesia norte-americana que também estão sendo
prejudicados pela máquina de guerra e pela dívida pública. A pobreza nos
Estados Unidos atinge cerca de 12% da população. Essa mesma economia, dominada
pelo capital financeiro, precisa importar trabalhadores da América Latina para
operar na economia real (fábricas, serviços em geral, limpeza, construção
civil).
Para o governo dos EUA conseguir rolar a dívida, a demanda global por
dólares e por títulos de dívida dos EUA deve se expandir permanentemente.
Resultado que tem sido conseguido, até aqui, pelo argumento da força. Esse
verdadeiro castelo de cartas se mantém porque os EUA têm o poder da
senhoriagem, ou seja, pode imprimir, sem custo, uma moeda com aceitação e curso
internacional. Nenhum outro país no mundo tem essa possibilidade e é exatamente
isso que está se esfarelando.
O maior golpe econômico desferido contra os interesses norte-americanos
está na área financeira: a substituição do dólar por moedas locais nos países
do Brics nas atividades financeiras internacionais. Processo que já se iniciou.
Isso atingirá em cheio o poderio do império americano e mundial, em boa parte
assentado na hegemonia do dólar, que fornece aos EUA um privilégio
extraordinário. Os dilemas e desafios do governo norte-americano são
gigantescos e não serão resolvidos apenas com a férrea vontade de enfrentá-los.
Fonte: Brasil 247
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