quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

MP Militar pede apuração de suspeita de propina ao Comando da Marinha

O Ministério Público Militar (MPM) solicitou a abertura de inquérito para investigar a suspeita de pagamento de propina a integrantes do Comando da Marinha.

O pedido foi encaminhado em 8 de janeiro à Marinha e tem como base as informações coletadas pela Polícia Federal durante abordagem a um empresário.

Como mostrou a coluna, a PF flagrou o empresário André Martinez sacando R$ 345 mil em uma agência do Banco do Brasil dentro da Base Naval, em Niterói (RJ).

Até o momento, o MP Militar ainda não obteve resposta da Marinha sobre se a investigação foi instaurada.

Nesses casos, a Força abre a investigação e comunica a Justiça Militar, que distribui o caso e notifica o Ministério Público.

A PF foi até a Base Naval, em 23 de outubro de 2024, após receber uma denúncia anônima que citava o destino do dinheiro sacado por Martinez como propina para “algum membro do Comando da Marinha, a fim de que este praticasse ato de ofício”.

A Transuniversal Pinturas, empresa de André Martinez, tem contratos com o Comando da Marinha.

Desde 2011, a empresa recebeu ao menos R$ 120 milhões do ministério da Defesa. Parte do valores, cerca de R$ 5,4 milhões, tem origem em emendas parlamentares.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi um dos que teve dinheiro de emenda utilizado para custear os contratos da Transuniversal.

Além do Comando da Marinha, a Transuniversal tem contratos com o Arsenal da Marinha e a Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron).

Após flagrar o saque, a PF tomou depoimento e apreendeu celular de André Martinez.

Em seguida, a PF decidiu enviar o caso para o Ministério Público Militar. O motivo foi a suspeita de pagamento de propina a integrantes do Comando da Marinha. Nesses casos, a investigação se dá na esfera militar.

“Destaca-se, nesse ponto, que, apesar dos elementos probatórios amealhados nesta fase inicial da investigação apontarem que o valor sacado por André Luiz Bione Martinez seria utilizado para pagamento de vantagens indevidas observa-se que inexistem informações acerca dos destinatários, assim como qual ato de ofício foi praticado.”, diz a PF ao enviar o caso do MP Militar.

Apesar de remeter o caso à Procuradoria Militar, a PF se colocou à disposição para colaborar com a apuração.

“Diante de todo o exposto, deixo de lavrar a prisão em flagrante de André Luiz Bione Martinez, na medida em que não há evidências suficientes para caracterizar os crimes de corrupção ativa ou passiva, de modo que se faz necessário o aprofundamento das investigações a fim de corroborar ou refutar a hipótese criminal ora relatada”, diz o documento enviado ao MP.

DEFESAS

Em nota enviada à coluna, a Marinha diz que não se manifesta sobre investigações em curso e que “reitera seu compromisso com a sociedade brasileira e reafirma que pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência”.

O empresário André Martinez disse à coluna que os valores sacados naquele dia seriam utilizados para o pagamento de funcionários da empresa. Segundo ele, esse procedimento sempre foi utilizado na empresa uma vez que muitos funcionários não possuem conta bancária ou outra forma de receber os valores.

O empresário disse ainda ter enviado ao MP Militar, por meio de seu advogado, todos os documentos bancários que provam que os saques de altas quantias para pagamentos era praxe na empresa há muitos anos.

Os saques, afirmou, eram feitos sempre em datas próximas ao dia 5 e 20 de todo mês, quando era realizado o pagamento dos funcionários.

Ainda segundo ele, na data do flagrante feito pela PF, o valor era mais alto uma vez que estava para se encerrar um dos contratos com a Marinha e, por isso, seria feito um acerto de contas com parte dos funcionários.

André Martinez afirmou que nunca realizou qualquer tipo de pagamento indevido a militares e que a empresa sempre atuou de forma legal, ganhando contratos por meio de licitações públicas e sempre seguindo as regras para contratação.

¨      PMs da Rota recebiam fortuna por mês do PCC para protegê-lo

Uma investigação conduzida pela Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo revelou que um grupo de PMs da Rota, o batalhão de choque considerado a elite máxima da corporação, recebia uma vultosa “mensalidade” do PCC (Primeiro Comando da Capital) para proteger os integrantes da maior organização criminosa do Brasil, que opera em pelo menos 24 países, que atuavam na Zona Leste da capital paulista. A Rota é idolatrada por bolsonaristas e vista como uma espécie de "joia" pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que bajula e defende com unhas e dentes o batalhão.

De acordo com a apuração do setor responsável por investigar transgressões e crimes praticados por policiais militares, seis homens da Rota, liderados por também PM que serviu por anos na unidade, recebiam R$ 600 mil por mês para vazar informações sobre levantamentos e operações direcionados ao grupo criminoso. O valor tornava-se ainda maior em determinadas ocasiões, como por exemplo na colaboração dos agentes com o líder máximo da organização na rua, Marcos Roberto de Almeida, conhecido como “Tuta”, que evitaram sua prisão durante a Operação Sharks, em 2020, ocasião em que o chefe da quadrilha conseguiu fugir antes da chegada das autoridades. Pela “mãozinha” a bando formado por PMs cobrou R$ 5 milhões. As informações são do portal Metrópoles.

O policial que comandava o esquema, identificado como “Leão”, atualmente estaria trabalhando em outro batalhão da PM na região metropolitana de São Paulo, mas ainda assim manteria influência dentro da Rota, cooptando agentes que atualmente estão lá para compor seu “time” criminoso. A investigação cita ainda uma situação semelhante à de Tuta, ocorrido com Silvio Luiz Ferreira, de vulgo “Cebola”, um criminoso poderoso que detinha, ou ainda detém, o cargo de “sintonia geral do progresso”. Ele é o suspeito de ter mandado matar o delator Vinícius Gritzbach, fuzilado no desembarque do Aeroporto Internacional de Guarulhos em novembro do ano passado.

“Cebola” seria preso na festa de aniversário de um advogado apontado pelo Ministério Público com um dos responsáveis por lavar dinheiro pelo PCC, identificado como Ahmed Hassan. Só que, com as informações privilegiadas passadas pelos PMs da Rota “contratados” pelo crime organizado, ele conseguiu fugir antes.

O grupo de PMs teria ainda, aponta a investigação da Corregedoria, lavado boa parte dos milhões obtidos ilegalmente servindo ao PCC abrindo negócios na região paulistana em que atuavam. Os estabelecimentos, um restaurante e um bar, levam a expressão “Rota” no nome, em homenagem ao batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo.

 

¨      Após denúncias de irregularidades, PM do Maranhão restringe informações à imprensa

O subcomandante-geral da Polícia Militar do Maranhão (PMMA), coronel Francisco Wellington Silva Araújo, proibiu que fossem cedidos documentos e informações à imprensa que não sejam sobre conteúdos operacionais, divulgados pelas próprias equipes envolvidas, e sem autorização prévia de seus comandantes.

Esse é um dos primeiros atos de Araújo na função. Ele substituiu o ex-subcomandante coronel Nilson Marques de Jesus Ferreira, exonerado pelo governador do Maranhão Carlos Brandão (PSB), em 2 de janeiro, 14 dias após a Agência Pública ter trazido a público a informação de que estaria parada, desde 9 de julho, a investigação interna que apurava a conduta de 54 policiais militares suspeitos de se beneficiarem de forma ilegal da isenção de impostos na compra de veículos.  

A ordem ocorre numa época em que o alto-comando e policiais da corporação são alvos de denúncias envolvendo o esquema ilícito – incluindo o ex-comandante-geral, o coronel Paulo Fernando Moura Queiroz. Segundo as denúncias, os policiais usariam alvarás de taxistas, emitidos pela prefeitura de Bacabal, município a 240 quilômetros da capital São Luís. A decisão ocorre também após a reportagem do Fantástico que revelou o esquema, publicada em 14 de dezembro. 

O ofício foi publicado em 6 de janeiro. A decisão também ocorre após a reportagem do Fantástico que revelou o esquema, publicada em 14 de dezembro. 

A proibição de contato com a imprensa é justificada no ofício porque o comando está “visando padronizar o comportamento no relacionamento com a mídia, em especial quanto à concessão de entrevistas ou ao fornecimento de dados para a imprensa”. 

Um dos trechos do ofício destaca que as informações encaminhadas à imprensa devem ser somente sobre o conteúdo operacional da equipe envolvida, e não “sobre assuntos ou matérias atinentes a outros conteúdos, especialmente quando envolvam outras instituições ou Poderes de qualquer esfera”.

Questionada pela Pública, por meio de nota a polícia militar do Maranhão informou que “o ofício em questão apenas regulamenta portaria emitida em agosto de 2022, com o objetivo de padronizar o relacionamento com veículos de comunicação, em especial quanto à concessão de entrevistas com posicionamentos oficiais”.

O ato de regrar as informações que serão levadas à imprensa veio logo após a abertura de uma apuração interna sobre a conduta do ex-subcomandante-geral, o coronel Nilson Ferreira, e o encerregado de colher depoimentos e analisar o envolvimento dos 54 policiais no suposto esquema ilegal de isenção de impostos para veículos, o coronel Marcos Aurélio Lindoso de Brito. 

<><> Coronéis investigados

A demora dos coronéis Nilson Ferreira e Marcos Brito em publicar a conclusão da investigação tornou-se alvo de uma sindicância interna da corporação.

O pedido de investigação preliminar contra os 54 PMs foi recebido pelo encarregado, o coronel Marcos Brito, somente no dia 2 de dezembro de 2024, e concluída somente em 20 de dezembro, descumprindo, em tese, o disposto no § 2º do art. 6º da Portaria nº 076/2015-GCG, de 3 de dezembro de 2015”, escreveu o atual comandante-geral da PMMA, o coronel Pitágoras Mendes Nunes, em seu pedido de investigação, obtido com exclusividade pela Pública. 

Segundo o documento citado pelo comandante, “a investigação preliminar deverá ser concluída e entregue à autoridade militar delegante, no prazo de 15 (quinze) dias corridos, a contar da data de publicação da portaria”. 

Em 4 de junho de 2024, a promotora de Justiça Especializada de Bacabal do Ministério Público do Maranhão (MPMA), Klycia Luiza Castro de Menezes, pediu investigação interna sobre a suposta participação de 54 policiais militares no esquema ilegal de placas de táxis. O documento foi endereçado ao então comandante da corporação, o coronel Paulo Fernando Queiroz, que era um dos investigados no caso. 

No entanto, em 9 de julho, um mês depois, o ex-subcomandante-geral, o coronel Nilson Ferreira – e braço-direito de Queiroz -–, foi quem assinou o pedido de investigação e designou o coronel Marcos Brito para que entregasse um relatório conclusivo sobre a investigação.

Contudo, somente em 20 de dezembro, mais de cinco meses depois da assinatura do pedido de investigação e um dia após a veiculação da reportagem da Pública, foi publicado o relatório conclusivo sobre a investigação preliminar acerca da conduta dos 54 policiais militares envolvidos no esquema. Apenas seis PMs foram ouvidos pelo coronel Marcos Brito, encarregado da apuração do caso.

<><> Investigação preliminar isenta policiais de culpa

Em seus depoimentos, os seis policiais ouvidos pelo coronel Marcos Brito alegaram que desconheciam o esquema fraudulento e que já tinham exercido a função de taxistas paralelamente.  

Os depoimentos, colhidos pelo coronel Marcos Brito, foram o suficiente para que ele entendesse que os policiais não teriam agido de má-fé e tampouco infringido o estatuto dos policiais militares, que prevê a dedicação integral à corporação. 

 “Constatou-se que não há indícios de autoria e materialidade dos fatos por parte dos investigados, no que se refere a cadastro irregular como taxistas na Secretaria de Finanças de Bacabal, bem como o descumprimento de deveres [do] policial militar”, defendeu o coronel Marcos Brito. 

O texto conclusivo diz também que “não houve má-fé na aquisição de veículos para o exercício da atividade de taxista, vez que os documentos exigidos para a concessão de alvará foram devidamente apresentados e que os benefícios concedidos decorreram do exercício da referida atividade”. 

Ao final, o coronel pede que a investigação preliminar se torne uma sindicância, que é uma apuração mais aprofundada sobre a conduta dos servidores públicos envolvidos.

Após ter tido acesso à conclusão da investigação conduzida pelo coronel Marcos Brito, o atual comandante da PMMA avaliou que não era necessária uma investigação preliminar, mas sim um processo disciplinar adequado. 

Segundo o coronel Nunes, o argumento jurídico utilizado para justificar a sua análise e que coloca em dúvida a conduta do coronel Marcos Brito é que os policiais militares envolvidos já são alvos de uma investigação conduzida pelo Ministério Público, logo, não é necessário que a corporação faça uma outra. 

 “Considerando que os indícios acerca da sua existência já se encontram nos autos da investigação ou do processo criminal, devendo-se instaurar o processo disciplinar adequado à apuração da falta”, escreveu Nunes para justificar o pedido de sindicância contra os outros dois coronéis. 

 

Fonte: Metrópoles/Fórum/Agencia Pública

 

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