Fraude em
pensões militares: filha usa sósia da mãe para enganar Exército por 17 anos
Por quase duas décadas, uma
filha de militar usou a identidade de sua falecida mãe para continuar recebendo
uma pensão do Exército Brasileiro. O caso, ocorrido em Teresina (PI), foi
revelado pelo Ministério Público Militar (MPM) e destaca os desafios de combate
às fraudes no sistema de pensões das Forças Armadas, relata o Metrópoles.
O golpe começou em 1995,
quando a mãe da acusada, viúva de um servidor do Exército, faleceu. Em vez de
comunicar o óbito às autoridades, a filha apresentou uma idosa como sósia da
mãe, utilizando documentos falsificados com a foto da cúmplice e os dados da
falecida. Durante 17 anos, os valores da pensão foram depositados na conta da
filha, totalizando um prejuízo de R$ 230 mil ao erário. A fraude só foi
descoberta em 2013, após a morte da mulher que se passava pela pensionista.
<><> A
descoberta e o julgamento
Após o falecimento da falsa
beneficiária, a acusada tentou introduzir outra pessoa no esquema, levantando
suspeitas. Investigada pelo MPM, foi condenada pela Auditoria Militar de
Fortaleza em 2016 a dois anos e quatro meses de reclusão por estelionato,
conforme o Código Penal Militar. A defesa recorreu, alegando ausência de dolo e
prejuízo à administração pública, mas o Superior Tribunal Militar (STM) manteve
a condenação.
O ministro Cleonilson
Nicácio Silva, relator do caso no STM, destacou que a acusada trabalhava como
servidora pública estadual, o que a desqualificava para receber o benefício,
mesmo que fosse filha solteira.
<<> Uma história de
abusos no sistema de pensões
Casos como este não são
isolados. Estima-se que irregularidades em pensões militares tenham causado
prejuízo de R$ 54 milhões às Forças Armadas nos últimos anos, segundo
levantamento parcial. O valor pode ser ainda maior, já que a Força Aérea
Brasileira (FAB) não divulgou seus dados.
O sistema de pensões
militares, criado pelo Decreto nº 695 de 1890, sofreu mudanças ao longo das
décadas. Hoje, os benefícios são limitados a cônjuges e filhos menores ou
incapazes, mas fraudes e abusos ainda ocorrem.
¨ A mulher de 4 nomes, 3 pensões militares e uma fraude
de R$ 5 milhões
Raimunda Góes
Gonçalves, Raimunda Góes Gonsalves, Ruth Gois Gonçalves e Ruth Gonçalves Bunn:
quatro nomes distintos para uma só mulher. Nascida como Raimunda, em 1951,
mudou o nome para Ruth – com nova certidão de nascimento que a mãe dela teria
conseguido em Mesquita (RJ) – e acrescentou o sobrenome “Bunn” ao se casar.
Tinha dois CPFs,
duas carteiras de identidade, dois títulos de eleitor – com os quais votava
duas vezes e em locais diferentes – e declarava dois Impostos de Renda (IRPF).
Tudo isso para manter a dupla identidade e receber três pensões militares
indevidamente: como filha solteira, irmã e viúva de ex-combatentes. A fraude
ultrapassa a cifra de R$ 5 milhões.
A mulher, hoje com
74 anos, usou o nome de solteira (Raimunda) para obter as pensões militares
como irmã de 2º sargento da Aeronáutica, em 2003, e como filha de ex-militar da
Marinha, em 2004. O irmão e o pai eram, de fato, militares. Porém, nesse
período, ela já estava casada há 30 anos e, portanto, não tinha direito aos
benefícios. Além disso, a legislação não permite o acúmulo de pensões.
Em seguida, perdeu
o marido, que era suboficial da Aeronáutica, em 2006. Dessa vez, sob o nome de
Ruth, requereu a pensão como viúva. Deu certo.
A mulher tinha,
portanto, três matrículas, realizava três provas de vida e omitia de cada uma
das Forças o recebimento dos demais proventos.
“Observe-se que da
conduta da pensionista, de natureza gravíssima, resultou dano ao serviço
público, que arcou com o os pagamentos indevidos, sem levar em conta ainda a
fraude eleitoral e fiscal”, diz trecho de relatório da área técnica do Tribunal
de Contas da União (TCU) obtido pela coluna.
“Ela,
deliberadamente, fez uso da documentação obtida com as duas certidões de
nascimento para constituir duas identidades e habilitar-se a pensões distintas:
uma na Marinha e duas na Aeronáutica e, para evitar que a fraude fosse descoberta,
e manter seu CPF e pagamentos ativos, ela com determinação apresentava duas
declarações de imposto de renda, contratando dois contadores diferentes, e
votava como se fosse duas pessoas, Ruth e Raimunda, para obtenção do
comprovante de votação de cada uma de suas identidades”, prossegue o TCU.
Os pagamentos das
multipensões militares terminaram somente em março de 2021, após denúncia. O
prejuízo foi calculado em R$ 5,1 milhões, em valores atualizados.
No Superior
Tribunal Militar (STM), os ministros mantiveram, em outubro de 2023, a
condenação da mulher por estelionato. A pena foi de 2 anos, 4 meses e 24 dias
de reclusão, com regime inicialmente aberto. Ela teve o direito a recorrer em
liberdade.
Procurada,
Raimunda/Ruth e o advogado dela não responderam aos contatos. O espaço segue
aberto para manifestação.
<><> Multipensões
são ilegais
Esta reportagem faz
parte da série Pensões Camufladas, publicada pela coluna ao longo desta e
da próxima semana. A série revela histórias exclusivas sobre esquemas de
fraudes em pensões militares. Exército, Aeronáutica e Marinha desperdiçam
milhões de reais de dinheiro público mantendo na folha de pagamento pessoas que
não deveriam ganhar sequer um centavo das Forças Armadas. A coluna analisou
dezenas de processos no STM, no TCU e em tribunais federais ao longo de um mês.
A Medida Provisória
nº 2.215-10, de 2001, não permite a acumulação de duas pensões militares.
Levantamento
realizado pelo TCU identificou, ainda, “aumento significativo” na acumulação
ilegal de pensões militares com mais de um benefício ou vencimento: passando de
79 casos em 2021 para 2.780 em 2022.
<><> Mais
e mais pensões militares
O caso, apesar de
excepcional, não é o único. Em um modus operandi semelhante ao usado por
Raimunda/Ruth, Maria da Conceição Mendes Daumerie, hoje com 76 anos, usava os
nomes de solteira e de casada, tinha dois CPFs – um com cada nome – e duas
contas bancárias para receber as pensões militares de filha solteira e de
viúva.
Como falsa filha
solteira, recebeu os proventos desde 1993, omitindo que havia se casado em
1989. Já a pensão de viúva foi solicitada em 1997, após a morte do marido. O
montante recebido do Exército alcançou R$ 416,5 mil, pagos de 1994 a 2007.
A mulher confessou
os fatos no processo. Também admitiu que sabia que não poderia receber as duas
pensões militares.
A defesa pediu a
nulidade do processo e sustentou que a Justiça Militar da União seria
incompetente para a ação e o julgamento. Além disso, justificou que se tratava
de uma idosa de 76 anos (à época do caso) e em condições humildes, sem muita
instrução.
A Defensoria Pública da União (DPU) disse que o
caso de Maria da Conceição se trata de uma idosa em “estado de necessidade” e
que usava o dinheiro das pensões militares para a própria subsistência. “A
pessoa não tinha dinheiro para comer. Então, como a gente vai exigir que a
pessoa corte a pensão?”, disse o defensor público federal André Del Fiaco, que
atuou no caso.
O STM negou recurso
da DPU, mantendo a condenação por estelionato, em novembro de 2020. A punição
foi de 2 anos de reclusão, com regime inicialmente aberto. Ela também teve
direito a recorrer em liberdade.
<><> O
que dizem as Forças Armadas
Procurada há três
semanas, Aeronáutica não se manifestou.
O Exército explicou
que a “auditoria sobre as pensões militares é realizada tanto de forma física,
em que se adotam medidas como a ‘prova de vida’ e a atualização de documentos,
como na forma contábil, em que serão examinados os contracheques, as ordens
bancárias e as planilhas de pagamentos destinados aos pensionistas”.
A Força também
pontuou que todas as pensões são auditadas quanto à legalidade, tanto pelos
órgãos de controle interno, quanto pelo controle externo, como o TCU. O
Exército informou à coluna, em nota, que não se manifesta sobre casos
específicos.
“As auditorias
também são realizadas mensalmente, visando identificar e suspender os
benefícios dos pensionistas que figurarem nos relatórios de óbitos do governo,
bem como de identificar a conformidade aos requisitos legais de acumulações,
teto, dentre outros. Também são realizadas de forma anual, com o objetivo de
apurar a conformidade dos valores pagos aos requisitos legais.”
Sobre o caso das
pensões militares de Raimunda/Ruth, a Marinha respondeu:
“O Sistema de
Controle Interno da Marinha identificou o pagamento de outro benefício, que
resultou no início das apurações, que levaram a descoberta dos fatos narrados,
em julgamento no STM. A MB não habilitou por decisão própria a pensão citada na
reportagem. A pensão foi habilitada por via judicial, onde a AGU inclusive
questionou a possibilidade de fraude ou falsificação, e que deveria ser
comprovada a dependência econômica, ou seja, não poderia haver outra pensão”,
informou sobre o acúmulo de pensões.
¨ Exército e Marinha perderam R$ 54 milhões com fraudes
em pensões
A República do
Brasil era recém-nascida quando o Decreto nº 695 foi assinado em 28 de agosto
de 1890. Naquele momento, o “generalíssimo” Manoel Deodoro da Fonseca ainda não
ostentava a patente de marechal, mas criava o montepio. O pagamento, utilizado
de forma incipiente anteriormente nos quartéis, tornava-se oficial e
funcionaria como um “sistema de previdência” voluntário para que as famílias
de militares continuassem
a receber pagamentos em caso de falecimento.
O decreto exibia um
português diferente, com palavras como “officiaes” e “pharmaceuticos”. O nome
do país, inclusive, era outro: “Republica dos Estados Unidos do Brazil”.
Mudaram-se os termos, mas os benefícios dos militares seguiram. O montepio deu
lugar às polêmicas pensões, alvo de contestações por parte da sociedade, e que
deram um prejuízo estimado em R$ 54 milhões ao Exército Brasileiro e Marinha do
Brasil nos últimos anos. O rombo pode ser muito maior, uma vez que a Força
Aérea Brasileira (FAB) se recusou a fornecer os dados.
Quando se leva em
consideração as maiores patentes que ainda existem nas Forças Armadas, há 35 militares
da ativa, 360 na reserva ou reformados e 3.276 beneficiários de pensões pelos
cargos. Os dados apresentam as informações de generais de Exército, almirantes
e tenentes-brigadeiros do Ar. É importante salientar pode existir mais de um
pensionista por pensão, que é dividida pelo números de beneficiários.
Antigamente, as
pensões militares podiam ser transferidas até para netos, mas houve mudanças
progressivas na legislação, com o passar dos anos. Mário Porto, promotor
militar, aponta que a Medida Provisória nº 2.215, de 2000, gerou uma
reestruturação da remuneração dos militares. Para os membros das Forças Armadas
que entram agora, a pensão é destinada à esposa e aos filhos menores ou
incapazes. Há uma opção para as filhas solteiras receberem também, mas o
militar deve pagar uma taxa adicional.
O promotor ressalta
que as pensões militares não são, necessariamente, um “privilégio”, até porque
militares e servidores públicos contribuem para a previdência, e eles pagam
pelos eventuais benefícios. Além disso, muitas famílias dependem da pensão como
única fonte de renda, o que pode levar a uma complexa situação de vulnerabilidade
social quando o pensionista falece.
Também há situações
específicas em que a família do militar se muda para diferentes regiões do
país, incluindo locais remotos e de difícil acesso, o que pode impedir que a
esposa desenvolva uma carreira própria.
“É um benefício que
a pessoa pagou para ter, mas, assim, realmente existe um peso muito grande,
porque eu acredito que a base da previdência está diminuindo e o topo está se
alargando. Então, há uma desproporção entre quem paga e quem recebe. Mas todo
mundo pagou, todo mundo paga”, menciona o promotor.
<><> O
tamanho ainda misterioso das fraudes em pensões
O Metrópoles investigou,
nos últimos meses, o universo das fraudes em pensões militares. Foram diversos
pedidos de Lei de Acesso à Informação (LAI) e análise de documentos oficiais
para reunir dados e informações que são quase sempre de difícil acesso. Por
isso, os materiais encontrados representam apenas pequenos pedaços de um
quebra-cabeça muito maior,
que gera
transtornos enormes para as Forças Armadas e perdas milionárias para os cofres
públicos. Os valores dos prejuízos somados do Exército e da Marinha ultrapassam
R$ 54 milhões nos últimos anos.
Entre os achados,
houve a descoberta de que o Serviço de Veteranos e Pensionistas da Marinha
(SVPM) promoveu ações para a cobrança de 187 supostos recebimentos indevidos ou
fraudulentos desde 2014. Os pagamentos envolvem mais de R$ 27,4 milhões, sem
considerar as alterações por conta da inflação.
A Marinha, no
entanto, faz a ressalva de que apenas com a consulta individual e pormenorizada
dos processos judiciais seria possível determinar a exatidão da quantidade de
casos e os valores devidos, já que esses podem ter sido recalculados no âmbito
das ações. O comando da força, especificamente, realiza diversos cancelamentos
de benefícios que podem ser provenientes de decisão judicial, por determinação
do Tribunal de Contas
da União (TCU),
ou por auditoria interna.
Destaca-se que a
confirmação de que uma pensão foi recebida de forma fraudulenta ocorre, na
maioria das vezes, muito tempo depois da emissão. Isso porque, quando a Marinha
realiza a suspensão do benefício por suposta fraude, o processo correspondente
é encaminhado ao Ministério Público Militar (MPM), que avalia e decide quanto à
existência de elementos que caracterizam a fraude. Além disso, em alguns casos,
o beneficiário é inocentado, o que indica que não houve fraude e apenas
desconhecimento ou outro entendimento dado pelo juiz.
Em relação ao
Exército Brasileiro, foi possível catalogar 65 ocorrências de pensões militares
canceladas em processos administrativos entre 2019 e 2024. Foram 39
sindicâncias e 26 inquéritos que investigaram fraudes, saques indevidos e
pagamentos com indícios de má-fé. Nesses casos, o prejuízo foi de R$
21.428.437,23. Existem ainda outras ações na Justiça Militar com condenações
por crimes de estelionato que geraram um rombo de R$ 5,2 milhões.
Além disso, dados
obtidos exclusivamente para esta reportagem mostram que o Tribunal de Contas da
União (TCU) decidiu cancelar 448 pensões militares desde 2014. Os números
mostram que 165 foram julgadas ilegais, e outras 15, anuladas por decisão judicial.
Os resultados sobre irregularidades podem ser ainda maiores, pois outros 161
casos foram classificados apenas como “outros”.
<><> Crime
comum na Justiça Militar
De acordo com o
promotor Mário Porto, a fraude em pensão é um dos crimes mais comuns na Justiça
Militar. “O fato mais comum é quando o pensionista morre e o filho, o cuidador
ou o neto continua sacando os valores até que a força descubra o óbito e
interrompa o pagamento”, aponta o representante do Ministério Público Militar
(MPM). No entanto, por conta da grande quantidade de pagamentos, o sistema pode
demorar um ano na atualização de seus dados, o que contribui para a dificuldade
na detecção rápida dessas situações.
A partir das
primeiras informações sobre o possível saque irregular, as Forças Armadas
realizam sindicância interna para confirmar o falecimento do pensionista. Após
a certificação do óbito, a família é contatada. O promotor comenta que,
normalmente, se a pessoa constata o recebimento, o caso é encaminhado à
Advocacia-Geral da União (AGU) para recuperação dos valores. Caso a quantia não
seja devolvida, um inquérito policial militar pode ser instaurado e o processo
é encaminhado ao Ministério Público Militar. O órgão investiga para apurar se
houve ato de má-fé, e pode processar os envolvidos pelo crime de estelionato,
na modalidade previdenciária.
Segundo Porto, as
fraudes incluem falsificação de documentos, apresentação de pessoas com
fisionomia parecida no lugar do pensionista para a prova de vida anual, e uso
do dinheiro da pensão para pagar despesas pessoais ou de empresas. Há ainda
casos de simulação de união estável para obter pensões de forma indevida.
Atualmente, um dos maiores desafios é a demora na comunicação e verificação dos
óbitos.
“Talvez a solução
estaria nos cartórios. Se a gente pudesse mexer na lei civil, para que
constasse na certidão de óbito que a pessoa era pensionista, de qualquer Força
Armada ou de um órgão público civil, o próprio cartório ali se encarregaria de
encaminhar essa informação para a força. O Sisobi (Sistema de Controle de
Óbitos) ainda tem uma demora entre a comunicação e a verificação. Acho que a
gente deveria diminuir esse tempo, deveria ser mais rápida a alimentação e a
difusão dessa informação”, afirma o promotor militar.
Mário Porto
ressalta que, embora os valores totais das fraudes conhecidas sejam altos, o
percentual em relação ao número de pensionistas é considerado relativamente
baixo. “A impressão que eu tenho é que o valor é alto, mas o percentual não.
Existe um esforço de controle, mas, por maior que seja o controle do Estado,
sempre tem uma mente maquiavélica para burlar. É impressionante. Se a gente
botar assinatura digital, dado o biométrico, alguém vai achar um jeito de
burlar”, comenta.
<><> “Sósia”
da mamãe pensionista
As pensões militares
se aplicam aos servidores civis das Forças Armadas. As fraudes também. Em 1995,
uma viúva de um ex-profissional do Exército na 26ª Circunscrição de Serviço
Militar, sediada em Teresina (PI), morreu. Assim, o pagamento do respectivo
benefício deveria ser finalizado.
No entanto, a
filha, em vez de comunicar o falecimento da mãe ao Exército, decidiu apresentar
outra senhora como “sósia” da sua mãe para que os valores fossem depositados na
conta bancária da família. Para isso, usava um documento de identidade contendo
a foto da farsante, mas os dados pessoais da falecida, para que a outra idosa
pudesse se passar pela pensionista nas oportunidades em que era necessário
comparecer à 26ª CSM.
De acordo com o
Ministério Público Militar, a denunciada manteve a fraude por mais de 17 anos.
A farsa só foi descoberta em maio de 2013. Na época, a idosa que se passava
pela mãe dela também morreu e ela teria tentado utilizar outra pessoa para
manter a situação, o que gerou desconfiança. Os prejuízos aos cofres públicos
foram da ordem de R$ 230 mil, conforme atesta laudo contábil. O crédito dos
benefícios era depositado diretamente na conta corrente de titularidade da
filha.
Inicialmente, ao
ser julgada pela Auditoria de Fortaleza, a acusada foi condenada a dois anos e
quatro meses de reclusão, pelo crime de estelionato, conforme determina o
artigo 251 do Código Penal Militar (CPM). A sentença de primeira instância foi
expedida em julho de 2016.
Inconformada com a
decisão, a defesa recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM) no ano seguinte e
pediu a absolvição com base nas alegações de que havia ausência de dolo e
inexistência de prejuízo para a administração pública. Na visão dos advogados,
a alínea “a” do inciso II do artigo 5º da Lei nº 3.373/1958, que dispõe sobre o
Plano de Assistência ao Funcionário e sua Família, garantiria à acusada, que
ostentava a condição de filha solteira, a reversão da pensão por ocasião do
falecimento da beneficiária.
Ao analisar o caso,
o ministro Cleonilson Nicácio Silva relembrou que, à época do falecimento, a
filha ocupava cargo público na rede estadual de ensino do Piauí, o que a
impediria de receber o benefício. O relator também negou as alegações
apresentadas pela defesa.
“Conclui-se, pois,
que a acusada induziu a administração militar em erro para a obtenção de
vantagem indevida, omitindo, deliberadamente, informação sobre o falecimento da
sua genitora e ex-pensionista”, afirmou o ministro. O plenário do STM seguiu,
por unanimidade, o voto do relator para manter íntegra a sentença de primeira
instância, com o direito de apelar em liberdade e o regime prisional
inicialmente aberto.
<><> FAB não apresentou tamanho do rombo
Por mais de dois
meses, o Metrópoles contatou a Força Aérea Brasileira em busca de
informações sobre a quantidade de pensões que foram canceladas por fraudes e os
valores relativos. Inicialmente, em 26 de setembro, o Comando da Aeronáutica
apontou que seria necessário mais tempo para consolidação dos dados requeridos,
cuja conclusão estava prevista para o dia 7 de outubro de 2024. No entanto,
nenhum dado foi apresentado.
Meses depois, em
novo pedido de informações com idêntico teor, a FAB apresentou outra resposta.
Dessa vez, informou que inexiste um banco de dados que possa compilar as
informações requeridas, ou seja, não há no sistema campo específico que
evidencie os motivos para o cancelamento das pensões, os quais podem ser
variados, tais como: atingimento da maioridade, falecimento da pensionista,
renúncia, ou mesmo recebimento irregular.
Apesar disso, não é
incomum a Aeronáutica registrar casos célebres de falsificação nas pensões. Em
um dos casos mais conhecidos, apresentado pela coluna Tácio Lohan,
do Metrópoles, uma mulher se casou com o pai do companheiro dela. O sogro,
um tenente da reserva remunerada da FAB, tinha 85 anos e foi diagnosticado com
esquizofrenia.
Ela, inclusive,
teve dois filhos e mantinha um relacionamento amoroso com o filho do ex-membro
da FAB. Meses depois do matrimônio, em dezembro de 2015, o tenente faleceu. A
“nora”, então, pediu para receber os valores como viúva do ex-combatente. O
esquema só foi descoberto quase cinco anos depois, mediante a denúncia de outra
filha do militar. Até então, a mulher já havia recebido mais de R$ 360 mil.
O MPM apontou que a nora e o filho do combatente não
tiveram qualquer interrupção em seu relacionamento e seguiram no mesmo
ambiente, a despeito do casamento falso com o tenente da FAB. “O casamento foi
orquestrado no objetivo precípuo de ludibriar a administração militar e de
obter vantagem indevida”, assinalou a ministra do Superior Tribunal Militar
(STM) Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha.
¨ Eletrônicos
no panetone denunciam uso de celular por oficiais na prisão. Por Denise Assis
Os oficiais investigados pela
tentativa de assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes, no ano
de 2022, numa das etapas do golpe para manter Jair Bolsonaro no poder,
denominada “Operação Copa-22”, são terminantemente proibidos de fazer uso de
aparelhos celulares. A informação é da presidente do Supremo Tribunal Militar
(STM), Maria Elizabeth Rocha, que assumirá seu cargo em março, após ser
escolhida como a primeira mulher a presidir a instituição.
A ministra foi consultada
pelo 247 após a sociedade ser surpreendida com uma cena
patética, que deu origem a infindáveis memes nas redes sociais. Dhebora Bezerra
de Azevedo, irmã do tenente-coronel Rodrigo Bezerra, um dos oficiais presos no
Batalhão da Polícia do Exército (BPE), por ser investigado na trama golpista,
tentou entrar para visitá-lo no dia 28 de dezembro. Ela levava dentro de uma
caixa de panetone lacrada um headphone, um cartão de memória e um cabo USB.
Outro preso pela mesma operação, em Brasília, é o general Mário Fernandes, que
se encontra em outra unidade.
Como todos sabemos, a
parafernália eletrônica levada por Dhebora só tem utilidade se acoplada a um
celular. Acontece que, no ato da prisão do tenente-coronel e de seus
companheiros de trama golpista, uma das precauções tomadas pelo ministro
relator do processo, Alexandre de Moraes, foi que cada um deles fosse
“internado” em uma Organização Militar, a fim de que não estabelecessem contato
entre si ou com outros investigados. O uso de um aparelho celular oferece essa
oportunidade, o que contraria totalmente as regras impostas aos presos.
Nesse caso, a tentativa de
levar para dentro do Batalhão de Polícia do Exército os componentes eletrônicos
denunciou não só uma transgressão da irmã – que adotou comportamento semelhante
ao dos que tentam introduzir objetos proibidos em presídios comuns –, como
também deixou claro que ele já possuía um celular dentro da unidade.
O flagrante levou o ministro
do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes a suspender terminantemente as
visitas ao tenente-coronel Rodrigo Bezerra. De acordo com a ministra do STM, no
caso dos presos à disposição da Justiça – fato inédito, tratando-se de oficiais
do Exército –, eles seguem a Lei de Execução Penal (LEP).
Foi necessária, inclusive, a
edição de um "regulamento" adaptado às particularidades da
Organização Militar onde o preso está custodiado. E, claro, eles não podem ter
acesso ao celular. “Houve, inclusive, determinação do ministro Alexandre para
que os presos custodiados em Brasília fossem distribuídos em OM diferentes. É
passado um detector de metais nas visitas e nos itens entregues aos presos”,
esclarece Maria Elizabeth. “Eles seguem a Lei de Execução Penal”, confirma.
¨ Com
tornozeleira, PM preso em 8 janeiro vira espião e é acusado de perseguir mulher
O coronel da reserva da
Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Jorge Eduardo Naime Barreto, está
novamente sob investigação, desta vez por acusações de stalking, monitoramento
ilegal e porte ilegal de armas. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por
meio da Delegacia de Repressão à Corrupção (Drcor/Decor), conduz o inquérito
que aponta o envolvimento de Naime em um esquema sofisticado de vigilância
clandestina contra uma empresária de Brasília. As informações são do
portal Metrópoles.
O oficial já havia sido
preso preventivamente em fevereiro de 2023, no âmbito das investigações sobre
os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que resultaram na invasão e
depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília. Na ocasião, Naime foi
acusado de crimes graves, incluindo tentativa de golpe de Estado e dano ao
patrimônio público. Em maio de 2024, ele obteve liberdade provisória por
decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sob
medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e recolhimento
domiciliar noturno.
<><> Esquema de monitoramento e intimidação
Mesmo sob restrições legais,
Naime voltou a ser alvo de novas denúncias. De acordo com a PCDF, ele teria
coordenado um esquema de monitoramento ilegal que incluía a instalação de
rastreadores no veículo da empresária e dispositivos de escuta clandestina no
carro de seu motorista. Além disso, há indícios de que a conta iCloud da vítima
foi acessada sem autorização.
As investigações indicam que
Naime foi contratado como chefe de segurança pelo ex-companheiro da empresária
e usou sua experiência na segurança pública para facilitar as operações de
vigilância. Segundo a polícia, o coronel teria dirigido ações de intimidação,
incluindo abordagens policiais atípicas. Em um dos episódios relatados, o
motorista da empresária foi parado por policiais em uma situação que levantou
suspeitas, com câmeras de vigilância registrando Naime nas proximidades.
<><> Histórico controverso
O envolvimento de Naime nos
atos de 8 de janeiro já havia colocado em evidência sua conduta. À época, ele
foi apontado como um dos responsáveis por facilitar a deterioração de
patrimônio público e colaborar com a tentativa de golpe de Estado. Sua prisão
foi considerada simbólica, dado o impacto dos crimes que resultaram na
destruição do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal
Federal.
Agora, a PCDF investiga se o
coronel utilizou sua posição anterior na PMDF para acessar equipamentos e
informações confidenciais, agravando a gravidade das acusações.
Fonte: Brasil 247
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