Pelo
direito à vida
Em maio
de 2025, fundou-se no Brasil a “Eu Decido”, uma associação civil sem fins
lucrativos, de caráter reivindicatório, que coloca o país no mapa do movimento
mundial que luta pelo direito à morte assistida (eutanásia e suicídio
assistido).
O
movimento mundial right-to-die tem mais de 80 organizações atuando em mais de
30 países.
Desde
então, a Associação tem crescido exponenciamente e já conta com mais de 300
associados, das mais diversas áreas de atuação, dentre elas, jornalistas,
advogados, médicos, psicólogos, intelectuais e artistas.
Luciana
Dadalto, presidente da Associação, afirma: “a Eu Decido defende o direito de
escolha, a possibilidade de uma pessoa que tem um sofrimento considerado por
ela como intolerável por uma condição de saúde irreversível, possa optar pela
morte assistida se entender ser este o melhor caminho para uma morte digna”.
Hoje,
no Brasil, a autonomia em fim de vida é restrita pois inexiste a opção pela
morte assistida.
Acreditamos
que cabe apenas à pessoa que sofre definir o que é uma morte digna e cabe ao
Estado dar a ela possibilidades de exercício deste direito.”
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Manifesto Eu decido
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Sobre o direito à vida
A Eu
Decido acredita que a vida é um direito, não um dever. Acredita, ainda, que a
pessoa é a única protagonista da sua vida e a única que pode decidir sobre seus
cuidados de saúde, em especial, sobre seu fim de vida.
<><>Sobre
o direito à morte
A Eu
Decido acredita que a morte faz parte da vida e reconhece a importância de
conversar a respeito desse estágio natural da existência. Esse momento único e
particular deve ser vivido conforme desejos e crenças de cada um, com ampla
liberdade e autonomia.
Acredita,
também, que morrer com dignidade é um direito humano fundamental e que ninguém
deve ser obrigado a viver com um sofrimento que considera ser insuportável.
Entende
que o suicídio é uma questão importante de saúde pública e que deve ser objeto
de ações específicas do Poder Público. Assim, entende a boa morte, com o máximo
possível de autonomia, como um valor social.
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Sobre o direito à autodeterminação e à morte assistida
A Eu
Decido acredita no direito à autodeterminação da pessoa em suas decisões de
vida e morte. Por isso sustenta que cabe a cada pessoa valorar o que é uma boa
morte. Sustenta, também, que cabe apenas à pessoa definir o que considera ser
um sofrimento insuportável.
Defende
o direito à morte assistida de qualquer pessoa maior de 18 (dezoito) anos,
capaz para os atos da vida civil, competente para tomar decisões de modo
consciente e independente, que esteja sofrendo de modo que considere
insuportável, por conta de doença terminal e/ou incurável, incapacitação grave
e/ou irreversível, ou padecimento decorrente de envelhecimento avançado.
Nesse
momento, outros grupos de pessoas, notadamente menores de 18 anos e pessoas em
sofrimento existencial ou mental (sem uma condição física subjacente), estão
fora do escopo de atuação direta da Eu Decido. Embora reconheçamos seu
sofrimento, e sejamos solidários com ele, ainda não há um consenso no movimento
mundial pelos direitos de fim de vida sobre como atuar nessas situações.
Defendemos que esses casos sejam estudados e debatidos.
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Sobre o direito a morrer com dignidade
A Eu
Decido defende que toda pessoa tem direito a morrer com dignidade e que o
exercício deste direito pode se dar de quatro formas – não excludentes – , a
saber: (i) Recusa terapêutica; (ii) acesso aos cuidados paliativos; (iii) morte
assistida; (iv) não iniciação ou suspensão de tratamentos que tenham o objetivo
de prolongar o processo de morrer.
Apoia
os cuidados paliativos e o acesso a esta abordagem como direito humano a ser
garantido desde o diagnóstico de doença ameaçadora da vida ou sofrimento
intolerável.
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O que não fazemos
A Eu
Decido não encoraja o suicídio. A Eu Decido não fornece meios para a morte
assistida, não auxilia nesse procedimento e nem intermedia tratativas com
organizações internacionais.
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O que queremos
Atuar
para que a morte assistida seja reconhecida como um direito no Brasil e esteja
disponível para todos os que a escolherem.
Além de
compartilhar dados, fomentar conhecimento e incentivar o debate sobre os temas
propostos pela associação e de interesse coletivo, munindo a população
brasileira de informações sobre suas opções no fim de vida.
Apoiar
o respeito à recusa terapêutica e ao acesso aos cuidados paliativos, informar e
incentivar a feitura das diversas espécies de documentos de diretivas
antecipadas de vontade – como testamento vital, procuração para cuidados de
saúde, diretivas para demência e diretivas para parada voluntária de comer e
beber.
Sensibilizar
formadores de opinião, promover intercâmbio entre especialistas e entidades que
defendam os direitos aqui mencionados, conselhos profissionais das áreas de
saúde, atuar junto aos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, para
estabelecer diálogo entre as autoridades brasileiras em todos os níveis.
Carta
deixada pelo poeta e letrista Antonio Cicero em 23 de outubro de 2024, antes da
morte assistida na Suíça, após ser diagnosticado com com Alzheimer
“Queridos
amigos,
Encontro-me
na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou
insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de
algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas
que ocorreram ontem.
Exceto
os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que
encontro na rua e com as quais já convivi.
Não
consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me
concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar
de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível
situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a
coisa – mais importante da minha vida.
Hoje,
do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois
bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide
se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero
ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes
envio muitos beijos e abraços!”.
Fonte:
Associação Eu decido

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