Mercenários
capturados, sujeição de Trinidad e Tobago: o plano da CIA desmantelado pela
Venezuela
A Venezuela informou nesta
segunda-feira (27) que está desmantelando uma célula mercenária em seu
território, financiada pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos
(CIA), que estaria vinculada ao planejamento de um ataque de falsa bandeira contra
um navio militar estadunidense estacionado em Trinidad e Tobago.
O
objetivo dessa operação, que foi notificada por Caracas ao governo trinitense,
era culpar a República Bolivariana pelo ataque à embarcação, a fim de
justificar o desencadeamento de um conflito militar.
“Entregamos
todas as provas ao governo de Trinidad; aos Estados Unidos não damos mais
nenhuma. A última vez que o fizemos foi durante o incidente da embaixada
estadunidense em Caracas, e o que fizeram foi sair em defesa dos terroristas”,
explicou o presidente Nicolás Maduro, acrescentando que o
governo de Trinidad e Tobago “tomou nota” da informação. “Eles sabem que isso é
verdade”, afirmou.
Maduro
detalhou que, entre a noite de sábado (25) e a madrugada de domingo (26), foi
capturado um grupo de mercenários financiados pela CIA e vinculados ao plano de
“autoataque”. Lamentou que essa operação tenha contado com a anuência da
primeira-ministra trinitense, Kamla Persad-Bissessar, a quem chamou de
“alcahueta” (cúmplice).
O
presidente relatou que já foram descobertas e desmanteladas três operações
terroristas preparadas pelos Estados Unidos. A primeira foi o atentado
frustrado que pretendia explodir o monumento à vitória soviética na Grande
Guerra Pátria, na Praça Venezuela, em Caracas. A segunda foi o plano para
detonar uma bomba nas instalações da antiga embaixada estadunidense. E a
terceira é este “autoataque” em Trinidad e Tobago, que buscava desatar uma
guerra contra a Venezuela.
“Felizmente,
temos uma boa equipe de inteligência e contrainteligência”, declarou o
presidente venezuelano. Acrescentou que, além da Força Armada Nacional
Bolivariana e da Polícia Nacional Bolivariana, o país conta com a cooperação de
“muitos organismos internacionais de inteligência, muitos”.
O
ministro das Relações Interiores, Diosdado Cabello, informou que, além das
capturas realizadas no fim de semana, nesta segunda-feira (27) foram presas
mais três pessoas vinculadas ao complô. Detalhou que essas pessoas tinham em
seu poder “manuais de execução da Agência Central de Inteligência”. Acrescentou
ainda que os detidos tentaram apagar informações de seus telefones no momento
da prisão, mas o que os órgãos de segurança encontraram nos aparelhos “é ouro
puro”, em referência a dados que vinculam a CIA a setores que “odeiam a
Venezuela”.
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Cooperação energética suspensa
Durante
a transmissão de seu programa semanal de televisão, Maduro confirmou o anúncio
feito mais cedo pela vice-presidenta Delcy Rodríguez sobre a suspensão do
convênio de cooperação energética entre a Venezuela e Trinidad e Tobago.
Continua
após o anúncio
Maduro
explicou que Trinidad “esgotou suas reservas de gás”, e que a Venezuela havia
oferecido um acordo de fornecimento em condições vantajosas, seguindo a linha
de solidariedade com os povos do Caribe inaugurada por Hugo Chávez sob o
esquema Petrocaribe.
No
entanto, indicou que, “diante da ameaça da primeira-ministra de converter
Trinidad e Tobago em um porta-aviões do império estadunidense contra a
Venezuela”, aprovou, como medida cautelar, a interrupção dessa cooperação.
“Está tudo suspenso”, enfatizou.
Acrescentou
que está levando a questão ao Conselho de Estado — o mais alto órgão
constitucional para decisões de segurança — para avaliar se essa medida se
transformará em uma ação de caráter “estrutural” e de maior profundidade nessa
matéria.
Trinidad
e Tobago realiza, de 26 a 30 de outubro, exercícios militares conjuntos com
tropas dos Estados Unidos sob a direção do Comando Sul.
Continua
após o anúncio
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Terceiro sobrevoo
Segundo
agências internacionais de notícias, um par de bombardeiros B-1B sobrevoou as
águas do Caribe, em frente à costa da Venezuela, nesta segunda-feira (27). A
informação tem como origem dados de rastreamento de voos do portal
Flightradar24. Esses registros mostram que os dois bombardeiros, que decolaram
de uma base aérea no estado da Dakota do Norte, nos Estados Unidos, voaram
paralelamente à costa venezuelana antes de desaparecer do radar.
Esta
seria a terceira vez, segundo informações de portais dedicados ao rastreamento
de voos, que unidades militares estadunidenses se aproximam do território
venezuelano. Outro bombardeiro B-1B teria sobrevoado a região próxima à costa
venezuelana na semana passada, e um par de B-52 o teria feito na semana
anterior.
No
domingo (26), chegou a Porto Espanha, capital trinitense, o destróier
estadunidense Gravely, possivelmente o alvo do ataque de falsa
bandeira denunciado pela Venezuela. Além disso, Washington ordenou ao grupo de
ataque do porta-aviões Gerald R. Ford que se dirija à América
Latina para se somar ao contingente da operação militar mantida no Caribe, que
supostamente tem como objetivo combater o narcotráfico — embora diversos
informes da imprensa estadunidense revelem que o objetivo final seria promover
uma “mudança de regime” na Venezuela.
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Mais detalhes sobre o plano da CIA
No
domingo (26), o governo da Venezuela informou sobre a captura de um grupo de
mercenários “com informação direta da Agência Central de Inteligência dos
Estados Unidos (CIA)”, o que permitiria determinar que está em curso um ataque
de falsa bandeira a partir de Trinidad e Tobago, com o objetivo de gerar “um
enfrentamento militar completo” contra o país venezuelano.
“A
Venezuela denuncia provocação militar de Trinidad e Tobago em coordenação com a
CIA para instalar uma guerra no Caribe”, escreveu a vice-presidenta Delcy
Rodríguez nas redes sociais, junto ao comunicado em que se anunciou a detenção
dos mercenários, sem precisar o número de capturados.
No
texto, o governo venezuelano acusa Kamla Persad-Bissessar de atuar de maneira
subordinada aos interesses hegemônicos estadunidenses e de converter seu
território “em um porta-aviões dos Estados Unidos para a guerra em todo o
Caribe contra a Venezuela, a Colômbia e toda a América do Sul” — denúncia
reiterada por Maduro nesta segunda-feira (27).
Vale
mencionar que, de 26 a 30 de outubro, Trinidad e Tobago realiza exercícios
militares conjuntos com tropas dos Estados Unidos sob a direção do Comando Sul.
Esse
comportamento, alega Caracas, viola a Carta das Nações Unidas, a proclamação da
América Latina e do Caribe como “zona de paz”, aprovada pela Celac, e os
princípios da Comunidade do Caribe (Caricom), uma vez que não se trata de
exercícios defensivos, mas de “uma provocação hostil” que busca transformar o
Caribe em um espaço de violência letal e de domínio imperial estadunidense.
Além
disso, a Venezuela afirma que o governo de Kamla Persad-Bissessar é “repressivo
e criminoso”, que “atira contra seu próprio povo” e celebra que os trinitenses
“sejam executados sumariamente enquanto abre as portas a tropas estrangeiras
assassinas”, em referência à denúncia de famílias de pescadores trinitenses
sobre o assassinato de dois homens em 14 de outubro, no ataque a uma lancha
que, segundo Trump, transportava drogas.
O
governo venezuelano adverte que não se deixará intimidar por exercícios
militares nem por gritos de guerra e que a Força Armada Nacional Bolivariana
permanecerá alerta e mobilizada diante dessa provocação.
O
governo de Nicolás Maduro reiterou que os Estados Unidos planejam uma ação
semelhante aos fatos históricos do encouraçado Maine, que deu
origem à guerra contra a Espanha para se apoderar de Cuba em 1898, e ao
incidente do Golfo de Tonkin, que permitiu a autorização do Congresso
estadunidense para se envolver na guerra contra o Vietnã em 1964.
Uma
operação de falsa bandeira é um ato encoberto, militar ou político, realizado
com a intenção de culpar outra entidade por esse ato. O termo se origina da
prática de içar uma bandeira diferente da própria para confundir — costume
comum entre piratas — ou para enganar o inimigo, fazendo-o acreditar que o
ataque provém de outro lado.
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Dispositivo militar defensivo na Venezuela
Na
quinta-feira (23), as forças militares venezuelanas montaram um dispositivo denominado “Exercício
de Defesa Costa Independência 200”, que envolve patrulhas mistas para
“detectar, capturar e bloquear o ingresso do inimigo”, segundo declarações dos
oficiais encarregados das manobras.
A
mobilização começou às 4 horas nos estados Zulia, Falcón, Carabobo (ocidente),
Aragua, Miranda, La Guaira (centro), Anzoátegui, Sucre e Nueva Esparta
(oriente). Foram ativadas peças de artilharia de 105 mm rebocadas, sistemas
ZU-23 (canhão automático antiaéreo duplo rebocado) e mísseis antiaéreos Igla-S,
além de veículos blindados anfíbios VN1, entre outros equipamentos.
O
presidente Nicolás Maduro declarou em 22 de outubro que a Venezuela conta com
mais de cinco mil mísseis Igla-S, um tipo de projétil antiaéreo russo de última
geração, operado por canhões portáteis manejados por um único soldado. Eles
podem alcançar alvos a até seis quilômetros de distância e a uma altura de até
3.500 metros. São capazes de derrubar aviões, helicópteros e drones a baixa e
média altura, mediante sistemas de guiagem infravermelha de alta precisão.
Analistas
de temas militares afirmam que os soldados estadunidenses chamam esse míssil
de “El Grinch”.
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A CIA fracassará, adverte a presidência
O
general Vladimir Padrino, ministro da Defesa, afirmou que todo o movimento tem
como objetivo “contrabalançar a ameaça militar instalada no Caribe, essa
grosseira ameaça militar contra a região”.
O
governo também ativou operações de segurança interna diante da ameaça feita
recentemente por Donald Trump sobre possíveis operações encobertas da CIA.b
Padrino foi direto a esse respeito:
Por
aqui não passará nenhuma tentativa de desestabilização da nação venezuelana;
poderão infiltrar não sei quantos agentes vinculados à CIA em operações
encobertas, por qualquer flanco da nação, mas todo intento fracassará, como tem
acontecido até agora.Vladimir
Padrino
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Da defesa integral à “greve geral”
Em 23
de outubro, o presidente Nicolás Maduro advertiu, durante uma reunião com as
centrais operárias venezuelanas, que, se os Estados Unidos chegassem a consumar
uma mudança de regime no país, “não se moveria um alfinete e se declararia uma
greve geral insurrecional e revolucionária nas ruas até que se retomasse o
poder”. Acrescentou que não seria apenas uma greve, mas que “seriam milhões com
fuzis, organizados como corpos combatentes”.
“Yes
peace, yes peace, forever, peace forever, ¡No crazy war!, Não à guerra louca,
¡No crazy war!”, ironizou Maduro, acrescentando: “Isto se chama linguagem tarzaneada.
Se traduzirmos para o espanhol tipo Tarzan, seria: não guerra, não guerra, não
querer guerra, não à guerra dos loucos, não à loucura da guerra. Essa seria a
tradução, certo?”, brincou. O termo tarzaneado se refere a uma
forma de linguagem em que se omitem artigos, preposições e conjugações
complexas.
A
Venezuela vem realizando há vários meses exercícios militares defensivos diante
da ameaça bélica representada tanto pelo deslocamento militar estadunidense no
Caribe quanto pela retórica agressiva de funcionários da Casa Branca contra o
governo venezuelano.
Um
exemplo foi a confirmação, em 23 de outubro, por parte de Donald Trump, de que
ataques contra alvos terrestres, semelhantes aos realizados no mar, seriam “o
próximo passo” a ser tomado por Washington contra o que denomina “cartéis
narcoterroristas”, que relaciona — ainda sem provas — ao presidente Nicolás
Maduro e ao seu governo.
¨ EUA chantagearam
piloto de Maduro para desviar avião e capturá-lo
Um
agente federal dos Estados Unidos tentou recrutar o piloto-chefe do presidente venezuelano Nicolás
Maduro,
propondo que desviasse secretamente o avião presidencial de sua rota original
para um local onde autoridades norte-americanas pudessem capturá-lo. Em troca,
o piloto se tornaria “um homem muito rico”. A informação foi publicada
pela Associated Press (AP) na terça-feira (28/10).
A
proposta em questão foi feita em 2024 pelo então agente do Departamento de
Segurança Interna norte-americano, Edwin López, ainda sob o governo de Joe
Biden. Em uma reunião secreta, o norte-americano sugeriu que o general da Força
Aérea Venezuelana, Bitner Villegas, levasse Maduro para a República Dominicana,
Porto Rico ou a base de Guantánamo, em Cuba, para ser preso. Embora Villegas
tenha compartilhado o seu contato com o agente, não aderiu ao plano.
Segundo
a AP, tudo começou quando um informante procurou a Embaixada dos
EUA na República Dominicana, onde López trabalhava, afirmando ter informações
sobre dois aviões de Maduro em manutenção no país, alegando violações às
sanções norte-americanas. Com base na informação, López rastreou as aeronaves,
e viu que estavam localizadas no aeroporto La Isabela, em Santo Domingo. Ao
mesmo tempo, identificou cinco pilotos venezuelanos que estavam na ilha, e que
posteriormente foram interrogados por ele.
No
encontro com Villegas, López confirmou que o general venezuelano havia pilotado
tanto para Maduro quanto para o seu antecessor, o ex-presidente Hugo Chávez, e,
assim, apresentou-lhe a proposta. O piloto, contudo, não se comprometeu ao
plano, mas repassou o seu número de celular ao agente norte-americano.
Nos
meses seguintes, mesmo após se aposentar do serviço público, López seguiu
mantendo contato com o piloto através de aplicativos de mensagem criptografada,
insistindo na proposta e mencionando o aumento da recompensa. Por exemplo, em 7
de agosto deste ano, o ex-agente chegou a anexar um link para um comunicado de
imprensa do Departamento de Justiça que anunciava que a captura de Maduro havia
aumentado para US$ 50 milhões (em torno de R$ 267 milhões).
“Ainda
estou esperando sua resposta”, escreveu.
As
negociações, no entanto, não prosperaram. Em 18 de setembro, Villegas endureceu
seu posicionamento contrário ao plano dos EUA durante uma troca de mensagens
com López, chamando o norte-americano de “covarde”.
“Nós,
venezuelanos, somos feitos de um tecido diferente”, escreveu o piloto. “A
última coisa que somos são traidores”. Villegas bloqueou o contato após uma
última chantagem lançada pelo ex-agente norte-americano, que mencionou os
filhos do venezuelano.
Depois
do rompimento das comunicações, opositores de Maduro divulgaram publicamente
uma foto de López e Villegas juntos, numa tentativa de semear desconfiança
sobre a lealdade do piloto. Dias depois, Villegas reapareceu em um programa de
televisão estatal venezuelano apresentado pelo ministro do Interior Diosdado
Cabello, mantendo-se em silêncio e com o punho erguido em sinal de lealdade a
Maduro.
A
história foi revelada em meio à mobilização militar dos EUA no
Mar do Caribe,
perto da costa venezuelana que, desde setembro, tem realizado ataques fatais
contra embarcações na região alegando se tratar de um mecanismo de combate ao
tráfico de drogas – porém, sem apresentar provas. Este mês, Trump chegou a
autorizar a agência secreta CIA a realizar
ações dentro da Venezuela. De acordo com o
presidente Maduro, Washington tenta derrubar o seu governo.
¨ Rússia defende
soberania da Venezuela em meio às ofensivas dos EUA
O
porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, declarou nesta quarta-feira
(29/10) que as ações dos EUA em relação à Venezuela devem estar em
conformidade com o direito internacional e defendeu a soberania do país
sul-americano.
“Partimos
do princípio de que tudo o que acontece em relação à Venezuela deve estar de
acordo com o espírito e a letra do direito internacional”, disse ele a
repórteres, comentando as movimentações dos EUA em relação ao
país sul-americano.
O
porta-voz do Kremlin também foi questionado se o presidente russo, Vladimir
Putin, havia discutido uma possível operação militar dos EUA contra a Venezuela
com seu homólogo americano, Donald Trump, na última ligação telefônica entre os
líderes.
“Não,
esse assunto não foi discutido; não estava na agenda”, respondeu Peskov.
Já a
porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova,
declarou anteriormente que a ação militar dos EUA na América Latina levanta
questionamentos. A Rússia manifestou apoio à Venezuela e pede que o país se
abstenha de intensificar o conflito.
“Nós,
naturalmente, apoiamos o desenvolvimento estável e independente da região,
resolvendo todas as divergências de forma pacífica e civilizada. Reafirmamos
nosso firme apoio contínuo à liderança venezuelana na defesa
de sua soberania nacional”, declarou Zakharova.
A
administração do presidente Donald Trump vem ameaçando militarmente a Venezuela
com envio de navios de guerra ao Caribe sob a justificativa de estar realizando
operações de combate ao tráfico de drogas. O presidente venezuelano, Nicolás
Maduro, nega as acusações de narcotráfico e afirma que elas são uma desculpa
para justificar uma incursão na Venezuela, que enfrenta a “ameaça militar mais
letal e extravagante da história”.
Há
cerca de duas semanas, o presidente Donald Trump admitiu que autorizou
operações da CIA em território venezuelano. “Autorizei por duas razões, na
verdade. Número um: eles [Venezuela] esvaziaram suas prisões e enviaram [os
presos] para os EUA. E a outra coisa são as drogas. Recebemos muitas drogas
vindo da Venezuela, e grande parte das drogas venezuelanas entram pelo mar,
então você precisa ver isso, mas também vamos detê-las pela terra”, disse, ao
justificar a operação.
Já na
última segunda-feira, dois bombardeiros B-1B da Força Aérea dos Estados Unidos
sobrevoaram o mar do Caribe, perto da costa venezuelana, conforme registrou a
plataforma de monitoramento de voos Flightradar24. Foi a terceira demonstração
de força deste tipo registrada em um intervalo de três semanas.
Fonte:
La Jornada/Opera Mundi

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