Como
as mudanças climáticas estão nos deixando doentes
As
consequências das mudanças climáticas nunca foram tão perigosas para a saúde
humana. É o que alertam os 128 principais cientistas por trás do Lancet
Countdown Report, considerado um indicador renomado das conexões científicas
entre saúde e aquecimento global.
De
ataques cardíacos e exaustão pelo calor a problemas de saúde mental e à
disseminação de doenças tropicais, a crise climática está ameaçando cada vez
mais pessoas ao redor do mundo, segundo um relatório publicado nesta
terça-feira (28/10).
"O
balanço de saúde deste ano pinta um quadro sombrio e inegável dos danos
devastadores à saúde que estão alcançando todos os cantos do mundo", disse
Marina Romanello, diretora executiva do Lancet Countdown, uma colaboração
internacional independente de pesquisa, sediada na University College London.
As
mortes relacionadas ao calor aumentaram 23% desde os anos 1990 e já passam de
meio milhão por ano. A fumaça de incêndios florestais foi associada a um
recorde de 154 mil mortes em 2024, enquanto a poluição do ar causada pela
queima de combustíveis fósseis mata 2,5 milhões de pessoas todos os anos.
Riscos
à saúde aumentaram no último ano
"Estamos
vendo milhões de mortes todos os anos por causa da nossa persistente
dependência de combustíveis fósseis, por causa do atraso na mitigação das
mudanças climáticas e dos atrasos na adaptação às mudanças que não podem mais
ser evitadas", disse Romanello.
As
conexões entre saúde e aquecimento global estão se tornando mais evidentes à
medida que as mudanças climáticas, impulsionadas pela queima de carvão,
petróleo e gás, continuam causando devastação no planeta.
O ano
passado foi o mais quente já registrado, e os níveis de CO₂ na atmosfera
atingiram novos recordes. Em 2024, devido às mudanças climáticas, o mundo
enfrentou em média 16 dias adicionais de calor extremo prejudicial à saúde.
Para os grupos mais vulneráveis da sociedade, como bebês e pessoas acima de 65
anos, esse número subiu para 20 dias extras de ondas de calor.
Segundo
o relatório, 13 dos 20 indicadores que representam riscos à saúde humana
aumentaram significativamente no último ano. O aspecto mais preocupante é que
quase todos os indicadores estão indo na direção errada, explicou Romanello.
Custos
para a saúde e para a economia
As
mudanças climáticas estão intensificando eventos climáticos extremos, que estão
se tornando mais frequentes e intensos ao redor do mundo.
Ondas
de calor – a forma mais mortal de evento climático extremo – podem superaquecer
o corpo, sobrecarregar órgãos vitais e dificultar o sono. Inundações podem
contaminar a água potável e espalhar infecções, enquanto as secas estão
agravando a desnutrição e a fome com a perda de colheitas. A fumaça dos
incêndios florestais – que em 2024 corresponderam a uma área maior que a Índia
– prejudica os pulmões, o coração e até bebês ainda no útero.
Na
sequência de desastres climáticos, a interrupção do fornecimento de energia e
os danos na infraestrutura também dificultam o acesso a suprimentos e cuidados
médicos. Segundo Romanello, a maioria dos afetados por eventos climáticos
extremos no mundo não tem seguro de saúde, o que os torna ainda mais
vulneráveis aos riscos à saúde.
Esses
riscos não custam apenas vidas humanas, mas também têm impacto econômico. A
escassez de água ou alimentos e as condições sanitárias precárias após
desastres custam centenas de bilhões de dólares por ano. Segundo estimativas, o
calor extremo custou mais de um trilhão de dólares em 2024 – cerca de 1% da
produção econômica global – devido à perda de produtividade por doenças e
ausências no trabalho.
Dengue
e doenças tropicais estão se espalhando
Mosquitos,
carrapatos e mutucas – alguns dos quais transmitem doenças infecciosas mortais
– também estão se espalhando para mais regiões à medida que as temperaturas se
elevam.
Em
outubro, mosquitos foram documentados pela primeira vez na Islândia, o que
pesquisadores associam às mudanças climáticas. Com o aumento das temperaturas
abrindo novos habitats para insetos, o número de infectados com dengue,
malária, leishmaniose e outras doenças está crescendo no mundo todo.
Em
2024, o número de casos de dengue no mundo bateu recorde, com mais de 7,6
milhões de infectados. Segundo o relatório, o potencial médio global de
transmissão da dengue aumentou 49% desde os anos 1950. "Sabemos que as
mudanças climáticas estão alimentando pelo menos parte dessa
disseminação", diz Romanello.
Mesmo
que nem todas essas infecções sejam fatais, quem adoece muitas vezes fica
semanas sem poder trabalhar, gerando consequências econômicas negativas.
Saúde
mental também é impactada
As
mudanças climáticas também estão aumentando o risco de doenças mentais. Pessoas
que vivenciam eventos climáticos extremos como incêndios florestais, furacões
ou enchentes severas podem sofrer transtorno de estresse pós-traumático, afirma
Jenni Miller, diretora executiva da Global Climate and Health Alliance, uma ONG
dos Estados Unidos.
Perdas
na colheita devido à seca, escassez de água ou perda de meios de subsistência
podem causar ansiedade e levar direta ou indiretamente a problemas de saúde
mental. Isso é agravado pela falta de sono causada por noites excessivamente
quentes, segundo o relatório.
Como
prevenir mais doenças e mortes
Os
autores do relatório recomendam três medidas principais para mitigar as
consequências da crise climática sobre a saúde.
Primeiro,
é preciso expandir a produção de energia renovável para conter o aumento das
temperaturas globais. O boom de energia limpa ajudou a reduzir a poluição do ar
e evitou mais de 160 mil mortes entre 2010 e 2022, segundo Romanello.
Medidas
de adaptação às mudanças climáticas, como tornar edifícios residenciais e
infraestrutura pública adequados às condições climáticas extremas, também
precisam ser aceleradas. E, por fim, os cientistas alertam que os sistemas de
saúde globais precisam ser urgentemente adaptados e equipados para enfrentar os
desafios adicionais que as mudanças climáticas apresentam.
Fonte:
DW Brasil

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