A
farsa do ‘narcoterrorismo’: como o Rio virou laboratório da guerra híbrida
contra o Brasil
Sob o
pretexto de combater o crime, o governo do Rio e seus aliados na
extrema-direita reeditam a velha cartilha da Guerra Fria: transformar segurança
pública em palco de guerra informacional. Ao ecoar o termo “narcoterrorismo”,
autoridades fluminenses ajudam Washington a testar uma nova forma de
intervenção — agora travestida de “cooperação antiterror”.
Drones
sobrevoando o Complexo da Penha, granadas lançadas sobre um território
densamente povoado, dezenas de mortos, escolas fechadas, medo generalizado. As
imagens correram o mundo antes mesmo que os fatos fossem apurados — e bastou
uma frase do governador Cláudio Castro para fixar o enquadramento desejado: “é
narcoterrorismo”. Essa palavra, lançada ao espaço informacional com a frieza de
quem sabe o que diz, não é apenas um erro semântico. É uma arma.
O
episódio desta terça-feira, 28 de outubro de 2025, marca o ápice de uma
operação psicológica cuidadosamente calibrada para fabricar a sensação de
colapso da segurança pública e, com isso, legitimar uma agenda geopolítica que
não nasce no Brasil. O termo “narcoterrorismo” — juridicamente inexistente no
direito brasileiro — serve como chave simbólica para importar o vocabulário
estratégico de Washington e deslocar o eixo da narrativa nacional: o que era
crime organizado se transforma, subitamente, em “ameaça hemisférica”.
Essa
manipulação discursiva tem objetivos precisos. Internamente, consolida o
projeto de poder da extrema-direita, que precisa do medo como combustível
político; externamente, reabre a porta para a doutrina de segurança dos Estados
Unidos, que volta a enxergar a América do Sul como um campo de “risco híbrido”
a ser contido. O governo do Rio, ao adotar esse léxico, atua como vetor de uma
psyop de alcance internacional: produz instabilidade, fragiliza o governo
federal e fornece à imprensa estrangeira o argumento pronto de que o Brasil
perdeu o controle sobre seu território.
No
campo informacional, não há improviso. A sincronização entre a operação
militar, o uso do termo “narcoterrorismo” e sua replicação imediata por
agências internacionais forma um roteiro já conhecido da guerra híbrida
contemporânea: criar o caos, nomeá-lo sob o signo do inimigo global e exigir
intervenção sob o pretexto da ordem. O que se passa hoje no Rio de Janeiro é
menos sobre segurança e mais sobre soberania. É o ensaio de uma nova ofensiva
cognitiva contra o Brasil.
O
ESPETÁCULO OPERACIONAL: A GUERRA QUE PRECISA SER VISTA
Nada em
uma psyop acontece por acaso — nem o horário da operação, nem os
enquadramentos, nem o som das explosões. O que se viu nas ruas do Rio de
Janeiro, na manhã de 28 de outubro de 2025, não foi apenas uma ação policial de
grande porte: foi a encenação de uma guerra cuidadosamente coreografada para as
câmeras. Blindados, helicópteros, drones e rajadas de fuzil compuseram a
mise-en-scène perfeita para a criação de uma narrativa de colapso.
A
operação “Contenção”, mobilizando mais de 2.500 agentes em uma única manhã, foi
vendida como resposta ao avanço das facções criminosas, mas seu resultado real
foi outro: gerar imagens de caos controlado, capazes de circular
instantaneamente nas redes, nas TVs e nos portais internacionais. A guerra
híbrida, afinal, depende da visibilidade — sem imagem, não há medo; sem medo,
não há consentimento.
O
impacto simbólico foi imediato. As cenas de granadas lançadas por drones e das
favelas cobertas por fumaça não apenas criaram pânico, mas legitimaram o
discurso de exceção. Em poucas horas, escolas fecharam, ônibus pararam, e a
cidade mergulhou em um estado de paralisia emocional. Esse é o objetivo da
operação psicológica: gerar percepção de perda de controle, mesmo quando o
controle — militar e narrativo — está nas mãos de quem manipula a cena.
Ao
transformar a segurança pública em espetáculo bélico, o governo do Rio recriou
a estética do medo, fundamento essencial das democracias sitiadas. As câmeras
da imprensa, estrategicamente posicionadas, captaram não apenas o confronto,
mas o argumento: “o Estado enfrenta terroristas”. O que se transmite ao mundo,
no entanto, é outro enredo — o de um país em colapso, incapaz de governar seus
próprios territórios.
A
guerra híbrida se alimenta desse paradoxo: quanto mais o Estado aparece como
forte, mais ele se revela vulnerável; quanto mais promete segurança, mais
fabrica insegurança. Essa é a lógica do espetáculo operacional — a guerra que
precisa ser vista para cumprir sua função simbólica.
A
ENGENHARIA DISCURSIVA: COMO SE FABRICA UM INIMIGO INTERNO
Nenhuma
guerra híbrida se sustenta sem narrativa, e nenhuma narrativa se impõe sem
engenharia discursiva. No caso do “narcoterrorismo”, o processo foi
milimetricamente orquestrado: primeiro a imagem, depois o rótulo, em seguida a
viralização, e por fim, a legitimação política.
O ciclo
começa nas imagens. Drones, explosões, correria, fumaça — tudo registrado,
editado e difundido em tempo real por canais oficiais e perfis aliados ao
governo do Rio. O objetivo: criar o clima de guerra. Na sequência, surge a
palavra-chave — “narcoterrorismo” — pronunciada por uma autoridade e
imediatamente reproduzida por toda a máquina de comunicação bolsonarista. O
termo não tem base legal, mas tem valor simbólico. Ele transforma criminosos em
“inimigos do Estado” e o Estado em “bastião da civilização”, invertendo
completamente a lógica jurídica e democrática.
Essa
retórica é amplificada por um ecossistema previsível: portais da
extrema-direita, influenciadores que orbitam o bolsonarismo digital e veículos
internacionais predispostos a enquadrar o Brasil como “país em colapso”. A
palavra é o vetor. Quando o rótulo chega à Reuters, à CNN en Español e ao El
País, ele já cumpre sua função — legitimar o medo como verdade global e
transferir o eixo do debate do campo policial para o campo geopolítico.
A
engenharia discursiva transforma a exceção em regra e o território periférico
em laboratório de consenso. Ao batizar o crime como terrorismo, o poder local
fabrica o inimigo perfeito: invisível, interno e conveniente. É assim que se
sustenta a guerra híbrida — não pelo controle de armas, mas pelo controle das
palavras.
O
PROPÓSITO POLÍTICO INTERNO: O CAOS COMO ESTRATÉGIA DE PODER
A
fabricação do caos é uma velha técnica política — e, no Brasil de 2025, voltou
a ser um ativo eleitoral. O governo do Rio de Janeiro, ao transformar a
segurança pública em espetáculo, recria o ambiente de medo que alimenta o
bolsonarismo e oferece à extrema-direita o combustível de que precisa para se
manter relevante. Cada granada lançada, cada corpo exibido, cada manchete sobre
“narcoterrorismo” reforça a narrativa de que apenas o autoritarismo pode
devolver a ordem.
O
cálculo é cínico. Com as eleições municipais à vista e o bolsonarismo
enfraquecido nacionalmente, a extrema-direita busca um novo eixo de mobilização
— e encontrou na “guerra contra o crime” o terreno ideal. Ao hiperbolizar a
insegurança, cria-se a percepção de que o governo federal perdeu o controle,
forçando o presidente Lula a reagir sob a agenda discursiva do adversário. É o
mesmo método usado nos Estados Unidos durante a “War on Drugs” e na Colômbia
sob o pretexto do “narcoterror”: a política do medo como arma eleitoral e
instrumento de subordinação internacional.
Internamente,
o discurso serve a três funções:
1 -
Blindar a incompetência administrativa do Estado fluminense, desviando o foco
das crises fiscal e social.
2 -
Rearticular o campo bolsonarista sob uma bandeira moral e bélica, agora
travestida de “defesa do cidadão”.
3 -
Provocar o governo federal a entrar no jogo da força, rompendo o equilíbrio
entre segurança pública e direitos civis e apresentando Lula como “fraco diante
do crime”.
O caos,
portanto, não é um efeito colateral — é o produto. A sensação de desordem é o
terreno fértil da extrema-direita, e o Rio de Janeiro, mais uma vez, foi
escolhido como laboratório. Sob o verniz de combate ao tráfico, o que se ensaia
é uma guerra política por narrativas: a disputa pela percepção de quem detém a
autoridade moral para usar a violência.
A PORTA
PARA A INGERÊNCIA EXTERNA: O REGRESSO DA DOUTRINA MONROE
Por
trás do discurso de “narcoterrorismo”, o que se reativa é um velho projeto de
subordinação hemisférica: a Doutrina Monroe, reciclada no século XXI sob o
disfarce de “cooperação antiterrorismo”. O termo não é inocente. Quando uma
autoridade brasileira chama facções criminosas de “narcoterroristas”, ela abre
uma brecha jurídica e diplomática para que os Estados Unidos intervenham direta
ou indiretamente sob o argumento da segurança regional.
Esse
roteiro já foi testado. Nos anos 1990, a Colômbia foi convertida em laboratório
militar dos EUA sob o pretexto do “Plano Colômbia” — uma parceria que prometia
combater o narcotráfico e acabou militarizando o país, ampliando o poder das
agências americanas e subordinando a política de segurança nacional à lógica da
DEA e do Pentágono. Hoje, o Rio de Janeiro cumpre função análoga: criar o
pretexto narrativo para que o Brasil volte a caber na mesma moldura de “ameaça
hemisférica”.
Não é
coincidência que a retórica de Cláudio Castro tenha ecoado, quase de imediato,
em meios de comunicação e redes internacionais de segurança ligadas a
Washington. O termo “narcoterrorismo” permite associar o Brasil à lista de
países que exigem vigilância especial — a antessala das sanções, da espionagem
e da cooperação forçada. Trata-se de uma operação de linguagem que antecede a
operação política: quem controla o nome, controla o território.
Ao
importar o léxico da segurança norte-americana, o governo do Rio cede soberania
narrativa e estratégica. Entrega o poder de definir o que é ameaça e o que é
ordem; o que é segurança e o que é guerra. E quando um Estado abre essa porta,
não é ele quem decide quando ela será fechada.
O
“narcoterrorismo”, portanto, não é apenas um equívoco semântico. É o código de
ativação de um sistema de ingerência já em funcionamento — o braço invisível da
guerra híbrida que transforma um discurso local em justificativa global para
intervir, vigiar e enfraquecer o Brasil em nome da segurança.
A
CAPTURA TECNOLÓGICA: QUANDO A SEGURANÇA VIRA DEPENDÊNCIA
Toda
guerra híbrida tem uma camada silenciosa: o código. Por trás dos blindados e
das granadas lançadas de drones, existe uma rede de sistemas, contratos e
plataformas que definem quem vê, quem decide e quem lucra com o controle do
território. O discurso do “narcoterrorismo” funciona aqui como porta de entrada
para a entrega tecnológica, travestida de “cooperação em segurança”.
As
polícias estaduais e federais brasileiras operam hoje com softwares, bancos de
dados e ferramentas de vigilância fornecidos por empresas estrangeiras — muitas
delas ligadas diretamente ao complexo civil-militar dos Estados Unidos e de
Israel. Sistemas de análise forense, monitoramento de redes, reconhecimento
facial e interceptação digital compõem um ecossistema híbrido de segurança
privatizada, em que o Estado brasileiro depende de infraestrutura, código e
manutenção estrangeiros. Essa é a face invisível da soberania capturada.
Quando
um governo local aciona o léxico do “terrorismo”, abre caminho para acordos
diretos com essas corporações, sob o argumento da urgência e da “cooperação
internacional”. É o mesmo modelo aplicado em Bogotá, Manila e Kiev: a
tecnologia entra como “ajuda”, mas permanece como instrumento de tutela. Cada
nova aquisição, cada integração de dados, reduz a autonomia operacional das
forças brasileiras e aumenta a capacidade de vigilância de atores externos
sobre o território nacional.
A
guerra híbrida não precisa de tropas estrangeiras — basta o controle do
software e da narrativa. O discurso do medo legitima o investimento estrangeiro
na segurança pública, e o investimento estrangeiro consolida o medo como
política permanente. É um ciclo de dependência retroalimentado, em que o Brasil
fornece dados, abre infraestrutura e paga pela própria subordinação.
No
limite, o “narcoterrorismo” é o cavalo de Troia que converte a soberania
informacional em moeda de troca, transformando o país em laboratório de teste
para tecnologias de vigilância de uso dual — civil e militar. O inimigo não
está nas favelas, mas nos servidores que processam os dados sobre elas.
O
QUADRO JURÍDICO: A MENTIRA LEGAL E O DISCURSO DE EXCEÇÃO
Nenhum
país soberano pode aceitar que a linguagem do inimigo determine o seu próprio
direito. O Brasil possui legislação clara sobre terrorismo — e ela não inclui o
tráfico, o crime organizado ou facções locais. A Lei 13.260/2016, sancionada
após intenso debate no Congresso, define terrorismo como “atos motivados por
extremismo político, religioso, racial ou ideológico que provoquem terror
social generalizado”. Nada disso se aplica ao contexto fluminense. Ainda assim,
o governador Cláudio Castro e setores da extrema-direita insistem em importar a
categoria estrangeira de “narcoterrorismo”, um conceito sem valor jurídico e
com alto valor geopolítico.
A
operação semântica é simples, mas letal: ao classificar criminosos como
“terroristas”, o Estado ganha carta branca para suspender direitos, expandir a
letalidade e excluir o controle civil sobre as forças de segurança. Essa é a
essência do discurso de exceção — ele legitima a violência preventiva, autoriza
o erro e naturaliza o dano colateral. O efeito psicológico é devastador:
transforma a população pobre, negra e periférica em potencial inimiga interna.
Por
trás dessa distorção jurídica há um propósito estratégico: aproximar o Brasil
da arquitetura normativa dos Estados Unidos, que permite ações
extraterritoriais, sanções e monitoramentos sob o pretexto de “combate ao
terror”. É o mesmo expediente usado para justificar intervenções na América
Central, no Oriente Médio e nos Bálcãs — sempre em nome da segurança global.
No
plano interno, o “narcoterrorismo” cria um estado de exceção permanente
travestido de política pública. Sob esse manto, tudo se justifica: operações
sem transparência, prisões em massa, execuções sumárias e convênios diretos com
agências estrangeiras. Trata-se de um atalho discursivo para contornar a
Constituição e reintroduzir o paradigma do inimigo — aquele que pode ser
eliminado sem julgamento porque “não faz parte da sociedade”.
A
mentira legal é o coração da psyop: ao fazer o público acreditar que o país
enfrenta “terroristas”, o Estado se autoriza a agir como potência ocupante
dentro do próprio território. E é justamente aí que a democracia começa a
morrer — não pelo golpe militar, mas pelo consentimento semântico.
AS
CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS: A GUERRA INTERNA E O RISCO DE INTERVENÇÃO EXTERNA
A
consequência mais imediata da farsa do “narcoterrorismo” é o retorno de uma
velha patologia brasileira: a normalização da guerra interna contra o próprio
povo. Quando o Estado passa a enxergar cidadãos como inimigos potenciais, a
política de segurança se transforma em política de extermínio. O resultado está
nas estatísticas que nunca aparecem nas manchetes: corpos sem identificação,
lares destruídos, escolas fechadas e territórios ocupados permanentemente sob o
pretexto da ordem.
Mas o
efeito não se limita à tragédia local. Cada vez que um governador fala em
“terrorismo”, o termo é registrado por agências internacionais, indexado em
bancos de risco e analisado por plataformas de monitoramento financeiro e
diplomático. Em linguagem técnica, isso é chamado de “securitização da imagem
nacional” — o processo que transforma problemas internos em ameaças globais. O
preço é alto: encarece o crédito, afugenta investimentos, desestabiliza o
câmbio e alimenta a percepção de fragilidade institucional.
No
plano geopolítico, o discurso abre brecha para novas formas de ingerência,
especialmente sob a doutrina norte-americana de “combate a ameaças híbridas e
narcoterroristas”. Uma simples palavra dita por uma autoridade estadual pode
servir de base para sanções, cooperações forçadas ou espionagem disfarçada de
assistência técnica. É o que se observa agora: em Washington, think tanks e
comissões parlamentares já citam o Brasil como “novo foco de instabilidade” —
exatamente o tipo de narrativa que precede a penetração institucional.
Internamente,
a operação cumpre outra função: testar os limites da democracia brasileira. O
aumento da letalidade, o uso de drones, a ausência de perícia independente e o
silêncio das autoridades federais revelam um país em estado de
dessensibilização. O medo vira rotina, e a rotina anestesia o escândalo. É
assim que uma operação policial se converte em ensaio de guerra híbrida: pelo
controle da emoção coletiva e pela naturalização da violência como método de
governo.
No
campo simbólico, o dano é ainda mais profundo. A ideia de que o Brasil enfrenta
“terroristas” legitima a militarização das favelas, a vigilância sobre
movimentos sociais e o enfraquecimento de qualquer resistência popular. O que
começa como exceção em um território periférico termina como norma nacional.
Essa é a arquitetura do autoritarismo moderno: não precisa de tanques nas ruas,
apenas de medo nas telas.
A
CONTRA-NARRATIVA ESTRATÉGICA: COMO RECONSTRUIR A SOBERANIA DO DISCURSO
Toda
guerra híbrida se vence primeiro no campo da linguagem. Antes das sanções,
antes das armas e antes das urnas, vem a disputa pelo significado das palavras.
É por isso que, diante da ofensiva “narcoterrorista”, a reação democrática
precisa começar pela reconstrução semântica. A palavra “terrorismo” não pode
ser cedida à extrema-direita, nem ao manual de Washington. É preciso
restituí-la ao direito, à verdade e à soberania nacional.
A
primeira medida é reafirmar o ordenamento jurídico brasileiro: o Brasil não
enfrenta terroristas, enfrenta criminosos — e essa diferença é o que separa o
Estado de Direito do estado de exceção. As facções não têm ideologia política
nem intenção de gerar pânico social por motivação extremista. Chamá-las de
“terroristas” é mentir por interesse geopolítico. É preciso insistir nessa
distinção até que se torne senso comum, porque ela define o limite entre
governar e ocupar.
A
segunda é reconstruir o vocabulário da segurança pública a partir da soberania
informacional. Em vez de importar doutrinas prontas, o Brasil precisa formular
sua própria estratégia de defesa digital e territorial — centrada em
inteligência pública, controle de dados e transparência. Segurança não é
espetáculo: é política de Estado. Cada contrato de software, cada parceria
tecnológica e cada cooperação internacional deve responder à lógica da
autonomia, não da dependência.
A
terceira é quebrar o monopólio narrativo da grande mídia e dos porta-vozes da
exceção. A guerra híbrida é uma guerra de percepção; portanto, exige uma
comunicação soberana. Isso significa disputar as redes, formar novos
repertórios simbólicos e revelar o bastidor dos discursos. O antídoto da psyop
é a verdade organizada — a contra-informação estratégica capaz de desarmar o
medo.
Por
fim, é necessário reafirmar o princípio político fundamental: a segurança não
pode ser instrumento de dominação, mas de emancipação. Combater o crime sem
sacrificar direitos é o verdadeiro desafio civilizatório. Enquanto o Brasil for
induzido a lutar a guerra dos outros, continuará perdendo a sua própria paz. A
contra-narrativa começa quando o país volta a se nomear com as suas próprias
palavras.
CONCLUSÃO:
O BRASIL COMO ALVO DA GUERRA HÍBRIDA GLOBAL
O que
aconteceu no Rio de Janeiro não foi apenas uma operação policial: foi um ensaio
de guerra híbrida, testado em escala real, com todos os elementos clássicos de
uma psyop moderna — o espetáculo midiático, o pânico social, a manipulação
discursiva e o alinhamento automático ao vocabulário de Washington. Sob o
disfarce da segurança, o Estado fluminense executou uma operação política de
desestabilização, cujo verdadeiro alvo não é o crime, mas o governo federal e a
soberania do país.
Quando
o Brasil aceita o rótulo de “narcoterrorismo”, entrega de bandeja o seu poder
de narrar a si mesmo. Autoridades locais transformam o território nacional em
vitrine de guerra para justificar dependência tecnológica, parcerias
assimétricas e, em última instância, a interferência estrangeira. É o mesmo
manual de sempre: primeiro o discurso, depois a doutrina, por fim a
intervenção. A história da América Latina é escrita nesse ciclo.
O que
está em jogo agora é mais profundo que uma disputa partidária — é a própria
autonomia cognitiva do Estado brasileiro, a capacidade de definir quem somos,
quem ameaça e quem defende. Essa batalha não se vence com fuzis nem com notas
oficiais, mas com consciência e soberania informacional. O Brasil precisa
recuperar o domínio da palavra antes que perca o domínio do território.
A
resposta democrática deve ser clara: nenhuma narrativa importada pode definir o
futuro de um país que ainda luta para ser dono de si. Reagir à psyop não é
apenas um gesto de resistência — é um ato de independência.
Nos
próximos capítulos, a disputa continuará: nas redes, nas instituições e no
imaginário coletivo. Mas cada vez que o Brasil recusa o medo imposto, um pedaço
de sua soberania é reconquistado. E é exatamente por isso que querem nos manter
em guerra — porque a paz é revolucionária.
Fonte: Reynaldo
José Aragon Gonçalves, em Brasil 247

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