Lula
sobre tarifaço: 'Trump me garantiu que fará acordo, e vai ser mais rápido do
que muita gente pensa'
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta
segunda-feira (27/10) na Malásia que Donald Trump se comprometeu
a negociar rapidamente um acordo com o Brasil sobre as tarifas de 50% impostas
pelos EUA a produtos brasileiros.
"Ele
[Trump] garantiu que vamos ter um acordo. E acho que será mais rápido do que
muita gente pensa", disse Lula durante uma coletiva de imprensa.
Lula
afirmou que Brasil e EUA devem participar de novas
rodadas de negociações sobre as tarifas "nas próximas semanas" em
Washington.
"Estou
convencido de que, em poucos dias, teremos uma solução definitiva entre Estados
Unidos e Brasil, para que a vida siga boa e alegre, do jeito que dizia
Gonzaguinha em sua música", disse o brasileiro.
As
declarações foram feitas um dia após Lula se encontrar com Trump na Malásia.
Na
reunião com Trump, o brasileiro disse ter pedido ao americano "a suspensão
da taxação e revisão das punições aos nossos ministros", referindo-se
a sanções aplicadas pelos EUA a magistrados
do Supremo Tribunal Federal (STF) e autoridades de seu governo.
O
brasileiro voltou a chamar as sanções de "infundadas e baseadas em
informações erradas".
Lula
disse que Trump "ficou surpreso" ao ouvir que as sanções americanas
haviam atingido até a filha de 10 anos do ministro da Saúde, Alexandre Padilha
(PT).
Padilha foi sancionado em agosto por
ter participado da elaboração do programa Mais Médicos. Segundo o governo
americano, o programa consistiu em um "esquema de exportação de trabalho
forçado do regime cubano", em referência à participação de médicos cubanos
no programa entre 2013 e 2018.
O
ministro, sua esposa e filha tiveram os vistos americanos cancelados.
Já oito
magistrados do STF - entre os quais o ministro Alexandre de Moraes - foram
sancionados com base na Lei Magnitsky, criada para punir
estrangeiros que os EUA consideram autores de graves violações de direitos
humanos.
Na
entrevista coletiva, Lula disse que questões políticas entre Brasil e Estados
Unidos - incluindo as sanções aos ministros - serão tratadas apenas por ele e
por Trump, ao passo que assessores dos dois governos negociarão temas
comerciais, como as tarifas a produtos brasileiros.
Lula
disse ainda ter defendido na reunião com Trump a legitimidade do julgamento no STF que condenou
Bolsonaro a
27 anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado e outros crimes. O americano já
fez várias críticas ao julgamento e o usou como um dos argumentos para aplicar
as tarifas de 50% contra o Brasil.
"Eu
disse que foi um julgamento muito sério, com provas contundentes", afirmou
Lula.
Referindo-se
a Bolsonaro, Lula disse que Trump sabe que "rei morto, rei posto".
"Bolsonaro
faz parte do passado da política brasileira. Eu disse [a Trump]: com três
reuniões que você fizer comigo, vai perceber que Bolsonaro não era nada",
disse o petista.
Lula
disse que a reunião com Trump foi importante para que pudessem se conhecer
pessoalmente.
"Quando
você se conhece [por intermédio] das pessoas que falam, é mais difícil. Tem que
sentir, pegar na mão, olhar, ver a reação da pessoa. Acho que houve sinceridade
na nossa relação", afirmou.
O
encontro ocorrido no domingo foi a primeira reunião formal entre os dois, que
mantinham relação distante desde o início do governo Trump.
A
situação se agravou em julho, quando Washington anunciou o tarifaço contra o
Brasil. Mas o diálogo melhorou a partir de setembro, quando ambos tiveram breve
contato durante a Assembleia Geral da ONU, em
Nova York,
o que abriu as negociações para o encontro bilateral.
Numa
rápida conversa com jornalistas antes do início da reunião, Trump disse ser
"uma honra estar com o presidente do Brasil".
"Acredito
que seremos capazes de fazer ótimos acordos para os dois países", disse
ele.
Após o
encontro, o perfil da Casa Branca no X publicou uma foto dos dois presidentes
se cumprimentando e a seguinte fala de Trump: "Acho que seremos capazes de
fechar alguns bons acordos para ambos os países... Sempre tivemos um bom
relacionamento e acredito que isso continuará."
Também
depois do encontro, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Rosa, disse que a questão de
Bolsonaro não foi discutida diretamente e que Trump não mencionou o aliado na conversa.
<><>
Por que reunião entre os líderes importa
Do
ponto de vista brasileiro, as tarifas foram percebidas como arbitrariedade, já
que os EUA acumulam superávit em sua balança comercial com o Brasil. Em
diversas declarações, Lula questionou a lógica das medidas, alegando que
"a tese pela qual se taxou o Brasil não tem sustentação em nenhuma
verdade", e prometeu apresentar argumentos nessa linha durante o encontro.
As tarifas, que entraram em vigor em 6 de agosto, afetam diretamente setores
estratégicos — especialmente exportadores agrícolas e pecuaristas. A Câmara
Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) reforçou que, mesmo com a isenção a uma série de
produtos,
ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia
brasileira.
Em
agosto, o governo Lula anunciou um pacote de medidas para mitigar o impacto
econômico do tarifaço. As ações incluem linhas de crédito subsidiadas,
adiamento da cobrança de impostos e compras governamentais de alimentos dos
setores impactados. Do lado americano, a taxação pode inibir a importação de
produtos do Brasil, levando os EUA a tentar aumentar a produção interna, a
buscar mercados substitutos ou, caso essas duas alternativas não sejam
bem-sucedidas, a reduzir a oferta interna desses itens. Nesse último cenário,
se não houver redução da demanda, a menor oferta pode ter como consequência
aumento de preços.
Essa
estratégia é arriscada no caso de alguns produtos, como café, já que os EUA não
têm as condições climáticas adequadas para produção em larga escala como o
Brasil. Além do comércio e sanções, a regulação das big techs e da mineração de
terras raras, são dois pontos centrais para os americanos. O acesso ao mercado
de etanol no Brasil é outra prioridade.
¨
'Otimismo comedido', 'avanço concreto': as reações da
indústria e do agro ao encontro Lula-Trump
Associações
da indústria e do agronegócio receberam com otimismo a reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Donald Trump, neste domingo (26), e esperam que o encontro acelere
as negociações para reverter ou diminuir o tarifaço de 50% imposto aos produtos
brasileiros. Após a reunião, diversas entidades do setor privado se manifestaram.
- A Confederação
Nacional da Indústria (CNI) disse que o encontro foi um
"avanço concreto" rumo às negociações do tarifaço e que é
"possível esperar redução da sobretaxa de 40%";
- A Câmara de
Comércio Americana para o Brasil afirmou que espera que as
negociações levem a um "entendimento no curto prazo" entre os
dois países;
- A Associação
Brasileira da Indústria do Café (ABIC) disse que está otimista e
que quer uma reavaliação técnica da tarifa imposta ao café;
- O Conselho
dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) celebrou a reunião
entre Lula e Trump, e disse "aguardar por resultados concretos para a
isenção das tarifas";
- A Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados afirmou que está com
"otimismo comedido" e que espera que "medidas concretas
sejam tomadas nos próximos dias";
- A Associação
Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes disse que a
reunião mostrou disposição de ambos os governos em avançar nas discussões
sobre as tarifas.
<><>
O que diz a indústria
Logo
após o encontro entre Lula e Trump, a CNI disse que o encontro representou um
avanço no sentido de reverter o tarifaço imposto ao Brasil pelo governo
americano. "O diálogo entre os dois líderes representa um avanço concreto
nas tratativas bilaterais e reforça o compromisso de ambos os governos com a
construção de soluções equilibradas para o comércio entre Brasil e Estados
Unidos", afirmou a entidade. Segundo a CNI, o anúncio do início das
negociações sobre o tarifaço pode representar um "passo relevante".
Ricardo Alban, presidente da entidade, afirmou acreditar que será construída
uma solução capaz de devolver previsibilidade e competitividade às exportações
brasileiras. À GloboNews, Alban declarou que a negociação ocorreu de forma
célere, apesar do que muitos acreditavam. Ele disse ainda que é possível
esperar uma possível redução da sobretaxa de 40% para entrada de produtos
brasileiros nos EUA, em vigor desde agosto, por determinado prazo, para que as
negociações evoluam. O setor de autopeças, máquinas e equipamentos seriam os
mais impactados financeiramente pela suspensão temporária da taxação, segundo o
presidente da CNI. Alban afirmou que é preciso que o setor industrial se
fortaleça cada vez mais para que o Brasil se insira na geopolítica comercial.
<><>
Câmara de Comércio Americana
Já a
Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, pede que intensificação
das negociações leve a um acordo bilateral com agilidade. “Reforçamos a
importância de que a intensificação das negociações, com novas rodadas
previstas a partir de hoje, leve a um entendimento em curto prazo, com foco na
ampliação de oportunidades de comércio e investimentos entre as duas maiores
economias das Américas”, disse Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil. Para a
Amcham Brasil, a reunião representa um avanço importante no diálogo de alto
nível entre os dois governos, além de fortalecer as perspectivas de um acordo
bilateral voltado à redução de tarifas sobre as exportações brasileiras.
<><>
'Estamos otimistas', diz indústria do café
A
Associação Brasileira do Café (Abic) também recebeu com otimismo a reunião
entre Lula e Trump e disse que espera uma "reavaliação técnica" das
tarifas impostas ao café, produto agrícola que o Brasil mais exporta aos EUA.
"Os últimos encontros entre os Presidentes dos EUA e do Brasil têm sido
mais positivos e ABIC estamos otimistas. As relações de longo prazo entre
Brasil e Estados Unidos permitirão uma reavaliação equilibrada e responsável
dessas tarifas, com base em critérios técnicos e em benefício mútuo",
disse Pavel Cardoso, presidente da ABIC. "Embora o novo cenário traga
desafios imediatos às exportações, a ABIC destaca que o café brasileiro mantém
posição sólida no mercado internacional, sustentada por sua competitividade,
qualidade reconhecida e relevância para a balança comercial dos dois
países", acrescentou a entidade.
<><>
Exportadores de carne bovina
A
Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) também
avaliou de forma positiva a reunião. "O encontro reforça a importância do
diálogo para o fortalecimento das relações comerciais entre Brasil e Estados
Unidos e demonstra a disposição de ambos os governos em avançar nas discussões
sobre as tarifas atualmente em vigor, que afetam diferentes setores do comércio
bilateral, incluindo as exportações de carne bovina brasileira." A
associação disse que acredita que o entendimento entre os dois países pode
preservar a competitividade do produto brasileiro e garantir previsibilidade
aos exportadores Os EUA são o segundo maior comprador de carne bovina do
Brasil, depois da China, e um importante destino para o setor.
<><>
Setor de calçados tem 'otimismo comedido'
A
Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) disse que, neste
momento, tem um "otimismo comedido" em relação à reunião e que espera
que "medidas concretas sejam tomadas nos próximos dias". Apesar
disso, disse que enxerga com "bons olhos os avanços nas negociações"
entre Brasil e EUA neste domingo.
<><>
Exportadores de café
O
Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) celebrou a reunião entre
Lula e Trump, e disse "aguardar por resultados concretos para a isenção
das tarifas".
A
entidade destacou ainda que tem participado presencialmente de reuniões com a
equipe do governo federal, levando informações estratégicas que possam
contribuir com a reversão das tarifas.
<><>
Do tarifaço ao encontro na Malásia
Em
julho, os Estados Unidos anunciaram tarifas de até 50% sobre produtos
brasileiros, atingindo especialmente exportações agrícolas e de carne bovina. Na
época, o governo Trump deixou claro diversas vezes que essas punições tinham
natureza política. Além das tarifas, o Escritório do Representante de Comércio
dos Estados Unidos (USTR) abriu uma investigação contra o Brasil, acusando o
país de adotar "práticas comerciais desleais". A Casa Branca também
impôs restrições de visto a autoridades brasileiras e sanções financeiras ao
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e à mulher
dele, Viviane Barci de Moraes. As medidas foram tomadas em meio julgamento que
condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por incitar ataques às
instituições brasileiras.
O
governo brasileiro classificou as sanções como um ataque à soberania nacional e
uma tentativa de interferir na independência do Judiciário. As sanções tiveram
como pano de fundo a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP),
filho do ex-presidente brasileiro. O deputado se mudou para os Estados Unidos
no início do ano e iniciou articulações junto à Casa Branca para buscar medidas
contra o Brasil que pudessem pressionar pela absolvição e pela anistia do pai.
Em
setembro, no entanto, Lula e Trump se cruzaram brevemente durante a Assembleia
Geral da ONU, em Nova York, mantendo contato próximo desde então.
No dia
6 de outubro, os líderes fizeram uma
videoconferência de
aproximadamente 30 minutos. Na conversa, Lula pediu a Trump a retirada da
tarifa imposta aos produtos brasileiros e das medidas restritivas aplicadas
contra autoridades brasileiras. Na ocasião, Trump não teria respondido
diretamente ao pedido de Lula para a retirada das tarifas e das sanções
econômicas e de vistos. O presidente americano teria se limitado a dizer que o
tema seria conduzido pelas equipes técnicas dos dois países. Já em 16 de
outubro, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o
secretário de Estado americano, Marco Rubio, se reuniram por uma hora na Casa
Branca, em Washington.
Em uma breve declaração à imprensa, o chanceler brasileiro disse que encontro
foi "muito produtivo, num clima excelente de descontração e de troca de
ideias e posições de uma forma muito clara e muito objetiva". Segundo
Vieira, houve "muita disposição para trabalhar em conjunto para traçar uma
agenda bilateral de encontros para tratar de temas específicos de
comércio". Pelo lado americano, Rubio e o representante de comércio dos
EUA, Jamieson Greer, disseram em um comunicado conjunto que tiveram com o ministro
brasileiro "conversas muito positivas sobre comércio e as questões
bilaterais em curso". Segundo a nota, os três "concordaram em
colaborar e conduzir discussões em múltiplas frentes no futuro imediato e
estabelecer um plano de ação".
Mesmo
com os esforços do encontro para tentar selar a paz, os dois líderes também
deram sinais de que não pretendiam recuar de suas posições durante a semana que
antecedeu o encontro. Na quarta-feira (22/10), Trump afirmou que os pecuaristas
americanos "estão indo bem" graças à tarifa imposta sobre o gado de
outros países, como o Brasil. "Os pecuaristas, que eu adoro, não percebem
que a única razão pela qual estão indo tão bem — pela primeira vez em décadas —
é porque impus tarifas sobre o gado que entra nos Estados Unidos, incluindo uma
tarifa de 50% sobre o Brasil", escreveu em sua rede social. O republicano
acrescentou que, se não fosse por ele, os criadores de gado americanos
"estariam na mesma situação dos últimos 20 anos", que classificou
como "péssima".
Já
Lula, na quinta (23/10), voltou a defender alternativas ao dólar no comércio
global. Durante a visita que faz à Indonésia, o presidente afirmou que tanto o
Pix quanto o sistema de pagamentos indonésio têm potencial para facilitar o
intercâmbio entre os dois países e entre os membros do Brics. "O século 21
exige que tenhamos a coragem que não tivemos no século 20", disse Lula, ao
defender "uma nova forma de agir comercialmente, para não ficarmos
dependentes de ninguém", sem citar diretamente os Estados Unidos. A defesa
de moedas alternativas à americana, reforçada pelo Brasil durante a cúpula dos
Brics em julho, foi apontada por Trump como um dos motivos para a imposição das
tarifas às exportações brasileiras.
<><>
Por que reunião entre os líderes importa
Do
ponto de vista brasileiro, as tarifas foram percebidas como arbitrariedade, já
que os EUA acumulam superávit em sua balança comercial com o Brasil. Em
diversas declarações, Lula questionou a lógica das medidas, alegando que
"a tese pela qual se taxou o Brasil não tem sustentação em nenhuma
verdade", e prometeu apresentar argumentos nessa linha durante o encontro.
As tarifas, que entraram em vigor em 6 de agosto, afetam diretamente setores
estratégicos — especialmente exportadores agrícolas e pecuaristas. A Câmara
Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) reforçou que, mesmo com a isenção a uma série de
produtos,
ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia
brasileira.
Em
agosto, o governo Lula anunciou um pacote de medidas para mitigar o impacto
econômico do tarifaço. As ações incluem linhas de crédito subsidiadas,
adiamento da cobrança de impostos e compras governamentais de alimentos dos
setores impactados. Do lado americano, a taxação pode inibir a importação de
produtos do Brasil, levando os EUA a tentar aumentar a produção interna, a
buscar mercados substitutos ou, caso essas duas alternativas não sejam
bem-sucedidas, a reduzir a oferta interna desses itens. Nesse último cenário,
se não houver redução da demanda, a menor oferta pode ter como consequência
aumento de preços.
Essa
estratégia é arriscada no caso de alguns produtos, como café, já que os EUA não
têm as condições climáticas adequadas para produção em larga escala como o
Brasil. Além do comércio e sanções, a regulação das big techs e da mineração de
terras raras, são dois pontos centrais para os americanos. O acesso ao mercado
de etanol no Brasil é outra prioridade.
Fonte: BBC
News Brasil/g1

Nenhum comentário:
Postar um comentário