“Flávio
Bolsonaro presidente”: Entenda como uma ideia tosca enterrou o clã
É
difícil imaginar onde os integrantes da família Bolsonaro estavam com a cabeça
na última sexta-feira (5) quando o primogênito Flávio anunciou que uma decisão,
do pai, estava tomada: ele seria o candidato à Presidência da República
representando o líder extremista que está preso cumprindo pena de 27 anos.
Embora a notícia tenha se espalhado na velocidade da luz e figurado nas
manchetes de todos os veículos de imprensa do país, ocasionando inclusive uma
queda drástica histórica na bolsa de valores e provocando uma alta alarmante do
dólar, o que veio em seguida foi ainda pior e pode ser classificado como uma
sequência de revéses devastadores que terminou por enterrar o clã que
representa a extrema direita no Brasil.
Agora,
passadas “72 horas”, o que fica nítido com a poeira assentada é que a
estratégia estúpida terminou de destruir com o que sobrava de poder da família,
que se dissolveu completamente depois que o próprio filho mais velho, “o
candidato”, resolveu cometer um sincericídio em frente às câmeras das TVs.
Acompanhe o apanhado de erros grotescos listados e explicados que a Fórum traz
para compreender a sucessão de pontos pessimamente calculados que levou os
Bolsonaro ao fracasso absoluto.
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1 - Decisão tomada sem consultar ninguém.
Flávio
foi visitar o pai na cela especial onde cumpre pena, na sede da
Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Lá ele teria sido “ungido”
pelo “mito” e tinha uma missão: sair pela porta e avisar ao Brasil que era o
nome escolhido para representá-lo. Nenhum quadro, nenhum interlocutor, nenhum
parlamentar de peso do bolsonarismo, nem mesmo o presidente do PL, Valdemar
Costa Neto, foi consultado ou avisado. Num país com a dimensão política do
Brasil, ninguém tem como tomar tal atitude sozinho e pensar que as coisas
correrão dentro da normalidade. E não correram.
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2 - Rejeição gritante de um extremista
Todos
os integrantes da família Bolsonaro são vistos como extremistas e com Flávio
não é diferente. Assim como o pai e o irmão Eduardo, o senador só tem
ressonância dentro da bolha de talvez um terço do eleitorado fanático de Jair
Bolsonaro. Fora dela, no terço que normalmente decide as eleições presidenciais
no país, o primogênito é visto como mais um radical que integra o clã de
trambiqueiros mentirosos, lembrado sempre por seu escândalo das rachadinhas.
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3 - Na contramão de tudo em relação ao centrão
O
bolsonarismo não existe sem o centrão. Esse setor fisiológico e promíscuo se
rende nos últimos dois governos a boa parte dos interesses da família
extremista porque faz uso de seu eleitorado. Na prática, aceitam a maior parte
da bobjada de Jair e dos filhos para assegurar os votos de seus eleitores nas
mais diversas regiões do país. No entanto, está explícito que o centrão terá
papel crucial na composição e costura da chapa que enfrentará o presidente Lula
no ano que vem, e nenhuma das hipóteses colocadas na mesa até agora previa um
Bolsonaro como candidato na cabeça de chapa, muito menos sem consultas,
conversas ou conexões políticas bem amarradas. Resultado: o poderoso grupo deu
de ombros e expressou claramente que não participaria disso, deixando a família
falando sozinha.
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4 - Rifar Tarcísio sem dar satisfação
O
anúncio de Flávio Bolsonaro de que o pai o escolhera foi simplesmente um rolo
compressor passando por cima do governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo. É
indiscutível que o nome com mais chances de enfretar Lula é o do carioca, assim
como é notoriamente o preferido do centrão, da Faria Lima e de outros atores
que vivem de tentar implodir o PT a cada quatro anos. O filho mais velho de
Jair Bolsonaro fez um anúncio oficial que, para além de lançar seu nome, tinha
como principal intenção acabar com o protagonismo de Tarcísio. O problema é que
ninguém aceitou isso, nem o centrão, nem a Faria Lima e nem o próprio Tarcísio,
que até agora segue mudo sem comentar a escolha do “capitão”.
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5 - Ninguém teve senso de realidade
Flávio
Bolsonaro sendo anunciado como futuro candidato à Presidência por escolha de
seu pai foi algo fora da realidade. E foi justamente isso que faltou à família
Bolsonaro: senso de realidade. Na quase totalidade dos meios de comunicação,
nas redes sociais, nos corredores do Congresso, enfim, todos encararam o
anúncio como uma piada. Flávio é um político fraco, sem carisma algum e que
também sempre é lembrado por ter passado mal e desmaiado num debate televisivo
de 2016, à época da eleição municipal do Rio, só porque teve que enfrentar
Jandira Feghali, adversária de esquerda. O vídeo com a cena é um meme eterno.
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6 - Voltou atrás e cometeu sincericídio
No
sábado, pouco mais de 24 horas após ser anunciado como candidato que
representaria Jair Bolsonaro na corrida ao Palácio do Planalto, Flávio já deu
sinais de que percebera a bobagem que fizera junto com o pai. Ele admitiu sem
rodeios que poderia, sim, desistir da candidatura, mas também sem rodeios disse
algo que dinamitou o clã: “eu tenho um preço e vou negociar”. Numa família
desde sempre envolta em acusações de corrupção, na qual o patriarca está sendo
processado sob a acusação de furtar joias e objetos de valor do Estado para
mandar vender e ficar com o dinheiro, inundada por anos em escândalos de
compras de dezenas de imóveis com dinheiro vivo, aparecer assim, dando “um
preço” para vender sua candidatura, foi uma verdadeira implosão.
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7 - O tal “preço”
Sua
frase dantesca e sem pudores, a bem da verdade, guardava um significado muito
mais objetivo e igualmente espúrio. O tal “preço” de Flávio Bolsonaro
referia-se a abrir mão da candidatura, para que o centrão indique então seus
nomes para a chapa que disputará a eleição presidencial de 2026, em troca de
que os deputados e senadores do próprio centrão votem rapidamente uma anistia
“ampla, geral e irrestrita” que colocaria seu pai em liberdade. Nesse caso,
parece até piada. Quem disse a Flávio que o centrão quer Jair Bolsonaro solto?
• Flávio condiciona candidatura à
libertação do pai
A
pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) surgiu como um movimento calculado
e condicionado. O senador deixou claro que permanecerá na disputa presidencial
de 2026 se isso servir como instrumento para pressionar pela anistia ou pelo
indulto ao pai, Jair Bolsonaro (PL), preso e condenado por tentativa de golpe
de Estado. Em seu primeiro ato público como pré-candidato, neste domingo (7) em
Brasília, ele admitiu que pode desistir da corrida, mas estabeleceu o que
chamou de um “preço” para recuar.
O gesto
expõe que sua entrada no tabuleiro eleitoral tem menos relação com ambições
próprias e mais com a operação política para libertar o ex-presidente e
recolocá-lo no jogo.
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A moeda de troca: a liberdade do pai
A
declaração foi dada a jornalistas após um culto evangélico na capital federal.
Horas antes, Flávio havia sido oficialmente lançado como nome do bolsonarismo
para 2026. Em público, porém, revelou que sua candidatura é negociável.
“Olha,
tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho um preço para isso. Eu
vou negociar. Eu tenho um preço para não ir até o fim”, afirmou o senador.
Questionado
sobre qual seria esse preço, foi direto: vincula qualquer desistência à
situação de Jair Bolsonaro, preso desde novembro de 2025 e condenado a 27 anos
e 3 meses de prisão, além de inelegível desde 2023.
Ao
portal R7, Flávio foi ainda mais explícito: “A única forma disso [desistência]
acontecer é se Bolsonaro estiver livre, nas urnas, caminhando com seus netos,
filhos de Eduardo Bolsonaro, pelas ruas de todo o Brasil. Esse é meu preço”.
Sobre a
possibilidade de anistia aos condenados por atos golpistas, reagiu com ironia:
“Tá quente, tá quente”, alimentando a interpretação de que sua pré-candidatura
é peça central na ofensiva jurídica do clã.
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Pressão sobre o Centrão
Nos
bastidores, partidos do Centrão avaliam a movimentação como um “balão de
ensaio” articulado pelo próprio Bolsonaro para forçar o debate sobre anistia.
Flávio inicia nesta segunda-feira (8) uma rodada de conversas com lideranças
como Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP), Antonio Rueda (União
Brasil), Marcos Pereira (Republicanos) e Rogério Marinho (PL-RN) para medir o
ambiente político.
A
resistência é grande. Dirigentes veem a candidatura de Flávio, marcado por
investigações e desgaste acumulado, como um obstáculo à unificação da direita,
que prefere nomes considerados mais competitivos para 2026.
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Um passado que pesa
Caso
siga na disputa, Flávio ainda terá de lidar com investigações que marcaram sua
trajetória e devem ser exploradas na campanha:
• “Rachadinha” na Alerj: investigado por
suposto esquema de apropriação de salários de assessores quando era deputado
estadual; o caso envolve Fabrício Queiroz e movimentações atípicas detectadas
pelo Coaf.
• Vínculo com Adriano da Nóbrega: mãe e
esposa do ex-capitão ligado ao Escritório do Crime trabalharam em seu gabinete;
a relação pode voltar ao centro do debate.
• Investigações imobiliárias: aquisição de
mansão de R$ 6 milhões em Brasília e sociedade em loja da Kopenhagen já foram
alvo de apurações.
Seguir
como pré-candidato pode fortalecer sua capacidade de pressão — mas também expõe
o clã e ele próprio, reacendendo casos que o bolsonarismo tentou enterrar.
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Mercado e pesquisas reagem
O
efeito imediato do anúncio foi negativo. Após a divulgação da pré-candidatura
na sexta (5), o Ibovespa caiu e o dólar subiu. Flávio classificou a reação dos
investidores como “natural”, mas “precipitada”.
No
eleitorado, o cenário também é adverso. Pesquisa Datafolha divulgada neste
final de semana mostra que apenas 8% dos brasileiros acham que ele deveria ser
o escolhido por Jair Bolsonaro para disputar a Presidência. Michelle Bolsonaro
(22%) e Tarcísio de Freitas (20%) aparecem como preferidos do público
bolsonarista.
Diante
do isolamento político, Flávio tenta se apresentar como um “Bolsonaro
diferente”, “um Bolsonaro muito mais centrado, um Bolsonaro que conhece a
política, que conhece Brasília, que vai querer fazer uma pacificação no país”.
Por
ora, porém, sua pré-campanha funciona sobretudo como uma plataforma para
defender o pai.
• Advogado eleitoral analisa cenário
envolvendo Flávio Bolsonaro na disputa presidencial
Para
Alberto Rollo, candidatura de Flávio pode ser uma estratégia para “salvar o
sobrenome” e preservar o protagonismo da família...
Em
entrevista ao programa TV GGN 20H da última sexta-feira (5), o advogado
eleitoral Alberto Rollo analisou os movimentos recentes no tabuleiro político
brasileiro, incluindo a possível candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência,
as tensões entre Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso, e os riscos
representados pelo uso de inteligência artificial nas eleições de 2026.
A
possível entrada de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na disputa presidencial foi
recebida com cautela pelo especialista. Para Rollo, politicamente, a
movimentação pode ser uma estratégia do ex-presidente Jair Bolsonaro para
“salvar o sobrenome” e preservar o protagonismo da família.
Do
ponto de vista jurídico, porém, Rollo ressalta que Flávio Bolsonaro é
atualmente ficha limpa. “Hoje, ele não tem condenação nem inelegibilidade,
então é um nome fácil de ser lançado. Ele é ficha limpa. É verdade, hoje ele é
ficha limpa. O problema é que ele tem aí alguns passivos, algumas investigações
em andamento, alguns rolos, como diz você, com ele só em andamento e que podem
explodir ao longo do ano que vem. E aí podem inviabilizar a candidatura”,
explica.
Ainda
assim, o senador carrega investigações em andamento que podem ter desfecho em
2025 e inviabilizar sua candidatura ao Planalto e até mesmo ao Senado. Ao se
autoproclamar candidato, diz o advogado, Flávio pode acabar acelerando
processos que, em cenário alternativo, avançariam mais lentamente.
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Fundo partidário
Rollo
também explicou que o fundo eleitoral, que hoje contempla cerca de R$ 5
bilhões, é distribuído conforme a composição da Câmara e do Senado eleita em
2022. Mudanças de partido não alteram essa divisão.
Ele
observa que o fortalecimento do fundo público ampliou o poder das direções
partidárias e reduziu a transparência interna.
O
advogado defende a possibilidade de retomar doações de empresas, porém com
limites rígidos, como forma de diminuir a dependência do financiamento público.
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Congresso
Rollo
classificou como excesso a decisão do ministro Gilmar Mendes que alterou regras
sobre abertura de processos de impeachment de ministros do Supremo, retirando a
iniciativa de cidadãos e concentrando-a na Procuradoria-Geral da República.
“Não dá para esconder isso, só foi para blindar o Supremo, não é? Ah, mas a lei
de impeachment de 1950, ela já está ultrapassada. O Congresso, inclusive, agora
vai retomar com urgência a discussão de um novo projeto que está lá, para ver
se muda essa receita”, critica.
A
reação de setores do Senado, que passaram a defender aumento do número de
ministros do STF e mudanças nas indicações, é vista por ele como uma retaliação
que piora a crise institucional.
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Riscos eleitorais e IA
A
discussão sobre eleições de 2026 trouxe à tona uma preocupação central: o uso
de inteligência artificial para produzir vídeos, áudios e conteúdos falsos
altamente realistas. “Fico com medo. A IA atingiu esse grau de perfeição tão
grande, que quero ver no ano que vem, nas eleições, vai ter muito vídeo aí do
Flávio Bolsonaro falando isso ou aquilo, do Lula falando isso ou aquilo, e a
gente não vai ter certeza se é verdade. Vai ser complicado”, alerta Rollo.
Embora
a legislação eleitoral obrigue a identificação de conteúdos produzidos com IA,
o especialista lembra que isso vale apenas para quem age dentro da legalidade.
Conteúdos ilegais circulam por horas antes de serem derrubados, tempo
suficiente para causar danos.
Outro
risco apontado é o papel das plataformas digitais, especialmente Facebook,
Instagram e X, que já foram acusadas de impulsionar conteúdos políticos falsos
ou enganosos.
Rollo
defende investimentos em educação midiática do eleitor, comparando a checagem
de informações à cautela tomada em compras online durante a Black Friday.
Fonte:
Fórum/Jornal GGN

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