quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

 

“Flávio Bolsonaro presidente”: Entenda como uma ideia tosca enterrou o clã

É difícil imaginar onde os integrantes da família Bolsonaro estavam com a cabeça na última sexta-feira (5) quando o primogênito Flávio anunciou que uma decisão, do pai, estava tomada: ele seria o candidato à Presidência da República representando o líder extremista que está preso cumprindo pena de 27 anos. Embora a notícia tenha se espalhado na velocidade da luz e figurado nas manchetes de todos os veículos de imprensa do país, ocasionando inclusive uma queda drástica histórica na bolsa de valores e provocando uma alta alarmante do dólar, o que veio em seguida foi ainda pior e pode ser classificado como uma sequência de revéses devastadores que terminou por enterrar o clã que representa a extrema direita no Brasil.

Agora, passadas “72 horas”, o que fica nítido com a poeira assentada é que a estratégia estúpida terminou de destruir com o que sobrava de poder da família, que se dissolveu completamente depois que o próprio filho mais velho, “o candidato”, resolveu cometer um sincericídio em frente às câmeras das TVs. Acompanhe o apanhado de erros grotescos listados e explicados que a Fórum traz para compreender a sucessão de pontos pessimamente calculados que levou os Bolsonaro ao fracasso absoluto.

>>> 1 - Decisão tomada sem consultar ninguém.

Flávio foi visitar o pai na cela especial onde cumpre pena, na sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Lá ele teria sido “ungido” pelo “mito” e tinha uma missão: sair pela porta e avisar ao Brasil que era o nome escolhido para representá-lo. Nenhum quadro, nenhum interlocutor, nenhum parlamentar de peso do bolsonarismo, nem mesmo o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi consultado ou avisado. Num país com a dimensão política do Brasil, ninguém tem como tomar tal atitude sozinho e pensar que as coisas correrão dentro da normalidade. E não correram.

>>> 2 - Rejeição gritante de um extremista

Todos os integrantes da família Bolsonaro são vistos como extremistas e com Flávio não é diferente. Assim como o pai e o irmão Eduardo, o senador só tem ressonância dentro da bolha de talvez um terço do eleitorado fanático de Jair Bolsonaro. Fora dela, no terço que normalmente decide as eleições presidenciais no país, o primogênito é visto como mais um radical que integra o clã de trambiqueiros mentirosos, lembrado sempre por seu escândalo das rachadinhas.

>>> 3 - Na contramão de tudo em relação ao centrão

O bolsonarismo não existe sem o centrão. Esse setor fisiológico e promíscuo se rende nos últimos dois governos a boa parte dos interesses da família extremista porque faz uso de seu eleitorado. Na prática, aceitam a maior parte da bobjada de Jair e dos filhos para assegurar os votos de seus eleitores nas mais diversas regiões do país. No entanto, está explícito que o centrão terá papel crucial na composição e costura da chapa que enfrentará o presidente Lula no ano que vem, e nenhuma das hipóteses colocadas na mesa até agora previa um Bolsonaro como candidato na cabeça de chapa, muito menos sem consultas, conversas ou conexões políticas bem amarradas. Resultado: o poderoso grupo deu de ombros e expressou claramente que não participaria disso, deixando a família falando sozinha.

>>> 4 - Rifar Tarcísio sem dar satisfação

O anúncio de Flávio Bolsonaro de que o pai o escolhera foi simplesmente um rolo compressor passando por cima do governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo. É indiscutível que o nome com mais chances de enfretar Lula é o do carioca, assim como é notoriamente o preferido do centrão, da Faria Lima e de outros atores que vivem de tentar implodir o PT a cada quatro anos. O filho mais velho de Jair Bolsonaro fez um anúncio oficial que, para além de lançar seu nome, tinha como principal intenção acabar com o protagonismo de Tarcísio. O problema é que ninguém aceitou isso, nem o centrão, nem a Faria Lima e nem o próprio Tarcísio, que até agora segue mudo sem comentar a escolha do “capitão”.

>>> 5 - Ninguém teve senso de realidade

Flávio Bolsonaro sendo anunciado como futuro candidato à Presidência por escolha de seu pai foi algo fora da realidade. E foi justamente isso que faltou à família Bolsonaro: senso de realidade. Na quase totalidade dos meios de comunicação, nas redes sociais, nos corredores do Congresso, enfim, todos encararam o anúncio como uma piada. Flávio é um político fraco, sem carisma algum e que também sempre é lembrado por ter passado mal e desmaiado num debate televisivo de 2016, à época da eleição municipal do Rio, só porque teve que enfrentar Jandira Feghali, adversária de esquerda. O vídeo com a cena é um meme eterno.

>>> 6 - Voltou atrás e cometeu sincericídio

No sábado, pouco mais de 24 horas após ser anunciado como candidato que representaria Jair Bolsonaro na corrida ao Palácio do Planalto, Flávio já deu sinais de que percebera a bobagem que fizera junto com o pai. Ele admitiu sem rodeios que poderia, sim, desistir da candidatura, mas também sem rodeios disse algo que dinamitou o clã: “eu tenho um preço e vou negociar”. Numa família desde sempre envolta em acusações de corrupção, na qual o patriarca está sendo processado sob a acusação de furtar joias e objetos de valor do Estado para mandar vender e ficar com o dinheiro, inundada por anos em escândalos de compras de dezenas de imóveis com dinheiro vivo, aparecer assim, dando “um preço” para vender sua candidatura, foi uma verdadeira implosão.

>>> 7 - O tal “preço”

Sua frase dantesca e sem pudores, a bem da verdade, guardava um significado muito mais objetivo e igualmente espúrio. O tal “preço” de Flávio Bolsonaro referia-se a abrir mão da candidatura, para que o centrão indique então seus nomes para a chapa que disputará a eleição presidencial de 2026, em troca de que os deputados e senadores do próprio centrão votem rapidamente uma anistia “ampla, geral e irrestrita” que colocaria seu pai em liberdade. Nesse caso, parece até piada. Quem disse a Flávio que o centrão quer Jair Bolsonaro solto?

•        Flávio condiciona candidatura à libertação do pai

A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) surgiu como um movimento calculado e condicionado. O senador deixou claro que permanecerá na disputa presidencial de 2026 se isso servir como instrumento para pressionar pela anistia ou pelo indulto ao pai, Jair Bolsonaro (PL), preso e condenado por tentativa de golpe de Estado. Em seu primeiro ato público como pré-candidato, neste domingo (7) em Brasília, ele admitiu que pode desistir da corrida, mas estabeleceu o que chamou de um “preço” para recuar.

O gesto expõe que sua entrada no tabuleiro eleitoral tem menos relação com ambições próprias e mais com a operação política para libertar o ex-presidente e recolocá-lo no jogo.

<>< A moeda de troca: a liberdade do pai

A declaração foi dada a jornalistas após um culto evangélico na capital federal. Horas antes, Flávio havia sido oficialmente lançado como nome do bolsonarismo para 2026. Em público, porém, revelou que sua candidatura é negociável.

“Olha, tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho um preço para isso. Eu vou negociar. Eu tenho um preço para não ir até o fim”, afirmou o senador.

Questionado sobre qual seria esse preço, foi direto: vincula qualquer desistência à situação de Jair Bolsonaro, preso desde novembro de 2025 e condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, além de inelegível desde 2023.

Ao portal R7, Flávio foi ainda mais explícito: “A única forma disso [desistência] acontecer é se Bolsonaro estiver livre, nas urnas, caminhando com seus netos, filhos de Eduardo Bolsonaro, pelas ruas de todo o Brasil. Esse é meu preço”.

Sobre a possibilidade de anistia aos condenados por atos golpistas, reagiu com ironia: “Tá quente, tá quente”, alimentando a interpretação de que sua pré-candidatura é peça central na ofensiva jurídica do clã.

<><> Pressão sobre o Centrão

Nos bastidores, partidos do Centrão avaliam a movimentação como um “balão de ensaio” articulado pelo próprio Bolsonaro para forçar o debate sobre anistia. Flávio inicia nesta segunda-feira (8) uma rodada de conversas com lideranças como Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP), Antonio Rueda (União Brasil), Marcos Pereira (Republicanos) e Rogério Marinho (PL-RN) para medir o ambiente político.

A resistência é grande. Dirigentes veem a candidatura de Flávio, marcado por investigações e desgaste acumulado, como um obstáculo à unificação da direita, que prefere nomes considerados mais competitivos para 2026.

<><> Um passado que pesa

Caso siga na disputa, Flávio ainda terá de lidar com investigações que marcaram sua trajetória e devem ser exploradas na campanha:

•        “Rachadinha” na Alerj: investigado por suposto esquema de apropriação de salários de assessores quando era deputado estadual; o caso envolve Fabrício Queiroz e movimentações atípicas detectadas pelo Coaf.

•        Vínculo com Adriano da Nóbrega: mãe e esposa do ex-capitão ligado ao Escritório do Crime trabalharam em seu gabinete; a relação pode voltar ao centro do debate.

•        Investigações imobiliárias: aquisição de mansão de R$ 6 milhões em Brasília e sociedade em loja da Kopenhagen já foram alvo de apurações.

Seguir como pré-candidato pode fortalecer sua capacidade de pressão — mas também expõe o clã e ele próprio, reacendendo casos que o bolsonarismo tentou enterrar.

<><> Mercado e pesquisas reagem

O efeito imediato do anúncio foi negativo. Após a divulgação da pré-candidatura na sexta (5), o Ibovespa caiu e o dólar subiu. Flávio classificou a reação dos investidores como “natural”, mas “precipitada”.

No eleitorado, o cenário também é adverso. Pesquisa Datafolha divulgada neste final de semana mostra que apenas 8% dos brasileiros acham que ele deveria ser o escolhido por Jair Bolsonaro para disputar a Presidência. Michelle Bolsonaro (22%) e Tarcísio de Freitas (20%) aparecem como preferidos do público bolsonarista.

Diante do isolamento político, Flávio tenta se apresentar como um “Bolsonaro diferente”, “um Bolsonaro muito mais centrado, um Bolsonaro que conhece a política, que conhece Brasília, que vai querer fazer uma pacificação no país”.

Por ora, porém, sua pré-campanha funciona sobretudo como uma plataforma para defender o pai.

•        Advogado eleitoral analisa cenário envolvendo Flávio Bolsonaro na disputa presidencial

Para Alberto Rollo, candidatura de Flávio pode ser uma estratégia para “salvar o sobrenome” e preservar o protagonismo da família...

Em entrevista ao programa TV GGN 20H da última sexta-feira (5), o advogado eleitoral Alberto Rollo analisou os movimentos recentes no tabuleiro político brasileiro, incluindo a possível candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência, as tensões entre Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso, e os riscos representados pelo uso de inteligência artificial nas eleições de 2026.

A possível entrada de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na disputa presidencial foi recebida com cautela pelo especialista. Para Rollo, politicamente, a movimentação pode ser uma estratégia do ex-presidente Jair Bolsonaro para “salvar o sobrenome” e preservar o protagonismo da família.

Do ponto de vista jurídico, porém, Rollo ressalta que Flávio Bolsonaro é atualmente ficha limpa. “Hoje, ele não tem condenação nem inelegibilidade, então é um nome fácil de ser lançado. Ele é ficha limpa. É verdade, hoje ele é ficha limpa. O problema é que ele tem aí alguns passivos, algumas investigações em andamento, alguns rolos, como diz você, com ele só em andamento e que podem explodir ao longo do ano que vem. E aí podem inviabilizar a candidatura”, explica.

Ainda assim, o senador carrega investigações em andamento que podem ter desfecho em 2025 e inviabilizar sua candidatura ao Planalto e até mesmo ao Senado. Ao se autoproclamar candidato, diz o advogado, Flávio pode acabar acelerando processos que, em cenário alternativo, avançariam mais lentamente.

<><> Fundo partidário

Rollo também explicou que o fundo eleitoral, que hoje contempla cerca de R$ 5 bilhões, é distribuído conforme a composição da Câmara e do Senado eleita em 2022. Mudanças de partido não alteram essa divisão.

Ele observa que o fortalecimento do fundo público ampliou o poder das direções partidárias e reduziu a transparência interna.

O advogado defende a possibilidade de retomar doações de empresas, porém com limites rígidos, como forma de diminuir a dependência do financiamento público.

<><> Congresso

Rollo classificou como excesso a decisão do ministro Gilmar Mendes que alterou regras sobre abertura de processos de impeachment de ministros do Supremo, retirando a iniciativa de cidadãos e concentrando-a na Procuradoria-Geral da República. “Não dá para esconder isso, só foi para blindar o Supremo, não é? Ah, mas a lei de impeachment de 1950, ela já está ultrapassada. O Congresso, inclusive, agora vai retomar com urgência a discussão de um novo projeto que está lá, para ver se muda essa receita”, critica.

A reação de setores do Senado, que passaram a defender aumento do número de ministros do STF e mudanças nas indicações, é vista por ele como uma retaliação que piora a crise institucional.

<><> Riscos eleitorais e IA

A discussão sobre eleições de 2026 trouxe à tona uma preocupação central: o uso de inteligência artificial para produzir vídeos, áudios e conteúdos falsos altamente realistas. “Fico com medo. A IA atingiu esse grau de perfeição tão grande, que quero ver no ano que vem, nas eleições, vai ter muito vídeo aí do Flávio Bolsonaro falando isso ou aquilo, do Lula falando isso ou aquilo, e a gente não vai ter certeza se é verdade. Vai ser complicado”, alerta Rollo.

Embora a legislação eleitoral obrigue a identificação de conteúdos produzidos com IA, o especialista lembra que isso vale apenas para quem age dentro da legalidade. Conteúdos ilegais circulam por horas antes de serem derrubados, tempo suficiente para causar danos.

Outro risco apontado é o papel das plataformas digitais, especialmente Facebook, Instagram e X, que já foram acusadas de impulsionar conteúdos políticos falsos ou enganosos.

Rollo defende investimentos em educação midiática do eleitor, comparando a checagem de informações à cautela tomada em compras online durante a Black Friday.

 

Fonte: Fórum/Jornal GGN

 

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