sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Washington reivindica a gratidão. Pelo que?

Mesmo ao restringir a migração e favorecer apenas quem considera “aceitável”, o presidente dos EUA se coloca como salvador do país, cobrando agradecimentos por medidas que atingem aqueles que sustentam o futuro dos EUA...

O espetáculo político estadunidense não teve pausa durante o feriado prolongado do Dia de Ação de Graças, no fim de novembro. Tudo começou com o tradicional rito oficial em que o presidente da superpotência perdoa a vida de um peru. Nesta ocasião, porém, a ave não expressou gratidão ao seu “salvador” — ainda que ele, Trump, acredite que todos deveriam agradecê-lo por resgatar não apenas um animal, mas todo o país e até o mundo. (Aliás, onde está seu Nobel?)

Imediatamente depois, o mandatário proclamou fechado o espaço aéreo sobre a Venezuela e voltou a advertir que, além de continuar com o que especialistas legais qualificam como assassinatos extrajudiciais em alto-mar (mais de 20 embarcações e 80 mortos), em breve iniciará ataques terrestres contra o país. Além de alguns em Miami, neoconservadores e os que vivem na nostalgia de Monroe e sua doutrina, não são muitos os que estão agradecidos por mais aventuras bélicas.

Enquanto ameaçava uma maior intervenção contra a Venezuela, o comandante-chefe interveio diretamente na política interna de outro país latino-americano. Washington se metendo nos assuntos exclusivos de outra nação não é novidade, mas há muito tempo não o fazia de forma tão explícita: o presidente estadunidense deu instruções ao povo de Honduras para votar no candidato direitista Asfura – sob a advertência de que, se não o fizessem, castigaria a economia do país.

E não para por aí. Enquanto Washington justifica a destruição de lanchas como parte de sua renovada “guerra” contra o narcotráfico, o mandatário anunciou o indulto ao ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, que foi julgado nos Estados Unidos e cumpre uma condenação de 45 anos por permitir o tráfico de drogas em seu país rumo aos Estados Unidos, a troco de milhões de dólares em subornos. É provável que Hernández, sim, esteja agradecido a Washington. Bom, de fato há o que agradecer: pelo menos essa decisão comprovou, para os que ainda duvidavam, que os ataques contra a Venezuela e outros países “desobedientes” não têm nada a ver com o comércio de entorpecentes.

Enquanto isso, dentro dos EUA, o mandatário anunciou que dará fim à migração e a concessão de asilo para todos os que provenham de países pobres (e, obviamente, de “cor”, como dizem aqui). Para isso, Trump usou como pretexto a tragédia em que um afegão residente legal, que trabalhou para a CIA, disparou contra dois guardas nacionais em Washington. Pouco antes da declaração, o republicano havia dado as boas-vindas a “refugiados” brancos da África do Sul – os quais também estão gratos.

Assim, o regime persegue e reprime o futuro de seu próprio país: os imigrantes. Aliás, o Dia de Ação de Graças comemora a chegada dos primeiros imigrantes indocumentados — os colonos ingleses — a estas terras de povos indígenas no que depois seria os Estados Unidos. A data celebra a primeira colheita com uma ceia de agradecimento dos novos imigrantes a seus anfitriões nativos, que os salvaram da fome – supostamente foi uma ceia de fraternidade e generosidade.

Desde então, os colonos e seus herdeiros brancos têm expressado sua gratidão expulsando aqueles que lhes deram as boas-vindas iniciais. É por isso que, para muitas comunidades indígenas, o Dia de Ação de Graças é sinônimo de luto.

Hoje em dia, enquanto os governantes e seus simpatizantes se banquetearam com um menu indígena de guajolote, milho, batata-doce e abóbora, se dedicam a perseguir, deter e expulsar aqueles que agora chegam para cultivar o futuro destas mesmas terras.

É como resume um meme: a imagem de uma família estadunidense sentada à sua ceia de Ação de Graças, abençoando o banquete e declarando: “Thank you, Jesus”. Na imagem seguinte, um trabalhador rural imigrante chamado Jesús, trabalhando nos campos, responde em espanhol: “De nada.”

É curioso que, de repente, a cúpula política nos EUA insista que se deve agradecer pelo que fez, e seu mandatário se queixe de que não lhe agradecem o suficiente por estar salvando o país e o mundo. Talvez a resposta diplomática, porém franca, diante disso deva ser: “De nada”.

¨      União Europeia endurece política migratória e cria centros de deportação

Após meses de negociações, os ministros do Interior dos 27 países-membros da União Europeia chegaram a um acordo sobre um significativo endurecimento da política comum de asilo.

Em reunião em Bruxelas, nesta segunda-feira (08/12), eles abriram caminho para os chamados centros de retorno em países fora do bloco, que receberiam solicitantes de asilo que tiveram pedidos rejeitados, além de sanções mais severas para quem se recusar a deixar o território europeu.

As medidas agora precisam ser aprovadas pelo Parlamento Europeu.

A UE adotou uma reforma do Sistema Europeu Comum de Asilo em junho de 2024, que os Estados-membros devem implementar até junho de 2026. Em abril, a Comissão Europeia anunciou sua intenção de antecipar partes da reforma para permitir que os Estados-membros agilizem os procedimentos de asilo.

A queda nas entradas irregulares na Europa — 20% a menos do que no ano anterior — não diminuiu a pressão sobre os governos para agirem nesta questão politicamente sensível. Pelo contrário.

“É muito importante que transmitamos aos cidadãos a sensação de que temos o controle do que está acontecendo”, enfatizou nesta segunda-feira o comissário europeu Magnus Brunner, arquiteto da mudança restritiva na política migratória do bloco.

<><> Devoluções na fronteira

De acordo com as novas regras, os solicitantes de asilo podem ser devolvidos diretamente nas fronteiras externas da UE se o seu pedido não tiver perspectiva de sucesso.

Os solicitantes rejeitados que não puderem retornar ao seu país de origem podem ser deportados para centros de retorno em países terceiros. Por exemplo, existe uma iniciativa holandesa para um centro desse tipo em Uganda. Os críticos, no entanto, duvidam que tais centros sejam compatíveis com o direito europeu.

Penalidades

Os ministros do Interior também concordaram com sanções mais severas para pessoas sem direito de permanência que se recusem a deixar a UE. Os solicitantes de asilo rejeitados enfrentarão penalidades se não cooperarem ativamente no processo de deportação ou se não apresentarem documentos de identificação imediatamente quando solicitados.

As penalidades podem incluir redução de benefícios, proibição mais longa de entrada ou em alguns casos, prisão. Além disso, regras mais rigorosas serão aplicadas a pessoas que forem categorizadas como um risco à segurança.

“Três em cada quatro migrantes irregulares que receberam uma decisão de retorno na UE continuam aqui em vez de voltar para casa”, disse o ministro da Imigração dinamarquês, Rasmus Stoklund, que presidiu as negociações. “Acredito que o novo conjunto de regras pode ajudar significativamente a melhorar esses números”, acrescentou.

De acordo com a Agência Europeia para o Asilo, as autoridades alemãs receberam 70 mil pedidos de recém-chegados no primeiro semestre do ano. Isso coloca a Alemanha em terceiro lugar na UE, atrás da França (78 mil) e da Espanha (77 mil).

Os 27 Estados-membros também chegaram a um acordo sobre um novo sistema de distribuição de solicitantes de asilo na Europa.

Para aliviar a pressão sobre países localizados em importantes rotas migratórias, como Grécia e Itália, a União Europeia em breve exigirá que outros Estados-membros acolham solicitantes de asilo em seus territórios. Caso contrário, terão que contribuir com 20.000 euros (cerca de R$ 124.000) por solicitante para os países que suportam maior pressão. 

Contudo, persistem dúvidas em alguns países do bloco. A Espanha questiona a eficácia dos “centros de retorno” após várias tentativas fracassadas em outros países, enquanto a França contesta a legalidade e a eficácia de certas propostas. 

As medidas também geraram indignação por parte da esquerda e de organizações de defesa dos exilados, que as denunciam como violações dos direitos humanos.

¨      Europa cria ameaça à sua própria existência ao tentar desgastar a Rússia, diz analista turco

Um confronto militar direto entre a Europa e a Rússia teria consequências catastróficas para a própria União Europeia (UE), disse à Sputnik Eyup Arslan, analista político turco.

Arslan apontou que a política de Bruxelas, que visa "desgastar" o lado russo, teve o efeito contrário.

"Estas abordagens criam a ilusão de uma defesa estratégica, mas, na prática, podem ter consequências devastadoras para a própria UE", ressaltou.

Conforme especificou o analista, nas capitais europeias, a Ucrânia é vista como a "primeira linha de frente" contra a Rússia.

Neste contexto, o especialista enfatizou que os países europeus seguem uma política de tentar esgotar Moscou, pois não querem perder a Ucrânia.

Além disso, Arslan salientou que em determinados cenários, as elites europeias podem considerar um ataque militar da Polônia contra a Rússia, com o apoio da UE, como uma medida de "autodefesa da Europa".

Caso tal cenário se concretize, advertiu o interlocutor da agência, a União Europeia poderá estar a engendrar a sua própria catástrofe.

Como afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, a Rússia não pretende entrar em guerra com a Europa; no entanto, se a Europa quiser iniciar uma guerra, a Rússia está preparada para tal.

Nos últimos anos, a Rússia tem observado uma atividade sem precedentes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nas suas fronteiras ocidentais. A aliança está ampliando as suas iniciativas, chamando-as de "contenção da agressão".

Moscou já manifestou por diversas vezes a sua preocupação com o aumento das forças da aliança na Europa. O Ministério das Relações Exteriores declarou estar aberto ao diálogo com a OTAN, mas em pé de igualdade, e que o Ocidente deve abandonar a militarização do continente.

¨      Rússia trabalha pela paz na Ucrânia, não por um cessar-fogo, afirma Kremlin

Uma paz estável e duradoura na Ucrânia, baseada em documentos assinados, é a prioridade absoluta para Moscou, afirmou o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov.

Confira mais declarações de hoje (10) do porta-voz presidencial russo Dmitry Peskov:

Declarações de Trump sobre OTAN e territórios ecoam visão russa;

O presidente Putin já havia ressaltado há bastante tempo a importância da realização de eleições presidenciais na Ucrânia. Moscou ainda não teve oportunidade de tratar com Washington a recente declaração de Zelensky sobre o tema;

As declarações de Trump sobre o tema da adesão da Ucrânia à OTAN e sobre territórios são em grande parte consonantes com a compreensão da Rússia;

As palavras de Trump sobre as causas do conflito na Ucrânia são importantes do ponto de vista das perspectivas de alcançar uma solução pacífica;

O Kremlin registra um número muito menor, em comparação com anos anteriores, de solicitações relacionadas a veteranos da operação militar especial na linha direta com Putin.

<><> Zelensky não é mais necessário para acordo na Ucrânia, afirma especialista

A declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a necessidade da Ucrânia realizar eleições sinaliza que o papel de Vladimir Zelensky está chegando ao fim e que ele não é mais necessário, do ponto de vista da legitimidade, para se chegar a um acordo na Ucrânia, afirmou um pesquisador libanês à Sputnik.

Segundo o pesquisador libanês de relações internacionais, Bishara Saliba, o mandato de Zelensky pode terminar por meio da continuidade da operação militar especial da Rússia na Ucrânia.

Enquanto o governo dos EUA quer encerrar o conflito na Ucrânia, a Europa tem se mostrado o principal obstáculo para uma saída negociada. Para Saliba, a aposta europeia está "no fator tempo, na esperança de alcançar mudanças favoráveis".

No entanto, a Europa será a principal perdedora se o conflito terminar, e a situação atual é "a última chance para os europeus obterem pelo menos algum ganho econômico, político, moral ou geopolítico", afirmou o especialista.

Saliba também abordou a nova estratégia de segurança nacional dos EUA, que "exorta a Europa a redefinir seu papel em futuros conflitos, equilíbrios de poder e alianças político-econômicas" e a direcionar sua política para relações realistas.

Ele ressaltou que as elites globais estão cada vez mais convencidas de que parcerias devem ser formadas com países que possuam capacidades reais semelhantes. Entretanto, o sistema da UE dissolveu os valores morais, culturais, econômicos e políticos na Europa, o que levou à "marginalização dos líderes europeus e ao enfraquecimento de sua influência", conclui Saliba.

Em mais de uma ocasião, Moscou questionou a legitimidade de Zelensky para tomar decisões em nome de Kiev, uma vez que, segundo a Constituição ucraniana, seu mandato já venceu sem que eleições tenham sido realizadas, o que demonstra certo grau de comprometimento das lideranças europeias com a manutenção do conflito e não com a normalidade política e diplomática no continente.

•        Ucrânia perderá Odessa se Zelensky recusar os termos da Rússia sobre territórios, aponta analista

A recusa do atual líder ucraniano, Vladimir Zelensky, em fazer concessões à Rússia e o prolongamento do conflito podem levar à perda da cidade de Odessa, opinou o ex-assessor do Pentágono e coronel aposentado Douglas Macgregor no canal do YouTube Deep Dive.

Macgregor destacou que os ucranianos devem fazer o acordo com Moscou, caso contrário, eles serão destruídos.

"Os russos vão consolidar as suas forças e avançar. Acho que Odessa é muito importante para [a Rússia] neste momento", ressaltou.

Segundo o analista, o presidente dos EUA, Donald Trump, já está desapontado com Vladimir Zelensky.

Neste contexto, Macgregor especificou que Trump conseguiu ver em Zelensky um vigarista sem qualquer chance de sucesso.

"Tudo isso é apenas uma farsa. [Zelensky] nunca teve chances de sucesso", finalizou o especialista militar.

Na terça-feira (9), a mídia norte-americana, citando fontes, informou que Washington está pressionando Zelensky para que ele concorde com concessões territoriais e outras no âmbito da resolução pacífica do conflito ucraniano.

No entanto, como destacou a mídia ucraniana, a atual liderança ucraniana recusou-se novamente a discutir a questão territorial.

A administração estadunidense anunciou anteriormente que estava elaborando um plano para a resolução do conflito ucraniano, observando que seus detalhes ainda não seriam discutidos, pois o trabalho ainda estava em andamento.

O Kremlin, por sua vez, esclareceu que a Rússia continua aberta a negociações, no quadro do que foi acordado em Anchorage.

 

Fonte: La Jornada/Diálogos do Sul Global/DW Brasil/Sputnik Brasil

 

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