A
guerra da Ucrânia em seu epílogo
Comecemos
com um sitrep (situation report) da frente militar na
Ucrânia.
Ao
centro-sul do teatro de operações, os últimos remanescentes militares
ucranianos em Stepnogorsk, próxima à margem esquerda do Dnieper, foram
inteiramente cercados, e as tropas russas já avançaram rumo ao norte, em
direção à cidade de Zaporozhye (capital do oblast homônimo),
faltando apenas 15 Km até seus limites.
Guliaypole,
na outra ponta da parte sul dos territórios (ainda) ucranianos, começa a ser
penetrada. E isso significa que as duas fortificações restantes ao sul
(Guliaypole e Oryekhov) constituem a última linha de defesa antes do espaço
operacional da retaguarda ocupada por Pavlograd e Dnipro. E isso, por fim,
significa a potencial incorporação de mais um oblast ucraniano,
o de Dnipropetrovsk, aos territórios conquistados pela Rússia, a não ser que as
tropas russas simplesmente parem diante de uma avenida aberta à sua frente.
O mesmo
destino já começa a acenar para o oblast de Kharkov,
imediatamente ao norte, e também já sob penetração russa. Aqui as tintas
assumem uma dimensão mais dramática. Kharkov, capital do oblast homônimo,
é a segunda maior cidade da Ucrânia, mas considerada convencionalmente (ou
“etnicamente”) uma cidade russa.
Suas
dimensões tornam sua eventual conquista militar algo extremamente complicado e
dispendioso. É provável que Kharkov venha a ser cercada, e uma nova
contingência política se crie a partir daí.
As
ações militares russas ao norte desse oblast, que há dez dias
finalmente consolidaram a conquista de Volchansk (depois de um ano e meio de
combates), pareciam ter por objetivo fixar a maior quantidade possível de
recursos militares ucranianos nessa frente, impedindo-os de serem
redistribuídos para a frente do Donbass.
Formalmente,
a tarefa do Grupo de Forças Norte seria a de criar um buffer de
contenção junto à fronteira russa de Belgorod e Kursk, mas o avanço das novas
posições russas no extremo nordeste do oblast de Kharkov pode
sugerir a retomada de territórios ocupados logo da primeira avançada russa em
fevereiro de 2022 e, discretamente, apontar para uma ameaça à cidade de
Kharkov, tal como se faz hoje frente a Sumy, capital do oblast vizinho,
ainda mais ao norte.
Pokrovsk,
no ponto central da frente de Donyetsk, caiu simultaneamente a Volchansk, e
agora volta a chamar-se Krasnoarmeisk. Apesar da ferocidade dos combates, mais
de 200 civis permaneceram na cidade, esperando seus “libertadores”. Com ela, as
forças russas controlam o mais importante hub logístico e de
transporte da antiga Ucrânia oriental, e agora podem se deslocar rápida e
facilmente, sem interrupções (sobretudo no inverno) ou necessidade de
contornos, e ao abrigo dos drones, ao longo de toda a frente.
Metade
de Mynorgrad (antes, e logo mais adiante, Dimitrov), no bolsão onde estava
Pokrovsk, foi conquistada, restando apenas a metade norte, inteiramente
cercada, onde se encontra o último milhar de homens (que 20 dias antes eram
5.500) da 68ª Brigada de Caçadores e da 79ª Brigada de Paraquedistas, duas das
formações “de elite”, ou seja, das mais “motivadas” do exército ucraniano
(leia-se “ideologicamente comprometidas” com as posições neonazistas), que
foram deixadas em Mynorgrad para morrer.
Nessa
mesma frente repete-se a situação do sul: ao alcançarem Dobropollia, 18 Km
antes do limite do oblast de Donyetsk, as forças russas terão
alcançado o último grande assentamento antes de penetrar pelo leste na
retaguarda operacional do oblast de Dnipropetrovsk.
O
regime de Volodymyr Zelenski, em estado de desespero, tenta fazer uso de
qualquer blefe midiático para mascarar suas perdas territoriais de fato,
recusa-se a reconhecer a perda de Pokrovsk e lança-se em uma contraofensiva
agonística para recuperar parte de Kupyansk, ao norte, num ponto estratégico do
curso do Rio Oskol, que havia sido perdido pelos russos em setembro de 2022,
por ocasião da primeira grande
cartada da OTAN para vencer a guerra.
Esse
filme já foi visto antes. Depois da reconfiguração das forças russas naquele
outono boreal de 2022, visando sustentar uma guerra de atrito contra os planos
da Aliança Atlântica de lhe infligir uma derrota estratégica, as operações
táticas ofensivas ucranianas, com fins midiáticos, são via de regra absorvidas
e envolvidas pelas forças russas, resultando numa enorme perda de tropas e
equipamentos, em desfavor da Ucrânia e da OTAN.
Para a
lógica operacional (e estratégica) ucraniana, território é tudo. Para a lógica
operacional russa, território é a consequência do desmantelamento das forças
inimigas, o que pode eventualmente produzir um gambito territorial: territórios
podem ser momentaneamente cedidos para fazer o inimigo perder muitos recursos.
A história militar ensina que apenas forças notavelmente disciplinadas e
preparadas movem com eficácia esse mecanismo.
Essa,
aliás, é a lógica da defesa em camadas, usada pelas tropas soviéticas desde a
Segunda Guerra Mundial. O que se vê na Ucrânia é o uso ativo desse mecanismo,
em diversas oportunidades, também nas operações ofensivas. E, com ele, o ritmo
de avanço das forças russas acaba sendo compensado com a incorporação
progressiva (e não momentânea) de cada vez mais territórios, que é o que está
acontecendo agora.
Assim
como Guliaypole, ao sul, Konstantinovka, na porção central da frente de
Donyetsk (logo ao norte de Pokrovsk), começa a ser penetrada pelo sul e cercada
ao norte, por Kalínova, a partir das alturas da conquistada Chasof Yar.
Syevers,
ainda mais ao norte da frente de Donyetsk permaneceu por muito tempo a salvo,
sob a proteção de um arco de fortalezas que se estendia a leste até
Belogorovka. Esse foi, durante muito tempo, o enclave mais oriental do controle
ucraniano do Donbass, servindo de cobertura para o coração logístico
representado pelo par urbano Slaviansk-Kramatorsk.
No
entanto, a partir da completa conquista russa da floresta de Serebryansky, ao
norte, há dois meses, numa das mais ferozes e prolongadas batalhas dessa
guerra, aquelas defesas começaram a ruir abruptamente e hoje as tropas russas
já controlam dois terços da cidade de Syevers, que provavelmente cairá até
meados de dezembro.
O
resultado daquela aparente “guerra posicional” russa, em que o atrito se destina
a produzir impacto,
é que o movimento de colapso da frente inimiga é cumulativo e em escala não
linear, mas geométrica. O desmoronamento da defesa de Syevers em não mais que
20 dias é uma demonstração empírica disso.
No
ponto extremo da frente norte de Donyetsk, a terceira batalha de Lyman já teve
início, com sua penetração pelo sul pelas tropas russas. Conquistada Lyman, no
atual estado de colapso cumulativo da frente ucraniana, estarão quase que
imediatamente abertas as portas para Slaviansk, o polo norte do arco de
fortificações que se estendia desde Pokrovsk, e que agora se encontra quase
inteiramente mutilado.
Slaviansk
foi o nascedouro da rebelião do Donbass, após o golpe de Estado do Maidan, em
fevereiro de 2014. E por isso foi onde mais se investiram esforços da OTAN em
consolidar um centro logístico para as forças da Ucrânia. Sua queda muito
provavelmente representará o ponto de virada moral em todo o esforço bélico do
regime ucraniano. O próximo inverno na Ucrânia espreita, assim, com dois
grandes fantasmas: o colapso energético e o simbólico fracasso definitivo no
Donbass. Mas, claro, a essas alturas, e com todos os seus componentes, essa
guerra não se resume mais tão apenas ao Donbass.
Na
parte sudoeste da frente de operações, os fustigamentos russos à porção
do oblast de Kherson ainda controlada pela Ucrânia, à margem
direita do Dnieper, servem, por enquanto, apenas para fixar contingentes
militares ucranianos na região. Não se sabe, evidentemente, se a futura e quase
previsível conquista de Odessa pelos russos se dará por uma avançada pelo sul,
a partir da foz do Dnieper, ou se por uma avançada por nordeste, a partir da
tomada de Zaporozhye.
É
possível que Kherson e Mykolaiv estejam apenas esperando por Zaporozhye. Não
obstante, a advertência feita pelo
presidente russo Vladimir Putin no começo de dezembro, de que a Ucrânia pode
vir a perder todo seu litoral, como resposta às suas táticas de caráter
terrorista (contra a população civil russa e alvos alheios à logística
militar), já parece ser suficiente para sinalizar uma disposição estratégica
russa de levar a cabo tal empreitada, seja por ação militar direta (que pode se
tornar consideravelmente onerosa) seja por operação militar combinada com
plebiscito popular (como nos oblasts de Kherson e Zaporozhye).
Afinal,
Odessa é oficialmente reconhecida como uma das doze cidades heroicas da Rússia.
Assim, o recado de Vladimir Putin exala um outro sentido: o cachorro subiu no
telhado.
Se este
pequeno texto se atreve a falar de um “epílogo” para a Guerra da Ucrânia, isso
não se deve, evidentemente, ao “plano de paz” do presidente americano Donald
Trump. O que desenha esse epílogo são as condições militares no terreno, algo
que tampouco quer dizer que o conflito se encerrará em algumas poucas semanas.
Esse “epílogo” não é temporal; é, melhor dizendo, o último capítulo dessa
história. É bastante provável que Donald Trump tenha percebido aquelas
condições militares no terreno, já que agora até a imprensa corporativa
ocidental as percebeu.
O que é
muito característico desse quadro de disposições é que agora também é tarde
para percebê-las. E daí advém todo o resto, tanto quanto a relutância que lhe
diz respeito é também sintomática do quadro de percepções que a fomentou. A
última versão do “plano de paz” de Donald Trump e as disputas em torno dele
estão todas contaminadas por aquelas “percepções” — e hoje se as reconhece com
bastante clareza — notavelmente delirantes.
A OTAN
“achou” que podia incorporar a Ucrânia ao seu clube e plantar armas nucleares
ali, a alguns minutos de Moscou. O Ocidente “achou” que a Rússia era apenas um
grande posto de gasolina com armas nucleares. Também “achou” que seria capaz de
produzir uma mudança de regime na Rússia por meio de uma guerra econômica que
usaria a figura hipócrita da “agressão russa” como pretexto.
Todos
eles “acharam” que essa “narrativa” seria automática e implacavelmente imposta
pela mídia de cabresto. Já os estrategistas da OTAN “acharam” que as forças
militares russas eram indigentes e incapazes. Os planejadores de “inteligência”
(sic!) britânicos “acharam” que conseguiriam quebrar a disposição
militar do povo russo com operações terroristas. E, por fim, o regime
neonazista ucraniano, que define a nacionalidade do próprio país apenas em
termos antirrusos, “achou” que derrotaria aqueles moscovitas inferiores com o
bom dinheiro e as armas maravilhosas do Ocidente.
O mais
curioso é que muitos deles continuam achando tudo isso. E agora estão todos
perdidos em suas certezas, diante de algo que tristemente começam a perceber.
Claro, talvez jamais percebam o essencial: como todo e qualquer colonialista
(ou excepcionalista), foram exacerbadamente arrogantes. Mas isso
não importa. A derrota militar quase sempre é resultado da arrogância; a mesma
que faz a Europa, obstinada com seus cinco séculos de colonialismo, solapar o
“plano de paz” de Donald Trump.
E é
também a mesma arrogância que faz o próprio “plano de paz” de Donald Trump
insistir na ilusão de um cessar-fogo (para que a Ucrânia possa se rearmar),
depois do fiasco planejado dos acordos de Minsk.
Como
era previsível, o tal “plano de paz” já virou mera pantomima (que parece ser,
além da grana, a única coisa na qual Donald Trump realmente acredita: a
pantomima do blefe). O único problema para Donald Trump é que, mesmo que se
mostrem muito polidos, os russos não parecem ter medo de careta. Então, no
último dia 9, o presidente russo Vladimir Putin reafirmou categoricamente:
“a Rússia levará a operação militar especial à sua conclusão lógica; as
operações de combate só terminarão quando todos os seus objetivos forem
alcançados”. Eis aí o epílogo da coisa.
Dito de
outro modo, as condições militares no terreno desenham um epílogo para a Guerra
da Ucrânia simplesmente porque são irreversíveis. O resto ou é ilusão ou é a
escalada nuclear. Só que, no atual estado de percepções políticas, os Estados
Unidos parecem ter por fim constatado (realized, como gostam de dizer)
que, apesar da OTAN ser um poço de promessas bem-intencionadas, não vale a pena
deixar Boston, Chicago ou Filadélfia serem incineradas em troca de Lyon,
Leipzig ou Gdansk. Assim, a birra dos falcões europeus começa a se tornar
notoriamente inconveniente.
Os
desdobramentos indiretos da derrota do Ocidente a partir da Guerra na Ucrânia
(afinal, Emmanuel Todd já diagnosticou essa derrota em bem mais largo espectro[I]) serão muitos,
contrariando quase tudo o que intransigentemente se “achava” em muitos âmbitos,
até chegarmos, inclusive, à moeda unit, dos BRICS, o sofisticado mecanismo de
desdolarização desenhado pela Academia
Russa de Ciências.
No
entanto, nos ateremos aqui a explorar sumariamente apenas algumas possíveis
consequências diretas. Dentre elas, uma das mais imediatamente tangíveis no
campo da geopolítica será a virtual perda das possibilidades de controle do Mar
Negro pela OTAN, apesar do litoral da Romênia e da Bulgária e da presença
nominal da Turquia na Aliança.
Há
algum tempo a Ásia Central reemergiu como foco de cobiça do Ocidente,
desdobrando um confronto de três polos de interesses: o Ocidente (representado
sobretudo por Grã-Bretanha, Estados Unidos e França); o par aliado
Rússia-China; e a agenda neo-otomanista da Turquia, com suas características
ambiguidades.
O
controle do Mar Negro seria o trampolim ideal para conter o programa de
integração Cinturão e Estrada, da China, e instaurar o protagonismo econômico
ocidental frente aos outros dois polos, garantindo-lhe acesso otimizado a
recursos energéticos do Cáucaso e ao surpreendente mercado consumidor
ascendente do Cazaquistão. Essa alternativa agora pode começar a sair do mapa.
Outra
das prováveis consequências diretas da derrota do Ocidente na Ucrânia será uma
crise financeira (mais que tudo europeia) motivada pelo default ucraniano
dos compromissos assumidos sob o guarda-chuva das apostas irracionais no
financiamento desta guerra. Também se poderá assistir até que ponto uma megaholding de
investimentos como a BlackRock assimilará os riscos temerários assumidos nos
seus contratos futuros firmados com o governo de Volodymyr Zelensky.
Permanecendo
ainda no campo das consequências diretas do conflito ucraniano, é de se supor
que um dos seus fenômenos sociais mais significativas possa ser o do não
retorno da considerável massa de “refugiados” ucranianos na Europa, quando não
seu incremento, com uma nova onda de migração pós-conflito. Esses refugiados
parecem ter dado origem a uma “comunidade moral” peculiar.
Eles
não se sentem necessariamente agradecidos pelo acolhimento europeu e seus
razoáveis benefícios financeiros e, assim sendo, sequer buscam correntemente se
integrar na vida produtiva e social dos países onde foram recebidos (na
Alemanha, após 3 anos, apenas 32% dos refugiados ucranianos possuíam uma
ocupação laboral qualquer; na Suíça, apenas 20%).
Notícias
reiteradas a propósito deles — que podem estar equivocadas em termos de
tendência geral, mas ao menos insinuam algum indício — sugerem que os
ucranianos chegados à União Europeia e Grã-Bretanha tendem a assumir que as
sociedades que os receberam na verdade estão em dívida para com eles.
Não
deixa de haver um certo lastro de razão (ou de racionalização) nisso (o que é a
parte mais problemática da história), mas o argumento do privilégio e a
predisposição à não incorporação social, aliados a uma sociabilidade que
privilegia relações clientelares (como em ambientes de corrupção endêmica),
aliados ainda a uma situação de precariedade e baixos salários, sem as ajudas
oficiais europeias a partir do fim do conflito, podem vir a conformar a receita
para a constituição de problemáticas máfias ucranianas na Europa, que, por um
lado, poderiam não ser mais que extensões das prestupnyye organizatsii e
das soobshckestva locais da Ucrânia, e que, por outro lado, a
seguir o exemplo de sua análoga nos Estados Unidos, podem se tornar
organizações de alto nível de violência e periculosidade.[II]
É um
tanto especulativo supor que a derrota ocidental na Guerra da Ucrânia acabará
por produzir, por si só, uma fragmentação da unidade da OTAN e mesmo da União
Europeia. Na OTAN, as discrepâncias entre Estados Unidos e Europa já começam a
se fazer notar, mas as maiores pressões podem vir, curiosamente, da
incomodidade (frustração, dissonância, percepção de ociosidade), com relação à
Aliança, por parte dos países do Leste Europeu, os mais recentemente
arregimentados, bem como da resistência dos países mediterrâneos em aumentar
seus orçamentos militares.
Assim,
enquanto a Alemanha triplicou em 2025 sua contribuição militar à Ucrânia, e
França e Grã-Bretanha a duplicaram, em comparação com os períodos orçamentários
entre 2022 e 2024, a Itália a reduziu em 15% e a Espanha simplesmente a zerou.
Esse
tipo de movimento intrabloco (seja na OTAN seja na União Europeia) parece
estar, antes, condicionado por desdobramentos colaterais, mas oriundos de um
mesmo quadro de confrontação. O caso ucraniano serviu de pretexto para a
ruptura de laços da Europa com a Rússia, no contexto de uma disputa de visões
de mundo e de hegemonia política entre a ordem (neo)colonial globalista e o
emergente bloco eurasiático com sua agenda soberanista multipolar (que acabou
conquistando a simpatia — pelo menos ela, mas com muitas reverberações — do Sul
Global). Economicamente, essa ruptura de laços mostrou-se funesta para a
Europa.
Nos
últimos três anos, sobretudo por conta da perda das fontes baratas de energia
russas, o crescimento econômico europeu permaneceu praticamente estagnado.
Enquanto isso, o crescimento russo no mesmo período foi da ordem de 10%. O
realinhamento de relações comerciais fez com que, apenas nos primeiros nove
meses de 2025, as exportações manufatureiras russas aumentassem 18% frente ao
ano anterior. Já a Europa sequer conta com os favores de Donald Trump na sua
insana guerra de tarifas.
A
malfadada aventura militar ocidental na Ucrânia exacerbou tanto disposições
quanto indisposições políticas e belicistas. Para ficarmos apenas no caso
europeu, evitando higienicamente aquele hospício (nem tão) dourado (assim)
chamado “America”, as disposições políticas dizem respeito a como a burocracia
da União Europeia agarrou no horizonte da guerra uma razão para se reproduzir
num poder não representativo.
As
disposições belicistas parecem dizer respeito a como políticos nacionais
medíocres sonham com sublimar seus personagens condenados à repugnância
histórica. Já as indisposições da elite europeia hoje encastelada no poder
dizem respeito, não apenas à ameaça (moral e ontológica) “Putin” — esta
(indisposição), de caráter belicista —, mas também — e esta, de caráter
político — ao personagem Donald Trump e sua agenda disruptiva frente ao business
as usual dos globalistas neoliberais.
De
qualquer maneira, esses dispostos e indispostos serão os maiores perdedores
desta guerra. Não os primeiros. Os primeiros serão as pessoas comuns da
Ucrânia. Donald Trump, de seu lado, tem a intenção malsã de salvar a cara,
menoscabando os europeus e tentando vender a seu público uma vitória que ele
não tem como comprar. Já Vladimir Putin simplesmente está mandando dispostos e
indispostos às favas. Assim como as brigadas ucranianas altamente motivadas,
hoje encurraladas em Mynorgrad, as arrogantes elites europeias, já agora,
parecem ter sido deixadas nesta guerra para morrer.
Fonte:
Por Ricardo Cavalcanti-Schie, em A Terra é Redonda

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