sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Modernização socialista: China revela o que planeja para seu povo e o mundo até 2050

Desde sua fundação como República Popular da China, em 1949, o gigante asiático se propôs a alcançar em 100 anos — ou seja, até aproximadamente 2050 — a modernização socialista. Após mais de sete décadas, o progresso do gigante asiático rumo a essa modernização é inegável.

É o que ficou evidente na Conferência Compreendendo a China 2025, foro realizado de 30 de novembro a 2 de dezembro e no qual a China mostrou ao mundo seus êxitos e próximos objetivos. Entre eles, chegar a uma expectativa de vida de 80 anos para seus 1,4 bilhão de habitantes, manter a erradicação da pobreza extrema e fortalecer seus sistemas de saúde. O país também pretende seguir impulsionando as energias renováveis, consolidar seu desenvolvimento científico-tecnológico e reafirmar sua abertura ao mundo.

No foro, que aconteceu no Centro Internacional de Congressos e ao qual assistiram cerca de 800 participantes de diversos países, funcionários do Partido Comunista da China (PCC) sublinharam que, por meio de planos quinquenais, o país completou a construção “de uma sociedade moderadamente próspera” e iniciou uma nova etapa na edificação de uma nação moderna. Afirmaram que o crescimento do agregado econômico passou de 52 trilhões de yuanes em 2012 a cerca de 140 trilhões esperados para 2025.

Alfredo Jalife-Rahme, articulista do portal La Jornada e único orador da América Latina na inauguração da nona edição da conferência, destacou que, em 40 anos, a China tirou da pobreza extrema 800 milhões de pessoas — mais que todos os habitantes da América Latina e do Caribe, que somam 670 milhões.

O especialista mexicano em geopolítica também ressaltou as façanhas econômicas e tecnológicas do país, bem como o avanço rumo à autossuficiência nesse campo, que continuará sendo impulsionado no 15º plano quinquenal — a ser aprovado pela Assembleia Popular Nacional em março de 2026. Ele lembrou que a China lidera em 57 das 64 áreas de tecnologia crítica, enquanto os Estados Unidos dominam apenas sete, segundo o Instituto Australiano de Política Estratégica. Exemplificou que, em Inteligência Artificial no campo militar, o gigante asiático leva a dianteira, como reconheceu o ex-diretor de segurança do Pentágono, Nicolas Chaillan.

O nível alcançado pelo país o levou a se tornar uma superpotência. Jalife-Rahme explicou que o mundo está em busca de uma nova ordem, na qual, a seu ver, é provável que se configure um G3 composto por Rússia, China e Estados Unidos.

Antes de assumir pela segunda vez a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump declarou que desejava conformar um G2, fosse com a Rússia ou com a China. “Adianto minha hipótese de que isso não ocorrerá; é preciso somar as variáveis considerando a atual conjuntura mundial. Hoje, quem forma um G2 são Rússia e China, que no ano passado se reuniram duas vezes em visitas recíprocas.”

Li Shulei, chefe do Departamento de Publicidade do Comitê Central do PCC, apontou que, durante muitos anos, a contribuição da China ao crescimento global se manteve em torno de 30%, e que, no 15º plano quinquenal, o país sustentará um aumento razoável de seu volume econômico.

No que diz respeito à ecologia, Shulei destacou que nos últimos 10 anos a cadeia de fornecimento de energia renovável da China contribuiu para que o custo médio de geração de energia eólica e fotovoltaica no mundo diminuísse em mais de 60% e 80%, respectivamente.

“O avanço rumo à modernização e à prosperidade comum para 1,4 bilhão de pessoas na China constitui uma contribuição de enorme relevância para a humanidade e um fato sem precedentes na história do desenvolvimento humano”, enfatizou.

Em matéria de saúde, Lei Haichao, diretor da Comissão Nacional de Saúde, afirmou que a nação construiu os sistemas de serviços médicos, de medicina tradicional, de prevenção e controle de doenças e de seguridade médica “mais extensos do mundo, com 1,09 milhão de instituições e 16 milhões de trabalhadores dos serviços médicos e de saúde”, presentes em todas as zonas urbanas e rurais.

Sobre a expectativa de vida, expôs que, durante o período do 14º plano quinquenal, “ela aumentou em uma média de mais de 0,2 ano por ano, alcançando 79 anos em 2024”, e que se buscará chegar aos 80 anos até 2030.

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Zheng Bijian, fundador do Instituto de Inovação e Desenvolvimento Estratégico da China, assegurou que o gigante asiático “é o país com melhores condições para um desenvolvimento autônomo sem depender do mercado internacional”. Mas observou que o 15º plano quinquenal “comprova mais uma vez que a China não busca uma modernização fechada, e sim uma postura aberta, dando boas-vindas ao resto do mundo para participar desse processo”.

¨     China dribla tarifaço dos EUA e supera R$ 5,4 trilhões de superávit comercial

Pela primeira vez, o superávit comercial anual da China ultrapassou US$ 1 trilhão (aproximadamente R$ 5,4 trilhões, na cotação atual) apesar do tarifaço imposto pelo governo norte-americano de Donald Trump. Dados comerciais divulgados nesta segunda-feira (08/12) pela agência alfandegária chinesa mostram que as fábricas nacionais driblaram os Estados Unidos e aumentaram as suas vendas para outros mercados do exterior neste ano, como Europa, Austrália e Sudeste Asiático. 

Em novembro, as exportações chinesas cresceram 5,9% em relação ao ano anterior, revertendo uma contração de 1,1% em outubro e superando as previsões feitas pelos analistas. Os números superaram também uma previsão dada pela agência Reuters, que acreditava em um crescimento de 3,8%. nesse período

Por sua vez, as remessas para os Estados Unidos caíram quase um terço em relação ao mesmo mês do ano anterior: 29%. Enquanto isso, as exportações para a União Europeia cresceram 14,8% ao ano, à Austrália 35,8%, e ao Sudeste Asiático, 8,2%.

“Os cortes tarifários acordados sob a trégua comercial EUA-China não ajudaram a aumentar os carregamentos para os EUA no mês passado, mas, no geral, o crescimento das exportações se recuperou mesmo assim”, disse Zichun Huang, economista da China da Capital Economics. “Esperamos que as exportações chinesas permaneçam resilientes, com o país continuando a ganhar participação no mercado global no próximo ano.”

Em novembro, o superávit comercial do país asiático foi de US$ 111,68 bilhões (R$ 604,9 bilhões), o maior número desde junho e acima dos US$ 90,07 bilhões (R$ 487,86 bilhões) registrados no mês anterior. Desta forma, o superávit comercial dos 11 meses ultrapassou US$ 1 trilhão, pela primeira vez.

Desde que Trump assumiu a Casa Branca e passou a fomentar uma guerra comercial, a China intensificou os esforços para diversificar seus mercados de exportação, buscando estreitar os laços comerciais com o Sudeste Asiático e a União Europeia. A queda no envio de produtos aconteceu mesmo com diálogos entre os dois países, incluindo tratados que reduziram algumas de suas tarifas, além do encontro direto entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping na Coreia do Sul, no final de outubro.

<><> Macron afirma que UE pode impor tarifas contra produtos chineses: 'questão de vida ou morte'

O presidente francês Emmanuel Macron elevou o tom contra Pequim ao afirmar que, “nos próximos meses”, a União Europeia poderá adotar tarifas de importação sobre produtos chineses caso não haja medidas concretas para reduzir o déficit comercial crescente com o bloco. A declaração foi feita em entrevista ao jornal econômico francês Les Echos, após sua visita oficial à China.

Segundo Macron, a Europa enfrenta uma situação crítica: “Estamos entre os Estados Unidos, que redirecionam os fluxos chineses para nossos mercados com seu protecionismo, e a própria China, que atinge o coração do nosso modelo industrial e de inovação. É uma questão de vida ou morte para a indústria europeia”.

Washington mantém tarifas pesadas sobre produtos chineses, reduzidas recentemente de 57% para 47% após um acordo bilateral. Esse movimento, segundo Macron, agrava os problemas europeus ao deslocar ainda mais exportações chinesas para o mercado da União Europeia.

O presidente francês destacou que setores tradicionais, como máquinas industriais e automóveis, estão sob forte pressão, especialmente diante da ofensiva chinesa em veículos elétricos e tecnologias emergentes.

Durante sua visita a Pequim, Emmanuel Macron defendeu que a Europa precisa buscar um equilíbrio nas relações comerciais com a China, aceitando investimentos chineses em território europeu como forma de reduzir o déficit crescente.

O presidente francês destacou que há setores estratégicos nos quais essa presença pode ser positiva, como baterias e refinamento de lítio, energia eólica e solar, veículos elétricos, bombas de calor, eletrônicos de consumo, tecnologias de reciclagem, robótica industrial e componentes avançados.

No entanto, Macron advertiu que tais investimentos não devem ser “predatórios”, isto é, realizados com o objetivo de criar dependência ou estabelecer hegemonia, mas sim contribuir para uma cooperação equilibrada e sustentável que preserve a autonomia da indústria europeia.

<><> “Front comum” contra a China?

Macron reconheceu que a formação de um front europeu comum diante da China não é tarefa simples. A Alemanha, que mantém uma forte presença econômica em território chinês, ainda não está totalmente alinhada com a posição defendida por Paris.

Para o presidente francês, a resposta da União Europeia precisa ser abrangente e envolver a proteção de setores vulneráveis, como o automotivo, além de uma política de competitividade baseada na simplificação regulatória e no aprofundamento do mercado único.

Ele também destacou a necessidade de ampliar os investimentos em inovação, fortalecer a união aduaneira e promover ajustes na política monetária, de modo a garantir que o bloco esteja preparado para enfrentar os desafios impostos pela concorrência chinesa.

Em sua avaliação, apenas uma estratégia integrada permitirá que a Europa preserve sua autonomia industrial e assegure um futuro sustentável para sua economia.

A ameaça de tarifas contra a China marca uma virada no discurso europeu, aproximando-se da postura norte-americana e revelando a crescente preocupação com a sobrevivência da indústria continental. Para Macron, o futuro da Europa depende de encontrar o equilíbrio entre abertura ao investimento estrangeiro e defesa de sua autonomia econômica.

¨      Temor dos EUA, analista sugere que moeda do BRICS tenha este diferencial frente ao dólar; entenda

Para Frank-Jürgen Richter, ex-diretor do Fórum Econômico Mundial, a criação de uma moeda comum para ser utilizada entre países do afetaria significativamente a economia dos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem demonstrando incômodo com a proposta do grupo de criar uma moeda única, chegando até a ameaçar os países-membros com sanções caso avancem com a ideia.

Em contrapartida, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu o plano do BRICS para que seus membros não dependam mais do dólar como reserva global, descrevendo como "uma moeda do mundo". O brasileiro vê a criação de uma nova moeda como essencial para o multilateralismo e para o equilíbrio nas negociações comerciais entre Estados.

A ideia, explicam repetidamente os líderes do BRICS, não é criar uma moeda que substituiria as moedas nacionais no dia a dia dos cidadãos, mas sim uma que substitua o dólar na hora de se comercializarem bilateralmente, eliminando assim o intermédio do dólar.

No Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, o professor de economia do IBMEC de Brasília, Renan Silva, explicou a queda de credibilidade do dólar devido a sucessivas crises como em 2008 e a pandemia da COVID-19, que criou "a janela perfeita" para que países começassem a questionar a dependência da moeda estadunidense.

"Por que a gente não transaciona e vamos baratear os custos de transação para os nossos negócios entre nossos países?", argumentou.

Para o especialista, a moeda do BRICS, quando criada, deverá ser fundamentalmente diferente do dólar norte-americano e da maior parte das moedas nacionais, que são fiduciárias, isto é, não estão embasadas em um objeto físico que tenha valor, como o ouro.

"Se lançarmos uma moeda sem lastro real, ela está fadada ao fracasso porque a moeda deve ser eleita por agentes econômicos, não imposta", diz. Em contrapartida, uma moeda lastreada em commodities, poderia ganhar mais tração ao ser lançada e ter credibilidade perante o mercado.

Composto por onze membros-plenos e outros dez parceiros, as economias do BRICS são responsáveis por grande parte das produções de commodities do mundo, como 44% da produção de petróleo, 36% de gás natural, 42% do trigo, 52% do arroz e 46% da soja, além de estarem entre os maiores produtores de ferro do mundo.

O Mundioka também conversou com Karin Vazquez, professora associada da O.P. Jindal Global University e senior fellow do Center for China and Globalization. Em sua fala ao programa, ela destacou que concorda com a visão de Frank-Jürgen Richter, exposta no início do artigo. No entanto, ela acredita que a fala do ex-diretor subestima a inércia institucional do atual sistema financeiro internacional.

Assim como Silva, Vazquez aponta que a velocidade dessa mudança estrutural depende da confiança dos mercados nesta nova moeda e seu uso em comércio, finanças, reservas e em contratos privados.

Em sua visão, a tendência de cooperação entre países do Sul tem se expandindo de forma acelerada, como demonstrado pelo Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido pela alcunha de Banco do BRICS. Mas uma mudança na dominância do atual padrão monetário no curto prazo ainda é incerto.

"Acho que é importante destacar a velocidade das transformações no sul global, o tanto que já mudou nessas últimas décadas e que tem se acelerado, várias transformações, inovações financeiras, novas instituições que têm sido criadas nesses últimos anos e que talvez possam até encurtar esses prazos tradicionalmente considerados olhando ao longo da história."

Por fim, ela explica que por mais que uma moeda única do BRICS seja algo difícil, algo mais simples e plausível seria a criação de uma moeda apenas para a liquidação entre bancos centrais e bancos de desenvolvimento, composta por uma cesta de moedas dos países-membros, ou um mecanismo de compensação que permita liquidar saldos em moedas nacionais.

 

Fonte:La Jornada/Diálogos do Sul Global/Opera Mundi/Sputnik Brasil

 

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