Modernização
socialista: China revela o que planeja para seu povo e o mundo até 2050
Desde
sua fundação como República Popular da China, em 1949, o gigante
asiático se propôs a alcançar em 100 anos — ou seja, até aproximadamente 2050 —
a modernização socialista. Após mais de sete décadas, o progresso do
gigante asiático rumo a essa modernização é inegável.
É o que
ficou evidente na Conferência
Compreendendo a China 2025, foro realizado de 30 de novembro a 2 de dezembro e no
qual a China mostrou ao mundo seus êxitos e próximos objetivos. Entre eles,
chegar a uma expectativa de vida de 80 anos para seus 1,4 bilhão de habitantes,
manter a erradicação da pobreza extrema e fortalecer seus sistemas de saúde. O
país também pretende seguir impulsionando as energias renováveis, consolidar
seu desenvolvimento científico-tecnológico e reafirmar sua abertura ao mundo.
No
foro, que aconteceu no Centro Internacional de Congressos e ao qual assistiram
cerca de 800 participantes de diversos países, funcionários do Partido
Comunista da China (PCC) sublinharam que, por meio de planos quinquenais, o
país completou a construção “de uma sociedade moderadamente próspera” e iniciou
uma nova etapa na edificação de uma nação moderna. Afirmaram que o crescimento
do agregado econômico passou de 52 trilhões de yuanes em 2012 a cerca de 140
trilhões esperados para 2025.
Alfredo
Jalife-Rahme, articulista do portal La Jornada e único orador
da América Latina na inauguração da nona edição da conferência, destacou que,
em 40 anos, a China tirou da pobreza extrema 800 milhões de pessoas — mais que
todos os habitantes da América Latina e do Caribe, que somam 670 milhões.
O
especialista mexicano em geopolítica também ressaltou as façanhas econômicas e
tecnológicas do país, bem como o avanço rumo à autossuficiência nesse campo,
que continuará sendo impulsionado no 15º plano quinquenal — a ser aprovado pela
Assembleia Popular Nacional em março de 2026. Ele lembrou que a China lidera em
57 das 64 áreas de tecnologia crítica, enquanto os Estados Unidos dominam
apenas sete, segundo o Instituto Australiano de Política Estratégica.
Exemplificou que, em Inteligência Artificial no campo militar, o gigante
asiático leva a dianteira, como reconheceu o ex-diretor de segurança do
Pentágono, Nicolas Chaillan.
O nível
alcançado pelo país o levou a se tornar uma superpotência. Jalife-Rahme
explicou que o mundo está em busca de uma nova ordem, na qual, a seu ver, é
provável que se configure um G3 composto por Rússia, China e Estados Unidos.
Antes
de assumir pela segunda vez a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump
declarou que desejava conformar um G2, fosse com a Rússia ou com a China.
“Adianto minha hipótese de que isso não ocorrerá; é preciso somar as variáveis
considerando a atual conjuntura mundial. Hoje, quem forma um G2 são Rússia e
China, que no ano passado se reuniram duas vezes em visitas recíprocas.”
Li
Shulei, chefe do Departamento de Publicidade do Comitê Central do PCC, apontou
que, durante muitos anos, a contribuição da China ao crescimento global se
manteve em torno de 30%, e que, no 15º plano quinquenal, o país sustentará um
aumento razoável de seu volume econômico.
No que
diz respeito à ecologia, Shulei destacou que nos últimos 10 anos a cadeia de
fornecimento de energia renovável da China contribuiu para que o custo médio de
geração de energia eólica e fotovoltaica no mundo diminuísse em mais de 60% e
80%, respectivamente.
“O
avanço rumo à modernização e à prosperidade comum para 1,4 bilhão de pessoas na
China constitui uma contribuição de enorme relevância para a humanidade e um
fato sem precedentes na história do desenvolvimento humano”, enfatizou.
Em
matéria de saúde, Lei Haichao, diretor da Comissão Nacional de Saúde, afirmou
que a nação construiu os sistemas de serviços médicos, de medicina tradicional,
de prevenção e controle de doenças e de seguridade médica “mais extensos do
mundo, com 1,09 milhão de instituições e 16 milhões de trabalhadores dos
serviços médicos e de saúde”, presentes em todas as zonas urbanas e rurais.
Sobre a
expectativa de vida, expôs que, durante o período do 14º plano quinquenal, “ela
aumentou em uma média de mais de 0,2 ano por ano, alcançando 79 anos em 2024”,
e que se buscará chegar aos 80 anos até 2030.
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Zheng
Bijian, fundador do Instituto de Inovação e Desenvolvimento Estratégico da
China, assegurou que o gigante asiático “é o país com melhores condições para
um desenvolvimento autônomo sem depender do mercado internacional”. Mas
observou que o 15º plano quinquenal “comprova mais uma vez que a China não
busca uma modernização fechada, e sim uma postura aberta, dando boas-vindas ao
resto do mundo para participar desse processo”.
¨ China dribla tarifaço
dos EUA e supera R$ 5,4 trilhões de superávit comercial
Pela
primeira vez, o superávit comercial anual da China ultrapassou US$ 1 trilhão
(aproximadamente R$ 5,4 trilhões, na cotação atual) apesar do tarifaço imposto pelo governo
norte-americano de Donald Trump. Dados comerciais divulgados nesta
segunda-feira (08/12) pela agência alfandegária chinesa mostram que as fábricas
nacionais driblaram os Estados Unidos e aumentaram as suas vendas para outros
mercados do exterior neste ano, como Europa, Austrália e Sudeste
Asiático.
Em
novembro, as exportações chinesas cresceram 5,9% em relação ao ano anterior,
revertendo uma contração de 1,1% em outubro e superando as previsões feitas
pelos analistas. Os números superaram também uma previsão dada pela agência Reuters,
que acreditava em um crescimento de 3,8%. nesse período
Por sua
vez, as remessas para os Estados Unidos caíram quase um terço em relação ao
mesmo mês do ano anterior: 29%. Enquanto isso, as exportações para a União
Europeia cresceram 14,8% ao ano, à Austrália 35,8%, e ao Sudeste Asiático,
8,2%.
“Os
cortes tarifários acordados sob a trégua comercial EUA-China não ajudaram a
aumentar os carregamentos para os EUA no mês passado, mas, no geral, o
crescimento das exportações se recuperou mesmo assim”, disse Zichun Huang,
economista da China da Capital Economics. “Esperamos que as exportações
chinesas permaneçam resilientes, com o país continuando a ganhar participação
no mercado global no próximo ano.”
Em
novembro, o superávit comercial do país asiático foi de US$ 111,68 bilhões (R$
604,9 bilhões), o maior número desde junho e acima dos US$ 90,07 bilhões (R$
487,86 bilhões) registrados no mês anterior. Desta forma, o superávit comercial
dos 11 meses ultrapassou US$ 1 trilhão, pela primeira vez.
Desde
que Trump assumiu a Casa Branca e passou a fomentar uma guerra comercial, a
China intensificou os esforços para diversificar seus mercados de exportação,
buscando estreitar os laços comerciais com o Sudeste Asiático e a União
Europeia. A queda no envio de produtos aconteceu mesmo com diálogos entre os
dois países,
incluindo tratados que reduziram algumas de suas tarifas, além do encontro
direto entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping na Coreia do Sul, no final
de outubro.
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Macron afirma que UE pode impor tarifas contra produtos chineses: 'questão
de vida ou morte'
O presidente
francês Emmanuel Macron elevou o tom contra Pequim ao afirmar que,
“nos próximos meses”, a União Europeia poderá adotar tarifas de importação
sobre produtos chineses caso não haja medidas concretas para reduzir o déficit
comercial crescente com o bloco. A declaração foi feita em entrevista ao jornal
econômico francês Les Echos, após sua visita oficial à China.
Segundo
Macron, a Europa enfrenta uma situação crítica: “Estamos entre os Estados
Unidos, que redirecionam os fluxos chineses para nossos mercados com seu
protecionismo, e a própria China, que atinge o coração do nosso modelo
industrial e de inovação. É uma questão de vida ou morte para a indústria
europeia”.
Washington mantém
tarifas pesadas sobre produtos chineses, reduzidas recentemente de 57% para 47% após
um acordo bilateral. Esse movimento, segundo Macron, agrava os problemas
europeus ao deslocar ainda mais exportações chinesas para o mercado da União
Europeia.
O
presidente francês destacou que setores tradicionais, como máquinas industriais
e automóveis, estão sob forte pressão, especialmente diante da ofensiva chinesa
em veículos elétricos e tecnologias emergentes.
Durante
sua visita a Pequim, Emmanuel Macron defendeu que a Europa precisa buscar um
equilíbrio nas relações comerciais
com a China,
aceitando investimentos chineses em território europeu como forma de reduzir o
déficit crescente.
O
presidente francês destacou que há setores estratégicos nos quais essa presença
pode ser positiva, como baterias e refinamento de lítio, energia eólica e
solar, veículos elétricos, bombas de calor, eletrônicos de consumo, tecnologias
de reciclagem, robótica industrial e componentes avançados.
No
entanto, Macron advertiu que tais investimentos não devem ser “predatórios”,
isto é, realizados com o objetivo de criar dependência ou estabelecer
hegemonia, mas sim contribuir para uma cooperação equilibrada e sustentável que
preserve a autonomia da indústria europeia.
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“Front comum” contra a China?
Macron
reconheceu que a formação de um front europeu comum diante da China não é
tarefa simples. A Alemanha, que mantém uma forte presença econômica em
território chinês, ainda não está totalmente alinhada com a posição defendida
por Paris.
Para o
presidente francês, a resposta da União Europeia precisa ser
abrangente e envolver a proteção de setores vulneráveis, como o automotivo,
além de uma política de competitividade baseada na simplificação regulatória e
no aprofundamento do mercado único.
Ele
também destacou a necessidade de ampliar os investimentos em inovação,
fortalecer a união aduaneira e promover ajustes na política monetária, de modo
a garantir que o bloco esteja preparado para enfrentar os desafios impostos
pela concorrência chinesa.
Em sua
avaliação, apenas uma estratégia integrada permitirá que a Europa preserve sua
autonomia industrial e assegure um futuro sustentável para sua economia.
A
ameaça de tarifas contra a China marca uma virada no discurso europeu,
aproximando-se da postura norte-americana e revelando a crescente preocupação
com a sobrevivência da indústria continental. Para Macron, o futuro da Europa
depende de encontrar o equilíbrio entre abertura ao investimento estrangeiro e
defesa de sua autonomia econômica.
¨
Temor dos EUA, analista sugere que moeda do BRICS tenha
este diferencial frente ao dólar; entenda
Para
Frank-Jürgen Richter, ex-diretor do Fórum Econômico Mundial, a criação de uma
moeda comum para ser utilizada entre países do afetaria significativamente a
economia dos Estados Unidos.
O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem demonstrando incômodo com a
proposta do grupo de criar uma moeda única, chegando até a ameaçar os
países-membros com sanções caso avancem com a ideia.
Em
contrapartida, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu o
plano do BRICS para que seus membros não dependam mais do dólar como
reserva global, descrevendo como "uma moeda do mundo". O brasileiro
vê a criação de uma nova moeda como essencial para o
multilateralismo e para o equilíbrio nas negociações comerciais entre
Estados.
A
ideia, explicam repetidamente os líderes do BRICS, não é criar uma moeda que
substituiria as moedas nacionais no dia a dia dos cidadãos, mas sim uma que
substitua o dólar na hora de se comercializarem bilateralmente, eliminando
assim o intermédio do
dólar.
No Mundioka, podcast
da Sputnik Brasil, o professor de economia do IBMEC de
Brasília, Renan Silva, explicou a queda de credibilidade do dólar devido a
sucessivas crises como em 2008 e a pandemia da COVID-19, que criou "a
janela perfeita" para que países começassem a questionar a dependência da
moeda estadunidense.
"Por
que a gente não transaciona e vamos baratear os custos de transação para os
nossos negócios entre nossos países?", argumentou.
Para o
especialista, a moeda do BRICS, quando criada, deverá ser fundamentalmente
diferente do dólar norte-americano e da maior parte das moedas nacionais, que são fiduciárias, isto é, não
estão embasadas em um objeto físico que tenha valor, como o ouro.
"Se
lançarmos uma moeda sem lastro real, ela está fadada ao fracasso porque a moeda
deve ser eleita por agentes econômicos, não imposta", diz. Em
contrapartida, uma moeda lastreada em commodities, poderia ganhar mais
tração ao ser lançada e ter credibilidade perante o mercado.
Composto
por onze membros-plenos e outros dez parceiros, as economias do BRICS são
responsáveis por grande parte das produções de commodities do mundo, como 44%
da produção de petróleo, 36% de gás natural, 42% do trigo, 52% do arroz e 46%
da soja, além de estarem entre os maiores produtores de ferro do mundo.
O
Mundioka também conversou com Karin Vazquez, professora associada da O.P.
Jindal Global University e senior fellow do Center for China and Globalization.
Em sua fala ao programa, ela destacou que concorda com a visão de Frank-Jürgen
Richter, exposta no início do artigo. No entanto, ela acredita que a fala do
ex-diretor subestima a inércia institucional do atual sistema financeiro
internacional.
Assim
como Silva, Vazquez aponta que a velocidade dessa mudança
estrutural depende da confiança dos mercados nesta nova moeda e seu
uso em comércio, finanças, reservas e em contratos privados.
Em sua
visão, a tendência de cooperação entre países do Sul tem se expandindo de forma
acelerada, como demonstrado pelo Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido pela
alcunha de Banco do BRICS. Mas uma mudança na dominância do atual padrão
monetário no curto prazo ainda é incerto.
"Acho
que é importante destacar a velocidade das transformações no sul global, o
tanto que já mudou nessas últimas décadas e que tem se acelerado, várias
transformações, inovações financeiras, novas instituições que têm sido criadas
nesses últimos anos e que talvez possam até encurtar esses
prazos tradicionalmente considerados olhando ao longo da história."
Por
fim, ela explica que por mais que uma moeda única do BRICS seja algo difícil,
algo mais simples e plausível seria a criação de uma moeda apenas para
a liquidação entre bancos centrais e bancos de desenvolvimento, composta
por uma cesta de moedas dos
países-membros, ou um mecanismo de compensação que permita liquidar
saldos em moedas nacionais.
Fonte:La
Jornada/Diálogos do Sul Global/Opera Mundi/Sputnik Brasil

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