sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Refrigerante zero é saudável? Entenda os riscos por trás do mito

Presentes nas prateleiras há mais de duas décadas, as versões sem açúcar dos refrigerantes seguem envoltas em dúvidas, desinformações e polêmicas. Embora populares entre quem busca reduzir a ingestão calórica, a ideia de que essas bebidas são completamente inofensivas — e até aliadas do emagrecimento — tem sido cada vez mais contestada por especialistas e pesquisas científicas.

Um estudo apresentado em outubro na Semana Europeia de Gastroenterologia, promovida pela Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal, acendeu um novo sinal de alerta ao associar o consumo de bebidas adoçadas artificialmente, como os refrigerantes zero, a um aumento de 60% no risco de desenvolver gordura no fígado, a chamada esteatose hepática. Segundo a pesquisa, a ingestão desse tipo de produto pode levar a uma disfunção metabólica no organismo ao ocasionar picos de glicose e insulina, comprometendo a saúde do órgão.

E o fígado não é o único que pode sofrer. O consumo frequente dessas bebidas vem sendo relacionado a uma série de outros possíveis prejuízos ao organismo. Entre os principais problemas está o impacto de adoçantes no comportamento alimentar. Por manterem o paladar condicionado ao sabor doce, podem estimular a chamada “compensação calórica”, ou seja, a pessoa acaba consumindo mais calorias em outras refeições, dificultando o processo de mudança de hábitos.

“O fato de não conter açúcar e nem calorias não o transforma em uma bebida saudável ou segura”, afirma a nutricionista Fabiana Rasteiro, do Einstein Hospital Israelita.

Outro ponto é a ausência de nutrientes: refrigerantes não fornecem vitaminas, minerais ou compostos bioativos, encontrados em alimentos in natura. Além disso, a presença deles na rotina alimentar pode acabar deslocando o consumo de alimentos mais nutritivos, comprometendo a qualidade geral da dieta.

Há ainda a crença equivocada de que refrigerante sem açúcar seria equivalente à água. A bebida ultraprocessada contém aditivos como corantes e compostos químicos, e não contribui para a hidratação do organismo.

Os efeitos negativos também alcançam a saúde bucal e óssea. “Por conterem aditivos acidificados e valores mais baixos de pH, o consumo prolongado pode levar ao desgaste dentário e aumentar o risco de cáries”, alerta a nutricionista. O dano aos ossos pode se dar em razão do ácido fosfórico, comum nos refrigerantes à base de cola no Brasil, que afeta a densidade óssea.

Quem deseja melhorar os hábitos à mesa deve apostar em reeducação alimentar, orientada por profissionais de saúde especializados. “Manter o alto consumo do sabor doce dessas bebidas, mesmo isentas de calorias, vai dificultar a reeducação do paladar e potencialmente manter o consumo de outros doces”, explica Rasteiro. “O sabor doce, sem a chegada da glicose ao organismo, pode levar à busca de energia em outros alimentos, aumentando a procura por mais doces a longo prazo.”

<><> Perigos dos adoçantes

Os adoçantes artificiais presentes nos refrigerantes sem açúcar têm a função de preservar o sabor adocicado, sem adicionar calorias. De fato, esses produtos não contribuem para o valor calórico por não serem metabolizados pelo corpo. Porém, o gosto doce pode provocar uma resposta indesejada: a liberação de insulina na expectativa da chegada de glicose — que, nesse caso, não ocorre. “Evidências recentes indicam que esses compostos podem afetar negativamente o metabolismo, alterando a microbiota intestinal e impactando a forma como o corpo gerencia glicose e gordura”, relata a nutricionista do Einstein.

Os efeitos variam conforme o tipo de adoçante e a quantidade consumida. Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o aspartame — um dos adoçantes mais usados em diversos alimentos e bebidas — como “possivelmente carcinogênico para humanos”. Apesar de considerar essas substâncias seguras, a OMS orienta que não se ultrapasse o limite de 40 mg/kg de peso corporal por dia.

<><> Alternativas saudáveis

Com ou sem açúcar, os refrigerantes devem ser evitados. Vale lembrar que não há recomendações específicas de ingestão no Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde.

Para quem busca reduzir o consumo dessas bebidas e reeducar o paladar, a dica é apostar em preparos naturais, como águas saborizadas, chás gelados naturais e água de coco. “Primeiramente, devemos lembrar que a água é a melhor opção. Porém, existem diversas bebidas que podem ser consumidas sem gerar prejuízos como os refrigerantes”, conta Fabiana Rasteiro.

Confira três receitas:

1. Água saborizada de limão e hortelã

Ingredientes:

•        500 ml de água (pode ser com gás para efeito efervescente);

•        suco de ½ limão espremido na hora;

•        algumas fatias de limão;

•        folhas de hortelã fresca a gosto;

•        gelo a gosto.

Modo de Preparo:

•        Misture todos os ingredientes em um copo ou jarra;

•        deixe em infusão por pelo menos 10-15 minutos na geladeira.

2. Chá gelado de hibisco e canela

Ingredientes:

•        500 ml de água;

•        1 colher de sopa de flores de hibisco secas;

•        1 canela em pau;

•        rodelas de gengibre fresco a gosto.

Modo de Preparo:

•        Ferva a água e adicione a canela e o gengibre, deixando ferver por alguns minutos.

•        Desligue o fogo, adicione o hibisco e tampe, infusionando até esfriar.

•        Coe a bebida, adicione gelo a gosto.

3. Refresco de maracujá

Ingredientes:

•        polpa de 1 a 2 maracujás grandes (peneirada, se preferir);

•        água com gás gelada;

•        algumas folhas de hortelã (opcional);

•        gelo a gosto.

Modo de Preparo:

•        Em um copo, misture a polpa de maracujá com a água com gás gelada, a hortelã e o gelo.

<><><> Refrigerante zero oferece um risco maior de gordura no fígado que o normal

Beber apenas uma lata de refrigerante diet por dia pode aumentar o risco de doença hepática gordurosa não alcoólica em 60%, enquanto o consumo de bebidas açucaradas pode elevar esse risco em 50%, segundo novo estudo ainda não publicado.

A doença gordurosa do fígado não alcoólica é uma condição em que ocorre acúmulo de gordura no fígado de pessoas que bebem pouco ou nenhum álcool. Os danos podem ser semelhantes aos observados em pessoas que bebem muito e podem levar à cirrose — cicatrização avançada do fígado — assim como ao câncer hepático.

A condição, também chamada de doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), é uma das principais causas de câncer de fígado.

"As bebidas açucaradas há muito tempo estão sob escrutínio, enquanto suas alternativas 'diet' são frequentemente vistas como a escolha mais saudável", afirmou o autor principal do estudo, Lihe Liu, estudante de pós-graduação do departamento de gastroenterologia do Primeiro Hospital Afiliado da Universidade de Soochow, em Suzhou, China.

"Nosso estudo mostra que as bebidas com baixo teor ou sem açúcar foram, na verdade, associadas a um risco maior de MASLD, mesmo em níveis modestos de consumo, como uma única lata por dia", disse Liu em comunicado.

O consumo de bebidas diet também foi associado a um maior risco de morte por doença hepática, segundo o resumo, uma síntese de uma página do artigo antes de ser revisado por pares e publicado em uma revista científica. A pesquisa foi apresentada na segunda-feira (6) em Berlim durante a Semana Europeia de Gastroenterologia, conferência anual da Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal.

"Essas descobertas desafiam a percepção comum de que essas bebidas são inofensivas e destacam a necessidade de reconsiderar seu papel na dieta e na saúde do fígado, especialmente quando a MASLD emerge como uma preocupação global de saúde", afirmou Liu.

<><> Como as bebidas diet e açucaradas afetam o fígado

O estudo acompanhou quase 124 mil pessoas sem doença hepática participantes do UK Biobank, um grande estudo de pesquisa biomédica que monitora pessoas no Reino Unido. O tipo e a frequência do consumo de bebidas foram avaliados usando questionários alimentares de 24 horas em vários momentos durante o estudo de 10 anos.

Além da conexão entre refrigerantes diet e açucarados com a doença hepática gordurosa não alcoólica, o estudo descobriu que participantes que substituíram essas bebidas por água reduziram o risco em quase 13% para bebidas açucaradas e mais de 15% para bebidas diet. A troca de bebidas açucaradas por diet (ou vice-versa) não diminuiu o risco.

O estudo fornece "evidência direta de que comportamentos alimentares influenciam a MASLD" e contradiz uma análise anterior que sugeria que bebidas diet poderiam substituir a água, afirmou Sajid Jalil, professor associado clínico de gastroenterologia e hepatologia da Escola de Medicina da Universidade Stanford, na Califórnia. Ele não participou do estudo.

"O estudo mostrou que tanto refrigerantes regulares quanto diet podem prejudicar o fígado ao longo do tempo, enquanto escolher água ou bebidas sem açúcar pode ajudar a protegê-lo", disse Jalil por e-mail. "Para mim, este estudo tem muito mais peso que os anteriores devido ao seu desenho prospectivo, envolvendo grande número de participantes, teste validado para o diagnóstico de MASLD e um longo período de acompanhamento."

Por que as bebidas açucaradas e diet teriam tal impacto no fígado?

Nas bebidas açucaradas, o alto teor de açúcar causa picos rápidos de glicose no sangue e insulina, que podem promover ganho de peso, explicou Liu. O excesso de açúcar também pode provocar acúmulo de gordura no fígado.

Embora sejam baixas em calorias, as bebidas diet ainda podem afetar a saúde do fígado através de vários mecanismos, disse ela.

"Elas podem alterar o microbioma intestinal, interferir na sensação de saciedade, aumentar a preferência por alimentos doces e até estimular a secreção de insulina", explicou Liu. "A água, por outro lado, hidrata o corpo sem afetar o metabolismo, ajuda na saciedade e apoia a função metabólica geral."

"É por isso que a redução do risco é semelhante, independentemente de qual bebida adoçada é substituída — isso mostra que a água é a bebida padrão mais saudável."

 

Fonte: CNN Brasil

 

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