Molécula
do intestino pode ajudar no controle da diabetes, diz estudo
A
diabetes tipo 2 é uma das doenças que mais crescem no mundo e está
profundamente ligada à resistência à insulina — uma condição em que o corpo
deixa de responder adequadamente ao hormônio responsável por controlar a
glicose no sangue. Essa resistência costuma vir acompanhada de um estado de
inflamação crônica, que agrava o quadro metabólico. Por isso, entender como o
organismo regula a inflamação se tornou uma das principais frentes de pesquisa
na ciência do metabolismo.
O novo
estudo publicado nesta segunta-feira (8/12) na revista Nature Metabolism revela
um elemento inesperado nessa equação: uma molécula produzida pela própria
microbiota intestinal chamada trimetilamina (TMA), que consegue interferir
diretamente na forma como o sistema imunológico reage a estímulos
inflamatórios, ajudando a proteger o metabolismo. Para chegar a essa conclusão,
a equipe de cientistas estudou camundongos que foram alimentados com uma dieta
gordurosa, modelo clássico utilizado para induzir a obesidade e piora da
tolerância à glicose.
Ao
analisar a urina desses animais, os cientistas notaram que a TMA aumentava de
forma constante nos animais expostos a esse tipo de alimentação. Isso motivou a
investigação mais profunda sobre o real papel da molécula. A partir daí, os
pesquisadores utilizaram métodos avançados de triagem para avaliar se a TMA
poderia interagir com proteínas específicas do sistema imunológico. Eles
identificaram que a molécula é capaz de inibir a IRAK4, uma enzima que funciona
como ponto central da via inflamatória ativada pelo receptor TLR4, responsável
por identificar sinais de “perigo” no corpo. Quando essa enzima é bloqueada, a
resposta inflamatória diminui de maneira significativa.
Esse
efeito foi observado tanto em células humanas isoladas quanto em modelos
animais. Nos camundongos, além de reduzir marcadores inflamatórios, a ação da
TMA também melhorou a tolerância à glicose, mesmo que os animais continuassem
com sobrepeso induzido pela dieta. Ou seja: a molécula não impediu o ganho de
peso, mas conseguiu proteger o organismo dos efeitos metabólicos negativos da
inflamação, um fator-chave para o desenvolvimento da diabetes tipo 2.
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Diabetes tipo 2
• A diabetes tipo 2 é uma doença crônica
marcada pela resistência à insulina e pelo aumento dos níveis de glicose no
sangue.
• Mais comum em adultos, a condição está
frequentemente relacionada à obesidade e ao envelhecimento.
• Entre os principais sintomas estão sede
excessiva, urina frequente, fadiga, visão embaçada, feridas de cicatrização
lenta, fome constante e perda de peso sem causa aparente.
• O tratamento envolve medicamentos para
controlar a glicemia e, em alguns casos, aplicação de insulina.
• Mudanças no estilo de vida, como perda
de peso, alimentação equilibrada e prática regular de exercícios, são
essenciais para o controle da doença.
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Diabetes como alvo terapêutico
Outro
ponto importante é que os cientistas confirmaram esse efeito por diferentes
vias. Eles testaram tanto a inibição química quanto a eliminação genética de
IRAK4, e ambas reproduziram os benefícios observados com a TMA. Isso reforça
que o alvo terapêutico da molécula está bem definido e abre possibilidades para
o desenvolvimento de medicamentos que atuem exatamente nesse ponto da via
inflamatória.
Apesar
da empolgação, os autores do estudo ressaltam que os experimentos foram
realizados principalmente em camundongos e células humanas, o que significa que
ainda não é possível afirmar como a molécula se comporta em pessoas. Também
existe a necessidade de compreender melhor a relação entre TMA e TMAO — outra
substância derivada dela e já associada a riscos cardiovasculares. A ação cada
vez mais detalhada dessas moléculas no organismo humano ainda exige estudos
futuros, especialmente em relação à segurança. Se esses achados forem
confirmados em humanos, eles podem dar origem a novas estratégias — que vão
desde intervenções nutricionais até terapias inovadoras — para prevenir ou
tratar a diabetes tipo 2.
• Diabetes tipo 2: quais são os principais
sintomas e como se manifestam
A
diabetes tipo 2 é uma doença silenciosa, mas que costuma dar diversos sinais
antes do diagnóstico — muitos deles confundidos com rotina cansativa, estresse
ou pequenas indisposições do dia a dia. De acordo com o Ministério da Saúde, a
condição surge quando o corpo se torna resistente à insulina ou quando o
pâncreas passa a produzir menos desse hormônio, elevando os níveis de glicose
no sangue de forma persistente. Embora seja comum, o problema pode avançar sem
que a pessoa perceba, tornando essencial entender seus sintomas.
O
endocrinologista Fernando Valente reforça que o desafio começa justamente
porque os sinais nem sempre são claros. “Os sintomas da diabetes são
inespecíficos e muita gente só descobre a doença quando já está com
complicações”, ensina. Essa falta de especificidade contribui para o atraso no
diagnóstico, segundo o especialista.
A
endocrinologista Valdirene Jácomo, da Clínica Vivace, lembra que a diabetes
tipo 2 é uma doença sistêmica, capaz de afetar diferentes partes do corpo. Por
isso, os sintomas podem aparecer na visão, na pele, na circulação, no
metabolismo e até na sensibilidade dos pés e das mãos. A seguir, confira os
sinais mais comuns da diabetes tipo 2.
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Sede intensa e urina frequente
Um dos
primeiros sintomas percebidos é o aumento da sede e da vontade de urinar.
Quando o açúcar no sangue está alto, os rins tentam eliminar o excesso,
produzindo mais urina. Isso provoca desidratação e reforça ainda mais a
sensação de sede. Segundo o Ministério da Saúde, esse ciclo é um dos principais
indicadores da diabetes tipo 2, especialmente se ocorrer de forma contínua.
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Fome exagerada mesmo após comer
Como a
glicose não consegue entrar corretamente nas células, o corpo passa a
interpretar que falta energia — mesmo quando a pessoa está se alimentando
normalmente. O resultado é uma sensação de fome constante. Valente explica que
essa oscilação de energia contribui para o cansaço e para mudanças de apetite.
“O corpo tenta compensar o açúcar que não está sendo utilizado da forma
correta”, conta.
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Cansaço e sensação de falta de energia
A pouca
eficiência na utilização da glicose também causa exaustão. Atividades simples
parecem demandar mais esforço, e o corpo sente falta de energia. O cansaço
persistente é comum em quem já está com níveis elevados de glicose sem
perceber.
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Visão embaçada
O
aumento da glicose pode alterar o foco dos olhos temporariamente. Por isso,
muitas pessoas associam o sintoma ao cansaço visual, quando na verdade pode ser
um sinal precoce da diabetes. Valdirene reforça que alterações na visão não
devem ser ignoradas. “A diabetes pode provocar mudanças nos vasos sanguíneos
dos olhos desde cedo, mesmo antes do diagnóstico formal”, alerta a médica.
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Feridas que demoram a cicatrizar
O
açúcar elevado interfere na circulação e no sistema imunológico, dificultando a
cicatrização. Cortes, arranhões e até pequenos machucados passam a demorar mais
tempo para fechar. Essa lentidão é um indicativo de que o corpo não está
conseguindo se recuperar como deveria.
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Infecções insistentes
Infecções
urinárias, candidíase, problemas de pele e inflamações recorrentes são comuns
em pessoas com glicose elevada. Como o excesso de açúcar favorece a
proliferação de microrganismos e reduz a resposta imune, episódios repetidos
podem ser um sinal de alerta. Valdirene lembra que a doença afeta várias áreas
do organismo, e isso acaba abrindo portas para infecções frequentes.
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Dormência, formigamento e sensação de “agulhadas”
A
persistência da glicose alta pode danificar nervos periféricos — especialmente
nos pés e mãos — causando formigamento, dormência ou sensação de choques leves.
Valente
alerta que esse sintoma aparece quando a diabetes já está mais avançada: “A
neuropatia pode surgir silenciosamente e evoluir sem dor no início”, ensina o
endocrinologista.
Mesmo
com esses sinais, apenas exames confirmam o diagnóstico. O Ministério da Saúde
recomenda avaliação com glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1c) e,
quando necessário, o teste de tolerância à glicose. Detectar cedo evita
complicações como problemas renais, cardiovasculares, perda de visão e
neuropatia — todas associadas à diabetes não controlada. A combinação de
atenção aos sintomas, exames regulares e acompanhamento profissional permite
identificar a diabetes tipo 2 antes que ela cause danos mais sérios. Saber
reconhecer os sinais é, muitas vezes, o primeiro passo para um tratamento
eficaz e prevenção.
• Por que agora é indicado rastrear
diabetes tipo 2 a partir dos 35?
A
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) atualizou as diretrizes para o
rastreamento e diagnóstico do diabetes tipo 2 no Brasil. Entre as principais
mudanças estão a redução da idade para início da triagem em adultos
assintomáticos, a inclusão de alerta para rastreio em crianças e adolescentes e
a alteração em alguns critérios nos exames usados para diagnóstico. O documento
foi publicado em março na revista científica Diabetology & Metabolic
Syndrome.
A
atualização ganha relevância diante do crescente aumento de casos de diabetes
tipo 2,¬ em grande parte, devido às altas taxas de sobrepeso e obesidade na
população global. Segundo a 11ª edição do Atlas da Federação Internacional de
Diabetes (IDF), cerca de 589 milhões de adultos entre 20 e 79 anos vivem com a
doença no mundo. No Brasil, a estimativa da SBD é de que cerca de 20 milhões de
pessoas convivam atualmente com diabetes, o que representa aproximadamente
10,2% da população.
Uma das
principais mudanças nas novas diretrizes para o rastreamento da diabetes tipo 2
é a ampliação da faixa etária e dos critérios para início da triagem. A nova
recomendação é de que todos os adultos a partir dos 35 anos sejam submetidos ao
rastreio, mesmo que não apresentem sintomas ou fatores de risco conhecidos.
Antes, essa indicação era a partir dos 45.
Já para
pessoas com menos de 35 anos, o rastreamento também é indicado caso tenham
sobrepeso ou obesidade, desde que associado a pelo menos um fator de risco
adicional. Entre esses fatores estão: histórico familiar de diabetes tipo 2,
doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, níveis baixos de HDL
(inferiores a 35 mg/dl), triglicerídeos elevados (acima de 250 mg/dl), síndrome
dos ovários policísticos, presença de acantose nigricans (pequenas manchas
escuras em tons de marrom na pele) e sedentarismo. Também devem ser
considerados antecedentes como pré-diabetes detectado em exames anteriores ou
histórico de diabetes gestacional.
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Saiba sinais que podem indicar que você tem diabetes
• Sensação de cansaço e irritabilidade.
• Visão turva
• Sede excessiva.
• Fome frequente.
• Boca seca.
• Doença periodontal.
• Feridas que demoram para cicatrizar.
• Formigamento nos pés e mãos.
• Perda de peso.
• Coceira ao redor do pênis ou vagina, ou
episódios recorrentes de candidíase.
• Vontade excessiva de urinar.
• Coceira na pele.
• Manchas escuras na pele.
• Infecções frequentes.
O
endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein,
destaca a importância da atualização. “Cada vez mais vemos pessoas jovens com
alterações na glicemia associadas a fatores como obesidade e sedentarismo. A
diabetes é uma doença silenciosa e, quando a glicemia começa a subir, o risco
de complicações cardiovasculares já está presente. Diagnosticar cedo é
essencial para prevenir problemas futuros”, afirma. No caso de crianças e
adolescentes assintomáticos, a recomendação da diretriz é iniciar o
rastreamento após os 10 de idade ou depois do início da puberdade (o que vier
primeiro) naqueles com sobrepeso ou obesidade e com pelo menos um fator de
risco adicional – entre eles, a mãe ter tido diabetes gestacional.
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Exames diagnósticos para diabetes
As
novas diretrizes para o rastreamento da diabetes tipo 2 mantêm os exames de
glicemia de jejum e hemoglobina glicada (A1c) como padrão inicial de triagem. A
recomendação é que ambos os exames sejam realizados em conjunto para
confirmação diagnóstica. “Se a hemoglobina glicada estiver igual ou acima de
6,5% e a glicemia de jejum for igual ou superior a 126 mg/dl, não há
necessidade de exames adicionais — esses níveis já são compatíveis com o
diagnóstico de diabetes. Mas, se apenas um deles estiver alterado, é preciso
repetir os testes para confirmar”, explica a endocrinologista Melanie Rodacki,
professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), membro do
Departamento de Diretrizes da SBD e uma das autoras da atualização.
Rodacki
ressalta ainda que, em casos sintomáticos – como sede excessiva, urina
frequente, fome aumentada e perda de peso não intencional –, a presença de
glicemia igual ou superior a 200 mg/dl (mesmo sem jejum) já é suficiente para
fechar o diagnóstico, sem a necessidade de novo exame. Para situações em que os
níveis de glicose em jejum e da hemoglobina glicada estejam fora da faixa
considerada normal, mas ainda não configurem diabetes, a diretriz recomenda o
teste de tolerância à glicose oral (TTGO).
E é
justamente nesse exame que surge uma das principais novidades: antes realizado
com uma segunda coleta duas horas após a ingestão de glicose, o TTGO agora
passa a ter essa etapa feita após apenas uma hora. O objetivo é identificar
precocemente casos de pré-diabetes, seguindo orientações da Federação
Internacional de Diabetes. O teste continua exigindo jejum prévio e uma
primeira coleta de sangue. Depois, o paciente ingere uma solução com 75 g de
glicose diluída em água, e a nova coleta é feita uma hora depois. “Não estamos
dizendo que o teste de duas horas não é válido, ele também é um critério para
diagnóstico. A diferença é que o exame de uma hora é mais simples, rápido e
menos custoso, o que facilita sua realização em centros de diagnóstico e amplia
o acesso. Ele consegue prever o risco de diabetes de forma mais precoce em
pessoas de alto risco. Por isso, optamos por incluí-lo nas diretrizes
brasileiras”, afirma a especialista da SBD.
Sobre a
mudança no TTGO, Rosenbaum reforça que o novo protocolo tem potencial de
aumentar em até 40% a detecção de casos de pré-diabetes. “Mesmo antes do
diagnóstico de diabetes em si, quando a glicemia está apenas discretamente
elevada, já existe um processo inflamatório em curso que favorece a
aterosclerose. Isso aumenta o risco de infarto, acidente vascular cerebral
(AVC) e outras complicações. Detectar alterações discretas nos níveis de
glicose permite iniciar precocemente intervenções preventivas, sobretudo não
farmacológicas, como dieta e atividade física, medidas simples que podem evitar
a progressão da doença e suas consequências a longo prazo”, destaca.
Outra
inovação importante é a criação de um fluxograma clínico que orienta
profissionais de saúde sobre quais exames solicitar, em que momento e para
quais perfis de pacientes. “Sempre houve dúvidas sobre como conduzir o
rastreamento, então desenvolvemos um material baseado em evidências
científicas, para ajudar médicos de todo o país a agir com segurança, no tempo
certo, e de forma prática, facilitando o diagnóstico precoce em diferentes
contextos do sistema de saúde”, conclui Rodacki.
Fonte:
Metrópoles/Agencia Einstein

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