sábado, 13 de dezembro de 2025


 

Transplante de medula com doador meio compatível é tão seguro quanto padrão

Um estudo brasileiro revelou que transplantes de medula óssea de doadores familiares parcialmente compatíveis (haploidênticos) são tão seguros e eficazes quanto os de doadores não parentes totalmente compatíveis. A descoberta, apresentada durante a 67ª Reunião da ASH (Sociedade Americana de Hematologia), que aconteceu entre os dias 6 e 9 de dezembro em Orlando, na Flórida.

A descoberta expande o universo de potenciais doadores para pacientes com leucemia aguda que necessitam de um transplante para o tratamento e não possuem um irmão compatível. O estudo, liderado pelo Einstein Hospital Israelita e pela SBTMO (Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea), envolveu 21 centros e mais de 500 pacientes.

"Nós sabemos que o transplante com irmãos é o ideal. A nossa dúvida era fazer a comparação entre o transplante com doadores não aparentados, que são os doadores de registro, com o transplante haploidêntico, feito com a doação de uma pessoa meio compatível", explica Nelson Hamerschlak, coordenador do Departamento de Hematologia do Einstein, à CNN Brasil.

"Com isso, ninguém deixa de ter doador, porque o paciente tem um pai ou uma mãe, ou até mesmo um primo, que é metade idêntico a ele. Então, virtualmente, você passa a não ter o risco de deixar de fazer transplante para alguém por falta de doador", completa.

O estudo foi feito coletando dados de cerca de 500 pacientes de 21 centros brasileiros que passaram por transplante entre 2018 e 2021 e dados após o procedimento, em um acompanhamento entre 2021 e 2024. O trabalho comparou dois tipos de doadores:

        MUD: sigla em inglês de "matched unrelated donor", que é o doador não parente, mas totalmente compatível com o paciente;

        Haplo: de "haploidentical donor", que é o doador parcialmente compatível, podendo ser pai, mãe, filho e irmão.

Segundo o estudo, pacientes com doador haplo e MUD tendem a ter sobrevivência global semelhante na maioria das análises comparativas.

"Esse resultado é importante porque mostra que, se o paciente precisar transplantar com alguém parcialmente compatível, isso é factível e seguro", afirma Mariana Kerbauy, hematologista do Einstein Hospital Israelita. "No Brasil, temos a questão étnica. Muitas vezes, no banco, há muita miscigenação, o que acaba nos atrapalhando a encontrar alguém 100% compatível. Então, o fato de podermos fazer um transplante com alguém da família parcialmente compatível é muito importante", completa.

        Tratamento inovador aumenta chances de transplante de medula em idosos

Um estudo brasileiro avaliou um novo regime de preparação para transplantes em pacientes com 60 anos ou mais. A abordagem inovadora é considerada menos tóxica para os idosos, aumentando as possibilidades de tratamento de leucemia mieloide aguda e síndrome mielodisplásica para essa população.

O trabalho foi apresentado por pesquisadores do Einstein Hospital Israelita durante a Reunião Anual da ASH (Sociedade Americana de Hematologia), que aconteceu em Orlando, Flórida, nos Estados Unidos, entre os dias 6 e 9 de dezembro.

A nova estratégia utiliza radiação direcionada à medula óssea combinada com quimioterapia de intensidade reduzida em pacientes idosos com leucemia mieloide aguda ou síndrome mielodisplásica.

Para realizar o estudo, foram selecionados 28 pacientes, muitos deles ainda doentes no momento do transplante. Segundo o estudo, os pacientes idosos submetidos a essa nova abordagem tiveram uma taxa de sobrevida de 50% em dois anos e taxas relativamente baixas de complicações graves.

Segundo Nelson Hamerschlak, coordenador do Departamento de Hematologia do Einstein, o transplante de medula óssea em idosos é considerado um tratamento de risco, pois aumenta as chances de complicações e de óbito -- principalmente, devido ao uso de altas doses de quimioterapia ou radioterapia associado ao procedimento.

"Por isso, há alguns anos, estabeleceu-se um novo tipo de transplante com toxicidade reduzida, que faz com que você utilize menos doses [de quimio ou radio] para tratar o idoso. Mas, ao utilizar menos doses, você tem mais chance de recidiva, ou seja, da doença voltar ou mesmo de o paciente ser refratário [não responder ao tratamento]", explica Hamerschlak à CNN Brasil.

"O que nós estamos procurando é o melhor esquema para fazer um bom condicionamento, ou seja, o preparo para o transplante em um idoso", completa.

Em parceria com a Case Western University, de Ohio, nos Estados Unidos, o Einstein Hospital Israelita desenvolveu uma tecnologia chamada irradiação medular total, em que a radiação é voltada especificamente para a medula óssea, deixando de afetar outros órgãos vitais no idoso.

"Utilizando um esquema de toxicidade reduzida com quimioterapia e irradiação medular total, nós vimos que em pacientes com leucemia mieloide aguda acima de 65 anos houve uma taxa de resposta de mais de 50% de cura, o que é um dado incrível para esta idade", afirma Hamerschlak.

<><> O que é leucemia mieloide aguda e síndrome mielodisplásica?

A leucemia é um tipo de câncer que envolve as células sanguíneas, principalmente os glóbulos brancos, mas podendo afetar também as plaquetas e os glóbulos vermelhos.

A doença pode ser classificada em aguda (crescimento rápido) ou crônica (crescimento lento) e, também, pelo tipo de célula acometida pelo câncer (linfoide ou mieloide). A leucemia mieloide aguda é mais comum em adultos e tem crescimento rápido.

O tratamento para leucemia varia de acordo com o tipo do câncer. No geral, o objetivo é destruir as células anormais para que a medula volte a produzir células saudáveis.

Na leucemia mieloide aguda, é indicada a indução de remissão com quimioterapia e consolidação com quimioterápicos não utilizados anteriormente, com manutenção feita em casos específicos. Em alguns casos com maior risco de complicações graves, pode ser necessário o transplante de medula óssea.

Já a síndrome mielodisplásica é um grupo de distúrbios relacionados nos quais as células formadoras de sangue anormais se desenvolvem na medula óssea, interferindo na produção das células sanguíneas saudáveis.

Posteriormente, essas células podem se tornar cancerosas, transformando-se em uma forma de leucemia.

O tratamento também envolve quimioterapia e, em alguns casos, transplante de medula óssea.

 

Fonte: CNN Brasil


Nenhum comentário: