quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Emir Sader: Um 4º mandato do Lula, para quê?

Parece mais provável a reeleição do Lula do que a eleição de um Congresso menos ruim que este, o pior da história. O apoio ao Lula, mesmo nas pesquisas dirigidas contra ele, aumentou desde o tarifaço, enquanto a direita está cada vez mais enrolada para ter um candidato.

Dá a impressão de que estão resignados com a reeleição do Lula. Tarciso, seu queridinho, além dos erros que comete, entre os quais a fidelidade canina ao Bolsonaro, hesita entre ser candidato para perder e ficar como o provável candidato para 2030, mas ficar sem o governo de São Paulo e sem mandato. Ou buscar a reeleição, ficar como governador de São Paulo em 2030, mas, ainda assim, ter que lutar contra a provável candidatura de Alckmin.

A direita parece concentrar-se nas eleições parlamentares, para manter os obstáculos e as negociações com um eventual quarto mandato do Lula. Sem lideranças nacionais, prefere se concentrar no que é sua especialidade: eleições parlamentares.O provável cenário é o de um quarto mandato do Lula, talvez com um Congresso menos pior que o atual – pior que este seria impossível. Trazendo para mais próximo setores do próprio centrão, que tem sempre dificuldades de ficar fora ou longe do governo. E cujos candidatos ao Congresso precisam do apoio do Lula nos seus estados, onde o prestígio do presidente é alto.

O melhor cenário para o Lula seria esse: uma melhor eleição parlamentar e condições mais favoráveis de negociação com o Congresso. Porque ele terá não apenas que dar continuidade às políticas atuais do governo, como teria que avançar para quebrar a força do capital especulativo na economia, impondo ao país um novo ciclo longo expansivo da economia.

As eleições estaduais também pesarão no cenário futuro do país. Dá a impressão de que não se repetirão as eleições anteriores. Em estados importantes como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, pelo menos, as perspectivas de eleição de candidatos favoráveis ao governo parecem prováveis, o que já romperia com o isolamento atual em relação ao governo federal.Lula precisa de novas bandeiras, além das atuais, como a do imposto de renda, que funciona muito bem. Uma seria o fim do analfabetismo no Brasil, transformar o país em um território livre do analfabetismo, condição para que milhões de brasileiros se transformassem realmente em cidadãos. Sem o acesso mínimo à leitura e à escrita, isto é impossível. Uma grande mobilização de estudantes para campanhas nacionais de alfabetização, valendo-se da adaptação dos métodos de Paulo Freire, seria uma bandeira nova e importante.

Um novo ciclo de crescimento econômico, por sua vez, exige um novo PAC, um novo projeto de expansão da economia, com grandes obras em áreas ainda carentes do país.Em suma, o grande tema de debate para a esquerda deveria ser o quarto mandato do Lula e o futuro do Brasil. A superação definitiva do neoliberalismo e a passagem para um pós-neoliberalismo, um novo ciclo de expansão persistente da economia. O que supõe, por sua vez, uma mudança na política de juros altos do Banco Central, um entrave para um novo ciclo expansivo da economia.

Uma campanha presidencial que, além disso, teria que servir para as mobilizações populares, de que carece hoje a esquerda brasileira. Provavelmente com a mobilização dos setores mais jovens da população, chegando a eles, como propostas e com linguagem mais adequada.

Em suma, 2026 tem desafios enormes, mas, ao mesmo tempo, excelentes perspectivas, com um provável quarto mandato do Lula. Temos que fazer, desde já, um processo de campanha presidencial e parlamentar, à altura dos grandes desafios que temos pela frente.

•        Lula anuncia para 2026 “prestação de contas” aos brasileiros: “a hora da verdade”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (9) que o governo fará, no início de 2026, uma grande apresentação pública dos resultados alcançados desde o início da atual gestão. As declarações foram dadas durante a cerimônia que regulamentou as novas regras da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Durante o discurso, o presidente destacou que os três primeiros anos de mandato foram dedicados a reconstruir políticas públicas, desmontadas ou paralisadas anteriormente, e ressaltou que pretende expor à sociedade um balanço transparente desse processo. Segundo ele, essa apresentação marcará “a hora da verdade” sobre o que foi realizado no país desde 2023, conforme noticiado oficialmente pelo governo.

Lula afirmou que o governo passou “dois anos preparando a terra” antes de iniciar a fase de colheita de resultados. “Ainda não completamos três anos de governo e vamos, no começo do ano, prestar contas à sociedade do que aconteceu neste país”, disse. O presidente argumentou que a iniciativa servirá para desmontar informações falsas disseminadas ao longo dos últimos anos. “É preciso desbaratinar a quantidade de mentiras que foi contada neste país, a quantidade de coisas que não aconteceram, para que a gente possa mostrar o que foi a dificuldade de recolocar o Brasil no patamar que ele está hoje”, afirmou.

Ao retomar o tema da fome, Lula lembrou que o Brasil havia deixado o Mapa da Fome em 2014 e retornou a ele antes de sua posse em 2023. Ele destacou que, em dois anos e meio, o país voltou a ser retirado da lista da FAO. “Uma coisa que digo sempre é que a palavra ‘governar’ não é correta para todo mundo. No fundo, a palavra correta é que nós somos ‘cuidadores’”, declarou, ao defender a centralidade das políticas voltadas à população mais vulnerável.

O presidente também citou o impacto social das mudanças na CNH, ressaltando que, por muitos anos, milhões de brasileiros trabalharam com motocicletas sem condições de regularização. “Nós fazemos parte da geração que tirou os jumentos das ruas desse país para colocar as motos. Na medida em que o Estado não ofereceu o passo seguinte, que era legalizar a moto, o pessoal viveu na clandestinidade”, disse. Ele destacou que o alto custo para obter a habilitação obrigava trabalhadores a escolher entre regularizar o veículo ou garantir alimentação. “Se custava R$ 4 mil, quem é que tem R$ 4 mil? O povo não tem emenda parlamentar”, afirmou.

<><> Nova CNH: barateamento, digitalização e inclusão

A resolução aprovada na semana passada simplifica o processo de obtenção da CNH, reduz burocracias e permite uma queda de até 80% no custo total. As medidas incluem curso teórico gratuito e totalmente digital, flexibilização das aulas práticas e possibilidade de preparação com instrutores autônomos credenciados pelos Detrans.

Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), 20 milhões de brasileiros dirigem sem habilitação, enquanto outros 30 milhões têm idade para emitir o documento, mas não conseguem arcar com os custos — que podem ultrapassar R$ 5 mil. A nova regulamentação pretende alcançar esse contingente historicamente excluído.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que o objetivo é promover inclusão produtiva e ampliar oportunidades de trabalho. “O Brasil tem milhões de pessoas que querem dirigir, mas não conseguem pagar. Baratear e desburocratizar a obtenção da CNH é uma política de inclusão produtiva, porque habilitação significa trabalho, renda e autonomia”, disse. Para ele, o novo modelo mantém o rigor necessário. “As aulas, por si só, não garantem que alguém esteja apto a dirigir. O que garante é a prova.”

Renan destacou ainda que o sistema se aproxima de padrões internacionais adotados em Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, onde o foco é a avaliação final, e não a carga de aulas.

<><> Principais mudanças na regulamentação

•        Curso teórico gratuito e digital: conteúdo on-line disponibilizado pelo governo; quem preferir poderá estudar presencialmente.

•        Apenas 2 horas mínimas de aula prática: a exigência anterior de 20 horas deixa de existir.

•        Opções ampliadas de preparação: autoescolas, instrutores autônomos credenciados ou modelos personalizados.

•        Instrutores autônomos regulados pelos Detrans: fiscalização e identificação integradas à Carteira Digital de Trânsito.

•        Processos mais simples: etapas obrigatórias presenciais ficam restritas à biometria e ao exame médico; o restante poderá ser feito digitalmente.

•        Categorias C, D e E incluídas: motoristas profissionais terão mais opções de formação e menos burocracia.

O governo destaca que a prioridade continua sendo a segurança no trânsito. As mudanças devem beneficiar jovens sem recursos para iniciar o processo, trabalhadores que dependem da habilitação para obter emprego, moradores de áreas remotas e profissionais que buscam migrar para categorias superiores.

As novas regras fazem parte do pacote de medidas que, segundo Lula, integrarão a prestação de contas prevista para o início de 2026 — momento em que o governo pretende apresentar, de forma consolidada, os resultados alcançados ao longo da gestão.

•        Lula alerta para voto consciente em 2026

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta segunda-feira (8), da 14ª Conferência Nacional de Assistência Social, realizada no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Durante o discurso, Lula fez um balanço histórico da construção do SUAS e afirmou que o sistema enfrentou forte desmonte a partir de 2018. Ele declarou: “vocês sabem o quanto foi difícil a gente construir o SUAS” e acrescentou que “destruir é muito fácil, construir é muito difícil”.

<><> Lula vincula futuro do SUAS às eleições de 2026

Ao tratar do cenário político, o presidente afirmou que a continuidade das políticas sociais depende diretamente do resultado das próximas eleições. “Depende da qualidade dos deputados, das deputadas, dos senadores, dos governadores e do presidente da República que vocês elegerem”, disse.

Lula reforçou o alerta com a metáfora: “nunca deu certo colocar raposa para tomar conta de galinheiro”.

<><> Defesa das políticas sociais

Lula abordou críticas frequentes a programas de transferência de renda, lembrando ataques ao Bolsa Família nos primeiros anos do programa. Segundo ele, “ninguém gosta de viver de favor” e a garantia de direitos básicos é essencial. Ele acrescentou: “quando é que uma pessoa quer trabalhar? Pague um salário decente e melhore a jornada de trabalho”.

O presidente afirmou que políticas como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada têm como objetivo minimizar o sofrimento social e garantir condições mínimas de sobrevivência.

<><> Reconstrução da assistência social

Lula afirmou que o país ainda enfrenta desigualdade elevada, mesmo com medidas recentes de alívio tributário, e defendeu o fortalecimento institucional da assistência social. Ele disse que o SUAS “possivelmente seja das coisas mais importantes que nós criamos” e defendeu estudar alternativas para garantir orçamento permanente ao sistema.

<><> Violência contra a mulher

O presidente também abordou a escalada de casos de feminicídio no país. Ele declarou que o enfrentamento da violência doméstica “é uma responsabilidade nossa, dos homens” e criticou a naturalização das agressões. Lula relatou episódios recentes noticiados pela imprensa e afirmou: “nenhum homem tem o direito de levantar a mão para dar um tapa na mulher”.

Ele disse que pretende convocar uma reunião com representantes dos Poderes e setores sociais para organizar um mutirão nacional de conscientização e educação voltado ao combate à violência.

 

Fonte: Brasil 247

 

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