Fim
da escala 6x1? Comissão do Senado aprova proposta que reduz jornada; o que
acontece agora
Pouco
mais de um ano depois de uma intensa mobilização nas redes sociais, a Comissão
de Constituição e Justiça do Senado aprovou uma proposta de emenda
constitucional (PEC) sobre o fim da escala de seis dias de trabalho por um dia
de descanso — conhecida como escala 6x1 — e a redução da jornada de trabalho
das atuais 44 horas para 36 horas semanais.
Para
virar lei, o texto ainda precisa passar por diversas etapas: aprovação no
plenário do Senado, trâmite na Câmara dos Deputados e veto ou sanção do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Atualmente
existem dois textos diferentes que buscam alterar a jornada de trabalho — um
tramitando na Câmara dos Deputados e outro no Senado.
O texto
da Câmara está parado em uma subcomissão especial criada para tratar sobre o
assunto. Não há acordo para votação. Depois disso, ele ainda precisaria passar
pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara — que determina sobre a
legalidade e a constitucionalildade da proposta — antes de ir finalmente à
votação no plenário da Câmara.
Depois
de aprovado, ele seguiria da Câmara para trâmite no Senado, e posteriormente,
se aprovado lá sem alterações, seria encaminhado para sanção ou veto do
presidente Lula.
Já o
outro texto que tramita no Senado — e que foi aprovado nesta quarta-feira na
CCJ da casa — está em estágio mais avançado, e segue agora para apreciação do
plenário. Caso seja aprovado, o projeto tramita na Câmara e depois — se não
houver alteração — pode ser alvo de veto e sanção do presidente.
O
governo Lula vem se manifestando favorável aos projetos que reduzem a jornada
de trabalho e modificam a escala 6x1.
"Fala-se
muito que não podemos reduzir a jornada porque nossa produtividade é menor. Mas
como ela vai aumentar se a trabalhadora e o trabalhador não têm tempo para
estudar, descansar e melhorar suas condições de trabalho?", disse na
quarta-feira (10/12) o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da
República, Guilherme Boulos.
Ele
participou de uma audiência pública sobre o assunto na Comissão de Finanças e
Tributação da Câmara dos Deputados.
O
governo Lula inicialmente apoiou o texto que estava tramitando na Câmara dos
Deputados — que ganhou força com a mobilização nas redes sociais contra a
escala 6x1. No entanto, segundo o jornal O Globo, o governo mudou sua
estratégia e agora vai apoiar o projeto que tiver mais chances de aprovação
rápida.
"A
posição do governo é aprovar aquele (projeto) que for o caminho mais rápido
(para acabar com a escala 6x1). Se o mais rápido for (o da PEC aprovada) agora,
e me parece, com essa aprovação na CCJ do Senado, aí vamos com ela", disse
Boulos, segundo o jornal.
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Proposta no Senado: avançando para o Plenário
A
Proposta de Emenda à Constituição 148/2025, de autoria do senador Paulo Paim
(PT-RS) e relatoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE) prevê:
• no primeiro ano após a aprovação do
texto, haverá redução da jornada máxima de trabalho de 44 para 40 horas
semanais.
• Nos quatro anos seguintes, a jornada de
trabalho é reduzida em uma hora por ano — até chegar às 36 horas semanais.
• Limite de cinco dias por semana de
trabalho, com dois dias de descanso, de preferência no sábado e domingo.
• Em ambos os casos — redução da jornada e
fim da escala 6x1 — não há redução salarial.
"São
mais de 150 milhões de brasileiros que se beneficiarão com esta PEC,
considerando os trabalhadores, considerando as famílias e considerando quem
contrata também, porque vai movimentar a economia, vai mudar a realidade social
deste país", afirmou Carvalho, segundo a Agência Brasil.
Em seu
parecer, o relator na CCJ argumentou que a jornada de 6x1 está associada ao
aumento dos riscos de acidentes em razão do cansaço, por diminuir a qualidade
do trabalho e por causar danos a saúde, prejudicando o bem-estar do
trabalhador.
"No
Brasil, as redes sociais têm sido tomadas nos últimos meses por manifestações
contrárias à jornada 6x1, considerada exaustiva pelos trabalhadores. Nesse
sentido, foi criado o Movimento Vida Além do Trabalho, com o objetivo de
alterar a legislação para assegurar o equilíbrio entre trabalho e vida
pessoal", escreveu Carvalho no parecer.
O
senador Paulo Paim diz que a medida gera benefícios ao setor produtivo ao
reduzir a dependência de horas extras e permitir melhor distribuição do
trabalho.
A
aprovação do projeto de lei na CCJ do Senado aconteceu em votação
"extra-pauta", em que o assunto é deliberado mesmo não tendo sido
incluído na pauta oficial do dia. A aprovação foi por votação simbólica — em
que não há contagem de individual dos votos.
A
votação da PEC como extra-pauta foi criticada pelo senador Eduardo Girão
(Novo-CE), que disse que queria ter pedido vista para analisar a proposta.
"A
única coisa que eu posso dizer é que vamos tentar, lá no Plenário, ver se é
possível fazer uma audiência pública para melhorar o projeto, porque tudo pode
ser melhorado", disse Girão, segundo a Agência Brasil.
O
presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), respondeu que o assunto já
foi debatido em audiência pública.
"Eu
lamento vossa excelência não ter participado de três audiências públicas que
nós fizemos e vossa excelência não compareceu em nenhuma delas", disse
Alencar.
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Proposta na Câmara: parada em subcomissão
Na
Câmara dos Deputados, o texto que tramita é a PEC 8/2025 de autoria da deputada
Erika Hilton (Psol-SP).
Foi
esse texto que ganhou grande mobilização nas redes sociais no ano passado e
provocou a discussão sobre a escala 6x1 no Congresso.
No
entanto, o texto está parado em uma subcomissão da Câmara criada especialmente
para debater a proposta. A PEC foi debatida em quatro audiências públicas.
Na
semana passada, houve um pedido de vista dos deputados Vicentinho (PT-SP) e
Leonardo Monteiro (PT-MG). Não há acordo para votação e não foi marcada uma
reunião para se debater a proposta.
O
deputado Luiz Gastão (PSD-CE) — que é relator Subcomissão Especial da Escala de
Trabalho 6x1 — apresentou na semana passada um relatório com mudanças.
Sua
proposta surpreende por não propor o fim da escala 6x1. Seu parecer propõe:
• a redução da jornada de trabalho máxima
das atuais 44 horas semanais para 40, mantidos os salários. O texto original de
Hilton pedia uma jornada máxima de 36 horas semanais, com quatro dias de
trabalho e três de descanso — encerrando a escala 6x1.
• Restrições para o trabalho aos sábados e
domingos, com pagamento em dobro do período que exceder o limite de seis horas
nesses dias.
• Redução dos impostos sobre a folha de
pagamento para empresas em que os custos com salários representem mais de 30%
do faturamento.
• Transição gradual de três anos, com a
jornada caindo a cada ano para 42 horas, 41 horas e 40 horas.
Gastão
disse reconhecer a legitimidade das lutas pela redução da jornada, mas avaliou
que as 36 horas seriam insustentáveis economicamente, gerando custos
desproporcionais, especialmente para micro e pequenas empresas.
"[A
PEC original] poderia acarretar sérias consequências econômicas adversas, tais
como queda na produção, redução da produtividade e elevação dos índices de
desemprego", disse Luiz Gastão, segundo a Agência Brasil.
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Críticas às propostas
Em
audiência pública realizada na quarta-feira na Câmara dos Deputados,
representantes de diferentes setores produtivos criticaram as propostas em
discussão.
O
presidente em exercício da Fecomércio São Paulo, Ivo Dall'Acqua Junior, que
representou a Confederação Nacional do Comércio, disse que que regras rígidas
podem afetar diferentes atividades econômicas de forma desigual.
"Empregar
custa muito. Nosso custo de trabalho é elevado, e isso também precisa entrar no
debate", disse Dall'Acqua Junior, segundo a Agência Câmara.
Ele
afirmou na audiência que o Brasil não registra ganho consistente de
produtividade desde os anos 1980.
Já o
especialista em Políticas e Indústria da Confederação Nacional da Indústria
(CNI), Pablo Rolim Carneiro, falou que a mudança teria um peso excessivo para
pequenas empresas.
"Noventa
e nove por cento das empresas brasileiras são micro, pequenas e médias. Elas
respondem por cerca de 52% dos empregos formais e têm mais dificuldade para
fazer adaptações internas."
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Movimento Vida Além do Trabalho
O fim
da escala 6x1 é a principal meta de um movimento chamado "Pela Vida Além
do Trabalho" (VAT), fundado por Rick Azevedo, um ex-balconista de farmácia
que se elegeu vereador pelo PSOL no Rio de Janeiro na eleição passada.
Azevedo
trabalhava na farmácia em 2023 quando gravou um vídeo que viralizou no TikTok.
O vídeo
foi gravado pouco depois de sua chefe ligar para ele em sua folga e pedir que
ele entrasse mais cedo no trabalho no dia seguinte.
"Quando
é que nós da classe trabalhadora iremos fazer uma revolução nesse país contra
essa escala 6x1? Gente, é uma escravidão moderna. Moderna não:
ultrapassada", diz Azevedo no vídeo.
"Eu
que não tenho filho, que não tenho nada, que sou sozinho, não dá para fazer as
coisas. Imagina quem tem filho, quem tem marido, quem tem casa para
cuidar".
"A
pessoa tem que se doar para a empresa seis dias na semana e só um dia para
folgar. E isso por salário mínimo. Gente, não dá."
O vídeo
explodiu em visualizações e Rick passou a fazer campanha pelas redes sociais
pelo fim da escala 6x1.
Foi
criado então o movimento "Pela Vida Além do Trabalho", com um
abaixo-assinado na internet apoiado por mais de 2 milhões de pessoas.
"A
gente tem uma ilusão que a CLT protege. Mas a CLT está defasada desde a última
reforma trabalhista. Tem trabalhadores sendo explorados", disse Azevedo à
BBC News Brasil no ano passado.
Esse
movimento deu impulso aos projetos de lei que passaram a ser discutidos no
Congresso.
Fonte:
BBC News Brasil

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